Comunicação inadiável durante a 11ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à intervenção federal decretada no Rio de Janeiro (RJ), utilizada como forma de campanha publicitária.

Autor
Kátia Abreu (S/Partido - Sem Partido/TO)
Nome completo: Kátia Regina de Abreu
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Críticas à intervenção federal decretada no Rio de Janeiro (RJ), utilizada como forma de campanha publicitária.
Publicação
Publicação no DSF de 22/02/2018 - Página 42
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, GESTÃO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUTOR, INTERVENÇÃO FEDERAL, SEGURANÇA PUBLICA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), OBJETIVO, REALIZAÇÃO, CAMPANHA, POLITICA, AUMENTO, POPULARIDADE, OPOSIÇÃO, CRIAÇÃO, MINISTERIO, REGISTRO, DADOS, OCORRENCIA, CRIME, ENTE FEDERADO.

    A SRª KÁTIA ABREU (S/Partido - TO. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) – Obrigada.

    Sr. Presidente, eu venho, com o mesmo objetivo, também comentar a questão da intervenção federal no Rio de Janeiro, usando as Forças Armadas para entrar no Rio de Janeiro e combater e conter ou punir a criminalidade que tomou conta daquele Estado.

    Vou confessar aos brasileiros e aos tocantinenses em especial que votei sem muita convicção, porque pensei, pensei muito antes da votação, mas, na verdade, achei que a emenda poderia ficar muito pior do que o soneto. Imaginem, depois de todo esse carnaval, não o Carnaval da Marquês de Sapucaí, mas esse carnaval da intervenção federal, se nós aqui, no Senado, derrubássemos essa intervenção, o que aconteceria de pior ainda no Rio de Janeiro?

    Então, fazendo um balanço de duas situações terríveis, eu resolvi votar pela menos terrível, que seria a intervenção para não piorar a vida do povo do Rio de Janeiro, depois de tudo o que anunciaram.

    Mas por que votei sem convicção? Porque eu não sinto, Sr. Presidente, nessa intervenção, que exista um planejamento, um foco e, de fato, um projeto de segurança pública para o Estado.

    No jornal O Estado de S. Paulo, o colunista Celso Ming faz uma coluna muito interessante demonstrando quem garante que todo esse aparato enviado ao Rio de Janeiro não vai fazer com que todos esses problemas do Rio não invadam outros Estados no interior do Brasil, principalmente o meu Estado, que é um Estado que faz fronteira com cinco outros Estados. Quem garante que o interior do Brasil não será um refúgio de bandidos, de marginais, de traficantes, de assassinos, enquanto as Forças Armadas ficam no Rio de Janeiro até o final do ano? Quem garante que esses bandidos não vão tirar férias nos outros Estados, nos 26 Estados, enquanto no Rio de Janeiro nós estamos vivendo uma farsa de solução?

    E eu, sinceramente, desejo que o Rio de Janeiro resolva os seus problemas. A minha mãe reside no Rio de Janeiro. Ela adora, ama morar no Rio de Janeiro. Então, eu, ninguém mais do que eu, torce para que essas questões da violência possam ser controladas de fato.

    Mas não adianta você tirar um órgão numa cirurgia que está com câncer sem tirar a metástase nos outros órgãos. Então, nós vamos tentar tirar o câncer no Rio de Janeiro e deixar todos os outros Estados, o Tocantins, o Maranhão, de V. Exª, Alagoas, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, todos os Estados sem nenhuma cobertura, sem nenhum planejamento. Os Secretários de Segurança Pública dos outros 26 Estados foram chamados para ser ouvidos e também participar de uma frente tão violenta como foi feita agora no Rio de Janeiro? O que pensam esses Secretários de Segurança Pública?

    Então, Sr. Presidente, quando eu digo que votei sem convicção foi porque me pareceu muito um ato midiático. E nós não estamos aqui falando de vidas alheias para vir falar de política, se o outro governo não fez, se este Governo fez. Pelo amor de Deus, defender Michel Temer a esta altura do campeonato, faça-me o favor! Chega a ser uma desfaçatez.

    Nós estamos falando...

(Soa a campainha.)

    A SRª KÁTIA ABREU (S/Partido - TO) – ... de brasileiros, nós estamos falando de pessoas que estão largadas à míngua. O Senhor Michel Temer fez parte de um governo quase que durante seis anos.

    Então, nós não estamos atrás de culpados e de erros; nós estamos atrás é do futuro. Já que é um especialista em leis, em Constituição, já foi procurador do Estado de São Paulo, promotor de Justiça, por que não resolver definitivamente, com um grande projeto nacional, e deixar o seu legado e a sua marca, que não seja só a outra da corrupção e dos desvios de recursos, das malas e dos apartamentos cheios de dinheiro? Por que não deixar um legado na segurança pública e fazer um projeto estruturado, estruturante, em que todos os brasileiros sentirão confiança? Por que não pedir ajuda em outros países que tiveram sucesso? Nós sabemos de Nova York, que, alguns anos atrás, fez um combate exemplar com relação...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A SRª KÁTIA ABREU (S/Partido - TO) – ... realizado em Nova York.

    Então, Sr. Presidente, criar mais um ministério é mais uma hipocrisia, é mais um Carnaval fora de época, é mais um ato midiático. Assim que assumiram o Governo, prometeram reduzir os ministérios e a despesa. E vem falar de criar ministério? Onde está o Plano Nacional de Segurança Pública? Porque, se sou Presidente da República, eu não preciso de ministério para fazer Plano Nacional de Segurança Pública; eu preciso de vontade política, de autoridade, de uma caneta e fazer com que funcione, e destinar recursos para tanto.

    Se eu preciso de uma figura, se eu preciso de uma decoração para poder fazer um plano de segurança pública, eu vou de mal a pior. Eu não preciso de institucionalizar cargos e distribuição de cargos para fazer valer a minha autoridade e o conhecimento dos técnicos que nós temos neste País.

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A SRª KÁTIA ABREU (S/Partido - TO) – Dois minutos, por favor, Sr. Presidente, da sua tolerância. Muito obrigada.

    E quero lembrar que as pessoas não estão vendo que há números muito piores em outros Estados do que no Rio de Janeiro. Mas, no Rio de Janeiro e em São Paulo, eles contam com uma grande vantagem: a imprensa nacional fica nesses dois Estados. E tudo que acontece nesses dois Estados vira notícia nacional e mundial. Agora, nós que estamos do interior do Brasil e que não temos essa vantagem, nós não podemos deixar de mostrar, aqui, de público, Sr. Presidente, por exemplo... Não há nenhum número aqui do seu Estado, que é o Maranhão. Tenho, sim, Maranhão.

    Efetivo da Polícia Militar: para 100 mil habitantes, no Rio de Janeiro há 245 policiais militares por 100 mil habitantes; no Estado de V. Exª, há apenas 110. Está em desvantagem com o Rio de Janeiro.

    A população carcerária do Brasil, em São Paulo, é de 658 por 100 mil...

(Soa a campainha.)

    A SRª KÁTIA ABREU (S/Partido - TO) – ... habitantes. No Rio de Janeiro, é menos da metade, 224. E, pasmem, do meu Tocantins, a população carcerária é de 252 pessoas para 100 mil habitantes.

    Roubo de patrimônio, veículos: no Distrito Federal, aqui em Brasília, são 1.733 veículos por 100 mil habitantes; no Tocantins, 355; no Rio de Janeiro, 1.255; no Brasil, 838. Então, nós temos números que são aterradores.

    Mortes violentas e intencionais: o Rio de Janeiro não é o campeão; Sergipe é o campeão.

    Morte por intervenção policial: o Rio de Janeiro não é o campeão; o campeão é o Amapá.

    Ocorrência por tráfico de droga: o campeão não é o Rio de Janeiro; é Minas Gerais.

    Homicídios de jovens de 15 a 29 anos. O Rio de Janeiro não é o campeão; o campeão é Alagoas.

    Suicídio. O campeão não é o Rio de Janeiro; é Santa Catarina.

(Interrupção do som.)

    A SRª KÁTIA ABREU (S/Partido - TO) – Apreensão de arma de fogo; Alagoas é o campeão.

    Mortes violentas do sexo feminino. O campeão é Mato Grosso do Sul.

    Então, Sr. Presidente, o que é que nós estamos vendo acontecer? Nós estamos vendo um ato midiático... É o primeiro ato. No teatro há o primeiro ato, segundo ato, terceiro ato. Esse é o primeiro ato, onde estamos abusando e usando politicamente as Forças Armadas, que não foram nem comunicadas nem ouvidas, e não houve um planejamento diante disso tudo.

    Uma farsa publicitária. Porque, se não fosse uma farsa publicitária, nós não estaríamos apenas focando no Rio de Janeiro, para agradar a Rede Globo, como o Governo quer – porque fica no Rio de Janeiro. Seria um programa nacional de combate à violência, de combate ao tráfico, porque as nossas fronteiras precisam de reforço policial.

    As nossas Forças Armadas precisam de orçamento. Estão clamando há anos e anos, décadas e décadas, que o orçamento vem diminuindo a cada dia...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A SRª KÁTIA ABREU (S/Partido - TO) – Agradeço a V. Exª por essa oportunidade.

    Cumprimento o ilustre Deputado João e seu filho, João Marcelo, desejando a você uma grande carreira e que o seu Estado possa também receber a atenção que o Rio de Janeiro está recebendo.

    Não é questão de ciúmes, não é questão de inveja. Quem é que não gosta do Rio de Janeiro no Brasil? Todos nós gostamos. Mas é uma questão de responsabilidade com os nossos Estados. Nossos Estados estão à deriva. Os policiais militares e civis do Tocantins não têm combustível para colocar nos veículos. As delegacias estão abandonadas e depredadas. Nós estamos com policiais militares defasados há anos no meu Estado. E quem é que vai nos ajudar?

    Quem vai ajudar o Piauí, o Maranhão, o Pará? Quem vai ajudar Goiás? Quem vai ajudar a Bahia? Nós vamos ficar à margem disso tudo, e os bandidos, agora, com o Exército presente no Rio de Janeiro, vão tirar férias nos Estados do interior do Brasil.

    Podem esperar o segundo ato...

(Interrupção do som.)

    A SRª KÁTIA ABREU (S/Partido - TO) – ... após esse primeiro ato.

    Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/02/2018 - Página 42