Discurso durante a Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do aniversário de fundação da cidade de Macapá, Estado do Amapá.

Autor
João Capiberibe (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AP)
Nome completo: João Alberto Rodrigues Capiberibe
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Comemoração do aniversário de fundação da cidade de Macapá, Estado do Amapá.
Publicação
Publicação no DSF de 20/02/2018 - Página 15
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • CUMPRIMENTO, AUTORIDADE, PRESENÇA, SESSÃO SOLENE, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, MACAPA (AP), ESTADO DO AMAPA (AP), COMENTARIO, OBRAS, GESTÃO, ORADOR, GOVERNADOR.

    O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente desta sessão, Senador Randolfe Rodrigue; meu colega de Parlamento e de Senado, Davi Alcolumbre; Vice-Governador do Estado e também ex-Senador desta Casa, Papaléo Paes; Sr. Prefeito de Macapá, Clécio Luis; Deputado Abdon; Deputada Janete, que está aqui prestigiando este ato; Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Tork; ex-Prefeito Cleyton Figueiredo, que compõe a Mesa, e toda essa representação da nossa cidade de Macapá aqui presente...

    Eu cumprimento os músicos, a cantora, os cantores, em especial, Nena, lá do Curiaú, que é um craque do tambor, que veio da África. Os tambores vieram da África, junto também com o povo do Curiaú. E eles preservaram – Val Milhomem – essa manifestação cultural das antigas. Os negros foram trazidos para o sofrimento da senzala, mas não esqueceram sua cultura e terminaram introduzindo-a na cultura afro-brasileira.

    Macapá. Eu vi crescer Macapá. Aliás, eu cresci junto com Macapá, nós crescemos juntos. Já faz um tempinho em que cheguei por lá. Eu desembarquei em Macapá em 1955, e uma das coisas que mais me surpreendeu foi a lâmpada incandescente e o carro. Eu não conhecia, porque vim da Ilha de Marajó, vivia na beira de um rio, o Rio Charapucu, aliás, o Rio Jurará, perdão, e velejei... Agora, imaginem: velejar na Ilha de Marajó, nos meandros dos rios de Marajó, em que não há vento. E a canoa era à vela. Nós levamos sete dias – o que hoje a gente faz em três horas – para chegar a Macapá.

    Eu fui morar no hoje Perpétuo Socorro, que se chamava Igarapé das Mulheres, exatamente porque as mulheres lavavam a roupa no igarapé, e os homens iam brechar as mulheres lavando roupa. Por isso, esse nome terminou muito forte e até hoje ainda permanece. E eu cresci ali. Estudei no Colégio Barão do Rio Branco, depois, no Colégio Amapaense, na Escola Normal, enfim, eu devo tudo que sou à minha cidade.

    Macapá é uma cidade fascinante, de um povo alegre. Olha o Carnaval agora! O Carnaval foi fantástico, a cidade inteira estava naquela banda. Se não estava a cidade inteira, pelo menos estava a metade da cidade ali, dançando, e dançando num momento em que a gente não tem tanta coisa para comemorar, digamos, mas a festa foi bonita.

    O Prefeito Clécio reuniu todos os ex-Prefeitos numa festa bonita, e ali daria para contar um pouco a história da cidade.

    Eu fui, de fato, Prefeito de Macapá e eu estava comentando com o Desembargador Tork que eu organizei a cidade, e, para organizar a cidade, a gente teve de cumprir rigorosamente a legislação urbana e eu tive de distribuir multa. No final, multei a metade da cidade de Macapá, inclusive meus parentes, que não gostaram nada. Multamos e, aí, organizamos a cidade. Evidentemente que isso terminou contribuindo enormemente para o ordenamento urbano, e criamos ali um plano diretor integrado com a população. Isso terminou me projetando e me levou ao governo do Estado, em 1994; reeleito em 1998; depois, Senador, em 2002; Senador, em 2010, graças, evidentemente, ao conjunto do Estado, mas, particularmente, à cidade de Macapá. Eu devo muito a essa cidade.

    Eu procurei retribuir essa dívida de gratidão com a cidade e eu estou olhando daqui, estou em frente a uma das principais obras do meu governo: o restauro da Fortaleza de Macapá e também a urbanização do entorno; uma obra, a mais importante do meu governo, uma obra em que nós tivemos que remontar, lá, ao século XVIII e também a todas as instituições portuguesas encarregadas da memória colonial daquele país, para a gente poder, então, fazer o restauro. E trouxemos para a cidade de Macapá uma das arquitetas mais fantásticas que este País já produziu, que está viva, Rosa Kliass Trapiche Eliezer Levy, para fazer o projeto do entorno, e ela, então, projetou o último baluarte, só que no solo, porque a obra não foi concluída.

    Além da obra da Fortaleza de São José de Macapá, uma outra obra importante da cidade foi o Trapiche Eliezer Levy, que recebia todas as cargas e descargas e transporte de pessoal vindos de Belém, principalmente, e de outras regiões. Era o Trapiche Eliezer Levy que recepcionava aqueles que chegavam a Macapá, e eu transformei o Trapiche num ponto turístico. A cidade não podia ficar sem o Trapiche, até porque a cara da cidade de Macapá é o Trapiche, a Fortaleza e a Pedra do Guindaste, com São José protegendo a cidade. Essa é a cara de Macapá vista do rio. E o rio é, na verdade, o fascínio da cidade – ou seja, se você olhar a cidade de Macapá, a primeira coisa que você desejará conhecer é a orla da cidade, conhecer o rio.

    Depois nós fizemos o Museu Sacaca, um museu do desenvolvimento sustentável, porque Macapá é uma concentração urbana em que as pessoas vivem como em qualquer concentração urbana do mundo: sem perceberem que estão cercadas por florestas e rios por todos os lados. A ideia de construir um museu que reproduzisse a vida amazônica foi para aproximar exatamente o cidadão urbano da realidade, do cotidiano, da história e da cultura do povo do nosso Estado e da Região Amazônica.

    Como nós gostamos de samba... Na verdade, o primeiro Governador que chegou ao Amapá, o Janary Nunes, trouxe um grupo seleto de pessoas, de intelectuais, de técnicos do Rio de Janeiro e, claro, trouxe a influência do samba, naqueles idos de 1944; em 1943, com a criação; 1944, com a instalação. E essas pessoas chegaram em Macapá e fundaram as escolas de samba, trouxeram o samba carioca que estava começando a renascer – porque o samba foi proibido até 1940 no Rio de Janeiro; os desfiles de blocos vindos da periferia foram proibidos até 1940. Villa-Lobos, então, na ditadura Vargas, intermediou a volta dos desfiles das escolas e dos entrudos ao carnaval carioca. E essa gente levou o carnaval. E aí, em 1997, nós construímos a Escola de Artes Populares Sambódromo, que, além de uma escola de artes, servia também como palco para o carnaval.

    Depois o Centro de Cultura Negra, para valorizar exatamente esses nossos ancestrais que atravessaram o Atlântico para viver no nosso Estado.

    E, por último, o próprio Curiaú, um trabalho de promoção do Curiaú e de criação do Memorial do Curiaú. Então, eu tinha e tenho essa gratidão e fiz isso exatamente para poder demonstrar minha gratidão pela cidade. E promovemos a cultura. E, mais do que isso, Macapá é a capital do Platô das Guianas. Nós estamos ali inseridos num contexto muito especial, que é a nossa vizinhança com a Guiana Francesa, com o Suriname e a República da Guiana. Isso é muito importante para a nossa integração e para a construção de uma integração econômica, social e cultural. E nós aproximamos a nossa cidade de Macapá com as cidades e principalmente com Caiena e com a Guiana Francesa, para que a gente pudesse valorizar a nossa situação geográfica, esse diferencial que é o Amapá e que é a cidade de Macapá.

    Portanto, eu fico muito feliz e muito satisfeito, Sr. Presidente da sessão, meu caro Senador Randolfe, por V. Exª ter promovido este encontro nosso, essa valorização da nossa cidade, essa valorização do lugar que nos viu nascer ou no qual crescemos juntos. Eu agradeço muito a V. Exª, à Mesa e a paciência de vocês. Eu espero – aqui são 260 anos – estar presente nos 290, 300 anos e espero continuar contribuindo com a minha cidade.

    Muito obrigado. Um abraço a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/02/2018 - Página 15