Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca da necessidade de que a população volte a crer nos valores democráticos.

Autor
Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Valadares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CIDADANIA:
  • Considerações acerca da necessidade de que a população volte a crer nos valores democráticos.
Aparteantes
Telmário Mota.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2018 - Página 20
Assunto
Outros > CIDADANIA
Indexação
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, POPULAÇÃO, RECUPERAÇÃO, CREDITOS, VALORES, DEMOCRACIA, BRASIL.

    O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, inicialmente eu gostaria, em face da iniciativa de V. Exª, hoje à tarde, de me congratular com o decreto legislativo aqui apresentado em apoio aos pescadores de todo o Brasil, que estão deixando de receber o seguro-defeso por uma atitude impensada, equivocada e insensível do Governo Federal. Então, a iniciativa de V. Exª vem ao encontro, sem dúvida alguma, daqueles que pensam no melhor para as pessoas que trabalham neste País, com honestidade, como fazem os pescadores.

    Sr. Presidente, é com um misto de contentamento e de justificável preocupação que retorno a este Senado depois de quatro meses de afastamento, de licença. Contentamento porque é motivo de imensa honra representar o povo sergipano e poder fazer parte desta Casa e, neste momento histórico de elevadas incertezas, ter o privilégio de debater com os meus pares os rumos do nosso Brasil, assim como fez o meu suplente, o grande defensor público Elber Batalha, que exerceu com correção, dignidade e devotamento, essa substituição momentânea do meu mandato.

    Preocupação, Sr. Presidente, porque, ao ter tido a experiência de acompanhar de longe os ambientes oficiais, a sequência de eventos que se sucedem, cresceu em mim a convicção de que é preciso reconstruir, na sociedade, a crença na dignidade da vida pública e na política.

    Assim como já experienciado por alguns, no meu breve cotidiano, longe do epicentro dos acontecimentos, vi muita coisa. Vi a crescente decepção do povo por seus representantes; vi a repulsa diante dos métodos truculentos e ultrapassados adotados por este Governo para cooptar apoio; vi a revolta em face das denúncias envolvendo poderosos e a impunidade persistente.

    Eu vi a polarização de posições, o ódio e a intolerância se sobrepondo ao debate democrático de ideias. Eu vi a revolta, a tristeza e o constrangimento do povo brasileiro com a violência manifestada em crimes que podemos considerar hediondos, como aquela execução covarde e cruel que foi feita contra a Vereadora Marielle e o seu motorista, em uma das ruas do Rio de Janeiro, quando ela vinha da prestação de serviço comunitário à sociedade carioca. É uma revolta que causou a solidariedade do povo brasileiro e do mundo inteiro, para que a violência seja coibida, de uma vez por todas, no nosso meio.

    Por consequência de tudo isso, o preocupante e grave desprezo do eleitor acontece pelo mais elementar fundamento da democracia, o exercício do voto. Por tudo isso, volto a esta Casa com a clareza absoluta de que precisamos, urgentemente, recuperar a credibilidade da população nos valores democráticos. Não há saída fora da democracia, como muitos passaram a crer.

    Observo, preocupado, a campanha em que tentam alastrar a defesa da abstenção ou do voto nulo nas próximas eleições. Não podemos compactuar com esse retrocesso. O eleitor não pode ver na anulação do voto ou na ausência nas urnas a resposta para sua decepção. Ao contrário, o voto será a oportunidade de afastar da política aqueles que não a merecem, os maus políticos, aqueles que transformam a candidatura no caminho mais fácil para a obtenção de vantagens pessoais e outros objetivos nada republicanos. Embora desacreditado, é preciso que o eleitor perceba que é o único capaz de mudar a realidade social e política do nosso País.

    Volto ao Senado com a consciência redobrada de que é nossa obrigação mobilizar o povo brasileiro a ser o juiz do seu destino e dos destinos da nossa Nação. Cabe a nós, também, o dever imprescindível de continuarmos aperfeiçoando o já ultrapassado sistema eleitoral, o já falido sistema presidencialista do nosso País, que leva a crises sucessivas, que transforma o Presidente da República num verdadeiro ditador constitucional e um Poder Legislativo inteiramente agachado aos seus interesses.

    Os avanços foram pequenos, como a tímida cláusula de desempenho, na área eleitoral, que freia a proliferação de partidos de aluguel e reduz a possibilidade da política do toma lá, dá cá para instrumento de governabilidade.

    Lamentavelmente, ainda teremos uma eleição ancorada na influência do poder econômico. Por maiores os esforços que sejam feitos pelos órgãos institucionais de controle das eleições, como a Polícia Federal, o Ministério Público e a própria Justiça, sabemos que o dinheiro vai correr à solta, por debaixo do pano, às escondidas, para que novamente o Poder Legislativo seja depreciado com a presença imunda de políticos compradores de votos.

    Lamentavelmente, ainda teremos uma eleição ancorada na influência do poder econômico. Isso porque, não obstante a proibição do uso de dinheiro privado, será o caixa dois mais uma vez protagonista da fraude oculta, sem falar da vantagem desigual dos candidatos mais ricos, que poderão se autofinanciar.

    E, se não bastasse, temos pela frente novas preocupações, como a guerrilha tecnológica. Neste ano, já é consenso que o eleitor será influenciado pela propaganda política deflagrada por pessoas e até pelos chamados robôs usados na disseminação de informações reais ou criadas. Ou seja, muitos serão vítimas das falsas notícias, as tais fake news, cujo poder de aniquilar a verdade acontece numa velocidade avassaladora.

    Quem vencerá as eleições de 2018? Será a mentira? Será o populismo? Será a demagogia? Será o poder econômico? Será a experiência? Será a modernidade? Ou será o centro, a direita ou a esquerda?

    Espero, Sr. Presidente, que quem vença as eleições seja o nosso povo, seja o nosso eleitor, que saiba escolher bem os seus representantes aqui no Senado e na Câmara dos Deputados.

    Com muito prazer, concedo a V. Exª um aparte.

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Moderador/PTB - RR) – Senador Valadares, primeiro, eu quero dar as boas-vindas a V. Exª, que retorna a esta Casa. É um grande político brasileiro, um grande tribuno.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Moderador/PTB - RR) – É uma pessoa totalmente antenada à política brasileira, de pensamentos firmes, de princípios ideológicos consolidados. Então, quero parabenizar V. Exª por esse retorno. Mas eu ouvi a última colocação de V. Exª nesta indagação infinita: quem será que vai levar mais vantagem nesse jogo? Aí eu estava me lembrando de uma história: havia um burro amarrado na frente da propriedade de um camponês. O demônio foi lá e soltou o burro. O burro foi direto à horta do camponês e comeu tudo. A esposa do camponês, vendo aquilo, foi a casa, pegou o rifle, e "pow", matou o burro. O dono do burro viu que o burro tinha sido morto, pegou seu rifle, "pow", matou a esposa do camponês.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Moderador/PTB - RR) – Só mais um minuto para concluir esse raciocínio. Matou a esposa do camponês. O camponês chegou, viu sua esposa morta, foi lá e "pow", matou o dono do burro. Os filhos do dono do burro, vendo o pai morto, foram lá e tocaram fogo na propriedade inteira do camponês. A turma perguntou para o demônio: "O que tu fizeste?" Ele disse: "Nada, só soltei o burro." Então, eu espero que a gente, nesse jogo, não tenha soltado o burro, e que ganhe aquele que realmente possa ser melhor para o Brasil.

    O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - SE) – Agradeço a V. Exª, Senador Telmário, pela sua contribuição.

    Eu pediria ao Sr. Presidente, só para terminar o meu discurso, para me conceder mais dois minutos. Agradeço a V. Exª.

    Como eu estava dizendo, acredito que somente aqueles que conseguirem transmitir credibilidade e capacidade de enfrentar questões como segurança, saúde, educação, emprego e honestidade serão os escolhidos para os novos desafios que estão por vir.

    Acredito também que só terão êxito os comprometidos em levar adiante as reformas de que este País tanto necessita, mas protela.

    A primeira, a reforma tributária, para reequilibrar o peso dos impostos para ricos e pobres e para simplificar o sistema, incentivar o investimento e propiciar maior competitividade das nossas empresas. O resultado será o crescimento e geração de emprego e renda.

    A segunda, a imperiosa reforma política, que, para nossa frustração, pouco avançou no sentido de mudar costumes e reverter o processo de deslegitimação dos partidos, alimentado pelas distorções do nosso sistema político-partidário, algumas das quais mencionei.

    São bandeiras do nosso Partido, o PSB, que se contrapõem à volúpia dos que veem na política atalho para aspirações individuais. Tenho maior orgulho e satisfação em ser parte de uma agremiação fiel a sua história de luta por um País mais justo; um Partido desde sempre alinhado às causas populares e ao trabalhador, forjado na luta por transformações sociais ancoradas na política econômica soberana.

    Sr. Presidente, é tempo de agir. Nesta hora de tantas inquietudes, resgato da memória a frase de Martin Luther King, que muito admiro: "Hoje é sempre o dia certo, de fazer as coisas certas, da maneira certa. Amanhã será tarde."

    E eu replico essa frase de outro modo: povo brasileiro, esta é a hora certa. É a hora em que você eleitor terá oportunidade de decidir o que é certo. E o certo é votar nos melhores.

    Obrigado, Srª Presidente, pela oportunidade de fazer esse primeiro discurso ao retornar a este ambiente salutar e construtivo do Senado Federal.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2018 - Página 20