Pronunciamento de Roberto Requião em 01/03/2018
Discurso durante a 17ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal
Críticas à intervenção federal decretada no Rio de Janeiro (RJ).
Oposição à venda da Embraer.
- Autor
- Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
- Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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SEGURANÇA PUBLICA:
- Críticas à intervenção federal decretada no Rio de Janeiro (RJ).
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GOVERNO FEDERAL:
- Oposição à venda da Embraer.
- Publicação
- Publicação no DSF de 02/03/2018 - Página 14
- Assuntos
- Outros > SEGURANÇA PUBLICA
- Outros > GOVERNO FEDERAL
- Indexação
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- CRITICA, INTERVENÇÃO FEDERAL, SEGURANÇA PUBLICA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), AUTORIA, GOVERNO FEDERAL, GESTÃO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, COMBATE, CRIME, REDUÇÃO, VIOLENCIA, LEITURA, DOCUMENTO HISTORICO, CLUBE, EXERCITO, DESTINATARIO, PRINCESA ISABEL (PB).
- OPOSIÇÃO, VENDA, EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA (EMBRAER), EMPRESA INTERNACIONAL, AVIAÇÃO, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Senador Lasier, o que eu vejo hoje no Brasil é essa política de austeridade, com 20 anos sem investimento público em saúde, em educação, em infraestrutura, como uma ação dominante do capital financeiro vadio, da escravização do Brasil e da defesa de interesses que não são os interesses do Estado nacional.
Mas, de repente, não mais que de repente, vejo que, por meios variados, se convoca o Exército nacional, para apoiar esse projeto de espoliação e destruição do Estado social.
Pesquisando, descobri que, em 25 de outubro de 1887, quando se convocava ou se tentava convocar o Exército brasileiro para perseguir escravos fugidos, houve uma reação muita dura do Clube Militar no Rio de Janeiro. E o Presidente do Clube militar era, nada mais nada menos, do que o Marechal Deodoro.
Sem mais comentários, e, de uma forma singela, eu quero passar a ler a petição encaminhada pelo Clube Militar à então regente Princesa Isabel, em 25 de outubro de 1887.
Senhora, os oficiais, membros do Clube Militar, pedem a Vossa Alteza Imperial vênia para dirigir ao Governo Imperial um pedido, que é antes uma súplica. Eles todos, que são e serão os amigos mais dedicados e os mais leais servidores de Sua Majestade, o Imperador, e de sua dinastia, os mais sinceros defensores das instituições que nos regem; eles, que jamais se negaram, em bem vosso, os mais decididos sacrifícios, esperam que o Governo Imperial não consinta que, nos destacamentos do Exército que seguem para o interior, com o fim, sem dúvida, de manter a ordem, tranquilizar a população e garantir a inviolabilidade das famílias, os soldados sejam encarregados da captura dos pobres negros que fogem à escravidão, ou porque vinham já cansados de sofrer os horrores, ou porque um raio de luz de liberdade lhes tenha aquecido o coração e iluminado a alma.
Senhora, a liberdade é o maior bem que possuímos sobre a terra. Uma vez violado o direito que tem a personalidade de agir, o homem, para reconquistá-la, é capaz de tudo; de um momento para outro, ele, que antes era covarde, torna-se um herói; ele, que antes era inércia, se multiplica e subdivide-se, ainda mesmo esmagado pelo peso da dor e das perseguições; ainda mesmo reduzido a morrer, de suas cinzas renasce sempre mais bela e mais pura a liberdade.
Em todos os tempos, os meios violentos de perseguição, os quais, felizmente, entre nós ainda não foram postos em prática, não produziram nunca o desejado efeito. Debalde, milhares de homens são encerrados em escuras e frias masmorras, onde, apertados, morrem por falta de luz e de ar; através dessas muralhas, as dores gotejam; através dessas grossas paredes, os sofrimentos se coam, como através do vidro coam os raios de luz, para virem contar fora os horrores do martírio!
Debalde, milhares de famílias são atiradas aos extensos desertos. E de lá, onde só vivem os líquenes, e os ventos passam varrendo a superfície dos gelos e beijando as estepes, tudo morre, mas os ódios concentrados de tantos infelizes são trazidos e vêm germinar, às vezes, no seio dos próprios perseguidores.
É impossível, pois, Senhora, esmagar a alma humana que quer ser livre.
Por isso, os membros do Clube Militar, em nome dos mais santos princípios de humanidade, em nome da solidariedade humana, em nome da civilização, em nome da caridade cristã, em nome das dores de Sua Majestade, o Imperador, vosso augusto pai, cujos sentimentos julgam interpretar e sobre cuja ausência choram lágrimas de saudades, em nome do vosso futuro e do futuro de vosso filho, esperam que o Governo Imperial não consinta que os oficiais e as praças do Exército sejam desviados de sua nobre missão.
Não é isso, Senhora, um ato de desobediência. Se se tratasse de uma sublevação de escravos que ameaçasse a tranquilidade das famílias, que trouxesse a desordem, acreditai que o Exército, que não deseja o esmagamento do preto pelo branco, não consentiria também que o preto, embrutecido pelos horrores da escravidão, conseguisse garantir a sua liberdade esmagando o branco.
O Exército havia de manter a ordem. Mas, diante de homens que fogem, calmos, sem ruído, mais tranquilamente do que o gado que se dispersa pelos campos, evitando tanto a escravidão como a luta e dando, ao atravessar cidades inermes, exemplos de moralidade, cujo esquecimento tem feito, muitas vezes, a desonra do Exército mais civilizado, o Exército brasileiro espera que o Governo Imperial lhe concederá o que respeitosamente pede, em nome da honra da própria bandeira que defende.
Petróleo entregue; garantias trabalhistas liquidadas por uma reforma da CLT; a pretensão de entregar os recursos da Previdência para a banca privada; a Embraer cedida à Boeing.
Vocês lembram? Lembra, Senador Anastasia, a nossa Aeronáutica escolhendo o Gripen, da Suécia, porque havia o compromisso de transferência de tecnologia negada pelas empresas norte-americanas? E, na privatização da Embraer, o Estado brasileiro manteve em suas mãos a golden share, a ação que podia evitar qualquer desvio de finalidade. A Aeronáutica optou pela transferência da tecnologia e por um caça de qualidade.
Mas vem o Governo atual, nas barbas do Congresso Nacional, permitir a venda da Embraer para a Bombardier, a grande empresa americana... Para a Boeing, a grande empresa americana. Desculpe-me o erro, que já me foi corrigido ali pelo Senador Anastasia.
Isso não tem, realmente, sentido algum.
E se manobra o Exército brasileiro com intervenções muito pouco esclarecidas e sem recursos, intervenções que, na verdade, não são intervenções, para, de certa forma, chancelar o entreguismo e a cessão do projeto nacional a um projeto neoliberal, falido no mundo, que destruiu a Europa e que hoje, como um zumbi, pede asilo, e o asilo é dado por um governo que não passou por eleições no Brasil.
O Exército que eu conheço – e eu sou oficial da reserva. Um aspirante a oficial da reserva. Fiz CPOR.
(Soa a campainha.)
O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) – Esse Exército brasileiro é o Exército do Clube Militar de Deodoro; não é um Exército que se dobre a tudo que acontece no Brasil.
Eu fico aqui imaginando: Brigadeiro Ferolla, onde estás? Um dos comandantes iniciadores e consolidadores da Embraer; um que, na privatização, exigiu a golden share.
Não há um protesto à submissão? E alguns oficiais vão para a reserva e anunciam apoio ao Bolsonaro. Este não é o Exército brasileiro. Este não é o retrato das nossas Forças Armadas. As Forças Armadas brasileiras se espelham nessa petição do Clube Militar à Princesa Isabel, em 25 de outubro de 1887.
E eu tenho certeza de que, no fundo da alma, eles se recusam a serem capitães...
(Interrupção do som.)
O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) – ...do mato modernos, a perseguirem os pobres do nosso País. (Fora do microfone.) E o que estão fazendo, de uma forma ou de outra, é sob o domínio do capital financeiro, da banca e do capital vadio que se opõem ao capital produtivo e ao trabalho no País.
Obrigado, Presidente.