Pronunciamento de Paulo Paim em 05/03/2018
Fala da Presidência durante a 19ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Homenagem póstuma ao empresário Raul Anselmo Randon, nascido no Municipio de Tangará (SC).
- Autor
- Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
- Nome completo: Paulo Renato Paim
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Fala da Presidência
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM:
- Homenagem póstuma ao empresário Raul Anselmo Randon, nascido no Municipio de Tangará (SC).
- Publicação
- Publicação no DSF de 06/03/2018 - Página 7
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, EMPRESARIO, NASCIMENTO, MUNICIPIO, TANGARA (SC), ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), ATUAÇÃO, EMPRESA, CIDADE, CAXIAS DO SUL (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.
A Presidência comunica ao Plenário que há expediente sobre a mesa, que, nos termos do art. 241 do Regimento Interno, vai à publicação no Diário do Senado Federal.
A Presidência lembra às Senadoras e Senadores que o Senado Federal está convocado para uma sessão temática a realizar-se amanhã, dia 6, às 13h30min, para discutir a questão da violência e da segurança pública, nos termos do Requerimento nº 10, de 2018, do Senador Tasso Jereissati e outros Senadores.
Senador Sérgio de Castro, é uma satisfação estar com o senhor aqui, mas lá, no meu Rio Grande, faleceu um grande empresário, que tinha e tem – a sua equipe tem – um enorme compromisso com a questão social, com o crescimento da região onde eu nasci, que é a Serra Gaúcha. Por isso, eu vou aproveitar que V. Exª está aqui ao meu lado para fazer a leitura, que eu recebi lá do Estado, deste voto de pesar.
Senador Sérgio Castro e outros Senadores, registro hoje com tristeza o falecimento, na noite do último sábado, 3 de março deste ano, do empresário Raul Anselmo Randon. Ele estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Meus sentimentos aos familiares e amigos de Raul Randon – meu pai trabalhou, inclusive, como vigilante na empresa Randon -, aos funcionários de suas empresas e, em especial, ao povo de Caxias do Sul, minha cidade natal, a cidade onde ele iniciou sua grande carreira profissional.
Raul Randon foi um dos maiores empreendedores que conheci; um visionário do mundo do trabalho, que acreditava no desenvolvimento econômico e social. Um grande brasileiro! Determinação e persistência sempre guiaram a vida de Raul Anselmo Randon.
Essas características, aliadas ao planejamento e ao trabalho tanto dele como de toda a sua equipe e de familiares, transformaram a pequena ferraria fundada em 1949 por ele e seu irmão Hercílio no grande conglomerado integrado por nove empresas fornecedoras de soluções em transporte, presentes em todos os continentes e líderes no mercado nacional em seus segmentos.
Raul costumava afirmar: "Fomos ousados em vislumbrar e sonhar o futuro; fomos prudentes nos investimentos e avanços tecnológicos; fomos fortes nos momentos de crise, na adversidade. Por acreditarmos no Brasil [dizia ele], sempre projetamos produtos afinados com o progresso, apostando no desenvolvimento nacional."
A história de quase 70 anos das Empresas Randon confunde-se com a trajetória pessoal e profissional de um de seus fundadores e também dos trabalhadores de Caxias do Sul e da Serra Gaúcha.
Descendente da segunda geração de imigrantes italianos fixados no meu Rio Grande do Sul, no nosso Rio Grande do Sul, Raul nasceu em Tangará, Santa Catarina, no dia 6 de agosto de 1929. Filho de Abramo e Elisabetha Randon, Raul recebeu de seus pais uma educação muito rígida, voltada para o trabalho, para o mundo do trabalho – onde nós todos atuamos. Autodidata, bem-sucedido, adquiriu conhecimentos através de cursos rápidos, palestras, seminários e na vida, aprofundando seus conhecimentos nas áreas administrativas, financeiras, de custos, vendas, produção e, posteriormente, agricultura, fruticultura e pecuária.
Aos 14 anos, foi trabalhar na ferraria de seu pai, aí permanecendo até os 18 anos, quando, em 1948, foi prestar o serviço militar obrigatório, até janeiro de 1949. No retorno do Exército, associou-se ao irmão Hercílio Randon em sua pequena oficina de reforma de motores. Foi aí que tudo começou.
Em 1956, aos 26 anos, Raul casou-se com Nilva Therezinha Randon, com quem teve cinco filhos: David, Roseli, Alexandre, Maurien e Daniel. Deles vieram os netos: Audrey, Isabelle, Arthur, Victor, Isadora, Marina, Raul Alberto, Laura, Maria Eduarda e Marco Antônio e a bisneta Maria Vitória. Nilva foi a sua fiel companheira até os dias atuais.
O pequeno negócio na área metalmecânica, iniciado em 1949 pelos irmãos Raul e Hercílio Randon – e eu trabalhei como mecânico em Caxias e, com meu pai, fazendo a vigília, a ronda pelas empresas Marcopolo, Randon e Guerra, tive a oportunidade de conhecer o início desse trabalho –, projetou-se como um dos mais importantes conglomerados da indústria automotiva da América do Sul. O grupo empresarial Rondon está integrado pelas empresas controladas, além de filiais e escritórios em todos os continentes.
A característica gerencial do Raul Anselmo Randon foi sempre a de cercar-se de profissionais competentes, tecnicamente bem preparados nas diversas áreas do conhecimento, dando-lhes autonomia operacional e compartilhando com eles os benefícios do sucesso moral, social e financeiro. Assim era Raul.
Milhares de trabalhadores ganharam a vida, construíram suas carreiras profissionais e sustentaram suas famílias através dos milhares de empregos gerados pelas empresas de Raul Randon. Lá na minha cidade natal, Caxias do Sul, é motivo de orgulho para um jovem trabalhar nas empresas do grupo Randon.
Ele é um democrata. Posso dizer, Sérgio de Castro, que muitas vezes eu ia entregar meus boletins, e ele dizia: "A porta da fábrica é aqui, pode entrar no restaurante", para todos. Para todos! Não importava se era do PSDB, do PMDB, do PT; todos tinham acesso e podiam entregar seu material. Desde a minha campanha na Constituinte até as mais recentes, as duas ao Senado, sempre tive acesso dessa forma democrática. Não era nem uma preferência especial. E nem poderia ser, não é? Todos tinham acesso ao próprio restaurante para entregar os boletins. Tenho boas lembranças desse grande homem e das empresas Randon.
Além disso, quero registrar uma passagem muito interessante da minha vida em que estive presente nessa empresa. Meu pai Ignácio e minha mãe Itália, natural dos Campos de Cima da Serra, logo que casaram foram morar em Mato Perso, ali perto. Mas o que aconteceu? Meu pai, na verdade, pelo preconceito que havia na região, acabou tendo que fugir com a minha mãe – aquele negócio de negro e branco, sendo bem franco. E os dois fugiram a cavalo e foram abrigados na região de Mato Perso. E os antigos me contam sobre a época em que meus pais chegaram ali: toda vez que alguém que não tinha concordado com aquele casamento chegava a Mato Perso, dizia que estava à procura de um negrote com uma senhora mais clara. E os italianos diziam: "Aqui não há negrote nenhum." Eles estavam, na verdade, camuflados com meu pai, que era domador de cavalo. Então, eu tenho essa imagem muito bonita daquela época – e contada pelo próprio pai, pois eu ainda não tinha nem nascido.
Enfim, um homem de hábitos simples. O sucesso empresarial, a prosperidade e a solidez dos negócios não mudaram a forma simples com que Raul Randon sempre se relacionou com todos, dentro e fora da empresa.
Foi, sobretudo, como eu dizia, um homem simples, que construiu sua vida através do trabalho duro. Um homem dedicado à família e à comunidade, principalmente da região da Serra. Herdou dos pais o valor de que o trabalho dignifica o homem, produz riquezas e, consequentemente, propicia uma vida melhor.
Perfil corporativo. Em seu conjunto, as empresas Randon produzem um dos mais amplos portfólios de produtos do segmento de veículos comerciais – correlacionados com o transporte de cargas, seja rodoviário, ferroviário ou fora de estrada – dentre as empresas congêneres no mundo.
A Randon Consórcios comercializa e administra grupos de consórcios como forma de promover financiamento aos clientes de produtos finais, enquanto o Banco Randon atua como suporte das vendas com financiamento direcionado a clientes e fornecedores das Empresas Randon.
Em Vacaria, movido por sua característica empreendedora e por sua paixão pela agricultura, criou a RAR/Rasip. Para Raul Randon, a terra devolve em alimentos toda a dedicação e o cuidado recebidos. A RAR/Rasip teve origem na fruticultura, com o cultivo de maçã, na década de 70; hoje, é a terceira maior produtora de fruta no Brasil.
V. Exª, que é um grande empresário também, eu sei que está entendendo esse linguajar que nós estamos usando aqui.
Nos anos 90, Raul Randon montou a primeira fábrica de queijo tipo grana da América Latina, lançando a marca Gran Formaggio e produzindo o queijo de receita milenar. Quando eu vou para região, confesso que eu acabo desfrutando desse queijo.
Entidade de classe. Raul marcou presença em inúmeras atividades associativas, empresariais e comunitárias. Recebeu mais de 150 homenagens...
Esta é uma das tantas que ele recebeu. E eu a faço agora, neste momento triste para a comunidade, para os familiares e, eu diria, para o Brasil.
Recebeu mais de 150 homenagens, destacando-se, entre elas, Comendador da Cruz de Mérito Cultural, Mérito Industrial, conferido pela FIERGS; Troféu Homem do Aço 1977, conferido pela Associação do Aço do Rio Grande do Sul; Comenda Mauá, conferida pelo então Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Jair Soares, que foi Parlamentar comigo aqui e foi governador – e lembro-me aqui do Jair Soares, porque foi um lutador nessa questão da previdência, trabalhamos juntos aqui; e fica a minha homenagem também aqui ao ex-Governador e ex-Parlamentar Jair Soares –; homenagem da Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), da qual foi o idealizador, fundador, primeiro presidente e presidente de honra; título Cidadão Caxiense, conferido pela Câmara Municipal de Vereadores de Caxias do Sul; outorga da Medalha do Mérito Mauá, Categoria Cruz Mauá, concedida pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso; Medalha do Conhecimento, instituída pelo Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio Exterior, com o apoio da CNI e do SEBRAE; homenagem do Presidente da Itália, com a Ordem do Mérito da República Italiana, no grau Comendador. Também recebeu o Prêmio ADVB, personalidade empresarial, de 2009. Em 2017, recebeu, na Itália, o título de Doutor da Universidade de Pádua, a láurea Doutor Honorem em Ingegneria Gestionale, atribuída ao primeiro empreendedor brasileiro pela sua dedicação no âmbito social.
Sei que vocês entendem que a minha pronúncia italiana não é das melhores, mas estou fazendo força aqui pela importância desta homenagem.
Ao longo de sua história, a universidade apontou apenas outro brasileiro, o escritor Jorge Amado – somente um brasileiro recebeu esse mesmo prêmio –, em 1996. Nas últimas edições, laureou o diretor de cinema Steve Biko e Malala Yousafzai, Prêmio Nobel da Paz. Ele ganhou um prêmio semelhante a esse prêmio Nobel da Paz...
Srªs e Srs. Senadores, Senadora que chega agora ao plenário, no Brasil, a empresa está presente no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e em São Paulo. Fora do Brasil, a companhia está presente, por meio da Fras-le, na China e nos Estados Unidos – Na China, em Pinghu; e nos Estados Unidos, no Alabama. Em Santa Fé, com a Randon Argentina. Em março de 2018, no dia 15, será inaugurada a Randon Peru – por coincidência, na data do meu aniversário. No dia 15 de março, será inaugura a Randon Peru, em Lima, Senadora Gleisi Hoffmann. Também a Randon atua através de associações e parcerias em vários outros países. Está nos cinco continentes, eu dizia aqui.
Em 2016, a Randon Implementos alcançou a maior marca histórica do produto de número 400 mil. Principal exportador brasileiro de implementos rodoviários, a Randon é responsável por cerca de 70% das unidades exportadas no Brasil.
Um empreendedor, repito, com visão social; Raul Randon, através de suas empresas, foi um empresário com visão social, integrado à sua comunidade.
Vou para a última parte, Senador Sérgio de Castro e Senadora Gleisi Hoffmann.
O Programa Florescer, em Caxias do Sul e em outras cidades brasileiras, está em atividade há 15 anos, atendendo crianças e adolescentes dos 6 aos 15 anos de idade. Desde a sua implantação, já foram atendidos mais de 1,5 mil jovens.
O Programa Qualificar, em parceria com o Senai...
Eu me formei, e tenho muito orgulho disso, no Senai de Caxias do Sul. Por isso sou aqui um defensor. Muitos, às vezes, dizem: "Ah, mas o Paim..." Sou um defensor, sim, do Sistema S. e V. Exª é testemunha do papel que cumpriu o Sistema S para a formação no ensino técnico da nossa juventude.
O Programa Qualificar, em parceria com o Senai, oferece – Senai de Caxias do Sul, Nilo Peçanha; onde me formei – cursos no segmento metalomecânico, como o de Aprendizagem Industrial Básica de Operador de Processos de Fabricação de Autopeças, Veículos e Implementos Rodoviários e Ferroviários e de Mecânico de Manutenção de Máquinas Industriais. Já foram atendidos mais de 750 jovens de 16 a 18 anos. Eu sou um dos formados do Senai.
Neste momento tão difícil da vida política e econômica brasileira, espero que a história de Raul Randon sirva como exemplo para milhares de brasileiros, sejam empresários ou trabalhadores, porque ele era, como sempre dizia, um trabalhador, um exemplo de amor ao seu País e a seu povo. Raul Randon não deixou um patrimônio, deixou mais do que um patrimônio: ele deixou um legado! Foi um exemplo de empresário e cidadão brasileiro.
Por isso, Srªs e Srs. Senadores, estou apresentando voto de pesar pelo falecimento do Sr. Raul Randon, voto de pesar que eu traduzi aqui, e peço que seja remetido à família, à empresa, enfim, a quem, como de praxe, nós remetemos aqui o voto de pesar.
Era isso. Agradeço muito ao Senador Sérgio de Castro, que me pediu agora um aparte, que concedo de imediato.
Já que eu concluí, V. Exª está com a palavra.
O SR. SÉRGIO DE CASTRO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - ES. Sem revisão do orador.) – Senador Paulo Paim, quero me juntar, como brasileiro, a essa justa homenagem ao grande empreendedor Raul Randon.
Raul, como o Senador bem expressou, é o exemplo do empreendedor que os bons brasileiros desejam, porque é um empreendedor competente. Ele tem a noção de negócio, mas nunca perdeu a preocupação social. Então, é aquilo que todos nós que temos essa atividade empreendedora desejamos que seja difundido: esse espírito de ganhar e distribuir, gerar riqueza e fazer a riqueza ser distribuída.
Eu participei, como Diretor da CNI, de uma homenagem ao Raul Randon.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Muito bom.
O SR. SÉRGIO DE CASTRO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - ES) – Então, conheci um pouco da sua vida. Tenho algumas identidades, porque também sou industrial e também estou na agricultura. Tenho pelo Raul Randon uma grande admiração. Acho que a perda não é do Rio Grande do Sul, não é do Brasil, mas do mundo, porque a empresa dele é global. Há quem diga que talvez seja a empresa multinacional brasileira mais bem representada nos continentes. Então, só nos cabe lamentar, mas também nos consolar de que o legado de Raul Randon não vai, ele fica e, com certeza, vai inspirar muitos outros brasileiros a empreenderem, gerarem riqueza e terem preocupação na distribuição dessa riqueza.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Muito bem, Senador Sérgio de Castro.
Quando V. Exª chegou aqui, percebi que V. Exª era um empresário – permita-me dizer –, como Raul Randon, que tem essa linha de apontar para o futuro e de fazer o bem sem olhar a quem.
É claro que seu negócio é importante, como Raul também assim agia. Ele gerou milhares e milhares de empregos, milhares e milhares. Arrisco dizer que, com certeza, só no Rio Grande do Sul, foram mais de 5 mil empregos.
Então, é importante o seu depoimento, com a gente dividindo assim homenagem: eu, um operário, trabalhador, que cheguei ao Senado; e V. Exª, um empresário bem-sucedido, que conviveu de perto e, inclusive, deu o depoimento aqui da história do Raul Randon.
Peço a V. Exª, agora, se puder, que presida a sessão, porque vou usar da tribuna, depois desse voto de pesar. Em seguida, a Senadora Gleisi Hoffmann.