Discurso durante a 36ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Repúdio aos atos de incitação à violência, contra a caravana de apoio ao ex-Presidente Lula, realizados pela Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja)

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Repúdio aos atos de incitação à violência, contra a caravana de apoio ao ex-Presidente Lula, realizados pela Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja)
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2018 - Página 50
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • REPUDIO, ATO, INCITAMENTO, VIOLENCIA, AUTORIA, ASSOCIAÇÃO RURAL, PRODUTOR, SOJA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), DESTINATARIO, GRUPO, APOIO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, ENCAMINHAMENTO, VOTO, CENSURA.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM. Sem revisão da oradora.) – Eu iria abordar também o mesmo assunto que o Senador Randolfe abordou e cumprimentá-lo. Mas, neste momento, além de cumprimentar o Senador Randolfe, cumprimento V. Exª pela forma serena e equilibrada com que ambos reagiram ao se manifestarem diante de tantos atos de violência.

    Não há, entre brasileiros e brasileiras que defendem a cultura da paz, Senador Randolfe, quem concorde ou seja complacente com as ameaças que estão sendo feitas ao Ministro do Supremo Tribunal Federal. Não há!

    Então, eu me somo a V. Exªs no sentido de que é necessário que haja uma apuração e que se encontrem os culpados, assim como aqueles que eliminaram Marielle. Todo o Brasil sabe – o mundo – que uma vereadora do Estado do Rio de Janeiro, uma negra, uma moradora de favela foi eliminada por forças milicianas, e, até agora, não se encontraram ainda os culpados, os responsáveis por aquela execução.

    Presidente, aproveitando a oportunidade – por isso pedi a palavra pela ordem –, no meu primeiro pronunciamento – e V. Exª, Senador Dário, está aqui no plenário ouvindo com muita atenção todos os pronunciamentos –, eu me referi a um manifesto, a uma mensagem à sociedade brasileira de uma associação – a Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul –, Senador Randolfe e Senador Cristovam, uma nota assinada por Luis Fernando Marasca Fucks, que é o Presidente da Aprosoja – que é essa associação.

    A mensagem que eles mandam à população brasileira não é uma mensagem que defende o seu ponto de vista político; é mais uma manifestação de incitação à violência.

    Ela começa dizendo que o Rio Grande do Sul fez história quando: "[...] num dia do mês de março, tosca caravana, liderada por um corrupto condenado, fez trajeto pelo Sul do País. Ficará registrado que o povo daquela região, cuja hombridade estava conservada, 'deu de relho'[...]". E ele termina a nota – não quero ler toda a nota – dizendo o seguinte: "Em 19 de março de 2018, foi iniciada a reação dos brasileiros gaúchos contra o plano de socialização do País. É contra isso que lutamos!"

    E, aqui no meio, ele diz que a verdadeira batalha não é contra o incauto condenado Lula, o PT e os demais partidos, é contra quem defende o socialismo. Ou seja, eles decretam, aqui nessa nota, que nós temos que ter um País de ideologia única, a ideologia deles, a ideologia da exploração. É isso que está sendo decretado aqui.

    Nós travamos um debate muito duro pela manhã. Eu acho que o Brasil inteiro viu, V. Exª acompanhou. Foi um debate duro, mas que precisa ser travado, que precisa ser enfrentado, porque nenhum de nós tem o direito de aplaudir a violência – nenhum de nós! Eu acho que pessoas que fazem isso... Errar é comum. Quem de nós já não se excedeu em uma ou em outra fala? Mas tem a obrigação de se retratar e dizer: "Eu me excedi, eu errei, peço desculpas". Essa é a nossa obrigação, porque nós somos o exemplo para a sociedade.

    Assusta-me, Senador Dário, o silêncio do Palácio do Planalto. Isso me assusta muito, Senador Cristovam: o silêncio sepulcral do Palácio do Planalto, de um Presidente da República – e aqui não quero discutir como é que ele chegou lá, mas é Presidente da República, está lá, fala pelo nosso País, tem autoridade para isso, reconhecida pelo Poder Judiciário, pelo Parlamento, por tudo, enfim, é Presidente da República – diante do primeiro ato de violência, um atentado contra uma caravana onde estavam dois ex-presidentes – dois! Não era apenas um, mas dois ex-presidentes, e ele ficar calado?! Naquela hora, não em defesa de Lula ou Dilma, ou da ideologia que eles professam, não; mas em defesa da liberdade de expressão, em defesa da Constituição brasileira, contra a violência, em defesa da cultura da paz, ele deveria ter saído em cadeia nacional – em cadeia nacional –, porque, assim, eu tenho certeza de que o tiro que foi dado ontem não teria sido dado. Nós temos de dar o exemplo.

    Agora, se a gente aplaude e diz que é isso mesmo, que forte é esse gaúcho e se aplaude Bagé, como está dito aqui – "Bagé inspirou uma Nação" –, nós estaremos dando asas àquele discurso que, até ontem, era de um candidato à Presidência da República, e que tem um índice, Senador Cristovam, assustador. E qual é o discurso dele? Do ódio, dizendo que trabalhadores têm que ser recebidos a bala, que a lei do Brasil tem que mudar para que, se um entrar na propriedade do outro, este tem o direito de matá-lo sem qualquer punição. Fala isso abertamente! Era apenas um, agora são muitos; estão se transformando em muitos. Não são a maioria da população – não são! Como os militares, em 1964, e aqueles que os apoiaram não eram maioria, mas, com base na força, fizeram o que fizeram.

    Então, Sr. Presidente, eu fiz um voto – foi isso que anunciei – um voto de censura a essa manifestação da Aprosoja – uma associação legal, constituída no Brasil –, um voto de censura que diz que num regime democrático cada um tem direito à liberdade de expressão, à liberdade de pensamento e à liberdade ideológica.

    Meu partido é o Partido Comunista. É o partido mais antigo no Brasil, é o partido que mais gente perdeu durante a ditadura militar, seja no Araguaia, seja na Lapa, em São Paulo, muitos, muitos, muitos, muitos. E qual era a luta? A luta era pela democracia, pela liberdade, que hoje está em risco. O que está em risco não é só a vida do Presidente Lula, da Presidenta Dilma. O que está em risco é a liberdade de qualquer brasileiro ou brasileira de falar, como diz V. Exª, Senador Dário.

    Eu acho que nesta hora nós temos que nos unir, não é ficar batendo boca um com o outro, não. Nós temos que nos unir. E todos, unanimemente, mesmo aqueles que ali atrás aplaudiram, vamos esquecer aquele aplauso. Cada um tem que ter a oportunidade de se refazer, de se fazer publicamente uma autocrítica. Isso não é feio, isso é a coisa mais bonita do ser humano. É ele poder saber que também tem a capacidade de fazer publicamente uma autocrítica, de se retratar.

    E aí vamos seguir trilhando um novo caminho. Nós estamos num ano de eleição. A campanha nem começou, e nós estamos vivendo isso aqui. Quer dizer que o Presidente Lula não pode andar? Amanhã, serei eu. E tudo começou, Senador Cristovam... E V. Exª foi vítima, e todos nós usamos este microfone nos solidarizando com V. Exª, como eu fui vítima, como eu fui agredida, e não foi verbalmente, não, foi fisicamente, dentro de um avião – dentro de um avião, agredida fisicamente. Eu fiquei com a testa machucada. Além da agressão física, o constrangimento por que a gente passa. Então, tudo começou ali. As coisas começam pequenas e vão se avolumando se não houver reação.

    Então, eu aqui faço um apelo. Encaminho o voto de censura à Mesa. Eu acho que o Presidente Eunício... Porque eu sei que um voto de censura, Senador Cristovam, é definido pelo Presidente do nosso Parlamento. Mas deveria colocar esse debate... A gente faz tanta comissão geral... Vamos fazer uma comissão geral para debater isto, a cultura da paz no Brasil. É dessa comissão geral que nós precisamos. Nós precisamos de um manifesto assinado por 81 Senadores repudiando isso.

    Geraldo Alckmin, outro candidato a Presidente da República, ontem, foi um desastre, fez uma declaração dizendo o seguinte: que o PT paga com a mesma moeda aquilo que fez. Foi a declaração dele. Ou seja, indiretamente, dizendo: vocês merecem isso. É o que está lá escrito para um brasileiro que não precisa nem ter escolaridade, mas uma criança entende. "Você está vendo? Vocês merecem isso. Vocês estão colhendo o que plantaram." Falou ontem isso. Hoje, 8h40 da manhã, Geraldo Alckmin faz um tuíte, acho que é um tuíte aqui, é um tuíte, dizendo o seguinte...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ... que é papel das autoridades... "Toda forma de violência tem que ser condenada. É papel das autoridades apurar e punir tiros contra a caravana do PT, e é papel de homens públicos pregar a paz e a união entre os brasileiros. O País está cansado de divisão e da convocação de conflito." Então, quer dizer, de uma forma ou de outra, ele se retratou aqui. Espero que isso seja uma retratação, porque é completamente diferente do que ele disse ontem, completamente diferente.

    Então, é disso que nós precisamos. Nós precisamos resolver o problema do Brasil com a democracia, com a participação do povo, e não com o povo se matando, porque não é só a caravana que está sendo agredida; o Senador Lindbergh estava mostrando umas fotografias de pessoas sendo chicoteadas, que é o tal do relho, de que lá no Rio Grande do Sul falam tanto. E ainda quer dizer que isso aí é figuração.

    Bom, eu aprendi na escola, Senador Cristovam, que, do ponto de vista figurativo, o relho, que é o chicote, era utilizado contra os escravos, mulheres e homens negros – mulheres e homens negros.

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Nós não conseguimos a abolição plena da escravatura. A forma da escravidão hoje é diferente. Agora, pelo menos, temos de ter a capacidade de, dentro da democracia... E fala aqui uma comunista, mas que preza a democracia, preza a democracia acima de tudo, porque é através da liberdade que vamos poder falar, ser ouvidos e convencer as pessoas de qual é o melhor caminho.

    Então, quando alguém atenta contra isso, está atentando contra o princípio elementar da Constituição do nosso próprio País, da República, que é a liberdade de expressão, o direito de todos de ir e vir.

    Então, parabéns, Senador. Parabéns! V. Exª assumiu a Mesa num momento muito difícil, Senador Dário, mas fez uma explanação que tem de ser exemplo para todos nós. O Senador Eunício deve reunir a Casa o quanto antes para discutirmos essas questões, que não são de menor importância.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – E isso não pode ser reduzido a uma briga entre Senadores que são de lados diferentes, não. Eu quero discutir conteúdo. Eu não quero brigar com ninguém aqui. Eu não quero me indispor com a Senadora Ana Amélia, mesmo já tendo sido levada por ela ao Conselho de Ética. Não é essa a minha intenção. A minha intenção é que nós façamos a unidade neste momento para fazer frente a essa barbárie em que estão querendo jogar o nosso País e a nossa gente.

    Obrigada e desculpe pela demora. Obrigada, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2018 - Página 50