Discurso durante a 36ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Repúdio aos atos de violência contra a caravana liderada pelo ex-presidente Lula, no sul do País.

Autor
Fátima Bezerra (PT - Partido dos Trabalhadores/RN)
Nome completo: Maria de Fátima Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Repúdio aos atos de violência contra a caravana liderada pelo ex-presidente Lula, no sul do País.
Aparteantes
Ricardo Ferraço, Vanessa Grazziotin.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2018 - Página 21
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • REPUDIO, VIOLENCIA, DESTINATARIO, GRUPO, APOIO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, telespectadores, ouvintes, quero aqui primeiro cumprimentar a Senadora Vanessa pelo pronunciamento dela, não só pela solidariedade à luta dos trabalhadores em educação, mas agora, mais uma vez, ela expressou aqui toda a sua indignação diante dos atos fascistas que têm sido realizados contra a caravana liderada pelo Presidente Lula, bem como toda a sua solidariedade.

    E é exatamente sobre isso, Senadora Vanessa, que eu vou falar também. Lembrando que apenas 13 dias após a execução política da Vereadora Marielle Franco, do PSOL, e de seu motorista Anderson Gomes, a caravana do Ex-Presidente Lula foi alvo de uma emboscada fascista na noite dessa terça-feira, lá no trecho rodoviário situado entre Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, no Paraná.

    Apesar de o percurso dos ônibus da caravana ter sido comunicado previamente às forças de segurança pública, no sentido de ser garantida a escolta policial durante todo o trajeto, a escolta policial não foi garantida, diferentemente, inclusive, do ocorrido lá no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Dessa forma, milicianos fascistas sentiram-se livres para atentar contra a vida do ex-Presidente Lula e contra todas as vidas que estavam dentro daquele ônibus.

     É importante aqui destacar que ninguém ficou ferido, porque, Senadora Vanessa, o plano dos criminosos fracassou. Mas poderia não ter fracassado. Antes de disparar contra os ônibus, tentaram bloquear a passagem da caravana com artefatos inseridos na estrada para perfurar os pneus dos ônibus, que poderiam ter sido obrigados a parar no exato local da emboscada, onde poderia ter acontecido uma verdadeira tragédia.

    Se a emboscada tivesse tido êxito, se a emboscada tivesse, Senadora Vanessa, produzido pelo menos um cadáver, a pergunta que não quer calar: na conta de quem, Senadora Vanessa? Se ontem a emboscada que fizeram à caravana liderada pelo Presidente Lula tivesse tido um cadáver, na conta de quem ia ser debitado esse cadáver? Seria fruto da omissão das autoridades competentes, incluindo aí o Governo do Estado do Paraná, o Ministério da Segurança Pública e a própria Presidência da República?

    É preciso chamar as autoridades competentes à sua responsabilidade. As tentativas de sabotagem da caravana do ex-Presidente Lula, agravadas por essa recente emboscada, que produziu risco efetivo de morte, tornaram-se possíveis devido à omissão das forças de segurança pública e das autoridades responsáveis por comandá-las.

    Aliás, que tragédia! Que coisa feia! O Governador do Estado de São Paulo, um homem que inclusive quer ser Presidente da República – quer ser, porque não vai ser –, pré-candidato a Presidente da República pelo PSDB, o Sr. Geraldo Alckmin, fez uma coisa horrível. Em vez de repudiar o atentado criminoso empreendido contra a caravana do ex-Presidente Lula – como deveria fazer todo e qualquer democrata – o que foi que fez? Simplesmente alimentou esse clima de ódio.

    Isso é algo inaceitável, inaceitável! Como é que um Governador, pré-candidato a Presidente da República, age, Sr. Geraldo Alckmin, de forma tão irresponsável com o senhor?! Como é que o senhor comete o impropério de tentar justificar o injustificável – a emboscada –, que poderia ter resultado em mortes?

    Na verdade, essa posição do Sr. Geraldo Alckmin expressa mais uma vez o descompromisso do seu Partido com a democracia. Não foi à toa que foi o PSDB um dos principais protagonistas daquela farsa política que nos levou àquele impeachment fraudulento. E, na esteira disso, o País vive hoje esse clima de ódio, esse clima de intolerância. Quando se começa a brincar com a democracia, tudo pode acontecer, e é exatamente o que nós estamos vendo no País neste exato momento.

    Mas eu quero aqui dizer, Sr. Presidente, que, apesar de toda essa ofensiva de caráter fascista, alimentada pelo silêncio, infelizmente, e pela parcialidade da grande mídia empresarial, bem como por discursos irresponsáveis, de ódio, proferidos inclusive no Parlamento por Parlamentares e até por uma Senadora da República...

    O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Social Democrata/PSDB - ES) – V. Exª me concede um aparte?

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Eu também estou aguardando, Senadora.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – ... eu quero aqui dizer que, não obstante isso, a caravana segue. Sabe por quê? Porque ela traz, no seu coração, a mensagem da esperança. Ela traz, no seu coração, a mensagem da resistência. Ela é liderada por um homem cujo imenso legado a maioria do povo brasileiro reconhece que ele deixou quando teve a oportunidade de governar este País.

    Então, eu concedo o aparte ao Senador Ferraço. A Senadora Vanessa me pediu...

    O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Social Democrata/PSDB - ES) – Naturalmente, por gentileza, eu cedo...

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – Não, o senhor pediu. Pois não, concedo ao senhor.

    O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Social Democrata/PSDB - ES) – Muito obrigado. Apenas por gentileza...

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – Só peço objetividade por conta do meu tempo.

    O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Social Democrata/PSDB - ES) – Eu cederia a manifestação, em primeiro lugar, por gentileza e delicadeza à Senadora Vanessa, que pediu em primeiro lugar, mas, considerando que ela abriu mão, eu agradeço a V. Exª e faço aqui uma manifestação em relação a esse tema. Senadora Fátima Bezerra, eu condeno qualquer tipo de violência, e acho que todos nós que fizemos uma opção pela democracia precisamos condenar qualquer tipo de violência, até porque democracia não se disputa na arma; disputa-se no voto, no debate, na argumentação, no contraditório, para que a sociedade possa exercer a sua massa crítica e possa, de fato, fazer as suas escolhas.

    Portanto, é absolutamente condenável qualquer tipo de manifestação além da discussão e do debate político, não importando o nível de divergência. Mas eu quero também dizer a V. Exª que eu não tenho dois pesos e duas medidas. Da mesma forma que eu condeno essa violência, eu condenei lá atrás, quando, no Palácio do Planalto, ao lado da Presidente da República afastada e das mais elevadas autoridades da República, uma liderança do MST falou claramente que, se tivesse que defender, poderia e deveria pegar em armas, conclamando, mobilizando. Portanto, está errado agora, como estava errado lá atrás. Só que lá atrás não houve...

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Só que lá não houve violência, Senador. Não atiraram em ônibus de ninguém.

    O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Social Democrata/PSDB - ES) – Não...

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – Não houve tiros.

    O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Social Democrata/PSDB - ES) – Senador Lindbergh, por obséquio, V. Exª terá a oportunidade da palavra. Eu não tenho...

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – Deixe-me só pedir ao Senador Ferraço que conclua.

    O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Social Democrata/PSDB - ES) – ... eu estou, eu estou condenando, Senador Lindbergh, estou condenando...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Social Democrata/PSDB - ES) – ... sem meias palavras, qualquer tipo de violência. Isso é inadmissível! Democracia disputa-se e discute-se no voto, não na arma.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – No campo das ideias.

    O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Social Democrata/PSDB - ES) – Claro, evidente. E nós, aqui mesmo, partimos para o confronto duro, firme, civilizado, e é assim que deve ser. Portanto, eu condeno. O que eu estou afirmando é que nós precisamos ter dois pesos e duas medidas. Ou seja, lá atrás, houve uma incitação ao lado nada mais, nada menos que da Presidente da República. E não houve manifestação de condenação à época desse tipo de postura, que também é condenável. Até porque não importa a profundidade da nossa divergência; a civilidade e o respeito às leis devem imperar. Até porque o meu direito termina onde começa o direito do meu semelhante. Eu só estou chamando a atenção para a necessidade...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Social Democrata/PSDB - ES) – ... de para não termos dois pesos e duas medidas. Eu não posso condenar agora e aplaudir o que aconteceu no passado recente. Eu condenei lá, como condeno agora. E acho que a coerência precisa ser uma premissa, uma precondição no debate político. Agradeço a V. Exª o aparte.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – Eu quero conceder, agora, rapidamente, à Senadora Vanessa.

    Apenas quero dizer que, primeiro, enalteço aqui a posição do Senador Ferraço do ponto de vista de defesa da democracia. Democracia não combina com violência, democracia não combina com autoritarismo. Democracia combina com o diálogo, com a paz, com o debate, com o contraditório.

    Agora, no que diz respeito aos episódios, o episódio de agora é completamente diferente. O que nós estamos vendo neste exato momento são grupelhos, uma horda, milícias fascistas, inclusive com ...

(Interrupção do som.)

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Valadares. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - SE) – Senadora, vou dar mais um minuto, porque há vários oradores inscritos com o mesmo interesse para ocupar a tribuna.

    Vou conceder mais um minuto. Mais dois minutos. V. Exª quer dois minutos? Vou conceder dois minutos.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – Eu vou passar para a Senadora Vanessa.

    Só para deixar claro que são situações completamente diferentes. O que a gente viu lá é a barbárie, é o tiro.

    Volto a dizer, ontem, nós poderíamos ter tido já um cadáver, fruto, exatamente, das manifestações de intolerância, de ódio, daqueles que não respeitam a Constituição. É a Constituição que assegura o direito de ir e vir, o direito à livre manifestação.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Senadora...

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – Senadora Vanessa.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Senadora Fátima, acho que o Senador Ferraço tem razão. É isso mesmo: democracia se faz com palavras, contradições, divergências, que são tratadas com pronunciamentos, não com ações violentas. Então, o errado não é só a ação violenta. O mais grave, ainda, são autoridades que enaltecem atitudes violentas.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – Com certeza.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – É isso o que nós estamos criticando.

(Soa a campainha.)

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Então, quando houve – e de fato houve o episódio que o Senador Ferraço falou... Inclusive, quem falou disse que foi força de expressão. Quem falou aquilo disse, justificando-se, que foi força de expressão. Não houve violência, apenas um equívoco, uma força de expressão. Veja, Senadora, estou aqui com um documento da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja). Vou encaminhar à Mesa, Senador Valadares, uma moção contrária ao que está aqui, de repúdio a exatamente os termos usados pela Senadora. "Contará a história que um dia, no mês de março, tosca caravana, liderada por um corrupto condenado, veio e fez um trajeto no Sul. Ficará registrado que o povo daquela região, cuja hombridade estava conservada, deu de relho [deu de relho] no sujeito e em seus acompanhantes, personalidades cuja moralidade e reputação já fazem parte da infâmia". É esse o sentimento que estão espraiando...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – É esse o sentimento que estão espraiando Brasil afora. Mas vou voltar a falar sobre esse manifesto. Parabéns, Senadora Fátima!

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – Quero só concluir aqui dizendo, Senador Lindbergh, que a caravana do Presidente Lula segue, repito, levando a mensagem da esperança e organizando a resistência democrática.

    Quero aqui deixar muito claro que os fascistas ladram, ameaçam, atiram, mas a caravana passa. E, por onde passa, aglutina multidões, organizando a esperança e a resistência democrática. 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2018 - Página 21