Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Homenagem póstuma à Vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, assassinada no curso de sua luta pelos direitos humanos dos negros moradores de favelas.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Homenagem póstuma à Vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, assassinada no curso de sua luta pelos direitos humanos dos negros moradores de favelas.
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2018 - Página 14
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • LEITURA, DOCUMENTO, VOTO DE PESAR, MOTIVO, MORTE, MARIELLE FRANCO, VEREADOR, MULHER, MUNICIPIO, RIO DE JANEIRO (RJ), VITIMA, HOMICIDIO, LUTA, DIREITOS HUMANOS, MORADOR, FAVELA, JUVENTUDE, NEGRO, REGISTRO, AUMENTO, CRIME, FEMINICIDIO.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Senador Medeiros, estou vindo agora da Comissão de Direitos Humanos, que deliberou lá esse voto de pesar, de cuja justificação rapidamente faço a leitura aqui. Todo mundo sabe o que aconteceu, como foi muito bem colocado por todos os Senadores.

    Em nome da Comissão de Direitos Humanos, Sr. Presidente, o Brasil amanheceu, mais uma vez, com o gosto do sal da morte nos dentes e o estalo de osso sendo quebrado. É uma realidade que, há décadas e décadas, pinta de sangue a geografia do nosso País.

    A Vereadora, líder dos direitos humanos, coordenadora na Assembleia e também na Câmara de Vereadores do PSOL, na cidade do Rio de Janeiro, Marielle Franco foi brutalmente assassinada e o seu motorista, parceiro de todas as lutas, Anderson Pedro Gomes, também foi vítima e veio a falecer. A sua assessora foi a única que sobreviveu.

    Marielle Franco era uma militante social, líder dos direitos humanos, militante da questão de gênero e de raça e combatia as desigualdades, as discriminações, a violência. Marielle lutava por justiça e por um país com igualdade de oportunidade para todos.

    Ela havia saído, Sr. Presidente, do evento chamado Jovens Negras Movendo as Estruturas. O grupo debatia o empoderamento das mulheres negras em todos os espaços da sociedade, inclusive na comunicação. Ao sair da Lapa, de acordo com testemunhas, teve o carro emparelhado por outro veículo, de onde partiram tiros e quatro deles atingiram essa liderança dos direitos humanos na cabeça.

    O Brasil clama por justiça imediata e rigorosa. Que esse crime não entre nas estatísticas da impunidade! Enquanto o mundo clama pelo empoderamento feminino, no Brasil se exterminam mulheres.

    Em Caxias do Sul, minha cidade – Presidente, permita-me –, uma menina de sete anos ia se deslocando para um colégio perto da sua casa e, simplesmente, sumiu desde sexta-feira. E a polícia do Estado se move com uma enorme preocupação, entendendo que também deve ser um crime violento.

    O Brasil registrou ao menos oito casos de feminicídio por dia entre março de 2016 e março de 2017. Oito casos por dia! Segundo dados dos Ministérios Públicos estaduais, no total foram 2.925 casos no País, com um aumento de 8,8% em relação ao ano anterior. Enquanto o mundo clama pelo empoderamento feminino, o Brasil – repito – extermina as suas mulheres.

    Há duas semanas, Marielle havia assumido, Senador Collor, a relatoria da comissão da Câmara de Vereadores do Rio criada para acompanhar a intervenção federal da segurança pública no Rio. Ela vinha se posicionando publicamente contra essa medida.

    A Parlamentar também chegou a denunciar em suas redes sociais, no fim de semana, uma ação de policiais militares na favela de Acari. Ela abre aspas e aqui cita as violências que estão acontecendo.

    Enfim, eleita com 46,5 mil votos, a quinta maior votação para Vereador nas eleições de 2016, Marielle Franco estava no primeiro mandato como Parlamentar. Oriunda da favela da Maré, Zona Norte do Rio, Marielle tinha 38 anos. Era socióloga, com mestrado em Administração Pública.

    Marielle, Sr. Presidente, uma mulher jovem, repito, negra, da periferia, favelada, Vereadora, representava, como ninguém, a voz do povo em suas vivências diárias.

    A você, Marielle, muita luz, muita luz! Você estará nos guiando sempre com brilho, como uma luminosa estrela.

    Eu diria a todos, Senador Viana, Senadora Ana Amélia, Senadora Marta, Senador Collor, eles podem crer: mataram Marielle Franco, mas as suas ideias eles não mataram, as suas causas eles não mataram; elas estarão sempre vivas entre nós.

    Marielle Franco está presente!

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2018 - Página 14