Pronunciamento de Gleisi Hoffmann em 03/04/2018
Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Registro da participação de S. Exa em ato público em defesa da democracia realizado ontem no Rio de Janeiro.
- Autor
- Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
- Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
MOVIMENTO SOCIAL:
- Registro da participação de S. Exa em ato público em defesa da democracia realizado ontem no Rio de Janeiro.
- Aparteantes
- Vanessa Grazziotin.
- Publicação
- Publicação no DSF de 04/04/2018 - Página 18
- Assunto
- Outros > MOVIMENTO SOCIAL
- Indexação
-
- REGISTRO, ENCONTRO, MOVIMENTO SOCIAL, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, PARTIDO POLITICO, LOCAL, CIDADE, RIO DE JANEIRO (RJ), OBJETIVO, DEFESA, DEMOCRACIA, LIBERDADE, OPOSIÇÃO, VIOLENCIA, AUSENCIA, TOLERANCIA.
A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Só peço, Sr. Presidente, que restitua o meu tempo.
Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, quem nos acompanha em casa ou nos acompanha no trabalho pela Rádio Senado, TV Senado e Redes Sociais, ontem tivemos um ato histórico no Rio de Janeiro – histórico! A esquerda brasileira, os movimentos sociais do campo e da cidade se reuniram num belíssimo encontro em defesa da democracia, do Estado democrático de direito, das liberdades, contra a violência, contra a intolerância e contra o fascismo.
Há muito tempo, Sr. Presidente, não víamos um ato com a participação das legendas de esquerda numa ação tão unitária. Estavam lá o PT, o PCdoB, o PSB, o PDT, o PSOL e o PCO, partidos que têm história e militância em causas que antecedem, inclusive, a conquista da nossa Constituição Federal. E foi importante, porque esse ato aconteceu exatamente num momento crítico que nós estamos vivendo no Brasil, um momento difícil para a nossa democracia e para as garantias constitucionais.
Cada um estava lá com o seu candidato a Presidente, com a sua estratégia eleitoral, mas todos, todos estavam a favor da democracia, da Constituição, dos direitos do povo, contra a violência, o ódio e a intolerância. Nós estávamos lá por Marielle e Anderson, nós estávamos lá pelos mais de 70 assassinatos que ocorreram durante este Governo de Michel Temer, assassinatos de lideranças indígenas, quilombolas, de pessoas do Movimento Sem Terra, de mulheres, LGBTs... Estávamos lá pelos direitos de Lula, estávamos lá pelos direitos do povo. E todos têm consciência de que vivemos o momento que vivemos por conta do golpe que se instalou neste País a partir de 2016.
Nós avisávamos lá: "A partir do momento em que a Constituição for rasgada aqui e que seja impichada uma Presidenta sem crime cometido, nós estamos levando este País à instabilidade." E não deu outra. É o que o Brasil está vivendo hoje. Nós temos a retirada de direitos dos trabalhadores, a Constituição sendo rasgada cotidianamente, o uso e a propagação da violência como instrumentos de política, o que é típico do fascismo... O governo é para os ricos, para os oligarcas e para o sistema financeiro. E essa gente que hoje governa apoiada por membros deste Parlamento governa e dá guarida à extrema direita neste País para que ela faça o que bem entender; e a extrema direita está criando milícias para atuar com violência. Executam e assassinam pessoas, promovem e incentivam atentados, investem contra as mulheres, contra os jovens, contra os negros, contra os índios, contra os LGBTs, tratam o povo como caso de polícia.
O "bolsonarismo", essa coisa que está se instalando na sociedade brasileira, em que a violência é a grande referência, ganhou as ruas por conta deste Governo e por conta do movimento que houve neste Congresso do impeachment da Presidenta Dilma. Ganhou as ruas por conta da posição do PSDB e dos seus partidos aliados aqui, que apoiaram todas as medidas golpistas e todas as medidas de retrocesso que nós tivemos. Esse "bolsonarismo" é resultado da prática de setores do Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Federal, de setores das Forças Armadas, de empresários, do sistema financeiro, da mídia e, principalmente, da Rede Globo de Televisão. Abriram a jaula e soltaram o monstro do fascismo. Mas ontem nós estávamos lá, de alerta, toda a centro-esquerda reunida, sabendo que o nosso papel é enjaular novamente esse monstro e, mais do que isso, derrotar quem abriu o cadeado da jaula.
Os partidos que foram lá foram firmes em dizer que a defesa da democracia é essencial para que a gente siga em frente, é essencial para o Brasil, para o povo brasileiro, e que nós temos que ser arrojados e destemidos nessa defesa. E, infelizmente, hoje, o que nós vemos na sociedade é essa democracia ser deixada de lado.
Fizemos a caravana do Presidente Lula pelo Sul. Foi um sucesso a caravana. Por onde fomos, em todas as cidades em que entramos milhares de pessoas recebiam o Lula com muita alegria.
Mas tivemos grupos atrasados, sim, grupos fascistas, daquela gente oligárquica, os antigos fazendeiros do Sul do País, acostumados a ter trabalhadores escravos os quais tratavam no chicote, aquela gente que não reconhece pobre, que não reconhece o outro, aquela gente que é arrogante, aquela gente que é metida, que se acha superior a todos e, no fim, presta uma série de cenas de barbárie, uma série de cenas de violência.
Essa gente mesmo, Senadora Vanessa, do Sul do meu País, um Sul que tanto se enaltece, que se diz tão desenvolvido, que se diz tão próspero, que se diz tão educado. Foi esse Sul que protagonizou as piores cenas de violência na política. A caravana do Presidente Lula foi atacada, no início, lá em Bagé, e não por pessoas que protestavam, porque aí tudo bem, nós não temos medo de protesto, sempre fizemos isso. Não, ela foi atacada por pedras, por paus, por barras de ferro, por soco-inglês; foi atacada por chicotes, por arma de fogo. E infelizmente foi no meu Estado, no Estado do Paraná, que nós tivemos aí o ultraje maior, que foram tiros contra os ônibus da caravana.
Eu me pergunto: que avanço tem esse pedaço do País para protagonizar cenas como essa? Nós fomos para o Nordeste, fomos para Minas, fomos para o Rio de Janeiro, e não tivemos cenas assim. Mas essa gente atrasada não representa a população do Sul; felizmente não representa, porque grande parte da população do Sul estava conosco nas praças públicas.
Essa gente oligárquica, essa gente que não consegue viver com a diferença, que acha que o outro, quando diverge ou tem visão diferente, ou não é da sua classe social, tem que ser tratado no chicote. É essa gente mesmo que vem aqui e defende que tem que ser feita a execução de pena em segunda instância, independendo se a pessoa é inocente ou não, sabendo que o pressuposto da Constituição, aquilo que iluminou a nossa Constituição cidadã, era exatamente o contrário. Preferível deixar um culpado solto do que condenar um inocente, essa foi a base da nossa Constituição. Mas é esse tipo de gente que infelizmente hoje está governando o País e está trazendo tantos dissabores.
Por isso o ato de ontem foi um ato importantíssimo para dizer: não nos calaremos! Não abaixaremos a cabeça! Não temos medo dos chicotes, dos relhos, das pedras. Nunca tivemos! Agora, vocês têm que ter medo do voto. Vocês têm que ter medo de Lula. Vocês têm que ter medo do povo organizado. Vocês têm que ter medo daqueles que já experimentaram direitos e que hoje estão com vontade de lutar.
Concedo um aparte à Senadora Vanessa.
A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Eu agradeço-lhe, Senadora, e quero cumprimentar V. Exª e dizer que não tive condições de estar no ato, mas lá esteve o meu Partido, representado através de várias militantes, da nossa Deputada Jandira, do Rio de Janeiro, da Manuela D'Ávila, nossa pré-candidata à Presidência da República, e dizer o quão representativo foi aquele ato, que V. Exª passa agora. Quando cheguei a Brasília, vinda de Manaus, no dia de ontem, ainda consegui pegar um pouco da fala do Presidente Lula, Senadora Gleisi. E eu penso que todos aqui, concordando ou não concordando com o Presidente Lula, deveriam ouvir o que o Presidente fala, para não ficarem escrevendo besteiras ou apoiando aqueles que escrevem besteiras. Eu quero dizer, Senadora Gleisi, que nós estamos entrando num caminho extremamente perigoso – extremamente perigoso! Aliás, de que nós já estamos vivendo um momento de intolerância não há dúvida nenhuma. Entretanto nós estamos vivendo no fio da navalha. Olha, Senadora, o que a imprensa divulga hoje, as palavras do General da reserva Lessa, Gen. Luiz Schroeder Lessa, que foi Comandante Militar da Amazônia. Convivi de perto com o General Lessa, um nacionalista de fato, e não sei, não sei o que o levou a dizer isso. Mas olhe o que ele disse: "Se Lula for eleito, a alternativa será uma intervenção militar." Diz isso e mais: que, se amanhã o Supremo decidir por um habeas corpus, poderá o Brasil ter problemas seriíssimos. Isso é uma ameaça. Isso é uma ameaça, Senadora Gleisi. É uma ameaça. Então, eu creio que...
(Soa a campainha.)
A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ... a resposta que tem que ser dada a tudo isso... Eu acho que os partidos, com muita responsabilidade, principalmente o Partido que V. Exª preside – e falo isso porque é o Partido do Presidente Lula – têm agido com muita serenidade. Poderiam estar colocando mais palha, mais lenha na fogueira, mas não: estão agindo com muita serenidade, defendendo a Constituição. Eu acho muito engraçado subirem aí, à tribuna, e dizerem: "Porque nos Estados Unidos é assim, na Alemanha é assim...". Leiam a Constituição americana, leiam a Constituição alemã, e vamos ler a nossa Constituição, o que diz a nossa Constituição, a Constituição brasileira. Então, Senadora Gleisi, V. Exª, que ontem esteve no ato, sabe o quanto aquilo foi importante não para aqueles partidos, mas foi um exemplo, uma demonstração de civilidade e responsabilidade ao povo brasileiro. É disso que nós precisamos neste momento, e não de pessoas que subam à tribuna ou que vão a qualquer evento, seja...
(Interrupção do som.)
A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ... partidário ou não... (Fora do microfone.) para aplaudir – aplaudir – esses...
(Soa a campainha.)
A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ... que, como a senhora mesmo registrou, representam uma minoria, porque não representam o sul do País. Os que deram tiro, os que deram de relho, não são a maioria do sul do Brasil; são uma minoria. Então, aplaudir esses significa ajudar o processo violento, e é tudo que o Brasil não precisa. Parabéns, Senadora.
A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Obrigada, Senadora Vanessa.
Realmente, é preocupante o que o General Lessa falou. Mas parece que, até para haver um golpe militar neste País, tem que se eleger o Lula. Lula é uma figura tão importante para o País, que é um divisor de águas em tudo. E é importante por quê? Por um simples motivo: pelo legado que ele deixou ao povo brasileiro.
Então, não adianta ter ódio do Lula, acabar com o Lula... O Lula representa um legado e representa um movimento e uma causa. E os partidos de esquerda, independentemente das candidaturas a Presidente, ontem deram uma demonstração de maturidade, deram uma demonstração de apreço à sua democracia. E eu quero deixar este registro aqui, que nós vamos lutar de novo, com todas as...
(Interrupção do som.)
(Soa a campainha.)
A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ... forças que temos... (Fora do microfone.) contra o arbítrio, contra o atraso, contra tudo aquilo que representam as coisas ruins para o povo brasileiro.
Essa história de combater a corrupção e focar nela o combate da esquerda nós já conhecemos bem. Isso sempre foi usado pelos fascistas. Foi assim na Itália de 1922, na Alemanha de 1933, e foi assim para dar o golpe militar, aqui no Brasil, em 1964.
Nós não vamos voltar atrás. Já conquistamos um patamar neste País, de lutas, de direitos e também da nossa democracia. Nós não queremos mais o que aconteceu no nosso passado.
Infelizmente, não tenho como conceder um aparte ao Senador que me pede, porque meu tempo está acabando, mas eu queria deixar esse registro aqui na tribuna e dizer que nós não vamos permitir o retrocesso. Estaremos na luta e estaremos unidos.
Muito obrigada.