Pela Liderança durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lamento pelos contratempos que vem passando a caravana do ex-presidente Lula pelos estados do sul.

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
MOVIMENTO SOCIAL:
  • Lamento pelos contratempos que vem passando a caravana do ex-presidente Lula pelos estados do sul.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2018 - Página 16
Assunto
Outros > MOVIMENTO SOCIAL
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, APOIO, MOVIMENTO SOCIAL, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, CRITICA, PERSEGUIÇÃO, VIOLENCIA, CONDUTA, PESSOAS.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes que nos acompanham pela Rádio Senado, internautas que nos seguem pelas redes sociais.

    Sr. Presidente, eu não poderia deixar de me manifestar hoje sobre tudo o que tem acontecido ao longo dessa caravana que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem fazendo na Região Sul, em primeiro lugar pela beleza, pela força, pelo comparecimento de pessoas que veem, naquilo que Lula vive hoje, um processo de perseguição nefasta e que querem manifestar o seu apreço, o seu afeto por aquele que, sem dúvida, foi o maior Presidente da história do nosso País.

    Em segundo lugar, porque nós temos que, com toda clareza, evitar que o que está lá acontecendo, que aconteceu, venha a se repetir, especialmente no processo eleitoral.

    Os ataques que foram feitos ao livre direito de manifestação, ao direito de ir e vir, que é assegurado pela Constituição, os atentados ao patrimônio privado, com depredações de veículos, e também atentados à integridade física dos participantes, espancamentos, apedrejamentos, açoitamentos, são uma coisa absolutamente inconcebível nos tempos atuais. E o pior é que, em alguns lugares, as forças policiais nada fizeram para impedir que essas hordas de nazifascistas pudessem agir livremente na sua agressão.

    Até ônibus de turismo, que nada tinham a ver com o que lá ocorria, foram apedrejados em Foz do Iguaçu por aquela turba hidrófoba. E, na verdade, eu não responsabilizo produtores rurais por isso – podem ser maus produtores rurais. Agora, na verdade, há uma horda vinculada a grupelhos de extrema-direita, particularmente ao Sr. Jair Bolsonaro e outras figuras, que só fazem semear o ódio neste País e que lá estavam, para impedir um exercício democrático de manifestação pública.

     Eram milícias idênticas àquelas da Alemanha, nos meses que antecederam a ascensão plena de Adolf Hitler; todas elas movidas pelo ideal de ódio e de intolerância, que está se tornando, lamentavelmente, uma prática no nosso País.

    Esse não é o Brasil que nós conhecemos; esse não é o Brasil que nós procuramos o tempo inteiro construir, de uma maneira em que os conflitos, as divergências, as ideias possam ser tratados exatamente nesse campo, no campo do debate, no campo das ideias, e não da agressão física, da violência ou da tentativa de impedir que haja o direito da expressão de outros.

    O clima que mergulhou o País no obscurantismo foi fomentado por essa mesma direita que derrubou Dilma.

    O estímulo ao ódio e à agressão fez alguns mostrarem sua face mais perversa, tudo patrocinado pelo que há de mais anacrônico no País, em especial uma direita raivosa, que patrocina e aplaude esse horror civilizatório.

    E lamento inclusive que pessoas pelas quais nós temos apreço, respeito, afeto, muitas vezes movidas pela paixão também, terminem por se associar a algumas manifestações que não contribuem. E eu digo isso com todo o respeito que tenho...

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – ... à Senadora Ana Amélia.

    Acho que a manifestação que ela fez na convenção do PP não foi boa. Violência só produz violência. E eu tenho certeza de que isso foi um ponto fora da curva da atuação de S. Exª, que é uma pessoa, aqui, de bom trânsito, de respeito, e que talvez, como eu disse, movida pela paixão, manifestou-se dessa maneira.

    Isso naturalmente acontece, mas nós precisamos, nessas situações, fazer autocrítica. Temos que nos redimir daquilo, porque daqui a poucos meses, se esse clima persiste, ninguém, nem da direita, nem da esquerda, nem de nenhum segmento que vá disputar a eleição, conseguirá fazer essa campanha sem que haja violência, mortes, agressões, pessoas feridas. Eu acho que esse não é o desejo do povo brasileiro.

    Acho, inclusive, que isso que aconteceu lá não condiz com o povo gaúcho. Pelo contrário: é um povo bravo, é um povo corajoso, mas não é um povo covarde. Juntar máquinas, carros, gente armada – gente armada –, gente usando relho para bater nas pessoas, como se nós estivéssemos na escravidão... Isso não é o Rio Grande do Sul. Isso é uma minoria, uma minoria de extrema direita, que existe em todo lugar no Brasil e que encontrou um ponto de aglutinação que é, sem dúvida, esse fascista chamado Jair Bolsonaro, que tem sido alimentador dessa horda que deveria ser devidamente punida e presa dentro da lei.

    Então, os gaúchos não podem ser confundidos com isso.

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Esses, na verdade, são pessoas que têm comportamento bestial. Defender chicotadas em seres humanos, como aquelas que eram aplicadas nos negros até o Século XIX, é um ranço racista e de classe. Como previu Joaquim Nabuco, a escravidão segue na memória nacional.

    Muitos quiseram impedir a sequência da caravana que começou no dia 19, no Rio Grande do Sul, e termina amanhã, no Paraná. Não conseguiram. A despeito do ódio e da intolerância, ela seguiu o seu roteiro, para reiterar sua confiança nas instituições e, fundamentalmente, no regime democrático, pelos quais os milicianos nazifascistas que a perseguiram não têm nenhum apreço.

    Não conseguiram opacar a grande alegria com que Lula foi recebido, por onde passou, pelos brasileiros do Sul. Ele enfrentou, com serenidade e na paz, esses agressores organizados e...

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – ... sem dúvida nenhuma, sai, de mais esse giro pelo Brasil, maior do que entrou. Consolidou a sua posição de maior líder político deste País; vai, chancelado pelo povo, disputar as eleições deste ano e, seguramente, sair dela vitorioso, mais uma vez, para presidir o Brasil, pela soberana vontade popular.

    E o próprio Presidente Lula, ao longo dessa caravana, disse claramente que nós não podemos aceitar essa provocação; não podemos responder ao ódio com o ódio; não podemos reproduzir as posições que essas pessoas têm assumido. E eu, particularmente, sou contra isso, parta de onde partir: de direita, de esquerda... Esses achincalhes que muita gente faz e fica rindo, depois, na internet, isso é uma coisa deplorável, deprimente, e não é uma coisa civilizada.

    E, portanto, eu tenho...

    O SR. PRESIDENTE (Cássio Cunha Lima. Bloco Social Democrata/PSDB - PB) – Para concluir, Senador. Já prorroguei três vezes o seu tempo. Mais um minuto para a conclusão, por favor.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Agradeço a paciência de V.Exª.

    E, portanto, a minha expectativa é que possamos, mais uma vez, eleger o Presidente Lula, que é um homem da paz, é um homem do entendimento, é um homem da conciliação... E hoje sentimos falta dos tempos em que ele era Presidente e em que esse tipo de prática nunca teve espaço para poder se materializar.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Cássio Cunha Lima. Bloco Social Democrata/PSDB - PB) – Senador Humberto Costa, eu, como fui um dos Senadores que votei a favor do impeachment, eu sou obrigado a fazer alguns esclarecimentos em relação à generalização que V.Exª faz, em seu pronunciamento, àqueles que cumpriram a Constituição, diante dos graves crimes que foram cometidos pela presidente Dilma Rousseff, o que levou a Câmara e o Senado, por maioria expressiva, ao seu impedimento, como prevê a Constituição.

    É importante registrar que, nos últimos anos, quem sempre tentou dividir o Brasil, com o tratamento de "nós e eles", foi exatamente o PT. O Partido dos Trabalhadores é quem vem sempre trazendo esse discurso de "nós contra eles".

    Eu não vi a reação de V.Exª, quando, em pleno Palácio do Planalto, no processo do impeachment, o Presidente da CUT, Vagner Freitas, disse que iriam às ruas pegar em armas, para defender o mandato da Presidente Dilma. Eu não vi a reação de V.Exª quando se falava em colocar o exército de Stédile nas ruas. Não vi reação de V.Exª quando a Senadora Gleisi disse que, para prender Lula, teriam que matar muita gente.

    Então infelizmente eu repudio os acontecimentos de violência que ocorreram no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Não são atestados de civilidade democrática. Isso deve ser naturalmente repudiado.

    Mas é preciso registrar esse tom de intolerância, de confronto, de expressões como "pegar em arma", com o silêncio omisso do Partido e da Presidente da época, porque essa frase foi dita dentro do Palácio do Planalto, sem que nenhuma reação houvesse, como outras expressões que incitaram a violência. E é aquela velha história que nos ensina a sabedoria popular: quem semeia vento colhe tempestade.

    Então, se houve estímulo para esse tipo de coisa, que repudio, volto a dizer: esses atos não são próprios de uma democracia civilizada e devem ser repudiados. Devem ser repudiados, rechaçados, punidos, mas infelizmente há precedentes anteriores, sim, de incitamento à violência, que não foi daqueles que, como eu, defendem a democracia.

    Respeito o contraditório, vivo num ambiente de tolerância democrática e não posso receber, como V. Exª fez, de forma generalizada, a acusação de que todos aqueles que votaram pelo impeachment são responsáveis por esses atos de violência.

    Defendo a paz, tenho tolerância e formação democrática profunda, vivo do contraditório, respeito pensamentos alheios. Não posso calar, mesmo estando no exercício da Presidência, diante de generalização tão grave que V. Exª fez, há poucos instantes.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Excelência, primeiro estranho que V. Exª, na condição de Presidente, esteja várias vezes aparteando oradores ou tecendo comentários sobre o pronunciamento de quem quer que seja. Para isso, V. Exª tem o direito, igual a todos, de se inscrever e poder se manifestar ali do púlpito.

    Segundo, V. Exª não prestou atenção ao que eu disse. O que falei foi de uma direita... A não ser que V. Exª esteja colocando o capuz em V. Exª, eu me referi exatamente à direita que alimentou o impeachment. E também não tenho receio de contrapor quem quer que seja que defendeu a postura do impeachment – não por crimes, porque crimes foram realizados por muitas pessoas – inclusive com provas –, que até hoje não foram minimamente procuradas pela Justiça, para receber pelos seus atos. São malas de dinheiro, são gravações com ameaças de morte. Nada disso aconteceu. Não quero trazer essa polêmica para cá.

    Agora, quanto a essa questão de quem disse A, B, C ou D, acho que várias pessoas cometem os seus equívocos. Outra coisa é uma horda organizada para agredir, para impedir que outros se manifestassem, isso sim.

    Então, lamento que V. Exª, nessa condição de Presidente, tenha atribuído a si próprio o direito de tecer comentários, agora, o tempo inteiro, sobre as manifestações de quem quer que seja.

    O SR. PRESIDENTE (Cássio Cunha Lima. Bloco Social Democrata/PSDB - PB) – Senador Humberto Costa, além de ser Vice-Presidente do Senado, sou Senador.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Fora do microfone.) – Peça para falar ali.

    O SR. PRESIDENTE (Cássio Cunha Lima. Bloco Social Democrata/PSDB - PB) – E, na condição de Senador, quando recebo da tribuna uma acusação grave, como a que V. Exª fez, tenho o direito de refutar. E vou refutar sempre, em qualquer ambiente em que eu esteja: nesta cadeira, na cadeira do plenário, na tribuna, porque não vou ouvir calado acusações graves, como as que V. Exª fez. Eu tenho uma trajetória que respeito e que vou defender sempre.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Qual foi a acusação grave que eu fiz, Excelência?

    O SR. PRESIDENTE (Cássio Cunha Lima. Bloco Social Democrata/PSDB - PB) – A generalização de que todos aqueles que votaram a favor do impeachment estão incitando a violência.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Não falei nem em impeachment.

    O SR. PRESIDENTE (Cássio Cunha Lima. Bloco Social Democrata/PSDB - PB) – Falou. V. Exª falou.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Excelência, por favor.

    O SR. PRESIDENTE (Cássio Cunha Lima. Bloco Social Democrata/PSDB - PB) – Portanto, o esclarecimento que faço...

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – V. Exª se inscreva e trave o debate político.

    O SR. PRESIDENTE (Cássio Cunha Lima. Bloco Social Democrata/PSDB - PB) – ... é repudiando os acontecimentos que ocorreram recentemente no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. Eles têm o meu repúdio.

    Não acho que essa é a forma de se fazer política. Não é com agressão, com intolerância, com violência que nós estaremos criando um ambiente civilizatório para a nossa democracia. Longe disso.

    Tenho mais de trinta anos de mandato e sempre primei pelo contraditório, pela pluralidade de ideias, pelo confronto de opiniões, na paz, nos argumentos. Agora, não posso simplesmente ouvir calado que tudo que está acontecendo é responsabilidade daqueles que votaram a favor do impeachment. Isso não é justo, não é uma generalização que possa ser acolhida passivamente.

    Se o senhor acha que estou extrapolando as minhas funções de Vice-Presidente, lamento, mas estou usando minhas prerrogativas.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Acho sim que está extrapolando, e muito.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2018 - Página 16