Discurso durante a 184ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Alerta para os altos índices de violência no Brasil e no mundo.

Autor
Simone Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Simone Nassar Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Alerta para os altos índices de violência no Brasil e no mundo.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Dário Berger, Reguffe.
Publicação
Publicação no DSF de 01/12/2017 - Página 38
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Indexação
  • COMENTARIO, ASSUNTO, CRESCIMENTO, VIOLENCIA, LOCAL, PAIS, BRASIL, COMPARAÇÃO, MUNDO, RELATORIO, NUMERO, QUANTIDADE, HOMICIDIO, GUERRA CIVIL, VITIMA, JUVENTUDE, NEGRO, MORADOR, FAVELA, SITUAÇÃO, AUSENCIA, PROCESSO, CIVILIZAÇÃO, NECESSIDADE, IMPORTANCIA, PROJETO DE LEI, ENFASE, SEGURANÇA PUBLICA.

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Presidente Cidinho, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, continuo aqui a minha fala, agora desta tribuna, dando continuidade ao que tive oportunidade de falar, na presença do Presidente Eunício Oliveira, ali da minha cadeira.

    O tema que me traz hoje a esta tribuna é a violência, a violência no Brasil e a violência no mundo. Faço aqui novamente os agradecimentos ao Presidente da Casa. Não podemos esquecer que ele, ouvindo os anseios das ruas, da sociedade e também dos nobres Parlamentares, incluiu na agenda prioritária, positiva, do Senado Federal o tema violência. Isso não apenas para que pudéssemos entender o que está acontecendo com a sociedade brasileira, esse avanço desenfreado da violência que assola não só os grandes centros, mas também os pequenos Municípios, já chegando também no campo do nosso País, mas para que nós pudéssemos, em um esforço em conjunto e hercúleo, atualizar a nossa legislação – não só, portanto, entender a complexidade do tema, mas também aprimorar a legislação para que pudéssemos dar a nossa contribuição à sociedade brasileira.

    Não poderia ser diferente. Os números estão claros, Senador Reguffe. O último relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que fechou agora no final do mês de outubro, mostra números escabrosos, números de verdadeira guerra civil. Poderíamos dizer, inclusive, que se trata de números de guerra. Só no ano passado a violência no Brasil ceifou a vida de mais de 60 mil pessoas, 60 mil brasileiros. Nós estamos falando de sete assassinatos por hora, de 30 pessoas assassinadas a cada 100 mil habitantes.

    O que é mais grave nesses números, que nos colocam na contramão do processo civilizatório: a maioria das vítimas da violência no Brasil são os nossos jovens, a nossa juventude, o jovem negro de baixa renda das nossas favelas. Estamos falando de mais de 50% dos números atingindo o futuro do nosso País, que é a nossa juventude.

    Os mesmos jovens que são vítimas, que morrem, são os jovens que também cometem esses crimes. Segundo informações que tivemos na audiência pública anteontem na CCJ, números esses atualizados pelo Diretor-Geral do Sistema Penitenciário Nacional, 55% do número de encarcerados no Brasil são compostos por jovens de 18 a 29 anos.

    A violência no mundo e no Brasil é como esses vulcões que ora estão ali como mera cena na paisagem, fazendo composição como uma montanha na paisagem, ora eclodem, e eclodem com tal violência e são tão temorosos e tão perigosos que, muitas vezes, nos deixam sem reação.

    No caso do Brasil, esse vulcão da violência está em plena atividade e não é de hoje. Nos últimos anos, a violência crescente nos faz inertes, nos imobiliza, nos deixa anestesiados sem saber o que fazer. Na realidade, nós estamos muitas vezes atacando as consequências sem buscar a origem ou sem combater as causas.

    Eu me refiro, sim, e já tive oportunidade de falar aqui desta tribuna do episódio que temos presenciado volta e meia, já por três vezes consecutivas nos últimos três anos, da presença, ainda que tardia, das Forças Armadas, por exemplo, na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.

    Ali, está-se atacando a consequência, e não a causa. Ali, está-se tentando ainda que tardiamente combater o Estado paralelo de uma forma desordenada, despreparada e sem nenhum resultado prático, porque o Brasil se esquece da verdadeira ou das verdadeiras causas da violência no Brasil.

    Os números são tão chocantes que, no Brasil, a violência é maior e se mata mais do que nas guerras civis declaradas do Oriente Médio ou de outros países que hoje estão em guerra.

    As balas miradas das guerras declaradas de lá atingem e ferem corpo e alma, tanto quanto as balas perdidas da guerra não declarada no Brasil. A dor do pai e da mãe que convive com a guerra do outro lado do Atlântico é a mesma dor da perda do pai ou do filho que tem como vítima um membro da sua família.

    Nós não podemos esquecer apenas que, enquanto nós falamos de guerra lá numa situação que muitas vezes foge totalmente ao controle, aqui nós podemos dar a nossa parcela de contribuição, atacando o mal pela raiz e é isso que o Senado tem feito; o Senado tem dado a sua parcela de contribuição, Presidente. Não porque achamos ou achemos que as leis solucionam tudo. Lei, como é do ditado popular, o Brasil está cheio. Precisa ser aplicada, executada, colocada em prática, mas sim porque nós podemos contribuir fiscalizando, cobrando do Poder Executivo, mas também aprimorando quando necessário uma legislação muitas vezes atualizada.

    Hoje, estamos combatendo a violência na sua consequência, esquecendo da causa. A maior dela é colocar o Exército, as Forças Armadas, a polícia nas fronteiras tanto na fronteira seca quanto na fronteira molhada do nosso País. Ao mesmo tempo em que temos as Forças Armadas, muitas vezes, no Rio de Janeiro, ela está faltando nessa fronteira. Para isso, nós precisamos de recursos, nós precisamos de dinheiro. Não se faz nada sem recurso. Enquanto faltam recursos para o poder, para o Estado oficial, isso não falta para o estado paralelo; o estado paralelo, portanto, não contingencia recurso como nós vemos hoje no Brasil.

    Eu tive a oportunidade de ter sido designada pelo Presidente da CCJ para relatar em 30 dias todos os projetos que estavam parados em relação à segurança pública e assuntos correlatos. Alguns projetos já foram relatados e arquivados porque estão prejudicados; outros, com parecer contrário; mas nós temos entre dez a 15 projetos que já estão saindo da Comissão para vir para Plenário para serem votados.

    Repito aqui: não são projetos que aumentam pena, porque não se resolve o problema da violência do Brasil apenas aumentando pena. Nós estamos falando de projetos que atingem e que ajudam a resolver o problema da violência no Brasil buscando melhorar, aperfeiçoar a lei para podermos atacar as causas que realmente fazem com que a violência aumente no Brasil.

    Nós não podemos nos esquecer nunca da educação, mas esse é um processo lento, é um processo que se conquista dia a dia. Enquanto isso, a sociedade clama por paz e exige uma solução imediata. A solução imediata nós podemos dar. Eu quero aqui dar alguns exemplos – poucos exemplos porque eu não quero aqui extrapolar o meu tempo. Eu não sei se eu tenho o tempo de 20 minutos depois da Ordem do Dia ou se são apenas dez, mas eu quero dar alguns exemplos de projetos relevantes.

    O SR. PRESIDENTE (Cidinho Santos. Bloco Moderador/PR - MT) – Só um aparte, Senadora.

    A senhora tem o tempo. Estou administrando porque daqui a pouco vamos começar a sessão solene.

    Fique à vontade para poder concluir seu discurso.

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS) – Sim, em cinco minutos eu acredito que consigo concluir e darei o aparte aos colegas que estão solicitando.

    Um projeto da mais alta relevância é do ex-Senador Pedro Taques, hoje Governador de Mato Grosso, que proíbe através de uma PEC o contingenciamento dos recursos destinados aos fundos que vão para a segurança pública.

    A educação e a saúde estão preservadas no seu percentual e mesmo a PEC do teto preservou essas duas áreas, mas a segurança pública está descoberta. Tanto é verdade que o Fundo Nacional de Segurança Pública de 2012 até agora, Senador Dário – de 2012 até agora – daquilo que nós colocamos no orçamento que V. Exª hoje preside na Comissão Mista que nós colocamos, do total, dos R$4,4 bilhões, foi contingenciado mais da metade. Nós só conseguimos liberar para os Estados R$1,9 bilhão.

    Há outro projeto aprovado, do Senador Omar Aziz, que também estabelece que mesmo aqueles Municípios e Estados que de alguma forma estão inadimplentes possam receber as transferências voluntárias quando se trata de recursos da segurança pública, porque, muitas vezes, a Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe hoje... Nós não estamos falando de improbidade administrativa, de desonestidade ou de corrupção. Nós estamos falando, muitas vezes, de Município que esqueceu de entregar...

(Soa a campainha.)

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS) – ... o relatório ou cujo relatório não está atualizado e, por isso, fica proibido de receber transferência voluntária. Tudo bem em relação a obras, mas não em relação à segurança pública.

    São diversos os projetos que nós estamos relatando. Eu gostaria ainda de me estender para falar de um projeto interessante que está relacionado à nossa fronteira.

    O Senador Wilder Morais apresentou um projeto que regulamenta e disciplina a questão dos veículos não tripulados, os chamados Vants, que não são os drones. É algo mais. São aeronaves menores que são comandadas por controle remoto, por computador e que podem fazer um grande serviço, além da economia, de forma mais eficiente no combate à entrada do tráfico de armas e drogas, estes, sim, os dois males que chegam aos grandes centros e são responsáveis – não tenho medo de errar, apesar de não ter números – por pelo menos 50% da violência no Brasil.

    Ainda em relação a esses projetos tão relevantes, o Estatuto do Desarmamento estabeleceu naquele momento que todas as armas apreendidas e que não mais interessavam ao processo legal e eram consideradas como perdimento de bens tinham que ser destruídas pelo Comando do Exército.

    Veio uma lei posterior, de 2008, e disse "não, se essas armas podem ser utilizadas, que elas sejam doadas para os policiais civis, militares, ao Corpo de Bombeiros, ao Exército, para que possam ser destinadas". Cada arma custa, em média, R$1 mil. O próprio Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no mês passado, previu que foram apreendidas, no ano passado, 112 mil armas no Brasil. Apenas 5% foram reutilizadas, porque a legislação engessa, a legislação não permite que essas armas, que foram compradas a preço de ouro e, portanto, são novas e modernas, armas apreendidas do narcotráfico, possam ser utilizadas pela polícia. Aí, imaginem, dessas 112 mil armas, pelo menos 100 mil destruídas porque a legislação, graças, infelizmente, a um decreto posterior, de 2011, coloca uma série de restrições para que essas armas possam ser utilizadas.

    O Senador apresentou esse projeto estabelecendo agora, por lei, que essas armas, sim, se tiverem um laudo mostrando que elas podem ser utilizadas, que elas não vão comprometer a segurança dos nossos policiais, sejam destinadas, 70%, ao ente que a apreendeu e os outros 30%, distribuídos.

    Eu vou fazer uma conta rápida, Senador Dário, antes de conceder a palavra a V. Exª.

    São 112 mil armas apreendidas por ano. Se 50 mil puderem ser reutilizadas... Estamos falando de espingarda, estamos falando de revólver, estamos falando de fuzis, nós estamos falando aí numa economia, por baixo – considerando R$1 mil, porque estou considerando a arma mais simples, não estou nem colocando os fuzis como média em valores – de R$50 milhões, que poderiam estar sendo destinados para outras questões relacionadas à segurança pública.

    Será o maior prazer, se o Presidente me permitir, porque já estou entrando nos meus dois últimos minutos, conceder a palavra ao Senador Dário e, em seguida, ao Senador Reguffe.

    O Sr. Dário Berger (PMDB - SC) – Eu agradeço a V.Exª e agradeço também a disposição do Presidente de me conceder este aparte que espero, que seja breve e objetivo, para em primeiro lugar me congratular com V.Exª e parabenizá-la por trazer um tema tão importante para o debate e para trazer um alerta ao Poder Executivo de que as coisas não vão bem também na segurança pública. Eu queria dar uma acrescentada, com todo o respeito ao discurso de V.Exª, ao pronunciamento de V.Exª, porque esse é um tema que me salta aos olhos, que me chama muita atenção porque ele já transcende hoje as grandes cidades, as grandes metrópoles, já percorre os médios Municípios brasileiros e já segue para os pequenos Municípios, o que é um fator muito importante para nós ficarmos atentos, porque esse é um dos maiores problemas que precisa ser enfrentado. Bem, mas o problema da segurança pública mesmo, no fundo, o seu pano de fundo, decorre fundamentalmente, Senadora Simone Tebet, das desigualdades e das diferenças sociais, da situação econômica que nós estamos vivendo, do desemprego, da falta de oportunidade para os nossos jovens, que não têm a possibilidade de ingressar no mercado de trabalho, ficam com uma capacidade ociosa e aí são presas fáceis para que sejam recrutados pelo tráfico, pela droga, pela marginalização, etc. Nós só temos uma forma de sair disso, na minha opinião: evidentemente, é com políticas públicas, discutindo essa questão, a questão da reunificação da segurança pública e tal, mas o pano de fundo dessa questão, na minha opinião,...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Dário Berger (PMDB - SC) – ... não é a ostensividade da Polícia Federal, da Polícia Militar, da Polícia Civil e aí por diante, mas sim é uma questão muito mais ampla, intrínseca à sociedade, que está envolvendo fundamentalmente essas questões. Nós só vamos sair disso a partir do momento em que o Brasil voltar a crescer, voltar a gerar os empregos, dar empregos para esses 13 milhões de desempregados, mais 8 ou 10 milhões de subempregados e dar oportunidade, porque se nós hoje somos diferentes, certamente é porque no passado tivemos oportunidades diferentes e soubemos aproveitá-las a tal ponto de construirmos a nossa própria história. Mas nem todos têm as mesmas oportunidades que nós todos tivemos. Por isso, muitas vezes, nós precisamos ofertar ao nosso jovem, não só uma oportunidade, mas duas, três, quatro, cinco, para que ele possa efetivamente construir a sua vida num ambiente harmônico e de felicidade que é o que nós todos desejamos. Portanto, eu agradeço a V.Exª e peço perdão para dar esse pequeno pitaco no sentido de que nós precisamos enfrentar isso, mas sobretudo com o crescimento econômico e com oportunidade para todos os nossos jovens e para todas as nossas pessoas.

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS) – É um prazer Senador Dário.

    Acho que V.Exª só engrandece a minha fala. Eu comecei inclusive dizendo isso, que a maior ação que nós podemos fazer no combate à violência é através da educação. Aliás é ela, mais até do que a busca do pleno emprego, que pode garantir a tão sonhada igualdade social, porque não nós não queremos apenas garantir o subemprego, o emprego de salário mínimo aos nossos trabalhadores e aos nossos jovens. É a educação, que a médio e longo prazos, pode resolver essa questão. Mas eu comentei isto na minha fala, apenas dizendo que, enquanto, infelizmente, nós não temos uma política...

(Soa a campainha.)

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS) – ... de educação de qualidade neste País, enquanto isso, aquilo que estamos fazendo em relação à segurança pública nós temos que fazer bem, e nós estamos fazendo mal. Quer dizer, já que nós temos hoje uma polícia que tem que ir para as ruas enfrentar a violência, combater esse mal, nós temos que combater da forma correta, não só na sua consequência lá nas ruas dos grandes centros, mas na origem, na fronteira, aplicando o pouco recurso que existe da forma correta.

    E aperfeiçoando a legislação, Senador Reguffe – eu dou aqui só mais dois exemplos antes de conceder a palavra a V. Exª –, para que nós também possamos colocar na cadeia aqueles criminosos que estão cometendo crimes que hoje nem são tipificados como crimes, mas que ofendem e violam a integridade física, a integridade moral de um cidadão. Refiro-me, por exemplo, a um projeto que recentemente votamos, da Senadora Vanessa Grazziotin. Antes, nós não imaginávamos falar em estupro coletivo e não tínhamos no Código Penal essa figura do estupro coletivo. Nós tivemos que tipificar, porque nós começamos a ver uma crescente...

    Não tínhamos também colocado como crime a divulgação nas redes sociais desse crime de estupro. O cidadão saía impune, colocando essa barbaridade aos olhos de todos. E tipificamos como crime.

    Então, apenas para corroborar aqui, para dizer que concordo com a fala do Senador Dário, mas que nós estamos aqui numa pauta mais imediata, e, nesse imediatismo, nós temos que avançar aprovando projetos dessa envergadura. Volto a repetir: não aumentando penas, mas atualizando a nossa legislação, aperfeiçoando o nosso aparato legal e, mais do que isso, fiscalizando os atos do Poder Executivo, tentando sensibilizar o Ministério da Justiça de que nós temos que combater a violência com recursos públicos, mas bem aplicados e bem colocados.

    Com a palavra, Senador Reguffe, e, aí, eu me comprometo a encerrar a minha fala, Presidente.

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – Senadora Simone, muito pertinente o seu pronunciamento hoje, o tema que V. Exª coloca no seu discurso. Apenas quero colocar duas questões aqui que eu tenho sobre esse tema. Primeiro, eu penso que é preciso combater o efeito e também a causa. Não dá para só combater a causa e esquecer de combater o efeito, mas também não dá só para combater o efeito e esquecer de combater a causa.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – Penso que V. Exª colocou isso muito bem no seu pronunciamento. E a segunda questão, que me incomoda muito e acho que nós precisamos fazer essa discussão: nós precisamos fazer uma revolução no Orçamento. O Governo executa o Orçamento de uma forma muito negativa na minha opinião. O Governo brasileiro hoje gasta muito com as atividade meio do Estado e pouco com as atividades fim do Estado. O Governo deveria concentrar os seus recursos em segurança, em saúde e em educação, gastar nas áreas precípuas da atuação do Estado, que são essas três áreas. Hoje, o Governo gasta muito com a sua máquina e pouco com as atividades fim do Estado. Então, eu acho que nós precisamos fazer uma revolução no Orçamento. O Governo deveria gastar mais nessas três áreas, mais na ponta, mais ali no que atende a quem sustenta o Governo com os seus impostos, em vez de gastar muito com a sua máquina, com a sua estrutura. Infelizmente, o Governo brasileiro hoje gasta demasiadamente com as atividades meio do Estado, gasta demasiadamente com a sua máquina e gasta muito menos do que deveria nas atividades fim do Estado – em educação, em saúde e em segurança pública. Quero parabenizar V. Exª pela pertinência desse pronunciamento.

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS) – Eu é que agradeço, Senador Reguffe. V. Exª está coberto de razão. Os últimos números mostram – e eu sei de números porque, como disse, estou há 30 dias debruçada sobre essa questão por determinação da Mesa – que normalmente os Estados estão gastando, em média, 80% do Orçamento da segurança pública para pagar o seu pessoal, 80% apenas para pagar os salários dos seus policiais. Então, veja, não sobra dinheiro para fardamento. Falta tudo: fardamento, viaturas, equipamentos, munição, que dirá equipamento de ponta, de inteligência, ciência e tecnologia, tão aclamadas pelo Senador Cristovam Buarque, para se poder combater de igual para igual o crime organizado.

(Soa a campainha.)

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS) – Eu não posso encerrar, Sr. Presidente, sem antes falar que também nós estamos com projetos, a Casa, através, de iniciativa dos Srs. e Srªs Senadoras, projetos relacionados à execução penal, à Lei de Execução Penal, e à questão do sistema carcerário, que é outro capítulo dentro dessa novela de horrores. A questão do sistema carcerário é algo realmente que chega a ser desumano. É triste quando tratamos dessa questão. Nós temos presídios abalroados de pessoas, numa mistura entre bandidos perigosos, cidadãos de bem que muitas vezes cometeram pequenos delitos.

(Soa a campainha.)

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS) – E nós não conseguimos ser eficientes nisso. Até nisso não somos eficientes.

    Daí, com todo o respeito, talvez o maior projeto de segurança pública que tenhamos aprovado, embora a sociedade não tenha entendido esse projeto, seja o projeto do Senador Valadares que eu relatei: de audiência de custódia. O preso em flagrante, em 24 horas, tem que ser colocado na frente de um juiz, para ver se a prisão foi legítima, legal, se não houve abuso, se não houve violência e, mais do que isso, ver se ele é primário, se ele tem bons antecedentes, se o crime dele é pequeno, porque aí ele pode ir para casa com uma tornozeleira ou prisão domiciliar, para que ele não precise ficar lá junto com a bandidagem, com o crime organizado, sendo sequestrado por esses PCCs da vida. Para que ele possa, inclusive, dar economia para o Governo: isso porque, a partir do momento em que ele vai aguardar sua sentença em liberdade, ou em casa em regime domiciliar, porque ele não vai fazer mal à sociedade,...

(Soa a campainha.)

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS) – ... nós estaremos dando vagas para colocar na cadeia aquele que realmente mata, aquele que estupra, aquele que agride, aquele que realmente é nocivo à sociedade. Então, esse projeto também é da mais alta relevância.

    Eu encerro, Sr. Presidente, dizendo... Eu não sei se eu extrapolei um pouquinho ...

    O SR. PRESIDENTE (Cidinho Santos. Bloco Moderador/PR - MT) – Nós estamos com problema de tempo, Senador Cristovam. Se for rápido, porque há Senadores que vão viajar, e daqui a pouco vai começar uma sessão temática, e é preciso preparar a mesa. Mas em consideração a V. Exª, vamos permitir o aparte.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Vou tentar ser bem rápido. Senadora, muito oportuna a sua fala. Eu quero pegar a partir da fala do Senador Reguffe para dizer que hoje falamos muito em corrupção, mas só estamos analisando uma corrupção que é a corrupção no comportamento do político que pega dinheiro público e põe no seu bolso. Mas há duas outras graves. Uma segunda é a corrupção nas prioridades: há o político que não põe dinheiro no seu bolso, mas faz obras que não são as prioritárias para o povo, para o País, para o futuro. E o terceiro, a corrupção do desperdício: nós esquecemos que o dinheiro público é público, vem do povo, e gastamos mais do que devemos. Nós precisamos acabar com as três corrupções: no comportamento, nas prioridades e também no desperdício. E aí, sim, o Estado tem que se concentrar naquilo que interessa ao povo e ao futuro do País. E a economia ...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Um minutinho mais, Senador. Foi um erro querer tentar fazer justiça por dentro da economia, forçando, por imposição do Estado, a distribuição do produto de uma empresa – lucro, salário, imposto – conforme a vontade do governante. Há uma lógica que deve ser respeitada nisso. Precisamos definir princípios éticos para todas as empresas. Não vão ganhar dinheiro com droga ilícita, não vão destruir a natureza, não vão ter regimes escravocratas. Mas o salário, o lucro, o imposto têm uma lógica e não podem ser apenas vontade do político. Com essa eficiência da economia, devemos procurar a justiça no uso dos recursos públicos. Então, vejam bem: eficiência é uma palavra-chave; corrupção é uma palavra-chave; mas sem esquecer a corrupção nas prioridades e a corrupção nos desperdícios. Vamos ter uma sessão temática. Este era um tema interessante de se debater: justiça e eficiência, porque passou-se um tempo acreditando que eficiência era uma palavra burguesa. Eficiência é uma palavra necessária, progressista, desde que saibamos usar bem os recursos que a eficiência gera. E eu concluo dizendo que há muita economia eficiente que não beneficia o povo, mas eu não conheço uma economia ineficiente que traga benefício ao povo. A eficiência é fundamental tanto quanto a não corrupção no uso dos recursos.

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS) – Obrigada, Senador Cristovam. Permita-me incorporar o seu aparte ao meu pronunciamento.

    Na minha fala final, eu falei tanto de números, mas, na realidade, nós estamos falando de seres humanos, de brasileiros, de filhos que perdem seus pais, de pais que perdem seus filhos, de mães que não vivem mais porque sofrem com a dor...

(Soa a campainha.)

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS) – ... de terem perdido seus filhos para as drogas, para o tráfico, para a violência e para a própria marginalidade.

    Então, eu encerro as minhas palavras lembrando aqui o lamento, que ainda faz eco nos nossos ouvidos, de uma moradora da favela da Rocinha que, com o olhar triste e perdido para a cena de verdadeira guerra em que se transformou o seu quintal, que para ela é todo o seu mundo, disse: "Aqui só se respira o medo".

    É esse medo que nós precisamos combater. O Brasil clama por paz. É nosso dever tentar garantir essa paz aos cidadãos e às cidadãs brasileiros, porque as vítimas dessa violência não estão clamando por um minuto de silêncio. O eco do seu lamento é um eco de grito, um grito por paz, um gripo por socorro, um grito para nós autoridades públicas: "Por favor, façam alguma coisa!".

    E nós, no Senado Federal, temos de fazer.

    Muito obrigada, Sr. Presidente, pelo tempo que me foi concedido.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/12/2017 - Página 38