Discurso durante a 23ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Críticas à precariedade do ensino no Brasil.

Autor
José Maranhão (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: José Targino Maranhão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Críticas à precariedade do ensino no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2018 - Página 83
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • CRITICA, PRECARIEDADE, ENSINO, EDUCAÇÃO, SOLICITAÇÃO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), GOVERNO FEDERAL, ALTERAÇÃO, FORMA, METODOLOGIA, BRASIL.

    O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu vou fazer aqui um registro pequeno, curto, menos importante do que o fato de que nós estamos hoje comemorando o Dia Internacional das Mulheres. E aproveito para mandar aqui o meu abraço e os meus cumprimentos respeitosos a todas as mulheres do Brasil, especialmente as mulheres do meu Estado, as paraibanas, que têm oferecido um contributo valioso ao trabalho, à organização, à política e à vida social do meu Estado.

    E quero aqui fazer um registro. Evidentemente, esse registro corresponde a um fato de que acho oportuno falar. Quando estive à frente do Governo do Estado da Paraíba, criei a Secretaria da Mulher, porque não existia, na estrutura organizacional do Estado, essa secretaria voltada para os direitos e os interesses das mulheres. E, ao lado da Secretaria da Mulher, nós criamos também a rede de delegacias das mulheres, para atender a uma conveniência absolutamente necessária de que as mulheres precisavam nas delegacias, aonde chegam muitas vezes constrangidas por maus tratos ora recebidos dentro do próprio lar, na família, ora no ambiente de trabalho e na vida social de um modo geral. A ausência de uma delegada do mesmo sexo criava-lhes alguns constrangimentos, o que, muitas vezes, até frustravam a iniciativa de procurar a proteção policial.

    Eu quero aqui mandar um abraço especial para a mulher que organiza, na cidade de Patos, já há muitos anos, historicamente – a jornalista Soliandra Alves e seu esposo, Pedro Oliveira –, a festa da mulher. É realmente uma festa extraordinária, que reúne mais de 500 mulheres ilustres de toda Paraíba, da cidade Patos, da grande Patos, a maior cidade do Sertão do Estado. Ela reúne mais de 500 mulheres que têm atuação destacada na sociedade, no trabalho, na Administração Pública ou na iniciativa privada. Meu abraço a todas as mulheres que estão presentes nesse evento. Os meus cumprimentos e parabéns a Soliandra pela realização de mais uma edição dessa festa, que ela já realiza há 16 anos.

    Mas, Sr. Presidente, chamou-me a atenção, hoje, uma manchete de O Estado de S.Paulo, uma notícia que está em manchete de primeira página, que diz o seguinte: "Futuro de 52% dos jovens do País está em risco". É um relatório do Banco Mundial, mostrando que 25 milhões de brasileiros entre 19 e 25 anos de idade não trabalham nem estudam, ou frequentam escola com atraso ou estão vulneráveis à pobreza. E eu diria: vulneráveis à pobreza e, muitas vezes, ao próprio vício, às drogas, que já grassam no Brasil inteiro como uma verdadeira epidemia.

    Sr. Presidente, não há dúvida alguma de que essa constatação estatística de um estudo criterioso e sério do Banco Mundial revela uma verdade, uma realidade que tem origens mais profundas: o ensino no Brasil tem pouco a ver com a realidade do mundo de hoje. É um ensino cuja metodologia não corresponde aos anseios do próprio estudante, nem às necessidades do mercado de trabalho, em que o estudante deveria se inserir após a conclusão do 1º ou do 2º grau. Isso, porque esta é outra realidade que choca neste País: daqueles que concluem o 2º grau, apenas 12% ou 13% têm verdadeiramente acesso ao ensino de 3º grau, ao ensino superior.

    E essa massa extraordinária de jovens que concluiu um 2º grau precário, que desconhece a realidade do mercado de trabalho dos dias que atravessamos, onde está? Onde estão esses jovens? Na realidade, é a legião de párias, de desempregados, que o Banco Mundial aqui chama de "nem-nem", nem estudam – porque não podem continuar estudando no 3º grau, acessando o 3º grau –, nem trabalham.

    Não estudam, porque o País não lhes dá condições de estudar.

    Hoje qualquer curso técnico está custando ao brasileiro que não conseguiu passar no vestibular da universidade pública de R$7 mil a R$8 mil ao mês. Isso é algumas vezes o salário mínimo que seus pais estão percebendo. Por isso, eles estão nessa legião que o Banco Mundial chamou de nem-nem, porque nem estudam nem trabalham.

    E o Brasil o que tem feito? E os nossos governos, não apenas o atual? Eu acho que há cem anos nós estamos patinando sem saber aonde vamos. De que forma nós podemos estruturar o ensino para atender a realidade do mercado de trabalho, para atender a necessidade de criar lideranças não somente no campo político, mas no campo das ciências, no domínio das tecnologias?

    E este é um dos pontos que mais me preocupam: o Brasil, na realidade, não é um país industrializado, mas é uma grande linha de montagem, porque o ensino não foi capaz de criar, quantitativa e qualitativamente, os cientistas de que nós precisamos para formular nossos próprios projetos de desenvolvimento e de produção de material de consumo. Qualquer que seja a atividade industrial em que você pense...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) – ... que você imagine, você vai verificar que o Brasil está recebendo os kits e importando, quando muito colocando numa caixa diferente, com o selinho "Made in Brazil", grande blefe, grande mentira!

    O Brasil não foi capaz, por exemplo, de entrar na área da informática. Que país que se respeita e que quer realmente oferecer aos seus filhos uma oportunidade de vida digna que não cuidou dessa questão da modernização dos meios de produção? Que país? Se você for para os pequenos Tigres Asiáticos, outrora países que viviam na quase miséria, você vai ver que eles estão competindo com os países mais ricos do mundo. Está aí o exemplo de Taiwan, está aí o exemplo da Coreia do Sul e de tantos outros chamados de Tigres Asiáticos.

    Uma realidade simples de se constatar, um exemplo que pode parecer até resumido, isolado: se você for para a telefonia, a comunicação, hoje o nosso dia a dia está totalmente invadido, ocupado pelos telefones celulares. Em todo esse mundo de telefones celulares que o nosso povo está comprando e usando, quantos telefones celulares foram desenvolvidos e produzidos no Brasil? Nenhum!

    Isso seria um exemplo pequeno, mas é muito grande, porque o Brasil joga, manda para o exterior uma fábula do seu balanço de pagamentos em dólares quando adquire esses produtos. Nenhum é produzido no Brasil! É por que o brasileiro não tem inteligência? Antes, pelo contrário, o brasileiro é inteligente, é criativo, nossa mão de obra é muito boa e a nossa ciência também tem gerado grandes inteligências. Algumas ou muitas delas se mudaram do Brasil porque não encontraram aqui mercado de trabalho.

    Falta essa base científica e tecnológica na nossa educação, tanto na educação de nível médio como na educação de nível superior. E, se nós não formos capazes de fazer essa revolução do ensino, modernizando-o, adequando-o às realidades do mundo em que vivemos, nós vamos ficar nessa eterna dependência tecnológica, vamos ficar também nessa carência imensa de mão de obra qualificada para ocupar os cargos, as funções, as atividades que, de outra forma, vão terminar não existindo no Brasil.

    Eu registro essa estatística do Banco Mundial, esse estudo do Banco Mundial, e aproveito para lançar aqui um apelo ao Ministério da Educação, ao Governo e ao Congresso Nacional mesmo, no sentido de que faça, produza a revolução dos modos de ensino sob pena de o Brasil não ter, no futuro, senão uma condição de importador de tudo aquilo que o dia a dia da nossa sociedade precisa, necessita, para gerar os empregos e para dar dignidade ao nosso povo.

    Muito obrigado a V.Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2018 - Página 83