Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação com episódio ocorrido com a caravana do ex-presidente Lula na região Sul do país.

Comentário sobre a necessidade de realização do interrogatório para investigação da morte da Vereadora Marielle Franco, do Município do Rio de Janeiro.

Registro da possibilidade de fechamento do setor de operações da Companhia Hidroeletrica do São Francisco, no Piauí.

Autor
Regina Sousa (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: Maria Regina Sousa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO SOCIAL:
  • Indignação com episódio ocorrido com a caravana do ex-presidente Lula na região Sul do país.
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Comentário sobre a necessidade de realização do interrogatório para investigação da morte da Vereadora Marielle Franco, do Município do Rio de Janeiro.
MINAS E ENERGIA:
  • Registro da possibilidade de fechamento do setor de operações da Companhia Hidroeletrica do São Francisco, no Piauí.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2018 - Página 38
Assuntos
Outros > MOVIMENTO SOCIAL
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Outros > MINAS E ENERGIA
Indexação
  • REPUDIO, OCORRENCIA, PERSEGUIÇÃO, PESSOAS, MANIFESTAÇÃO, MOVIMENTO SOCIAL, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, DURAÇÃO, VISITA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • COMENTARIO, BUROCRACIA, DEMORA, PRISÃO, ACUSADO, MORTE, POLITICO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • REGISTRO, POSSIBILIDADE, EXTINÇÃO, SETOR, OPERAÇÃO, COMPANHIA HIDROELETRICA DO SÃO FRANCISCO (CHESF), LOCAL, ESTADO DO PIAUI (PI).

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, a minha fala vai ser curta. Tenho necessidade de falar algumas coisas aqui.

    Primeiro, sobre os episódios da Região Sul, notadamente Porto Alegre. Eu sabia que o pessoal do Sul tinha um veio separatista – alguns –, mas não sabia que chegava a tanto, a ponto de achar que uma pessoa, para transitar no seu Estado, precisa de passaporte ou de autorização. O que fizeram com a caravana do Presidente Lula é inominável.

    Eu não entendo como alguém pode apoiar um ato daquele. Pedradas, ovo, relhos... Aquela cena só na escravidão, em filmes sobre escravos, se via. Mulheres foram agredidas, hospitalizadas. Quatro mulheres foram hospitalizadas. Uma delas teve que ficar no hospital. O ex-Deputado Paulo Frateschi quase perdeu a orelha com uma pedra. Eu nunca vi isso. Não adianta dar exemplos. Quebrar vidros de ônibus onde vão pessoas... Inclusive crianças estão nessas caravanas, dentro dos ônibus...

    Será que aquele pessoal é fazendeiro mesmo? Eu tenho a impressão que não. Eu tenho a impressão de que são jagunços contratados. Não é possível que sejam fazendeiros deste País, produtores deste País. Eu não quero crer.

    Mas o mais grave é a polícia achando bonito. A polícia, inclusive, rindo lá das coisas que acontecem e dizendo que o MST faz o mesmo. O MST tem causa. É uma bandeira. É luta pela reforma agrária. E eu ainda não vi nenhuma cena de arrancarem a orelha de alguém, daquela forma estúpida, como aquele pessoal está fazendo.

    Eu me lembro do escândalo que foi uma bolinha de papel na testa do Senador Serra. Um escândalo. Deu tomografia. Foi para o hospital, porque era campanha. E, aí, era uma bolinha de papel. E foi fazer tomografia, porque disseram que queriam matar o Senador Serra. Depois, ficou constatado que foi uma bola de papel, um papel embolado e jogado na cabeça dele.

    E o mais grave é vermos uma pessoa com a representação de uma Senadora apoiar aquilo. Eu até entendi, ontem, quando ela falou que foi a euforia de uma convenção partidária. Mas eu acho que... Tudo bem, na euforia nós podemos até dizer coisa que não devemos. Mas aqui, reconhecendo que foi na euforia de uma convenção, seria mais lógico e mais compatível, até com comportamento dela aqui, dizer que não deveria ter dito: "Eu disse, mas foi na euforia e não deveria ter dito aquilo". Porque aquilo incita.

    Este País já está vivendo um momento de ódio. Eu fico pensando como é que vai ser na eleição. Como é que vai ser o deslocamento das pessoas que vão ser candidatas nas eleições? Só porque não gostam das pessoas têm que fazer todo esse tipo de agressão? Física inclusive?! Antes eram só palavras, agora é agressão física... Como é que vão ser agosto, setembro, no período eleitoral? Quem é que vai garantir o ir e vir das pessoas em suas campanhas? Os dois lados, claro: garantir para todos.

    Então, eu tenho aqui que lamentar a ação... E eu não acredito que sejam fazendeiros. Eu acho que são jagunços contratados pelos fazendeiros, porque, se forem fazendeiros, é um péssimo exemplo para as suas famílias, para os seus filhos, para os seus netos.

    Em que País nós estamos vivendo? Alardeia-se a democracia, nós acabamos de ouvir...

    Quando nós somos contra a intervenção militar, é porque nós sabemos o que é que significa intervenção. Ninguém é contra a ajuda ao Rio de Janeiro não. Nós queremos ajuda para todos os Estados. Uma ação, mas não intervenção.

    Aliás, quando se diz também que nós ainda hoje hostilizamos, isso é porque ainda temos 400 pessoas desaparecidas, vítimas da ditadura. Então, não podemos sossegar enquanto não soubermos onde estão essas 400 pessoas. Então, a ditadura militar tem esse débito ainda com a sociedade, e não podemos esquecer. Então, não é hostilizando os militares atuais, que não tiveram nada a ver com aquele passado lá ou que...

    Mas eu quero também falar, Senador, que amanhã estará fazendo 15 dias do assassinato da Marielle, e nenhuma notícia dos assassinos. Eu acho que estão perdendo as pistas, porque, em vez de correrem atrás das pistas deixadas pelos assassinos, só interrogam a família da Marielle, os amigos da Marielle. Eu estou com medo de depois acharem um culpado no meio, para darem uma satisfação, no meio dos familiares ou dos amigos, porque já é tempo de termos alguma notícia de como anda esse inquérito, o que é que aconteceu de verdade, porque os indícios, os caminhos para investigação estão abertos. É só ver a ação da Marielle, a quem ela denunciava, que você vai chegar em alguém que não gostava dela, que não gostava do que ela fazia.

    Então, é preciso apressar esse interrogatório. Nós não podemos ficar com mais um cadáver insepulto, vítima da violência, vítima do preconceito, vítima do ódio, principalmente se são pessoas que defendem os direitos humanos. Este País matou 52 defensores dos direitos humanos em 2017; e, agora, a Marielle já foi a 20ª vítima. É preciso haver freio nisso.

    Por último, eu quero falar de uma carta que recebi do Governador do meu Estado, preocupado com a extinção do Centro de Operação Regional da Chesf no Piauí. Estão encolhendo a Chesf, e assim é fácil dizer que se está equilibrando as contas, extinguindo, diminuindo os salários... Os salários caíram pelo segundo mês consecutivo – e não sou eu que digo. É o Valor Econômico. Então, querem extinguir a Chesf no Piauí, o Centro de Operação Regional.

    Imaginem que a Chesf, lá no Piauí, é responsável pelo monitoramento do Rio Parnaíba, pelo monitoramento da Barragem de Boa Esperança, que é a barragem que fornece energia para o Estado e que agora, inclusive, está em estado de alerta, podendo ter que fazer vazão agora, porque está muito cheia.

    E o que a gente recebe é a informação de que se vai tirar a Chesf do Piauí e que o Piauí vai ficar subordinado a Fortaleza.

    Imaginem, numa emergência, nós termos que recorrer a Fortaleza, que não conhece nem o mapa do Piauí, para resolver uma questão, seja de energia, seja de enchentes, de cheias.

    A Chesf tem um papel importantíssimo, técnicos preparados, lá no Estado, e, de repente, o Governo achou que tem que desmanchar e... Claro que é a preparação para a privatização – nós não temos dúvida disso –, mas não se pode sacrificar o meu Estado, nessa gana de privatizar tudo, de vender o Estado brasileiro.

    Então, nós estamos aqui fazendo esta denúncia. Nós vamos lutar para não fecharem o centro operacional da Chesf no Piauí, porque ele tem um papel importantíssimo no monitoramento dos rios, principalmente do Rio Parnaíba, e no monitoramento do sistema elétrico, que é precário no nosso Estado.

    Era isso o que eu tinha a dizer.

    Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2018 - Página 38