Discurso durante a 34ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações a respeito da atual situação socioeconômica do estado de Roraima.

Autor
Telmário Mota (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Telmário Mota de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO ESTADUAL:
  • Considerações a respeito da atual situação socioeconômica do estado de Roraima.
Publicação
Publicação no DSF de 27/03/2018 - Página 14
Assunto
Outros > GOVERNO ESTADUAL
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO, ECONOMIA, REGIÃO NORTE, APREENSÃO, ORADOR, REDUÇÃO, POLITICA PUBLICA, SETOR, PRODUÇÃO, ESTADO DE RORAIMA (RR).

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Moderador/PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Quando os bons se omitem, os maus governam. É o que a Senadora Ana Amélia acabou de colocar.

    Srª Presidente, Senadora Ana Amélia, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, telespectadores e telespectadoras da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, hoje eu vim a esta tribuna para falar um pouco do meu Estado, o Estado de Roraima.

    Eu estou percorrendo todos os Municípios do meu Estado, e não são muitos, são poucos, são 15 Municípios apenas; Estado pequeno em quantidade de população nos Municípios; um Estado geograficamente grande. E, desses 15, só falta eu percorrer mais três.

    O que eu vi não é um quadro nada bom, não é um quadro nada positivo. O Estado de Roraima, quando era Território, vivia da economia do setor primário: pecuária, agricultura, minério, madeira. Era um povo que se sustentava do seu trabalho, da sua mão calejada, do seu suor.

    A nossa população, quando Território, só queria dos políticos as políticas públicas. Entre o nosso povo não tinha mendigos, não tinha ninguém abaixo do nível de extrema pobreza, era uma vida saudável. O povo do território de Roraima era um povo feliz! E agora me faz lembrar aquela música: eu era feliz e não sabia..

    Então veio para Estado, junto com Amapá, Tocantins, Rondônia... Eu tive a oportunidade de andar nesses outros três Estados e quero aqui tomar Rondônia e Tocantins como exemplo. São dois Estados que prosperaram – e prosperaram muito. Hoje eles têm uma vida econômica que é a produção. Diferente do meu Estado. Lamentavelmente, o Estado de Roraima, enquanto os outros avançaram, andaram para frente, fez que nem caranguejo, deu um passo para trás.

    E eu vejo isso com muita preocupação e com muita tristeza, porque tiraram o nosso Estado da economia do setor produtivo, do setor primário, para a economia do contracheque. E 50% hoje da economia do Estado de Roraima, do PIB, da riqueza, lamentavelmente vêm do contracheque.

    E é bem aí, Senadora Ana Amélia, que é de partir o coração, porque o meu Estado é um Estado propício a tudo. Nós temos um PIB em torno do Estado de Roraima maior que o PIB de São Paulo, somado ao PIB da Venezuela, da Guiana Inglesa, de Manaus e do próprio Estado de Roraima. Ou seja, uma grande riqueza no entorno do território do Estado de Roraima que o Estado não tira proveito disso, não é fornecedor. Nosso Estado é um Estado que serve para agricultura, serve para pecuária, serve para indústria, serve para o turismo, então é um Estado expoente, é um eldorado brasileiro. O Estado de Roraima é um Estado do Futuro. O meu Estado de Roraima é um Estado da oportunidade, porque é um Estado novo, é um Estado em construção, é um Estado em que o pobre dignamente pode ficar rico trabalhando honestamente, mas para isso o meu Estado tem de mudar a sua matriz econômica.

    Roraima não aguenta mais viver do contracheque. Criminosamente, os nossos governantes, durante esses quase 30 anos em que o nosso novo Estado de Roraima passou de Território para Estado, só fizeram sugar. Nasceu, lamentavelmente, no nosso Estado uma classe política parasita, viciada, clientelista, que só veem o Estado como uma fonte para encher seus bolsos. E a população sofre, Senadora Ana Amélia, e sofre muito. E sofre injustamente, porque é um povo ordeiro, um povo amigo, um povo hospitaleiro, um povo trabalhador, mas que está sem horizonte, que está sem teto, que está sem rumo, que é um barco à deriva.

    Percorrendo os Municípios, conversando com as pessoas, custava-me compreender como hoje o homem do campo não tem o documento das suas terras, não tem as licenças ambientais, não tem estrada, não tem ponte, não tem trator, não tem caminhão para escoar sua produção, não tem calcário, não tem adubo, não tem energia, não tem o técnico para orientar na plantação.

    E o homem do campo, que sempre é mais rude, mais trabalhador, não quer largar, porque sabe que, quando o homem do campo roça, a cidade almoça, quando o homem do campo planta, a cidade janta, quando o homem do campo colhe, a cidade não encolhe.

    Mas o abandono, a falta de política pública obrigou o homem do campo a vir para a cidade. Levantando os índices, 83% da população do meu Estado está morando na cidade – agora, uma cidade que não tem o que oferecer.

    Há, Senadora Ana Amélia, no Estado de Roraima, que é um dos Estados mais ricos da Nação brasileira, rico de natureza, uma região dividida: a região sul e a região norte. A região sul é quase toda composta por pessoas que vieram de outros lugares do País. Ali há o gaúcho, o catarinense, o paranaense, o maranhense – o Nordeste, o Centro-Oeste e o Sul todo por ali – e o roraimense também.

    Mas parte o coração nós vermos cinco Municípios: não há uma maternidade, não há um hospital que tenha cirurgia de alta complexidade, não há o IML, não há uma fábrica de beneficiamento da banana, que é a base da produção de Caroebe, de Baliza, de São Luiz, de Rorainópolis. Não há uma fábrica de beneficiamento da castanha-do-pará.

    Hoje, o produtor vende uma saca de castanha – Senadora Ana Amélia, veja que absurdo, uma saca de castanha, 60kg – por R$80. No primeiro benefício dessa castanha, uma latinha com 50g já custa R$80.

    Nós vemos nisso maus-tratos. Nós pegamos na mão daquele homem, uma mão calejada, forte, dura; nós olhamos nos olhos, na pupila, quanta dignidade, quanta honestidade, mas quanto sonho, quanta esperança.

    Olhe, ao tempo em que você fica triste com esse quadro, você se abastece, você se energiza, você fica robusto e fala: "Eu tenho que dar mais de mim."

    A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Senador Telmário, eu não podia, como fez V. Exª quando falei, deixar de me encantar com essa manifestação e essa defesa que o senhor faz, com tanto empenho e com tanto comprometimento, do seu povo, de vários Municípios que foram citados por V. Exª, que vive na área rural.

    Essa é a área mais sofrida do País, mas é também aquela que, mesmo num rincão longínquo como o seu Estado, Roraima, oferece ao Brasil aquilo que nós temos no café da manhã, no almoço e no jantar, que é o alimento, a comida, seja o agricultor do assentamento, do quilombo, da agricultura familiar, das cooperativas, de qualquer organização que esteja produzindo. Ele sustenta não só essa produção para a subsistência, mas também para o abastecimento do País. Por que a inflação da comida está baixa? Porque quem está pagando a conta é o agricultor. O preço do arroz vendido não cobre o custo da produção para ele realizar a semeadura e a colheita dessa lavoura, e assim sucessivamente.

    Então, é o agricultor que, mais uma vez, está trabalhando para levar o Brasil nas costas. O PIB só cresceu, bem como toda a produção de riqueza, por conta da produção dos agricultores do seu Estado.

    Agora, faço uma brincadeira: essa castanha é do Pará ou é de Roraima? (Risos.)

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Moderador/PTB - RR) – É que nós não mudamos o nome. Mas a castanha é de Roraima e de um meio rincão do Pará.

    A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Essa castanha é do Brasil, não é?

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Moderador/PTB - RR) – É do Brasil. É do Brasil.

    Eu fiz uma homenagem aos paraenses porque o meu bisavô era paraense. Então, eu quis homenageá-lo.

    A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Está justificado. (Risos.)

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Moderador/PTB - RR) – Obrigado, Senadora Ana Amélia.

    Então, voltando àquela realidade, àquela triste realidade, eu passei esses três dias num carro de som, de bairro em bairro, de rua em rua, prestando conta dos mais de 50 projetos que nós temos nesta Casa tramitando, estando uns já aprovados, encaminhados à Câmara, e com mais de 70 milhões que já alocamos para o meu Estado, nesses três anos.

    Ali também estava, Senadora Ana Amélia, um grupo pesquisando junto à população, levantando as necessidades, as prioridades de cada Município. É impressionante como a vocação e a aptidão, por regiões, se assemelham bastante.

    Vendo e conversando com cada cidadão ou cidadã do meu Estado – e aqui eu quero fazer uma lembrança a D. Ângela, que é do Amazonas, que mora há muitos anos em Baliza, ao Sr. Aparecido, esposo dela... Quando eu ia no carro de som, ela me chamou e falou: "Olhe, Senador, desça aqui, desça na minha casa. Tome um café e uma água. Eu assisto a você direto pela televisão."

    D. Ângela, estamos aqui, prestando conta desse trabalho. E trouxemos, sim, no bolso e no coração, a sua mensagem, a sua perseverança, a sua confiança. São pessoas como a senhora, D. Ângela, como o Sr. Francisco, de São Luiz, como a Ilda, de Baliza, como Napoleão, de Entre Rios, são pessoas como vocês que... São tantos... Eu até comecei a enumerar, mas iria cometer uma grande injustiça, porque foram muitas as manifestações. Mas que todos se sintam contemplados, em nome desses que eu citei, para que realmente todas essas informações que foram colhidas pela minha equipe e por mim mesmo possam nos balizar, para que nós, juntos, possamos construir um grande plano de governo, um grande plano de governo. E, como disse a Senadora Kátia Abreu, que tenha começo, meio e fim.

    Então, isso é o que nós precisamos fazer, porque normalmente essas grandes obras acabam se perdendo no ralo da corrupção.

    Conversei bastante com a nossa população, conhecemos bem aquela realidade e hoje eu digo aqui: eles, os nossos políticos e os nossos governantes, lamentavelmente conseguiram, nesses 30 anos, nos derrotar, levaram, sim, a nossa saúde, levaram a nossa educação, levaram a nossa produção, levaram o desenvolvimento do nosso Estado, levaram as nossas estradas, levaram as nossas pontes, levaram o nosso saneamento, levaram as nossas casas, mas não levaram a nossa esperança. Jamais! Não levaram! Fomos derrotados em tudo isso, mas, na última volta, nós vamos derrotá-los. Perdemos várias batalhas, mas a guerra vai ser nossa, porque a nossa esperança jamais vamos perder. Nós vamos vencê-los! Nunca vi o mal vencer o bem, nunca vi a mentira dominar a verdade e nós vamos nos estabelecer.

    Roraima não merece sofrer, o povo de Roraima não merece sofrer. Nós temos um Estado pujante, nós temos um Estado expoente, nós temos um eldorado. Roraima responde: o que falta são políticas públicas voltadas para o setor produtivo, voltadas para o setor primário, que é tudo aquilo que vem da terra – a pecuária, a agricultura, o minério, a madeira. Falta investir na agroindústria, falta investir na indústria, aí, sim, nós vamos dar um grande passo e Roraima vai se colocar como um grande Estado da Nação brasileira, contribuindo para este Brasil tão rico e tão bonito como o nosso.

    E, por último, Senadora Ana Amélia, eu fiz uma fala em todas as ruas do meu Estado, do meu Município e disse que o Brasil inteiro está em uma grande cruzada contra a corrupção, uma grande cruzada, e que nessa grande cruzada todo o Brasil tem que se envolver. Nós não esperamos, não podemos esperar que a punição, Senadora Ana Amélia, aos corruptos venha só da Justiça, só do Ministério Público. Nós – como cidadãos e cidadãs – temos que fazer a nossa parte, temos que votar em pessoas que não estejam envolvidas em corrupção. Se alguém estiver envolvido, deixe-o se limpar, deixe-o se arrumar com a justiça, não vamos dar foro privilegiado para ele ou para ela e vamos deixar que este Congresso encha essas cadeiras de pessoas ilibadas, de pessoas do bem.

    Em meu Estado, com as pessoas já sem sonhos e sem esperanças, um cidadão me disse: “Mas, Senador Telmário, todo político não é ladrão?” Eu falei: “Não, é o ladrão que fez isso para confundir a sua cabeça.”

    Eu tenho 50 anos de vida pública, Senadora, 50 anos! Meu pai era um vaqueiro; e a minha mãe, empregada doméstica. Eu comecei cavando rua, como vaqueiro, comecei a estudar com 11 anos de idade. Essas mãos nunca se envolveram em corrupção.

    Então, a política não faz ninguém ficar ladrão, é quando você vota em ladrão que você o coloca na política.

    O Brasil tem cura, combatendo a corrupção.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/03/2018 - Página 14