Discurso durante a 30ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Satisfação com o Decreto de Michel Temer, Presidente da República, que cria a Área de Proteção Ambiental do Arquipélago de Trindade e Martim Vaz e o Monumento Natural das Ilhas de Trindade e Martim Vaz e do Monte Columbia.

Críticas à mineradora Hydro Alunorte, responsável pela contaminação do Rio Pará.

Autor
Marta Suplicy (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SP)
Nome completo: Marta Teresa Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Satisfação com o Decreto de Michel Temer, Presidente da República, que cria a Área de Proteção Ambiental do Arquipélago de Trindade e Martim Vaz e o Monumento Natural das Ilhas de Trindade e Martim Vaz e do Monte Columbia.
MEIO AMBIENTE:
  • Críticas à mineradora Hydro Alunorte, responsável pela contaminação do Rio Pará.
Publicação
Publicação no DSF de 21/03/2018 - Página 97
Assuntos
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros > MEIO AMBIENTE
Indexação
  • ELOGIO, EDIÇÃO, DECRETO FEDERAL, AUTOR, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETO, CRIAÇÃO, AREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL, REGIÃO, MAR, ILHA TRINDADE, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), PROTEÇÃO, FISCALIZAÇÃO, RESPONSABILIDADE, MARINHA, INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBIO), REFERENCIA, CONGRESSO, AMBITO INTERNACIONAL, AUTORIA, CONSELHO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), REALIZAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), ASSUNTO, DEBATE, IMPORTANCIA, CONSCIENTIZAÇÃO, UTILIZAÇÃO, PRESERVAÇÃO, RECURSOS HIDRICOS.
  • CRITICA, EMPRESA ESTRANGEIRA, MINERAÇÃO, GRUPO ECONOMICO, ORIGEM, NORUEGA, RESPONSAVEL, CONTAMINAÇÃO, RIO PARA, PEDIDO, ESCLARECIMENTOS, PRIMEIRO-MINISTRO, PAIS ESTRANGEIRO.

    A SRª MARTA SUPLICY (PMDB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Obrigada, Senador.

    Brasília está sediando desde o último final de semana o 8º Fórum Mundial da Água, instalado oficialmente no dia 18 no Palácio do Itamaraty pelo Presidente Michel Temer. O ato reuniu aqui, na nossa Capital, Chefes de Estado e de governo, ministros de Estado e representantes de organizações internacionais. É a primeira vez, em mais de duas décadas de existência do Conselho Mundial da Água (WWC na sigla em inglês), que o Fórum é sediado por um país do hemisfério sul.

    O que eu achei muito interessante que aconteceu foi que Brasília está inovando, porque, com a Vila Cidadã, que é um espaço do encontro multinacional aberto à população, é oferecido aos visitantes – crianças, jovens, população adulta – a possibilidade de participar de uma série de atividades de natureza formativa, interativa e cultural, com vistas a melhorar a utilização da água. Eu mesma ontem vi – e eu vi na televisão – as crianças conversando, falando sobre a experiência que estavam tendo ali na Vila Cidadã. E é assim mesmo que se faz a consciência: é exatamente com brincadeiras, com possibilidades de interagir e ajudar a pensar, com gente que entende mais e gente que está aprendendo.

    Depois de sete edições prévias, a última tendo sido na Coreia do Sul em 2015, o atual Fórum é considerado o Fórum com mais espaço aberto para a população, o que é um fato inédito, e, como tal, deve ser comemorado e incentivado nas próximas atividades do Fórum. Essas atividades abertas ao público em geral permitem ampliar o âmbito de pessoas que nós conseguimos atingir, porque geralmente vão as autoridades, os interessados, os que já sabem; dessa forma, muita gente começa a pensar sobre questões em que não tinha pensado. Um primeiro levantamento, divulgado durante a abertura oficial do Fórum, revelou que, apenas no sábado e no domingo, 25 mil pessoas visitaram a área aberta ao público. É assim que nós vamos ampliando essa consciência.

    Na instalação do evento, o Presidente Temer destacou o compromisso do Brasil com as questões hídricas, enfatizando que o desafio da sustentabilidade é complexo e exige políticas coordenadas em cada país e entre todos os países também; e lembrou – eu acho muito importante isto, porque esquecemos tudo com muita rapidez – o compromisso histórico do nosso País com a temática ambiental, empenho reforçado a partir da Conferência Rio 92, Senador Hélio José, e, depois, com a Rio+20. Lembram? Eu mesma participei de ambas.

    Eu quero destacar que o Brasil ganhou – acaba de ampliar, eu diria – as áreas de preservação marinha. Eu ouvi falar pouco disso. E é fantástico o que aconteceu, porque ganhamos quatro unidades de conservação marinhas.

    Essa foi uma iniciativa fantástica – um decreto presidencial – muito importante para todos os que se preocupam com a saúde do Planeta.

    Na semana passada, já toquei nesse tema, no dia 14, e reafirmo agora que é uma medida sensacional, porque vai garantir, a um só tempo, a conservação da biodiversidade, bem como a ocupação territorial ordenada na região, que hoje é suscetível a ameaças, entre as quais a pesca descontrolada, a poluição e também a mineração embaixo do mar.

    O decreto presidencial que foi publicado no dia 20 de março cria a Área de Proteção Ambiental do Arquipélago de Trindade e Martim Vaz e o Monumento Natural das Ilhas de Trindade e Martim Vaz e do Monte Columbia. Elas ficam nos Arquipélagos de São Pedro e São Paulo, no Nordeste, e Trindade e Martim Vaz, no Sudeste do País.

    O objetivo é preservar não somente o que restou do ecossistema insular do domínio da Mata Atlântica, mas também os recursos naturais e a biodiversidade marinha na cadeia submersa.

    Segundo o pessoal que trabalha nessa área, nós temos ali, num desses arquipélagos, uma frente fria que se encontra com o vulcão. E, a partir disso, nós temos uma determinada conjunção: só neste lugar, no Planeta, nós temos animais marinhos com aquela configuração, inclusive em profundidade gigantesca e que nunca viram a luz do Sol.

    Fico sempre pensando que, daqui a algumas décadas – a gente nunca sabe, pois está caminhando tão rápido agora –, nós vamos ter que buscar alimentos no fundo do mar. E os países que estão fazendo essa preservação são países que estão antenados em relação a isso e a essa preservação.

    A criação dessas unidades de conservação não altera o domínio nem a extensão do território do Arquipélago de Trindade e Martim Vaz, nem interfere na organização e na execução do programa de pesquisas científicas que hoje já ocorrem na região. Caberá ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e à Marinha Brasileira a administração compartilhada.

    Com a implantação das novas unidades de conservação, o Brasil vai avançar 1,5% de áreas marinhas atualmente protegidas. Ou seja, hoje, nós temos só isso, mas sabe quanto vai avançar? Vinte e cinco por cento de área protegida. É alguma coisa excepcional! Com esse novo percentual, nós vamos ultrapassar bem antes de 2020 a meta de 17% fixada em Aichi, no Japão, dentro do Plano Estratégico de Biodiversidade, para o período de 2011 a 2020.

    O que significa isso? Significa que esses arquipélagos, onde hoje, muitas vezes, há a pesca que não pode haver, onde não tem nada vigiado, vão passar a ser protegidos pelo Instituto Chico Mendes e pela Marinha e vai haver uma preservação de todos esses animais. Isso era para a gente ter bem depois, mas o Presidente Temer está antecipando com esse decreto hoje, o que realmente é algo muito importante.

    No início do corrente mês, quando o Ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, anunciou a criação das novas unidades de conservação, a oceanógrafa norte-americana Sylvia Earle, considerada ícone mundial de conservação, não titubeou em afirmar: "O que o Governo brasileiro está anunciando hoje é importante não só para o Brasil, mas para toda a humanidade."

    Ao finalizar, o assunto agora não é tão eufórico, nem feliz, não. É um assunto pesado. Eu quero recuperar... Não, antes vou falar de outra coisa. Primeiro vou falar de coisas boas. O Presidente do Fórum disse que, para os países garantirem a segurança hídrica necessária, segundo os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da Declaração do Milênio da ONU, adotada pelos 191 Estados-membros em 2000, é preciso um investimento coletivo maciço, da ordem de US$650 bilhões anuais, até 2030.

    Sem qualquer margem a dúvida, devemos concordar, no sentido de que precisamos de mais vontade política de governos para garantirmos a segurança hídrica.

    O Brasil recupera-se de uma das maiores recessões de sua história, enfrentando sérios problemas orçamentários, que todos nós acompanhamos diariamente. Ainda assim, a determinação do Governo Federal e da sociedade brasileira vão conseguir impulsionar nossas ações voltadas para a preservação do meio ambiente e da biodiversidade.

    O decreto presidencial assinado ontem é mais um gesto concreto do Brasil em direção de nossos compromissos e metas, reafirmando nossos valores e convicções.

    Vou agora falar da parte que é muito triste, que já foi comentada aqui brilhantemente pela Senadora Ana Amélia, pelo Senador Paulo Rocha, por outros colegas. Diante de fortes chuvas – desculpem, eu estou com a maior gripe e aqui no plenário está uma geladeira – na área, o Ministério Público do Estado recebeu denúncias de moradores de que a água acumulada em diferentes pontos da cidade estava avermelhada, no Pará. Foi então que se descobriu a contaminação do Rio Pará, causada por uma fábrica de alumínio, pertencente ao grupo norueguês Norsk Hydro.

    A empresa – não dá para acreditar – jogou água não tratada no Rio Pará, não por acaso, mas por meio de conexões ilegais, pensadas. Simplesmente incrível! O derramamento de águas residuais da Norsk Hydro, no Brasil, foi mais extenso do que a empresa relatou. Quer dizer, ainda tentou esconder. É inacreditável o que ocorreu, principalmente no momento em que nos reunimos com os maiores apoiadores da preservação da água no planeta: um país, a Noruega, que se coloca como baluarte do meio ambiente, fazendo esse papelão.

    Eu gostaria – acho que todos nós, brasileiros, gostaríamos de ouvir – como a ministra norueguesa, que chamou a atenção do Brasil pela questão do desmatamento, há pouco tempo, vai se pronunciar oficialmente sobre a estatal, que vem a nosso país, porta-se em desacordo com as regras de seu próprio país, destrói nossa água e adoece o nosso povo.

    É isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/03/2018 - Página 97