Discurso durante a 36ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a posição assumida pelo PPS de não lançar candidato à Presidência da República nas eleições de 2018.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Considerações sobre a posição assumida pelo PPS de não lançar candidato à Presidência da República nas eleições de 2018.
Aparteantes
Reguffe.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2018 - Página 62
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • COMENTARIO, DECISÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO POPULAR SOCIALISTA (PPS), AUSENCIA, LANÇAMENTO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, REGISTRO, POSSIBILIDADE, ALIANÇA (PE), GERALDO ALCKMIN.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, o senhor, como sempre, muito gentil e ponderado no uso do tempo.

    Srs. Senadores e Srªs Senadoras, nós vimos aqui, hoje – e ontem também, eu mesmo falei –, um debate sobre a violência que está acontecendo no processo eleitoral. Eu volto a insistir na ideia de uma sessão especial para debatermos a paz no processo eleitoral.

    Mas venho falar aqui de outra violência, Senador, uma violência que, às vezes, a gente tem nas ideias. A violência das armas, dos porretes, de impedir fluxo de veículos, de ovos, isso é visível. Mas há uma violência também nos discursos, quando os candidatos caem no extremismo do discurso e na demagogia e no populismo. Isso é uma violência com o País. Promessas vazias numa campanha é uma violência; promessas irrealizáveis é uma violência. E eu temo porque, no Brasil, além dessa violência visível que nesses últimos dias afetou especialmente a caravana onde vai o ex-Presidente Lula – eu volto a manifestar minha solidariedade e minha preocupação com isso –, há, hoje, um perigo no processo eleitoral porque há pulverização de candidaturas lúcidas, cuidadosas e moderadas – vejam que eu não usei a palavra centro. Essas candidaturas lúcidas, moderadas, responsáveis estão perdendo e estão quase impossibilitadas de ter um representante no segundo turno, pela pulverização.

    Essa é uma das razões por que o PPS, no seu congresso, nesse fim de semana, preferiu não ter candidato próprio – e eu me propunha a ser o candidato próprio do PPS para a Presidência, mais uma vez, como fui em 2006. O Partido chegou à conclusão de que ter mais um candidato poria em risco a chance de chegar ao segundo turno uma candidatura que fosse moderada, que fosse responsável e que trouxesse esperança de um Brasil sem os problemas que nós temos.

    Não temos candidato próprio, mas queremos encontrar um candidato para apoiá-lo; um candidato que traga essas qualidades da moderação, da responsabilidade e com esperança. Porque o que mais me preocupa hoje, Senador Cássio, nos dois extremos que estão disputando o segundo turno, não é que eles são extremistas, é que eles são nostálgicos. O desenho que eles têm para o futuro do Brasil é um futuro antigo – veja que contradição eles estão trazendo, um futuro antigo, seja a antiguidade do autoritarismo, seja a antiguidade do populismo. Dois fatos que estão amarrando o Brasil há décadas, salvo alguns períodos sem autoritarismo e sem populismo. Esse é o medo.

    Portanto, o que o Partido PPS decidiu foi buscar um candidato de outro partido que possamos apoiar já no primeiro turno. E surgiu, aí, a ideia de que deveríamos aprovar – e foi aprovada – uma indicação de diálogo com os candidatos que representariam essa moderação, essa responsabilidade, na pessoa, em primeiro lugar, do Governador Alckmin.

    Eu digo em primeiro lugar porque a ideia é fazer um diálogo, Senador Reguffe, levando para ele o que nós consideramos que é a esperança que o Brasil precisa para se opor aos extremos nostálgicos, uma esperança de futuro. Não é apenas em oposição aos extremos que aí estão, mas é em alternativa. Há uma diferença grande entre você ser uma oposição e você ser uma alternativa. Nós queremos uma alternativa. E esse diálogo é para saber até que ponto o candidato Geraldo Alckmin é capaz e desejoso de trazer para o Brasil uma proposta alternativa ao autoritarismo e ao populismo.

    Qual é a esperança que ele traz para que o Brasil comece a marcha – porque em quatro anos ela não se conclui – de o Brasil ser um País com as escolas da máxima qualidade e qualidade igual para todas as crianças, independentemente da renda dos pais, independente do endereço onde moram? E, aí, o Governador Alckmin tem que se despir de uma característica: a visão muito localizada em São Paulo, que não representa o conjunto do Brasil.

    Qual é a mensagem que ele vai trazer para a educação, para a saúde, para a previdência sustentável e justa? Esse é um dos lados.

    O outro lado: qual é a esperança que ele traz para que a economia seja eficiente neste País? Porque as esquerdas erraram ao imaginar que é possível ter justiça social com uma economia ineficiente. Não! É possível uma economia eficiente ser injusta socialmente, mas não é possível uma sociedade justa com uma economia ineficiente. Como é que a gente vai fazer uma economia eficiente? A gente não tem tido isso no exemplo dos últimos tempos.

    Eu estou convencido, Senador Dário, de que o Estado define os trilhos por onde a Nação vai caminhar, mas a locomotiva é a sociedade – os empresários, o setor privado e o povo, com a sua competência, com a sua energia, com o seu vigor. O Estado diz para onde ir, o trilho; a energia vem da locomotiva povo, setor privado e demais atividades, diretamente da sociedade. Qual é a proposta de um candidato para isso?

    E, finalmente, para combinar três pontos, a estabilidade democrática, o que implica: sem corrupção. Todo candidato vai dizer que não é corrupto. Eu quero um candidato que diga: "Vou definir tais leis que, ainda que um ladrão se infiltre no meu governo, não vai conseguir roubar." É isso que a gente espera de um estadista.

    Então nós decidimos indicar um diálogo inicialmente com o Governador Alckmin, para tentar trazê-lo para um discurso de esperança do novo, que consiga impedir os extremos e consiga trazer um grupo moderado, responsável, mas com propostas esperançosas que o Brasil precisa.

    Eu fico esperando o resultado desse diálogo; se a gente já vai ter um candidato a apoiar ou se vamos procurar mais um outro entre os muitos que estão aí.

    Mas concluo, antes de passar a palavra ao Senador Reguffe, com aquilo que eu comecei: não deixemos continuar a violência física que está tomando conta do processo eleitoral, mas não nos olvidemos, não nos esqueçamos da violência intelectual, da violência nas ideias, da violência que vem da demagogia, da irresponsabilidade, do populismo e das propostas autoritárias. Isso, mesmo nas ideias, é também uma violência muito perigosa para o futuro do País.

    Os próximos quatro anos, Senador Dário, vão ser definitivos para o Brasil. São anos em que nós nos reencontraremos com coesão e rumo ou nós nos perderemos na desagregação que já toma conta do País, sem rumo. Eu espero que muitos de nós aqui...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – ...estejamos de volta com a responsabilidade de fazer com que o Brasil se reencontre, com coesão e com rumo.

    Era isso, Sr. Presidente.

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – Senador Cristovam, permite-me um aparte?

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Mas eu gostaria de dar um aparte ao Senador Reguffe.

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – Obrigado, Senador Cristovam. Em primeiro lugar, eu quero dizer que lamento a posição do seu Partido. Considero que V. Exª teria todas as condições de representar o seu Partido com dignidade na campanha presidencial, valorizando as propostas e os ideais do seu Partido e oferecendo à sociedade brasileira uma proposta alternativa, uma proposta diferente. Então acho que V. Exª honraria o seu Partido. E lamento o seu Partido não lhe ter dado a oportunidade de oferecer as suas ideias à sociedade brasileira. Considero também que, nessa salada que virou o processo partidário no Brasil, o que um partido deveria almejar é sempre lançar uma candidatura própria, para fazer o bom debate, para colocar as suas ideias, para oferecer à população qual é o seu projeto, porque um partido deveria existir para fazer um debate de ideias, não para ficar lutando por carguinhos em governos, não para ficar lutando por espaços de poder para nomear os seus apaniguados, o seu grupo.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – Então eu acho que o que o Brasil precisa é de um sólido debate, sólido e profundo debate de ideias, e acho que um partido político deveria servir para isto: oferecer uma alternativa diferente. Considero também que nós precisamos fazer uma grande revisão do papel do Estado. Precisamos de um Estado mais enxuto, mais eficiente, que seja voltado para o contribuinte, que seja preocupado em devolver serviços públicos a esse que paga impostos. Hoje, parece que o Estado brasileiro não serve ao contribuinte brasileiro. Ele não existe para servir ao contribuinte brasileiro. Parece que ele existe para servir à construção e perpetuação de máquinas políticas, porque é para isso que serve o Estado. Em qualquer governo, até agora, de que partido for, entra governo e sai governo, é sempre esse loteamento. Distribuem-se os ministérios pelos partidos. "Quantos votos vamos ter no Congresso Nacional?"

(Soa a campainha.)

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – Governabilidade no Brasil virou sinônimo de fisiologismo. Eu quero ver um governo que realmente ofereça à população uma nova proposta de educação, uma nova proposta de saúde, uma nova proposta de segurança, que priorize essas três áreas, que são as áreas precípuas da atuação do Estado. Agora, eu quero ver um governo que, além de priorizar essas três áreas, além de formular e executar políticas públicas, também se preocupe com uma nova forma de fazer política, porque essa que está aí só fez a sociedade ter nojo da política, querer se afastar da política. E não há saída fora da política. Aliás, isto precisa ser dito: não há saída fora da política. Então, nós precisamos recuperar o valor que a política tem para o cidadão. Agora, não vai ser com esse modo de governar, com esse toma lá dá cá...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – ... já vou encerrar, Sr. Presidente –, com esse loteamento indiscriminado que nós temos na máquina pública, onde... E o pior é que isso prejudica o funcionamento dos dois Poderes, porque faz com que Parlamentares tenham como grande preocupação não pensar se aquilo é bom ou ruim para a sociedade, e, sim, se eles vão ou não conseguir aquele carguinho no governo. E tira a independência do Legislativo e prejudica também o funcionamento do Executivo, porque obriga o governante a nomear pessoas que, muitas vezes, ele não queria nomear, muitos dos quais não têm qualificação técnica para exercer aquele cargo ali e para servir à sociedade. Então, eu quero ver uma educação nova, eu quero ver uma saúde nova neste País, eu quero ver uma segurança melhor, mas eu também quero ver uma nova forma de fazer política. Eu também quero ver um novo tipo de relação política e uma nova forma de fazer política neste País.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – Obrigado pelo aparte. Quero dizer que o senhor tinha todas as condições de ser candidato a Presidente. Lamento que o seu Partido tenha preferido ir para uma aliança a pensar em discutir um novo projeto para o País, pensar um futuro para este País.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Eu que agradeço, Senador Reguffe, pelas suas palavras elogiosas e pelo que o senhor colocou, que seria um dos itens que um governo que deseja trazer esperança para o novo Brasil deve incorporar no seu programa. E eu vou levar essas propostas ao Partido, para que levem inicialmente ao candidato Alckmin e, depois, a outros candidatos, se ele não aceitar.

    Era isso, Sr. Presidente.

    Boa Páscoa para o senhor e para todos os ouvintes.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2018 - Página 62