Discurso durante a 25ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário sobre o futebol brasileiro e a Copa do Mundo de 2018.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESPORTO E LAZER:
  • Comentário sobre o futebol brasileiro e a Copa do Mundo de 2018.
Publicação
Publicação no DSF de 14/03/2018 - Página 58
Assunto
Outros > DESPORTO E LAZER
Indexação
  • COMENTARIO, FUTEBOL, PAIS, CAMPEONATO MUNDIAL, ELOGIO, TORCEDOR, NECESSIDADE, COMBATE, VIOLENCIA.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Sem revisão da oradora.) – Obrigada, Sr. Presidente.

    Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, quero aproveitar esse intervalo que nós temos da votação e da chegada dos Srs. Senadores e Senadoras ao plenário e fazer o pronunciamento que eu faria no horário dos pronunciamentos aqui no plenário do Senado. Este meu pronunciamento é dirigido ao esporte brasileiro, ao futebol; 2018 é ano de Copa do Mundo, e, como tal, o futebol ganha ainda mais importância na vida nacional.

    Falar sobre futebol no Brasil é algo que mexe com a paixão, com a nossa cultura, com a nossa alma. Trata-se de um mundo que proporciona lazer, entretenimento, diversão, gera riqueza, incontáveis empregos diretos e indiretos, renda para milhares de famílias e sonhos para tantas outras.

    Somos a maior vitrine e os maiores exportadores de jogadores em todo o mundo. Produzimos craques a cada dia nos mais variados rincões do País. E nem mesmo os notórios problemas organizacionais – que passam pelas agruras das federações estaduais, pela própria CBF, ou pelo nefasto monopólio exercido pela Rede Globo de Televisão no setor – têm conseguido comprometer a magia e a mística do futebol brasileiro.

    Pois bem, eu venho hoje à tribuna do Senado tratar desta paixão nacional.

    Há inúmeros desafios que cercam o futebol brasileiro relacionados a sua estrutura política e organizacional, seu calendário, horário dos jogos, preços de ingressos, política salarial dos jogadores, investimentos na base, enfim, variados assuntos que merecem grande atenção e enfrentamento. Hoje, porém, gostaria de me voltar para as arquibancadas do País. Venho falar de um personagem anônimo – aliás, um não, milhares, milhões de personagens que fazem parte desse fantástico mundo do futebol e que, por muitas vezes, são absolutamente esquecidos em seus interesses: os torcedores.

    Refiro-me ao torcedor que vai ao campo acompanhar seu time do coração, mais especificamente às torcidas organizadas, sabendo, inclusive, das controvérsias que as envolvem. Atualmente qualquer menção às torcidas organizadas invariavelmente remete a coisas negativas: violências e mortes.

    É inegável que brigas e até mortes já ocorram em algumas cidades do País em decorrência de conflitos protagonizados por membros de torcidas organizadas, e, como toda forma de violência, todos estes casos devem ser investigados e punidos de forma exemplar.

    Não se trata apenas de violência: ao contrário, a essência é torcer pelo time que ama; e todos que já foram a um campo de futebol sabem o quão mais belo fica o espetáculo com a presença da torcida entoando seus cânticos, realizando suas coreografias, suas palavras de ordem.

    Porém, muito além da colorida e sonora festa que promovem nas arquibancadas dos principais estádios do País, quando torcem por seus respectivos times, muitas das torcidas organizadas realizam ações sociais, festas nas suas respectivas localidades, conscientização social, participam do Carnaval em suas cidades, inclusive através de escolas de samba, enfim, uma gama de atividades que geram envolvimento em suas comunidades, emprego e renda.

    Aliás, justamente para demonstrar essa outra realidade distinta da violência e, sobretudo, buscando desconstruir o mito de que o esvaziamento dos estádios e tudo mais de negativo no futebol nacional se deve aos torcedores organizados, as mais variadas torcidas organizadas do País se juntaram, desde dezembro de 2014, fundando a Associação Nacional das Torcidas Organizadas (Anatorg), com o intuito de trabalhar em prol desse segmento, segundo eles próprios, abandonado pelos governantes e pela sociedade brasileira. Aliás, o problema do esvaziamento nos estádios nacionais, para a torcida, não tem a ver só com as torcidas organizadas, não; tem a ver com o preço dos ingressos, com a elitização, com os horários de jogo que são determinados pela Rede Globo de Televisão; enfim, muito mais do que as torcidas organizadas, o prejuízo e o antipopular em relação aos jogos têm a ver com isso que eu falei.

    A Anatorg tem buscado identificar o perfil socioeconômico dos torcedores que pertencem às torcidas organizadas, além de apresentar as ações sociais, documentadas e registradas, que essas torcidas promovem nas comunidades em que estão inseridas, ações que buscam desenvolver o senso de participação e a cidadania em suas comunidades, dando suporte em locais em que, muitas vezes, o Estado está ausente.

    Trata-se de uma inciativa que fundamentalmente busca apresentar as torcidas organizadas e o trabalho que desenvolvem ao País, deixando claro que a Anatorg quer dialogar com a sociedade, ser ouvida, participar da solução dos problemas do futebol e não apenas ser identificada como a principal causa deles.

    Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, quem nos acompanha pela TV Senado, pela Rádio Senado e pelas redes sociais, parece-me evidente que a forma de enfrentamento adotada majoritariamente nos Estados brasileiros em relação às torcidas organizadas não tem produzido resultados satisfatórios dentro e fora dos estádios. Não temos evitado a violência nas cercanias de estádios ou mesmo nas grandes cidades, em dias de jogos, o que me parece indicar que se trata de algo inerente à sociedade atual e não de algo específico do futebol e que, portanto, deve ser combatido pelo Estado como problema de segurança pública. E ainda temos esvaziado os estádios e proibido a festa dentro deles a título de coibir a violência.

    Veja o exemplo do Estado de São Paulo que há vários anos proibiu a entrada de bandeiras e instrumentos nos estádios, estabeleceu a torcida única nos clássicos e todo um pacote de proibições cujos resultados práticos contra a violência são bastante questionáveis, e o efeito no espetáculo é certamente negativo.

    Tive a oportunidade de visitar, em São Paulo, a Gaviões da Fiel, uma das maiores torcidas do Brasil, e de conversar com associados dessa instituição. Indaguei sobre o que acham da situação das torcidas organizadas no Brasil, sobre o que poderia ser feito para mudar essa visão que boa parte da sociedade criou sobre essas organizações. E a resposta que me foi dada foi simples e direta: "Só queremos o nosso direito de torcer em paz; só queremos o nosso direito de balançar nas arquibancadas as nossas faixas, as nossas bandeiras e bandeirões!". Esse foi o pedido feito pela maioria dos que estavam na sede da Gaviões. E me deixou estarrecida saber que essas proibições desnecessárias e ineficazes já se estendem por mais de 20 anos no Estado de São Paulo, que é modelo do PSDB de gestão esportiva e que proíbe as manifestações populares.

    É uma situação que, infelizmente, se repete no meu Estado do Paraná, também governado pelo PSDB, onde a direção do meu clube do coração, o Atlético Paranaense, resolveu proibir a entrada na Arena da Baixada dos torcedores da torcida Os Fanáticos, do Atlético, a mais popular torcida organizada do clube. Impedidos de torcer dentro da Arena da Baixada, Os Fanáticos, do Atlético, têm tido que acompanhar os jogos do Furacão em Curitiba fora do estádio. Isso é claramente uma perda para o espetáculo, sem falar da perda esportiva para o clube. Afinal, sabemos todos que o maior incentivo das arquibancadas, que pode fazer a diferença no resultado de uma partida, vem dos torcedores organizados.

    Sr. Presidente, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, as torcidas organizadas fazem parte do espetáculo futebolístico no Brasil, um verdadeiro patrimônio cultural que reflete a paixão do povo por cada um dos principais clubes de futebol do Brasil. Há, evidentemente, problemas e desafios a serem enfrentados, e muitas dessas torcidas parecem reconhecer isso e se colocarem dispostas a dialogar e a agir em busca de soluções.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Vândalos, marginais, brigões e assassinos devem ser combatidos e apenados de forma implacável por serem criminosos e não por serem torcedores organizados. É fundamental combater atos isolados de violência que envolvam maus torcedores, individualizando as responsabilidades, e os punindo com rigor, assim, podendo assegurar a volta do direito de torcer aos bons torcedores, com o direito de balançar suas bandeiras, expor suas faixas, entoar seus cânticos e exercer sua liberdade de expressão pelo seu time do coração. Afinal, o futebol é uma paixão nacional.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/03/2018 - Página 58