Discurso durante a 11ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a necessidade de inovação na educação e valorização dos professores.

Autor
Marta Suplicy (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SP)
Nome completo: Marta Teresa Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Comentários sobre a necessidade de inovação na educação e valorização dos professores.
Publicação
Publicação no DSF de 22/02/2018 - Página 35
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, APERFEIÇOAMENTO, EDUCAÇÃO, TECNOLOGIA EDUCACIONAL, VALORIZAÇÃO, PROFESSOR, REFERENCIA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ASSUNTO, DEFICIT, REDE ESCOLAR.

    A SRª MARTA SUPLICY (PMDB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Obrigada, Presidente.

    Cumprimento os Senadores, as Senadoras e vocês que estão assistindo a esta sessão ou nos ouvindo pela Rádio.

    Bem, quanto mais eu vivo, mais observo, mais aprendo. Eu não tenho nenhuma dúvida de que a mudança, o motor para alavancar uma sociedade é a educação. E não há outro caminho! Basta observarmos os países que fizeram este tipo de investimento, priorizando e focando a educação, para que nós percebamos os resultados. Não são muito rápidos, mas também não são tão longos. Não são tão em longo prazo.

    Mas hoje eu ouvi uma frase que me chamou a atenção; parece mentira. A pessoa dizia: "É; não se morre por falta de professor." Achei que não faz sentido. Está errada a frase – é óbvio –, porque se morre, sim. E até pensei que o professor não é necessariamente o que está na escola, mas pode ser um vizinho que sabe mais, pode ser uma experiência de grupo numa igreja, pode ser tanta coisa. Mas se morre se você não sabe como dar um remédio que foi receitado pelo médico, se você não sabe normas básicas de higiene, se você não sabe o que fazer com uma criança que está com um problema... Morre, sim! Mas, pior: a gente deixa de viver o que pode viver se não tem professores competentes. Isso é que é duro, não é?

    Ontem, O Estado de S. Paulo publicou um artigo que me despertou a vontade de falar hoje sobre este tema da educação.

    Diz o artigo:

A evasão escolar, que é um dos principais problemas do sistema educacional brasileiro, não se concentra apenas no ensino médio, cujo currículo está desconectado das necessidades do mercado de trabalho, nem no ensino fundamental. Ela também afeta de modo preocupante o ensino superior, como mostra o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educação, com base no último Censo Escolar.

Entre 2014 e 2015, 12,7% dos alunos matriculados na primeira série do ensino médio abandonaram as salas de aula, o mesmo acontecendo com 12,1% dos matriculados na segunda série e 6,7% dos matriculados na terceira série. No ensino fundamental, a taxa de evasão na nona série [...] foi de 7,7%, no mesmo período [...] [Quer dizer, é uma sangria]. Já no ensino superior, a taxa de abandono acumulada em cinco anos para os que entraram numa faculdade em 2010 [Presidente] foi de 49%.

    Quer dizer, gasta-se enormemente para não se formarem, para abandonarem a escola.

    O que está acontecendo para que os nossos estudantes, quando conseguem chegar ao ensino superior, caiam fora dele, não fiquem lá?

    São dados muito alarmantes. Há mais estatísticas minuciosas, mas essas que eu mencionei são centrais para o nosso debate.

    Registre-se que os cursos com maior evasão foram os de Matemática, Computação e Jornalismo nas universidades privadas e de Matemática e Computação nas universidades públicas.

    Há claros e evidentes impactos para as universidades públicas e privadas. Se, de um lado, discute-se que as escolas que temos, fundamentadas em práticas, são do século XIX e do século XX e que já não dão conta de responder ao que nossos jovens querem aprender, é necessária uma revisão. E nós temos também, de outro lado, que nem mesmo as competências – isto que é mais duro – que se ensinavam antigamente estão sendo bem aprendidas ou compreendidas. Quer dizer, nós não estamos ensinando nem o que os nossos pais, avós, ou nós mesmos aprendemos e nem nada do que é contemporâneo.

    Quer dizer, é bem desastroso! Estamos falando do Português e da Matemática, de não conseguirmos formar leitores eficientes, pessoas capazes de pensar e de ter pensamento abstrato.

    Então, nós temos 1001 propostas, todas reforçando a tecnologia. Dizem mais ou menos assim: "Não vamos ensinar o que os computadores, os programas e os aplicativos fazem." Isso aí eu ouvi em um vídeo que foi veiculado no Fórum de Davos. Estavam veiculando esse vídeo, que era até muito interessante, e eu fiquei pensando quando eu ouvi isto de que a gente não tem que ensinar o que o computador pode fazer. Bom, computador pode fazer tanta coisa, não é? Mas a parte de criatividade ainda não pode.

    Então, nós temos que começar a pensar em mudanças muito mais profundas, de que nós estamos anos-luz, que é o que alguns países já estão pensando: o que se ensina que o computador não pode fazer? E isso tem a ver com outras capacidades – de se conectar, de saber trabalhar em colaboração, de emoção, de criatividade –, que, segundo esse senhor que expunha, tem a ver até com esporte, tem a ver com pintura... É outro planeta me parece! Um planeta que está ficando tão distante da gente, tão longe, que dá até arrepio de pensar. Como é que nós vamos... Nós estamos no básico.

    E aí a gente não pode desanimar! Temos que pensar que é isso que temos e, daí para frente, nós temos que ver o que vamos fazer.

    E o que fica claro é que o que nós vamos fazer é com criança e formação de professor. Eu não tenho nenhuma dúvida de que é aí que você pode mudar. Esses meninos que estão saindo e desistindo na universidade, Presidente João Alberto, não têm a formação básica dessas questões, nem da Matemática e nem do Português; eles escolhem isso e é aí que eles abandonam.

    Então, a formação dos pequenos tem que ser muito melhor.

    Agora, para ter essa formação, você tem que investir no professor, porque, se a gente for ver os currículos universitários na área de Pedagogia, não são currículos que correspondem às necessidades dos alunos hoje e não ajudam o professor a ter uma formação adequada para lidar com as aspirações das crianças. Hoje, se você pega uma criança de classe média, ela já mexe naquilo com a maior rapidez, já tem resposta... Para você tirá-la dali e colocá-la numa outra coisa interessante, é outro mundo. E, se você vai com uma criança mais carente, o primeiro problema é a nutrição; mas depois ela pode já estar muito comprometida na sua capacidade de fazer a relação, de poder se conectar com um conteúdo que é muito longe dela. E o professor tem que ser gabaritado para lidar com isso.

    Metade provavelmente das nossas escolas... E eu estava aqui ouvindo os que falaram antes de mim se pronunciarem sobre os seus Estados, e a gente não pode esquecer que São Paulo é um Estado rico, mas que tem bolsões enormes de pobreza... Hoje também tivemos na CAS (Comissão de Assuntos Sociais) uma exposição brilhante da Senadora Lídice da Mata sobre uma avaliação que foi feita do ano inteiro – ela teve essa responsabilidade, porque a comissão lhe deu – sobre o Mais Médicos.

    E, vendo o resultado excepcional que houve em comunidades pobres, principalmente me chamou a atenção que 55% dos usuários deram nota dez aos médicos que estavam nessa condição, atendendo-os. E os médicos que participaram também se posicionaram dizendo que nunca tinham aprendido e gostado tanto e louvando o programa. Então, nós percebemos que houve alguns lampejos em várias áreas no Brasil, que deram resultado. Por exemplo, esse Mais Médicos é um programa vitorioso.

    Nós temos que criar programas vitoriosos numa área extremamente importante que é a educação. Este é o grande desafio que nós temos: criar um programa vitorioso. Vitorioso seria formar professores adequados, e isso não é formar na tecnologia, é formar nas qualidades básicas que um professor tem que desenvolver para ensinar, porque um professor...

    Os meus colegas todos já tiveram...

(Soa a campainha.)

    A SRª MARTA SUPLICY (PMDB - SP) – ... professores bons e ruins e podem concordar: se você tinha um professor excepcional numa matéria, aquela matéria virava a sua favorita, porque você conseguia entender. Você se sentia com uma autoestima boa, aprendia.

    Então, tudo isto é o que nós temos que passar: o amor, essa possibilidade de perceber o que é o ensino. E há os instrumentos hoje já modernos que mostram como ensinar matemática de um jeito, o que não é mais como era antigamente. E as escolas que formam não estão preparadas para isso, infelizmente, ainda não.

    E nós temos o problema também de resgatar quem já está na praça, ensinando não só na universidade, daí a formação continuada. Eu li, acho que foi aqui no Brasil mesmo, que algum Estado está fazendo um programa... Aliás, é o Ministério da Educação que fez um programa que achei maravilhoso, que é pôr o professor para fazer residência...

(Soa a campainha.)

    A SRª MARTA SUPLICY (PMDB - SP) – ... em escolas, talvez até de outros Estados ou na capital, não sei, que são de primeiro mundo. E o professor faz a residência paga pelo Estado, pelo Ministério, para poder ter a experiência do que é uma educação que está dando resultado. Nós temos bons exemplos disso no Brasil e poderíamos aproveitar mais.

    Eu tinha bastante coisa para contar e comentar sobre isso, que é uma área que me interessa muito, mas infelizmente meu tempo acabou.

    Voltaremos ao tema.

    Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/02/2018 - Página 35