Discurso durante a 16ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta para a falta de alinhamento e atualização da agenda política do País diante das transformações produzidas pelas novas tecnologias.

Autor
Sérgio de Castro (PDT - Partido Democrático Trabalhista/ES)
Nome completo: Sérgio Rogério de Castro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CIENCIA E TECNOLOGIA:
  • Alerta para a falta de alinhamento e atualização da agenda política do País diante das transformações produzidas pelas novas tecnologias.
Publicação
Publicação no DSF de 01/03/2018 - Página 45
Assunto
Outros > CIENCIA E TECNOLOGIA
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ASSUNTO, FUTURO, RENOVAÇÃO, INDUSTRIA, ECONOMIA NACIONAL, NECESSIDADE, EVOLUÇÃO, CLASSE, POLITICA, CRIAÇÃO, TECNOLOGIA, ESTRATEGIA, POLITICA PUBLICA, MOTIVO, CRESCIMENTO, PAIS, POSTERIORIDADE.

    O SR. SÉRGIO DE CASTRO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, vou falar hoje sobre um dos temas que eu escolhi para me dedicar no período que eu estou aqui no Senado. Vou falar sobre os partidos políticos. Já fiz alguns pronunciamentos aqui, especialmente sobre um projeto de compliance que está tramitando e hoje eu vou aceitar uma provocação do jornalista Clóvis Rossi e vou repercutir o seu artigo "Economia 4.0 x Políticos 0.0".

    Eu me incluo também nesses políticos e vou aceitar essa provocação com o objetivo de, alguma maneira, provocar os partidos políticos a se atualizarem com que está acontecendo no mundo.

    O jornal Folha de S.Paulo, em sua edição do último dia 11 de fevereiro, traz importante artigo do colunista Clóvis Rossi, intitulado "Economia 4.0 x Políticos 0.0", no qual chama atenção para o fato de estar em curso em todo o mundo uma instigante e assustadora revolução industrial que não entra na agenda política brasileira. Ao ler o referido artigo, fiz algumas reflexões que gostaria de compartilhar com Vossas Excelências, pois considero que esta Casa deve possuir papel fundamental na definição dos objetivos nacionais estratégicos e na formulação de políticas públicas.

    Nesse sentido, é verdadeiramente fundamental que atentemos para essa nova fase da revolução industrial, batizada de Indústria 4.0, e para as implicações que ela trará para todos nós num futuro não muito distante.

    São alterações tão profundas, Sr. Presidente, na produção industrial, que, em pouco tempo, tornarão obsoletas as nossas indústrias. Depois do fordismo, do taylorismo, da automação e da robótica, agora começamos a experimentar uma integração das tecnologias digitais e uma fusão entre os mundos físico e virtual, criando sistemas denominados de ciberfísicos.

    As principais tecnologias envolvidas nesse processo são: o big data, a Internet das Coisas, a robótica avançada, a impressão 3D, a manufatura híbrida, a computação em nuvem, a inteligência artificial e os sistemas de simulação virtual. As transformações produzidas por essas novas tecnologias acontecem numa velocidade muito grande, o que demanda uma atenção permanente daqueles que estão em posições de liderança, o que inclui, obviamente, a classe política.

    No já mencionado artigo, o colunista alerta para o perigo que estamos correndo diante da realidade que nos é imposta pela Indústria 4.0, confrontada com a obsolescência da nossa classe política. Para ele, não apenas os políticos brasileiros são do século passado, mas também a agenda política do nosso País. Cita como exemplo a reforma da Previdência, principal tema do noticiário político dos últimos meses, assunto que já deveria ter sido encerrado no século passado.

     Enquanto aqui ainda estamos nos ocupando de assuntos que já deveriam estar resolvidos há muito tempo, Alemanha, Japão, China e Estados Unidos possuem uma política governamental para os próximos 10 ou 20 anos visando lidar com os desafios impostos pela Indústria 4.0, pela economia 4.0.

    Desafios como, por exemplo, a questão da geração de empregos. Acabamos de ter notícias de que o desemprego não está regredindo. Ele continua firme, continua alto, continua inaceitável. É fato que a automação do trabalho por máquinas inteligentes será cada vez mais intensificada, o que reforçará uma tendência já em andamento: a do divórcio entre emprego, produtividade e criação de riqueza. Assistiremos, provavelmente, a um aprofundamento das desigualdades e a um aumento da concentração de riqueza com aqueles que detêm os robôs e as novas tecnologias, em detrimento da classe trabalhadora, se não nos atentarmos para a questão, se não apresentarmos propostas de solução do problema.

    Esse é um dilema muito preocupante, mas para o qual a classe política parece ainda não ter acordado. A pergunta é: será que teremos o futuro de um país como a Alemanha, o Japão e a Noruega ou um futuro no atraso e na miséria? Isso depende das decisões que tomarmos agora.

    Temos tido um sistema político viciado, cheio de mazelas, de patrimonialismos, de práticas comprometidas com o atraso. Nossos partidos são meras ficções jurídicas, fragilmente definidos do ponto de vista ideológico e, na grande maioria das vezes, estamos com os olhos voltados apenas para os interesses regionais, com horizontes definidos, no máximo, até as próximas eleições.

    Talvez por esse motivo, Clóvis Rossi escreve que não somos nem políticos 2.0; somos políticos 0.0, porque não temos agenda para o futuro, e isso precisa e deve mudar com urgência. Não concordo plenamente com o articulista, mas precisamos avançar firmemente, em primeiro lugar, na educação, como todos falam aqui, mas não devemos nos limitar somente aos discursos. Devemos ter ações. Devemos ter entregas. Devemos cuidar para que tenhamos melhores resultados.

    A educação – todos repetem – é a base para o futuro. Precisamos preparar nossas crianças e nossos jovens para a realidade que se avizinha com a indústria, com a economia 4.0.

    Estudos da ManpowerGroup, empresa de consultoria que atua na área de recursos humanos, mostram que 65% dos empregos que a geração Z terá ainda nem existem. Estamos falando aqui da nossa juventude, pessoas nascidas entre 1998 e 2010. Então, não podemos continuar ensinando como no século passado. E, se olharmos para as profissões já existentes, veremos uma defasagem muito grande entre o que é ensinado e a realidade do mercado.

    Vejam, por exemplo, o que acontece na minha área, a área de engenharia. Um aluno entra, em 2018, na faculdade e, mesmo que a instituição esteja muito bem equipada, a dinâmica da tecnologia é tão rápida que, quando ele se formar, já estará desatualizado. Para reduzir essa distância da realidade, as universidades precisam se aproximar das empresas. As empresas precisam se tornar laboratórios das universidades.

    No Brasil, parece que temos certo pudor em fazer essa aproximação entre empresas e escolas, entre as classes produtoras e a academia, coisa que não acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, onde uma parte do salário do professor é paga pela universidade em que leciona e a outra parte vem das empresas para as quais ele encaminha, ele supervisiona, os seus alunos.

    Na Alemanha, parte do dia o engenheiro fica na empresa e, no restante do tempo, fica na universidade.

    Esses são bons exemplos que estão aí e podem ser seguidos.

    Além de modernizar nosso sistema político e priorizar a educação como fator chave do nosso desenvolvimento, outra peça fundamental é a formulação de uma agenda de médio e longo prazo, que defina objetivos, prioridades e políticas públicas diante da nova realidade que nos é apresentada pela economia 4.0.

    Nesse sentido, tenho a informação de que a Confederação Nacional da Indústria está preparando um conjunto de propostas e ações que será apresentado aos candidatos à Presidência da República nas próximas eleições.

(Soa a campainha.)

    O SR. SÉRGIO DE CASTRO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - ES) – Segundo a CNI, são medidas que deverão estimular e apoiar a adoção de tecnologias digitais pela indústria brasileira.

    De acordo com o estudo, de 24 setores da indústria brasileira, pelo menos 14 precisam adotar, com urgência, estratégias de digitalização, para se tornarem internacionalmente competitivos.

    Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aproveitei esse oportuno artigo do colunista Clóvis Rossi, da Folha de S.Paulo, para fazer aqui algumas reflexões sobre essa nova realidade que se nos apresenta e que pode aprofundar ainda mais o abismo já existe no mundo, entre Norte e Sul, entre ricos e pobres.

    A concentração de renda, que já é brutal, poderá ficar ainda pior. Ou tomamos uma atitude agora, no sentido de aproveitar o início dessa nova onda da revolução industrial, para diminuir o imenso abismo que nos separa dos países desenvolvidos, ou certamente não teremos, tão cedo, aquele futuro promissor com o qual tanto sonhamos.

    Nós, integrantes da classe política, temos uma grande responsabilidade. Precisamos abandonar definitivamente o atraso e modernizar não apenas a agenda política, mas, sobretudo, a práxis política em nosso País. É urgente que nossos partidos políticos mereçam mais atenção; que sejam fortemente melhorados.

    Nós, políticos, não estamos também obrigados a evoluir para sobrevivermos? Faço a pergunta.

    O que temos feito para reverter a insatisfação dos eleitores representados com seus representantes? Aumentar o fundo eleitoral? É isso que fizemos? Estabelecer um prazo longo para conter a nossa irresponsável e irracional proliferação de partidos políticos?

(Soa a campainha.)

    O SR. SÉRGIO DE CASTRO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - ES) – Partidos que, em sua grande maioria, não possuem qualquer identidade. São meros "negócios" na obtenção de vantagens, como verbas públicas e ganhos com cessão de tempo de televisão?

    O que temos feito para aperfeiçoar os nossos partidos políticos?

    Onde enxergamos renovação nos quadros diretivos dos nossos principais partidos?

    Onde encontramos partidos que não usam habitualmente a prática de executivas provisórias, para poder controlar a estrutura partidária nos Estados e Municípios?

    Por que ainda não aprovamos procedimentos de compliance nos partidos políticos?

    Por que a transparência ainda é pequena e sofrível nessas importantes associações da democracia que são os partidos políticos?

    Estou encerrando, Sr. Presidente.

    Precisamos nos preocupar, propor, discutir, aprovar novos rumos, novos meios, novos procedimentos para a política, com o objetivo de acompanhar a evolução que acontece na economia mundial.

    Já avaliamos as iniciativas da democracia participativa...

(Interrupção do som.)

    O SR. SÉRGIO DE CASTRO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - ES) – ... por meio da utilização da tecnologia do Big Data, em que não será mais necessário ter a maioria dos níveis de representantes atuais, como, por exemplo, nós, Senadores?

    A população poderá ser consultada através de seus celulares cadastrados, por exemplo. Será que um robô com utilização de inteligência artificial não poderá elaborar projetos de lei com muito mais conteúdo do que nós?

    Estas são questões sobre as quais teremos que nos debruçar em um futuro não muito distante. As eleições que se aproximam serão uma excelente oportunidade para isso. Será um momento em que a sociedade brasileira escolherá aqueles que estarão à frente dos destinos da Nação nos próximos quatro anos.

    Faço votos de que tenhamos propostas que contemplem uma agenda moderna para o País, para que possamos, de uma vez por todas, superar o atraso e trazer o progresso, o desenvolvimento e a prosperidade para o nosso povo.

    Gostaria muito, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores...

(Interrupção do som.)

    O SR. SÉRGIO DE CASTRO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - ES) – ... que no Brasil aconteçam simultaneamente o florescimento da economia 4.0 e, também, da política 4.0.

    Era o que eu tinha a dizer.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/03/2018 - Página 45