Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene do Congresso Nacional destinada a comemorar o Dia Internacional da Mulher e a realizar a entrega do Diploma Bertha Lutz às agraciadas em sua 17ª edição.

Autor
Regina Sousa (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: Maria Regina Sousa
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão solene do Congresso Nacional destinada a comemorar o Dia Internacional da Mulher e a realizar a entrega do Diploma Bertha Lutz às agraciadas em sua 17ª edição.
Publicação
Publicação no DCN de 08/03/2018 - Página 37
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO SOLENE, CONGRESSO NACIONAL, OBJETIVO, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, MULHER, REALIZAÇÃO, ENTREGA, DIPLOMA, BERTHA LUTZ.

     A SRª REGINA SOUSA (Bloco/PT-PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sra. Presidente, Srs. Senadores, Sras. Senadoras, Srs. Deputados, Sras. Deputadas constituintes que ainda se encontram por aqui e a quem eu quero homenagear em nome da Deputada Benedita da Silva e da D. Myriam Portella, que já foi, mas é lá do meu Estado, mãe da Deputada Iracema Portella, eu quero aqui confessar que eu ando meio incomodada com esta data, porque só um dia no ano, para reconhecer as mazelas que afetam as mulheres no mundo, é muito pouco.

      Eu fico me perguntando: até quando os projetos vão esperar para serem votados no mês de março? Até quando a palavra “gênero” vai apavorar os fundamentalistas? Até quando os crimes de feminicídio vão ser subnotificados?

      Saiu o relatório, e muitos Estados ainda não notificam os crimes como feminicídio. É impossível isso! Às vezes, isso ocorre por má vontade de quem conduz os inquéritos. É mais fácil dizer que se trata de um homicídio qualquer porque a solução vem mais rapidamente, não querem fazer pesquisas. E as autoridades ainda não aceitam esse termo também, isso é bom que se diga.

      Até quando haverá a intolerância religiosa com as nossas mulheres, principalmente as dos terreiros, que morrem porque têm uma opção religiosa diferente? Até quando haverá a diferença salarial entre homens e mulheres? Até quando a mulher negra vai morrer no parto mais do que as brancas morrem, vai ter salário menor que a branca, vai ocupar menos postos de trabalho?

      Venderam-nos uma democracia racial. Nós estudamos e dizem que o Brasil é uma democracia racial, mas o que vemos todo dia não é isso.

      Até quando a misoginia vai colocar a mulher como incompetente, como a que não sabe, a que não dá certo? Dilma Rousseff que o diga! Houve um conteúdo muito misógino naquele impeachment.

      Até quando o estupro coletivo vai ser banalizado, vai ser visto como um crime qualquer? Até quando nossas meninas vão ser estupradas de forma silenciosa, porque elas não têm coragem de falar, porque geralmente são os familiares, são os pais que fazem isso?

      O debate sobre a violência está nas bocas, está na pauta dos poderes, mas não pode ser violência no singular. Há violências com muitos “ss” que nós temos que colocar neste debate da segurança pública que está acontecendo. Há muitos “ss” que nós temos que esticar o que der -- por exemplo, o “s” da nossa juventude negra, o “s” dos nossos índios que morrem por suicídio, quando são levados a isso ou por chacina ou por tocaia, o “s” dos nossos trabalhadores rurais, simbolizados por aquelas chacinas Colniza e Pau D'Arco.

     O “s” da morte no trânsito também é uma violência. O “s” do feminicídio é o “S” maiúsculo que eu chamo, porque o feminicídio é precedido de sintomas que ninguém quer ver. Há o bate-boca, a ameaça, o empurrão, o espancamento, a famosa queda da escada ou o escorregão no banheiro, até chegar às vias de fato.

      O debate da violência contra a mulher e do seu empoderamento tem que ser feito com os homens. Nós não podemos mais fazer a discussão só com mulheres. Eu bato nisso todo ano e todo dia que eu falo nesse assunto. Temos que colocar os homens na roda para discutirem conosco, nos debates e nos seminários.

     Eles têm que ser convidados para debater, porque não pode ser só os bombons e as flores no dia 8 de março. Precisamos avançar para atitudes, para nós acreditarmos que realmente se preocupam com essa questão, porque a violência contra a mulher e o seu empoderamento não é uma questão só da mulher. Ele não acontece porque os homens não ajudam, salvo raras exceções.

      Então eu quero concluir, Presidenta, dizendo isso: “Homens, nós esperamos de vocês atitudes em relação ao empoderamento das mulheres, em relação à violência contra as mulheres e contra as nossas crianças também que estão sendo violentadas, estupradas, e parece que não está acontecendo nada”.

      Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 08/03/2018 - Página 37