Pela ordem durante a 27ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Homenagem póstuma à Vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, assassinada no curso de sua luta pelos direitos humanos dos negros moradores de favelas.

Autor
Lindbergh Farias (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Luiz Lindbergh Farias Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela ordem
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Homenagem póstuma à Vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, assassinada no curso de sua luta pelos direitos humanos dos negros moradores de favelas.
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2018 - Página 9
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, MARIELLE FRANCO, VEREADOR, MULHER, LUTA, DIREITOS HUMANOS, MORADOR, FAVELA, LOCAL, MUNICIPIO, RIO DE JANEIRO (RJ), CRITICA, POLITICA, COMBATE, TRAFICO, DROGA, COMENTARIO, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), SENADO, OBJETIVO, DEBATE, ASSUNTO, VIOLENCIA, VITIMA, JUVENTUDE, NEGRO.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ. Pela ordem. Sem revisão do orador.) – Presidente, eu agradeço.

    Eu, na verdade, pedi para falar antes porque estou viajando para o Rio de Janeiro para o velório da Vereadora Marielle, que foi barbaramente executada. Na verdade, ela foi assassinada pelo que representava, Senador Cássio Cunha Lima. Era uma jovem – 38 anos –, uma mulher que nasceu na favela da Maré, lutadora, e ela representava aquele povo, as mulheres.

    Ela estava fazendo, antes do assassinato, um encontro de mulheres negras, discutindo a vida nas favelas. E a luta dela foi para representar esse povo, os direitos civis e políticos dos moradores das favelas, que morrem, hoje, são vítimas de uma guerra. Morrem assassinados pela milícia, pelo tráfico, e, infelizmente, Senador Cristovam Buarque, pela polícia – por uma polícia mal preparada –, e por essa lógica dessa política de guerra, que não adianta nada. A militância dela era denunciar isso.

    Nós estamos fazendo uma guerra contra o povo pobre, porque essa política de guerra às drogas é completamente fracassada. Esquecem que há povo no meio – que há povo no meio! E a polícia entra para combater o tráfico. Nós temos morte de 500 policiais por ano. As polícias são vítimas também desse processo todo. E a gente sabe que isso não resolve nada. E morrem pessoas inocentes.

    Ela tinha feito a denúncia, a última denúncia dela era – isto aqui é um post dela no Facebook –: "Somos todos Acari: parem de nos matar". E ela tinha feito a denúncia em relação ao 41º Batalhão do Rio de Janeiro, que é um batalhão violentíssimo. E essa foi a última denúncia que ela fez. Mas ela morreu porque defendia os seus. Falava da vida das favelas. Denunciava o que estava acontecendo. Ela representava, em especial, essa juventude.

    Eu fui Relator da CPI sobre extermínio de juventude negra aqui junto com a Senadora Lídice da Mata. Nós viajamos o País, estivemos no Rio de Janeiro. Quando a gente conversava com uma mãe, Senador Cássio, uma mãe que tem um filho de 19 a 20 anos, ela fica apavorada, no final de semana, quando seu filho sai, porque nós temos no Brasil hoje infelizmente 30 mil assassinatos de jovens por ano, e 77% são jovens, negros, moradores das favelas e moradores das periferias. E as mães ficam abaladas por quê? Porque sabem que seu filho sai, principalmente se for negro, porque a questão racial é importantíssima, se for negro, pode não voltar, pode morrer nas mãos da polícia, do tráfico ou da milícia.

    Então, Senador Cássio Cunha Lima, eu encerro aqui. Eu vou passar agora num ato que o PSOL está organizando na Câmara dos Deputados e viajo para o Rio de Janeiro.

    Mas a dor é muito grande. É um atentado à democracia. É um atentado à democracia. Eles não têm medo. Não têm medo! Então eu sinceramente espero...

    Eu estou muito abalado, porque eu sei o que Marielle representava. Era uma liderança inclusive política, que surgiu da favela, surgiu das lutas concretas, foi eleita vereadora, a quinta mais votada, com 46 mil votos. Era alguém que representava de fato algo diferente que estava sendo construído no Rio de Janeiro. Uma moça bonita, cheia de vida.

    Então eu queria também mandar um abraço para a família do Anderson, que era o motorista dela, Senador Jorge Viana, que morreu também tragicamente.

    Eu peço desculpas. Eu não tenho mais nem palavras, entendeu, Senador Cristovam? Eu a conhecia.

    E dói, porque o meu medo é que isso não pode significar a inibição de novas pessoas com a mesma luta. Porque o meu medo é esse, é que as pessoas tenham medo. Porque aquele território, vejam bem, a vida de um jovem negro morador de uma favela hoje vale pouco. E ela foi representar esse povo. Engraçado que mesmo ela virando vereadora, a situação de vulnerabilidade dela permaneceu, como mulher, como negra, como moradora da favela que decidiu representar seu povo.

    Então eu espero que a Marielle, tudo isso que a gente está vivendo sirva para que outros jovens surjam para defender as mesmas bandeiras. Isso não pode inibir, não pode colocar medo nas pessoas que lutam e que querem defender aquele povo tão abandonado. Eu faço aqui a diferença: eu faço militância política desde jovem, mas meu pai era médico, eu vim de uma família de classe média. Mesmo na esquerda brasileira são poucos os representantes como ela era ali, daquele povo da favela, negra, que teve filha aos 17 anos de idade, que parou de estudar, depois voltou a estudar, se formou, virou socióloga. Começou a trabalhar com direitos humanos no gabinete de Marcelo Freixo, que deve estar desolado, porque ela era a pessoa mais próxima de Marcelo Freixo durante essa vida inteira. E foi eleita vereadora com uma votação...

    Estava vendo agora um vídeo dela, na campanha dela para vereadora, ela falando da vida, da mulher na favela, da luta pela creche, da luta pelo dia a dia. Então era uma representante não só das ideias da esquerda, mas ela representava de fato o povo pobre, negro, morador da favela.

    Eu acho que o que aconteceu é muito grave. Eu encerro aqui agradecendo a todos por permitirem que eu falasse aqui primeiro. Vou lá para o Rio de Janeiro e quero levar um pouco a voz também, na fala de todos os Senhores e Senhoras aqui, do sentimento do Senado Federal sobre o ocorrido.

    Muito obrigado, Senador Cássio Cunha Lima.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2018 - Página 9