Discurso durante a 38ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a importância da educação, em especial na primeira infância, para o futuro do País.

Comentário sobre a abertura de um curso para discutir o golpe de 2016, na Universidade Estadual de Mato Grosso.

Autor
José Medeiros (PODE - Podemos/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Considerações sobre a importância da educação, em especial na primeira infância, para o futuro do País.
EDUCAÇÃO:
  • Comentário sobre a abertura de um curso para discutir o golpe de 2016, na Universidade Estadual de Mato Grosso.
Aparteantes
Elmano Férrer, Raimundo Lira.
Publicação
Publicação no DSF de 03/04/2018 - Página 54
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, CRIANÇA, EVOLUÇÃO, DESENVOLVIMENTO, GARANTIA, MELHORIA, FUTURO.
  • CRITICA, ABERTURA, CURSO DE EXTENSÃO, ESTUDO, GOLPE DE ESTADO, BRASIL, UNIVERSIDADE FEDERAL, ESTADO DE MATO GROSSO (MT).

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Muito obrigado, Sr. Presidente, Senador Cristovam Buarque. V. Exª abrilhanta este Senado. É um orgulho estar aqui nesta mesma legislatura, representando o Estado de Mato Grosso, com V. Exª aqui nesta Casa, a qual já teve brilhantes brasileiros como Darcy Ribeiro, Rui Barbosa, Afonso Arinos e tantos outros.

    Senador Cristovam, V. Exª mais uma vez traz à tribuna do Senado a preocupação com a educação, que é uma preocupação que tem reflexo em todo o País, principalmente num dos aspectos que mais preocupa os cidadãos brasileiros agora que é a segurança pública. De repente, as pessoas que estão nos ouvindo e assistindo agora, perguntam: "Medeiros, o que tem a ver segurança com educação?" E eu digo: "Tudo, tudo mesmo". Quando falamos de educação, isso tem implicação na questão da igualdade. Sempre estamos tocando nos debates, nas comissões sobre a questão da desigualdade social: isso passa pela educação. Tratamos aqui nos debates sobre a violência pública: isso tem a ver também com educação. Então, V. Exª constantemente bate nessa tecla e faz, da tribuna, como se fosse um pingo d´água. Mas V. Exª está correto porque a educação é a base de tudo.

    Eu passei a ter mais certeza de que V. Exª estava correto quando tive a oportunidade de fazer um curso pelo Senado Federal, na Universidade de Harvard, em 2015. O curso era sobre primeira infância. Confesso que saí daqui do Senado pensando que ia perder tempo, porque já fiz duas faculdades e, durante esse tempo, tive a oportunidade de fazer vários cursos de extensão, boa parte dos quais foi uma grande perda de tempo. O aluno fazia 10 horas, e no diploma constavam 40 horas – diziam que serviam para contar ponto se eu fosse dar aula em algum lugar. Está bem!

    Quando me convidaram a fazer o curso, eu confesso que fui mais para conhecer a Universidade de Harvard – não a conhecia. Mas tive uma surpresa muito agradável. O corpo docente era de neurologistas, cientistas de primeira linha tratando do tema educação na primeira infância. E do que se tratava esse tema? Para quem está nos assistindo, o que é primeira infância? É aquele período que vai da concepção da criança no útero da mãe até os seis anos de idade. Esse é um momento muito importante na vida do ser humano. É o momento em que está se formando, se desenvolvendo o cérebro, em que está se formando a sinapse, os axônios. É quando o cérebro aprende tudo, até a enxergar, a ouvir.

    Só para vocês terem uma ideia, um dos cientistas que ali estava palestrando disse que, se um ser humano, ao nascer, for colocado imediatamente num quarto escuro e se depois de seis meses, que é o tempo que o cérebro tem para aprender a enxergar, ele não receber nenhum estímulo visual, nenhum estímulo de luz, esse ser humano vai ficar cego para o resto da vida. O mesmo ocorre com a audição e com todos os outros estímulos, o aprendizado e tudo mais.

    Logo, se uma criança não for bem estimulada durante a sua concepção até os seis anos de idade – mas principalmente durante os primeiros mil dias –, ela vai ser uma criança que vai ter dificuldades, inclusive no seu aprendizado, porque o cérebro não vai saber aprender. É isso! Se essa criança não foi devidamente estimulada, se ela foi negligenciada, se ela foi colocada em um ambiente de um estresse permanentemente crônico, ela vai ser uma criança que enfrentará dificuldades. E, quando ela for começar a estudar, já vai começar em condições de desigualdade com seus coleguinhas. Portanto, é como se você colocasse numa corrida alguém com um fusca e alguém com uma Ferrari.

    Então, Senador Cristovam, já começa aí a desigualdade, porque, em breve, essa criança, provavelmente, vai verificar que não consegue acompanhar as outras crianças, e aí vem a evasão escolar – as consequências que advêm de tudo isso.

    Portanto, essa cruzada do Senador Cristovam aqui deve ser desde o útero. É importante que o Estado observe a criança desde o útero.

    "Ó, Medeiros, vamos ler o ABC, vamos falar com a criança lá na barriga da mãe?" Veja bem, caminham os estudos científicos justamente não para ficar alfabetizando a criança no útero da mãe, mas para que haja cuidados com esse cérebro desde o útero, sim, para que a mãe não entre em drogadição, com alcoolismo, para que ela se preserve. E, para isso, países do mundo inteiro – Colômbia, Canadá, Inglaterra, França, Estados Unidos –, as grandes nações já descobriram que é preciso visitação semanal às mães nas comunidades de alta vulnerabilidade. Como é que está o psicológico da mãe? – porque isso afeta a criança. Como é que está o relacionamento dela em casa? – porque isso tem um reflexo na criança. Como é que está o pós-parto? Houve depressão pós-parto? – isso tem reflexos na criança, porque uma mãe que está em depressão pós-parto tende a tratar seu filho como se fosse uma planta, Senador Cristovam; ela dá para o filho água e comida, e não é por mal, pois ela está doente. O Estado já manda quantos agentes às casas das pessoas? Há o agente comunitário de saúde, há o agente da dengue. Então, por que não agregar essas políticas públicas todas e não tornar esses agentes capacitados para verificar como é que estão essas mães? Isso tem um ganho inimaginável na qualidade de vida daqueles futuros adultos.

    Sempre que falo desse assunto, eu conto aquela história que o Senador Cristovam Buarque falou aqui, da carta que ele escreveu ao Presidente Lula sobre as crianças que assistiram ao pouso forçado do helicóptero do Presidente Lula lá em Pernambuco. Porque é justamente a descrição do que acontece com as crianças brasileiras: se você cuidar, o futuro vai ser um; se você não cuidar, o futuro vai ser outro, totalmente negativo.

    Por isso é que eu tenho lutado aqui para que esse programa que o Governo criou agora – Criança Feliz – não fique um programa de Governo, que ele não fique com o carimbo do Governo Michel Temer: que ele possa se tornar um programa de Estado; que ele possa evoluir como o principal e o mais importante programa de segurança pública e de educação no Brasil, para que a gente possa, principalmente, em vez de mandar R$1 bilhão para a intervenção federal no Rio, mandar R$1 bilhão para a intervenção federal na educação das crianças, Senador Cristovam. Nós estamos mandando agora R$1 bilhão para aquela intervenção federal, para enxugarmos gelo ali.

    Eu fiz uma pergunta a um dos cientistas e fiquei pasmo. Eu perguntei para um dos cientistas de Harvard o que eles fazem lá nos Estados Unidos e nos outros países com um adolescente ou um jovem que já está na delinquência, que já está na drogadição, que já está assaltando. O que se faz para recuperar? Como se dá a recuperação? Ele foi – eu achei – muito duro. Ele falou: "Não se dá a recuperação. Não se dá mais. Nos moldes que esperamos, não". Ele pode, através da religião, lá na cadeia, através de muito gasto, se o Estado puser, ter um certo nível de recuperação; através de muito empenho da família, ele pode ter um certo nível de recuperação. Mas aquele cérebro não vai ter recuperação porque não é questão de recuperar: é porque ele não se formou da forma que tinha que ter se formado. Ele não se desenvolveu da forma que tinha que ter se desenvolvido. Então, não se trata de recuperar. Você não recupera um fusca. O que se está querendo é transformar um fusca numa Ferrari. E não se faz isso. Portanto, nós estamos falando de coisas muito complexas.

    Esse não era o tema que eu ia falar hoje aqui, mas, diante da fala do Senador Cristovam, resolvi tratar desse tema aqui. Por quê? Porque é a base de tudo. É a base, inclusive, dos políticos, da política, da nossa base social. E as pessoas reclamam muito do nosso Parlamento, colocando que ele é o suprassumo do zero à esquerda. Mas lembremos que este Parlamento não vem de Marte, não vem de Plutão, não vem de outro planeta, Senador Elmano Férrer: este Parlamento é a essência, o suprassumo da sociedade. Só há um jeito de a gente mudar este Parlamento; só há um jeito de a gente mudar este Parlamento; só há um jeito de a gente crescer o nível dos debates; só há um jeito de a gente mudar a nossa Corte suprema: está na educação, mas a educação desde o início – desde o início.

    Eu me preocupo, porque, vejam bem, esta semana, no meu Estado, a Unemat, a universidade estadual, começou um curso para discutir o golpe de 2016. E que discutam o golpe de 2016! Mas eu fiquei pensando e me lembrando de uma inquietação que o Senador Cristovam deixou lá em Mato Grosso e que não para de martelar a minha cabeça. E eu creio que deveria martelar a cabeça dos mato-grossenses.

    Certa feita, ele foi lá, e todo o mundo estava batendo palmas para a grande produção de Mato Grosso, para a grande produção de commodities. E realmente Mato Grosso é um exemplo nacional, Senador Elmano Férrer: maior produtor de soja, maior produtor de milho, maior produtor de milho de pipoca, maior produtor de girassol, maior rebanho do País. De tudo o que o senhor pensar em termos de produção, Mato Grosso é o maior neste momento. E o Senador Cristovam, no dia em que estava lá – estávamos lançando a pré-candidatura do Senador Pedro Taques ao Governo do Estado –, no meio daquela euforia, subiu com desagradável pessimismo e disse: "Vocês não esqueçam que Olinda já foi um grande centro econômico, que o Vale do Paraíba já foi um grande centro econômico, que Ilhéus já foi um grande centro econômico. E o que essas cidades são hoje?" Ele disse: "Olinda hoje é lembrada pelos bonecos de Olinda." Falou: "Vocês não se esqueçam de que a África tem um clima muito parecido com o de vocês e de que só falta uma coisa para que eles possam produzir com o mesmo sucesso: conhecimento. Então, no momento em que eles dominarem a tecnologia do plantio, eles vão produzir, têm espaço para isso. E existe um detalhe para o qual vocês devem atentar: a África está na metade do caminho entre vocês e o principal comprador de vocês, que é a China." E deixou aquela pergunta inquietante: "De quem a China vai comprar? De Mato Grosso ou da África? Portanto, vocês precisam se preocupar em produzir conhecimento. Vocês precisam se preocupar com educação."

    Eu, desde então, tenho me preocupado. Tenho me preocupado não só com Mato Grosso, Senador Elmano Férrer; eu tenho me preocupado com o Brasil. Os debates aqui e na Câmara, vizinha, não são muito promissores no que se refere ao rumo deste País. Para onde nós estamos indo?

    Semana passada, nós passamos aqui – boa parte do Parlamento – discutindo aquela... O que eu posso dizer daquilo? Aquela encenação dos tiros nos ônibus, de dois tiros que apareceram num ônibus de uma carreata aí do Partido dos Trabalhadores. E os assuntos não têm sido muito grandes.

    E eu fico pensando... V. Exª, que foi funcionário público por muitos anos e acompanhou a história deste País, sabe que os nossos concorrentes estão a passos largos, produzindo conhecimento de toda a sorte. Há o Vale do Silício, nos Estados Unidos, e por aí vão tantos outros, França, Inglaterra, Alemanha... E nós aqui estamos discutindo o quê? O que nós estamos produzindo? A nossa academia está fazendo o quê?

    E aí eu volto à Unemat, lá em Mato Grosso. Na Universidade do Estado de Mato Grosso, alguns professores estão preocupados em discutir o golpe de 2016. Eu me preocupo muito com isto, em saber que o dinheiro do povo de Mato Grosso está sendo destinado para esse tipo de coisa. Preocupa-me muito, porque Mato Grosso precisa produzir conhecimento, e boa parte da academia está lá preocupada com essas quizilas, com essas filigranas, com esses fuxicos de menor importância. Quando você vai ver com que a nossa academia está preocupada, Senador Elmano Férrer, boa parte dela não está preocupada em produzir conhecimento de qualidade. Boa parte dela está preocupada em fazer teses para discutir o cheiro das bromélias. Não que as bromélias não sejam importantes, mas eu me preocupo com isso.

    Então, esse é um tema em que a gente precisa se aprofundar aqui, no Senado Federal brasileiro.

    Eu me preocupo com o Estado de Mato Grosso, porque temos neste momento, por exemplo, 58 Municípios em torno da Bacia do Pantanal, Senador Elmano Férrer, que jogam diretamente no Pantanal detritos in natura, esgoto dentro do Pantanal. Essa é uma preocupação. O que é o Pantanal? Uma riqueza imensurável. E aqui, quando vem o debate sobre Pantanal e Amazonas, eu vejo a ira santa: "Não se pode produzir nada perto." Não se pode produzir nada, Senador Raimundo Lira. Não se pode produzir, não se pode abrir uma estrada perto do Amazonas. "Isso é um tesouro, isso é a mais linda pérola da natureza que o Brasil tem." Parabéns! Bacana... E dá-lhe esgoto dentro do Amazonas; dá-lhe esgoto dentro do Pantanal. E você não vê a preocupação desses defensores do Amazonas. Quando se tenta fazer uma estrada para se desenvolver a região, 500 aparecem com ira santa, exigindo mil licenças, Senador Elmano Férrer; mas não há a mínima preocupação em dotar os Municípios para que possam ter o tratamento de esgoto.

    Cito, por exemplo, Cáceres, uma cidade histórica do Brasil. Cáceres precisa de um sistema de esgoto.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Barão de Melgaço precisa de um sistema de esgoto; Nobres, toda a baixada cuiabana... E quantos Municípios do Amazonas não precisam?

    Fala-se desse debate? Não. Então, nós precisamos falar de grandes temas aqui, no Senado Federal.

    Concedo o aparte a V. Exª, Senador Elmano Férrer.

    O Sr. Elmano Férrer (PMDB - PI) – Nobre Senador José Medeiros, quando V. Exª se refere a conhecimentos, educação e falou da África, eu queria consubstanciar o que V. Exª está dizendo dessa tribuna. Recordo que, em 1983, juntamente com dois outros colegas da Embrapa à época, fomos ao Senegal e ao Mali, na África, inclusive dois países que àquela época tinham um acordo de cooperação internacional com vistas ao desenvolvimento científico e tecnológico na área da agricultura. E vimos o esforço daquele país há mais de 30 anos, 35 anos exatamente. De lá, fomos até o Semiárido da Índia, que mantinha outro acordo de cooperação técnica com o Icrisat. Gerdat, na França; Icrisat, na Inglaterra – uma instituição de pesquisa inglesa que mantinha um acordo de cooperação técnico-científica com o Governo da Índia. E vi aquele esforço concentrado dos dois países com vistas ao avanço da tecnologia, sobretudo para a pequena agricultura. E também, nós outros, aqui no Brasil, através da Embrapa, fazíamos um grande esforço de inovação tecnológica, especialmente na área do Estado que V. Exª representa. Eram os dois Estados de Mato Grosso, que, me parece, à época eram um só. Mas nós avançamos muito mais do que a Índia e esses dois países da África que nós visitamos. E é preciso que nós ressaltemos aqui o esforço, o avanço do Brasil, através de suas instituições de pesquisa, não só das universidades, mas, ressalto aqui, do agronegócio, o avanço que a Embrapa deu a este País e o que nós representamos hoje no contexto da produção de grãos, de carne, enfim, de uma série de produtos originários do agronegócio. Eu não assisti ao pronunciamento do nobre Senador Cristovam Buarque, mas V. Exª tem muita razão: é realmente através da educação, da geração de conhecimento, não só do conhecimento geral, mas, sobretudo, do conhecimento científico e tecnológico, que nós temos avançado muito em nosso País. Queria aproveitar a oportunidade: enquanto temos esse dividendo muito grande com a comunidade científica do Brasil, começam a faltar recursos para a ciência e para a tecnologia. Daí por que creio que procede a ideia do debate, como V. Exª está sugerindo aqui, de grandes temas nacionais. Procede a questão que V. Exª levanta, no momento em que, nos nossos orçamentos, de ano para ano, vêm realmente diminuindo cada vez mais os recursos necessários ao investimento na ciência, na pesquisa e na geração de novas tecnologias. Então, eu queria me somar ao pronunciamento de V. Exª e dizer que esse tema é da mais alta relevância para o nosso País.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Com a palavra o Senador Raimundo Lira.

    O Sr. Raimundo Lira (PMDB - PB) – Senador José Medeiros, estamos aqui diante do nosso Presidente Cristovam, que é um professor, economista renomado, e, portanto, os assuntos de que vou falar talvez sejam assuntos simples, mas que são debatidos no meio acadêmico de que V. Exª tanto gosta, Senador José Medeiros.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Raimundo Lira (PMDB - PB) – Já está mais do que provado que um país, para entrar no clube dos países plenamente desenvolvidos, precisa ter, primeiro, educação de qualidade, que é o que o Senador Cristovam Buarque vem defendendo todos esses anos, e, segundo, condições, qualidade de produção, ciência e tecnologia para exportar. Só a exportação traz riqueza para o país, e a capacidade de exportação é uma decorrência da capacidade de se fazer pesquisa, de se desenvolver, de se registrar o maior número possível de marcas e patentes. O exemplo mais recente é a Coreia do Sul, que, há poucos anos, era um país muito pobre em relação ao Brasil. Então, o assunto que V. Exª hoje aborda é de extrema importância, e a história tem mostrado que não existe nenhum país que seja rico hoje cujo enriquecimento não tenha sido decorrente de ciclos econômicos. Nós tivemos, no Nordeste brasileiro, o ciclo da cana-de-açúcar. Era a região mais rica do País, e hoje é a região mais pobre do País. Nós tivemos, em São Paulo, o ciclo do café, mas o enriquecimento de São Paulo só foi possível porque os italianos imigrantes foram para o Estado de São Paulo como trabalhadores do café e levaram a mentalidade e a cultura da industrialização. O Haiti, que é o país mais pobre do continente, já foi o maior exportador de cana do mundo. O Haiti, no tempo da dominação francesa, com tecnologia francesa, era o país que mais exportava açúcar, que sempre foi uma commodity de grande valor. Isso mostra claramente, Senador José Medeiros, o que V. Exª está dizendo: só o conhecimento dá uma riqueza permanente para o país. Portanto, quero parabenizá-lo pelo seu pronunciamento, mais uma vez rememorando essa grande questão que nós temos abordado praticamente nas últimas gerações, que é a da criação e do fortalecimento da educação de qualidade. E nós não temos, no momento, essa expectativa, pelo menos em curto ou médio prazo, de que o Brasil venha a ter uma educação de qualidade suficiente para colocar o nosso País no clube dos países plenamente desenvolvidos.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Muito obrigado, Senador Raimundo Lira. Muito obrigado, Senador Elmano Férrer.

    Senador Elmano Férrer, V. Exª trouxe à lume e fez justiça a uma das grandes instituições brasileiras, que é a Embrapa, e que, realmente, produziu conhecimento e conhecimento de qualidade. E serve de farol para a nossa Academia. A nossa Academia precisa se aproximar mais do País. E quando eu digo se aproximar mais do País, é justamente isto que o Senador Raimundo Lira está dizendo. Senador Reguffe, nós precisamos começar a ser mais práticos nas nossas produções de conhecimento.

    O senhor veja, o Senador Raimundo Lira disse agora há pouco que, para um país, realmente, produzir riqueza, produzir o seu enriquecimento, é preciso exportar; e para exportar é preciso criar patentes, é preciso licenciar produtos. E como nós vamos fazer isso, Senador Elmano Férrer, se aqui no Brasil a média, por baixo, são onze anos para se registrar uma patente?

    Esse telefone aqui quando saiu foi em torno de 200 patentes que foram feitas para poder se chegar ao produto final.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Se fosse aqui no Brasil, ia demorar 2 mil anos para se poder fazer o iPhone. Então, nós, realmente, precisamos avançar muito.

    Eu finalizo dizendo o seguinte...

    Aproveito para comemorar que, semana passada, foi sancionada a criação de mais uma universidade federal em Mato Grosso – e aqui está presente o Senador Wellington Fagundes, que muito lutou pela criação dessa universidade –, na minha cidade, Rondonópolis.

    Mas eu faço aqui este registro para que não só as universidades, não só a Academia do Estado de Mato Grosso, mas as do Brasil inteiro possam fazer uma reflexão. Chega de brincar! O que estão fazendo todo dia ao abrir esses cursos, Senador Reguffe... "Ah, é um curso para fazer represália contra o partido tal...". Vamos deixar de partidarizar o ensino, vamos produzir conhecimento.

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Entristece-me quando eu vejo a universidade do meu Estado partidarizando o ensino, dizendo que está criando curso para discutir o golpe. Faça essa discussão na praça. Vamos fazer um caixote, discuta o que quiser na praça. Mas, por favor, não tome tempo dos alunos com essas bobeiras.

    Então, o que nós precisamos é de conhecimento e conhecimento que traga resultados ao nosso País. Enquanto ficam discutindo essas filigranas, o País está aí no atraso. E o que essa Bancada do atraso, essa Bancada do retrocesso querem é isto: um País atrasado, um País manietado.

    Porque, sinceramente, Senador Elmano Férrer, nós podemos pegar boa parte do Parlamento, do mandato dessas pessoas, do primeiro ao último dia, e observar que não discutem o País; discutem coisas e pessoas o tempo todo. Fazer o quê? Nós temos isso aqui. Faz parte do Parlamento. Eles não querem um País desenvolvido, querem um País coitado, querem um País pequeno, porque um país pequeno, com pessoas pequenas, com pessoas sem instrução, é fácil de manietar, é fácil de conduzir; é o rebanho tranquilo de ir na manada. Já um povo culto é um povo que sabe escolher seus representantes, e, geralmente, essas pessoas que estão aí, nesses partidos, hoje, são pessoas que vão para faculdades e passam boa parte do tempo deitados nos DCEs. Eles não fazem cursos de ponta – geralmente eles escolhem os cursos bem fáceis, que não têm concorrência. Para quê? Passam sete, oito anos nos corredores das universidades...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – ... fazendo aquelas políticas. E depois fazem o quê? Vão para dentro dos movimentos dos sem teto, dos sem terra e passam a ser intelectuais, que não são, que não conseguiram ser dentro da academia, mas passam a ser no meio daquelas pessoas simples. E de repente passam a ditar regras, e de repente se elegem a um cargo, Senador Reguffe, e passam a querer ditar regras. E o País vai ficando do tamanho dessas pessoas. É isso que elas querem! Porque, se deixar que o País avance, não conseguirão governar, não conseguirão se eleger, porque não estudaram para isso, não têm conteúdo para isso, não têm condições de governar um país.

    O futuro que essas pessoas propõem é o que está acontecendo na Venezuela. Enquanto há dinheiro no caixa, as coisas funcionam muito bem. Essas pessoas que estão tentando voltar ao poder, Senador Elmano Férrer, funcionam tipo aquele filho que não quis estudar e que ganhou uma boa herança do pai. Enquanto o dinheiro do pai está existindo, ele está bem; quando acaba, a derrocada é feia. É o que nós estamos vendo. Roraima está cheia de pessoas que estão fugindo desse regime.

    E quando eles não conseguem, quando acaba o dinheiro, aí passam a querer governar pela força. Veja a incoerência! Eles dizem que defendem a democracia aqui, Senador Raimundo Lira, mas defendem uma democracia aqui e querem uma ditadura na Venezuela, defendem uma ditadura na Angola, defendem uma ditadura em Cuba... Há uma incoerência nos discursos dessas pessoas. Querem o direito livre de ir e vir para as caravanas do Lula, mas o senhor sabe muito bem que eles nunca se importaram de impedir os brasileiros de andarem, fazendo barricadas, tocando fogo em pneus, apedrejando ônibus, jogando ovo nas pessoas...

    Ovo no Dória é manifestação legítima! Ovo no Lula é fascismo!

    Ovo no Covas... Jogavam ovo no Covas, no finado Covas! Normal! Manifestação das pessoas! Ovo no Lula é fascismo!

    Não venham dizer: "Ah, Medeiros, você está apoiando a violência contra o Lula!". Não, não estou apoiando violência contra o Lula, não.

    "Ah, porque teve tiro...". Teve tiro no ônibus do Lula coisa nenhuma. Trabalhei vinte anos, Senador Elmano Férrer, na Polícia. Eu sei muito bem o que é um tiro num carro em movimento e sei muito bem o que é um tiro num carro parado.

    Aquele tiro lá foi em um carro paradíssimo. Você vê o ângulo, o ângulo em que a munição entrou. Tiro num carro em movimento fica um risco.

    Então não me venham... Se investigarem aquilo, vai dar cadeia para muita gente!

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Então, finalizando mesmo, eu digo o seguinte. Aqui no Brasil a gente precisa é de subir o debate, subir o nível, porque os brasileiros estão muito cansados.

    Esta semana eles estão vindo aqui para Brasília. Estão vindo aqui para Brasília, Senador Elmano Férrer, porque aqui, a partir do momento em que a lei começou a virar para essas pessoas, começaram a criar uma outra lei, um outro ordenamento jurídico. E é essa incoerência! Por exemplo, o PMDB agora é o Partido do retrocesso, é o Partido do atraso, mas durante treze anos foi o Partido da governabilidade. Servia para ajudar o PT governar, mas agora é o Partido do retrocesso.

    A lei tinha que ser assim: combater a corrupção, melhorar a vida do povo. Era justiça para todo mundo, funcionário público não podia nem olhar torto que estava... Todo ano, o Lula colocava, no seu governo, a lista... A Controladoria-Geral da União: "Mandamos mil e tantos servidores embora, prendemos não sei quantos servidores." Enquanto o pau era em cima do Barnabé, valia condenação em primeira instância. Só foi chegar aos petistas e não vale mais. "A Constituição diz que não pode." Conversa fiada. Pegue o artigo da Constituição, ele não fala em nada de prisão. Lá não diz nada de prisão. Podem ler o artigo, lá não diz nada de prisão.

    Desde 1941, a tradição sempre foi que, na segunda instância, você já começava a responder. Num caso ou noutro, o sujeito ainda conseguia. Mudou-se o entendimento em 2009. Depois veio o STF, em 2016, e falou: "Não, é segunda instância." Agora, como o Lula está à beira das grades, tem que mudar. E está envergonhando...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Nossa Corte está virando quase uma corte bolivariana.

    O povo está indo para as ruas no dia 3. Então, o que eu peço aqui é que as pessoas possam se manifestar, mas venham com tranquilidade como naquelas movimentações. Eles quebraram toda a Esplanada dos Ministérios, mas, se vocês olharem torto para qualquer um, vão chamá-los de fascistas. Então, venham em paz, sem quebradeira, sem fazer nenhum ato que possa ser interpretado como violência, porque é o que eles querem. Tudo o que essas pessoas querem, neste momento, é um cadáver. De tudo o que eles precisam, agora neste momento, é um cadáver. Não nos deixemos pegar nas armadilhas dessa gente.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/04/2018 - Página 54