Discurso durante a 30ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à intervenção federal decretada no Rio de Janeiro (RJ).

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Críticas à intervenção federal decretada no Rio de Janeiro (RJ).
Publicação
Publicação no DSF de 21/03/2018 - Página 18
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, GESTÃO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, AUSENCIA, RESULTADO, INTERVENÇÃO FEDERAL, SEGURANÇA PUBLICA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REFERENCIA, MORTE, VEREADOR, RIO DE JANEIRO (RJ), UTILIZAÇÃO, INTERVENÇÃO, REALIZAÇÃO, CAMPANHA, POLITICA, AUMENTO, POPULARIDADE.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes que nos acompanham pela Rádio Senado, internautas, é impressionante a imensa capacidade deste Governo de se embananar com os próprios atoleiros em que se mete. Falo aqui do caso da intervenção no Rio de Janeiro, que não coleciona outra coisa senão insucessos.

    Ontem mesmo, o Brasil se deparou com mais um episódio patético dessa natureza. Uma hora, o Presidente da República anuncia o envio de R$800 milhões para financiar o seu teatro fluminense. Outra hora, repreendido pelo general interventor, sobe esse valor para R$1 bilhão, que é, de fato, um terço do orçamento pretendido pelas Forças Armadas para toda essa operação.

    E nós nos perguntamos aqui nesta Casa: e as demais unidades da Federação? Sem qualquer demérito ao Rio de Janeiro e à sua situação de segurança pública, por que os demais Estados e o Distrito Federal não merecem atenção similar do Governo para combater a criminalidade em seus territórios?

    Esses são recursos que o Palácio do Planalto promete destinar da reoneração da folha, que nem foi aprovada ainda neste Congresso. E o Presidente da Câmara, que é do Rio e pré-candidato a Presidente da República, diz que vai querer aumentar o valor destinado.

    É um privilégio ao Rio e uma discriminação com o resto do País. É um custo altíssimo que o Brasil está pagando, para manter uma intervenção inventada pelo Governo, cuja única finalidade é buscar popularidade para as eleições.

    Em que melhorou a situação do Estado desde que começou essa patacoada? Em nada. Todos os dias, há tiroteios e gente assassinada em assaltos, em brigas de gangues, gente morta por balas perdidas, muitas das quais crianças.

    Na quinta-feira passada, a Vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram executados em pleno centro da cidade. O crime organizado mostrou que nem sequer se sente intimidado por essa intervenção e que não a teme.

    E quais os resultados práticos das investigações até agora? Nenhum. O Presidente da República tem hoje dois cadáveres no seu gabinete e nenhuma resposta. O atrapalhado Ministro da Segurança Pública deu entrevista, dizendo que a munição utilizada foi obtida em um roubo aos Correios na Paraíba, praticado por um ex-policial. Foi desmentido e teve de desdizer a própria versão.

    Cinco dias depois, não se sabe nada. E sempre que surge alguma nova informação, os primeiros a saber são os integrantes da Rede Globo. Não há um preso. E o Governo Federal, responsável pela segurança pública do Rio, está inerte, empurrando milhões do dinheiro público numa operação desastrosa, num saco sem fundo, enxugando gelo.

    Temer encontrou no Rio de Janeiro o seu Vietnã. Sua inconsequência em querer fazer política com a segurança pública transformou o Estado num atoleiro pelo qual o seu Governo terminará de ser engolfado. Assim como ocorreu com os Estados Unidos, ele poderá empregar milhares de homens nesse teatro, mas saíra de lá humilhado, diminuindo o papel de nossas Forças Armadas, porque as jogou numa trama política rasa.

    É um Governo burro para lidar com criminosos inteligentes, que não são o povo pobre das favelas ou as crianças submetidas a revistas vexatórias de suas mochilas em escolas, mas, sim, os chefes do tráfico de drogas e de armas, que até agora não foram molestados.

    Não há saída dessa selva em que o Planalto embrenhou os nossos militares sem qualquer planejamento, sem preparação, sem recursos logísticos ou financeiros. Ao fim do período eleitoral, assistiremos a uma retirada melancólica das tropas com uma fragorosa derrota do Presidente da República. O Rio de Janeiro será o Vietnã onde Temer enterrará o pouco que lhe sobrou de vergonha.

    A nós, só nos resta esperar pelo fim imediato desse Governo e que o próximo tenha a responsabilidade de agir no combate à criminalidade e na área da segurança pública em todo o Brasil, e não apenas no Rio. E que o faça com a seriedade que o tema exige, assim como também aja com respeito às Forças Armadas e às funções constitucionais que realmente lhe cabem nos tempos atuais.

    Obrigado, Sr. Presidente, pela paciência.

    Obrigado a todos os Senadores e Senadoras.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/03/2018 - Página 18