Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Questionamento a respeito da finalidade da veiculação reiterada de matérias jornalísticas sobre o auxílio-moradia dos juízes e procuradores pela imprensa.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA:
  • Questionamento a respeito da finalidade da veiculação reiterada de matérias jornalísticas sobre o auxílio-moradia dos juízes e procuradores pela imprensa.
Publicação
Publicação no DSF de 08/02/2018 - Página 95
Assunto
Outros > IMPRENSA
Indexação
  • CRITICA, PROPAGAÇÃO, ASSUNTO, AUXILIO-MORADIA, JUIZ, PROCURADOR, OBJETIVO, DESVIO, FOCO, CONLUIO, RECURSOS PUBLICOS, ACORDO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), FUNDOS, PAGAMENTO, INVESTIMENTO, ESTRANGEIRO, AUSENCIA, COMPROVAÇÃO, SONEGAÇÃO, IMPOSTOS, TRANSMISSÃO, COMPETIÇÃO ESPORTIVA, FUTEBOL, AMBITO INTERNACIONAL, REFERENCIA, OPERAÇÃO, MINISTERIO PUBLICO FEDERAL, POLICIA FEDERAL, JUSTIÇA FEDERAL, PRESTIGIO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, UTILIZAÇÃO, RELATORIO, DIFAMAÇÃO.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Presidente Pimentel, Senadores presentes aqui no plenário, Senador Lindbergh, Senador Reguffe, confesso que não sou suscetível à teoria da conspiração, embora tenha visto, nesses quase 40 anos de mandatos eletivos, coisas que até o diabo duvidaria. Aprendi que uma certa dose de ceticismo faz bem à análise concreta de situações concretas; que as paixões políticas, os arroubos ideológicos, a sofreguidão juvenil, nem sempre são bons conselheiros, no ardor da batalha. Modus in rebus, moderação na coisa. De qualquer forma, alguns acontecimentos recentes transmitem sinais tão óbvios, transparecem tantas evidências que não é preciso nem ciência nem psicopatias para compreendê-los.

    Qual é o prato que a inefável mídia-empresa serve-nos à abundância esses dias, Senador Reguffe?

    Os cinco ou seis grupos de comunicação, que sequestraram a opinião dos 207 milhões de brasileiros, empanturram-nos com o caso do auxílio-moradia das Srªs e dos Srs. juízes e procuradores. A vida imobiliária de S. Exªs, suas propriedades, o tamanho, a localização e a decoração de suas casas passam por rigorosa devassa.

    Por que esse escândalo? Por que esse escândalo todo se isso já era sabido há muito tempo? O que há de novo em uma prática que, embora de moralidade e decoro duvidosos, é largamente disseminada? Não é necessário recorrer a teorias ou explicações muito sofisticadas para intuir a resposta. A mídia-empresa, no desempenho de sua tarefa de vocalizar o pensamento dos donos do poder – o complexo financeiro empresarial com dimensões globais e conformações locais – está passando um recado, fazendo uma advertência.

     Depois de abusarem do incenso, das LOAs, dos prêmios e mimos endereçados às S. Exªs do Judiciário, do Ministério Público e da "Polícia Federal – A Lei é Para Todos", os donos da bola querem cadenciar e disciplinar o jogo. Acima de tudo, querem que suas excelências permaneçam em suas posições e não fujam do esquema até agora praticado.

    Quer dizer que suas excelências mantenham os seus narizes distantes da participação dos bancos nos crimes da Lava Jato; que façam vistas grossíssimas ao óbvio e inescapável conluio do sistema financeiro com os desvios de dinheiro público; que não se metam a escarafunchar o suspeitíssimo acordo da Petrobras com os fundos abutres, para pagar a supostos investidores norte­americanos supostamente prejudicados, a quantia nada suposta de R$10 bilhões; que não peçam a DARF dos marinhos para que eles comprovem o pagamento de R$1 bilhão de impostos sonegados na compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de Futebol ou para que os marinhos expliquem suas conexões com a Mossack Fonseca, que frequenta tanto a lista do Panama Papers, como as listas atribuídas à jurisdição do Sérgio Moro; que deixem o Tacla Duran esperneando e continuem dizendo que o que ele tem a dizer não vem ao caso; que o Judiciário, o Ministério Púbico e a Polícia Federal – Polícia Federal – a Lei é para Todos – continuem olhando para o lado enquanto está em marcha o mais corrupto processo de privatizações e concessões da história brasileira; que se façam de desentendidos, como se fizeram até agora, quando o interesse público, de que seriam guardiães, sejam mortalmente feridos nessas privatizações e concessões; que a Polícia Federal e o Ministério Público permaneçam em silêncio e deixem para lá as solares evidências – eles que tanto adoram as evidências – da conexão paulista: metrô, Rodoanel, Porto de Santos, com os crimes da Lava Jato – os personagens são os mesmos, as empreiteiras são as mesmas, os métodos são os mesmos, as contas na Suíça são iguais. A diferença, Senador Reguffe, é o partido –; que essa nova Operação Condor, criada pelo Ministério Público, pela Polícia Federal e pela 13ª Vara Federal, com suas conexões internacionais clandestinas, ilegais, continue estabelecendo acordos e cooperações não autorizadas pelo Congresso com os Departamentos de Justiça e de Estado norte-americanos e com os serviços de espionagem e informações do famoso ocidente e, de qualquer forma, envolvendo a soberania e a segurança do Brasil, como a venda ilimitada de terras para estrangeiros, a venda da água, a exploração, o contrabando e roubo de minérios estratégicos, a absorção da Embraer pela Boeing norte-americana e o consequente desvendamento de toda a tecnologia e de informações sobre a segurança área brasileira, que, ao contrário da prática norte-americana, francesa, inglesa, alemã, russa e chinesa, a nossa Polícia Federal e os operadores da Justiça mantenham-se absolutamente alheios às questões da soberania do Estado Brasileiro e da segurança nacional; que os processos contra notáveis figuras da política brasileira continuem prescrevendo por decurso de prazo, deixem de ser julgados, sejam engavetados ou remetidos às primeiras instâncias, a exemplo do chamado mensalão mineiro ou do trensalão paulista.

    Enfim, os que promoveram, entronizaram, transformaram em super­heróis os juízes, os procuradores e os japoneses da Polícia Federal dão um claro aviso: podemos destruí­los também. Não é possível ser mais claro do que isso.

    Quando, semanas atrás, divulgou-se o relatório anual da Oxfam sobre a distribuição de renda no Brasil, revelando que cinco brasileiros, Senador Reguffe – cinco; apenas cinco! –, acumulam riqueza equivalente ao que possuem cem milhões de brasileiros – cem milhões! –, a mídia­empresa passou ao largo dessa depravação, mas usou os números da pesquisa para desancar os beneficiários do auxílio-moradia. Fizeram cálculos para mostrar que o auxílio-moradia, recebido por juízes, procuradores, ministros e conselheiros de Tribunais de Contas, é superior ao que recebem dezenas de milhões de brasileiros.

    Longe de mim, Senador Reguffe, defender o auxílio-moradia, mas usar o relatório da Oxfam, passar por cima dessa concentração de renda pornográfica, obscena, repulsiva que faz cinco brasileiros acumularem o mesmo que cem milhões de brasileiros, para indigitar apenas os juízes e igualmente repugnante.

    E pelo que aconteceu até agora, nesses quase 1.500 dias de Lava Jato, não acredito que alguma coisa vá mudar. Tranquilizem-se, Srs. donos do poder; desassuste esse mercado financeiro, aquietem-se e se refestelem nos bilhões que estão lucrando, Srs. banqueiros; sintam-se seguros, Srs. donos da mídia-empresa que mantém a opinião pública sob controle; repousem em doces sonhos, Srs. investidores estrangeiros que estão comprando o nosso País a preço de brechó. Nada há de mudar! Se, em 1.500 dias, os juízes, os procuradores e a "Polícia Federal – A Lei é Para Todos" nada fizeram contra os interesses dos donos do poder, não vai ser agora que eles serão incomodados.

    De todo modo, a advertência foi feita com essa campanha de desmoralização do auxílio-moradia – o auxílio-moradia, a decoração do apartamento do juiz, as propriedades herdadas por outro juiz em São Paulo. O recado sobre quem manda, sobre o poder de entronizar e destronar de quem manda, foi muito claro e direto. Como se dizia tempos atrás, está tudo dominado, e que o País e os brasileiros se lasquem, porque eles se imaginam e atuam como donos do Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/02/2018 - Página 95