Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao ataque sofrido pela caravana do ex-presidente Lula.

Autor
Lindbergh Farias (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Luiz Lindbergh Farias Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Críticas ao ataque sofrido pela caravana do ex-presidente Lula.
Aparteantes
Paulo Rocha.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2018 - Página 40
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • CRITICA, PESSOAS, PERSEGUIÇÃO, MANIFESTAÇÃO, MOVIMENTO SOCIAL, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, DURAÇÃO, VISITA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, eu subo à tribuna para chamar a atenção para uma escalada fascista no País. Acho que o termo é esse. Não é só um discurso do ódio e da intolerância. Essa semana, o que aconteceu no sul do país, na caravana do Presidente Lula, muda o patamar da crise.

    Nós entramos numa fase, infelizmente aberta com o golpe que afastou a Presidenta Dilma, de violência política. Esses fatos que aconteceram nessa semana não têm paralelo na história recente do País.

    Impressiona-me que alguns não estejam entendendo a gravidade do que está acontecendo. Da Constituição de 88 para cá, mas eu posso dizer do final dos anos 70 para cá, não há nada parecido com o que aconteceu.

    Quando eu digo que não é mais o discurso do ódio e da intolerância, o faço porque eram milícias armadas, seguindo o Presidente Lula; caminhonetes emparelhando com o ônibus da comitiva do Presidente Lula. Antes havia comitiva do Presidente Lula que ia fazendo o trabalho de ir na frente. Eles já começavam a seguir, monitorar, num sistema sofisticado de perseguição... Todo tipo de incitação ao ódio; falas de morte ao Presidente Lula.

    Quebraram o vidro do ônibus, ao lado de onde estava a Presidenta Dilma Rousseff. Em outro momento quebraram o ônibus, ao lado de onde estava o motorista. O ônibus teve que sair da pista. Eram ações de terror.

    Eu, sinceramente, quando vejo o silêncio dessa mídia... Se fosse com lideranças da oposição, na Venezuela, estaria no Jornal Nacional, da Rede Globo. Mas não: essa mídia, além de se calar, estimula. Ontem a Presidenta Dilma Rousseff foi ao Rio de Janeiro, dar uma entrevista coletiva, junto com o Chanceler Celso Amorim. Uma entrevista coletiva para a imprensa internacional.

    Eu chamo a atenção, Senadora Regina: é um novo momento do golpe. Esse golpe, que começou com a ruptura do pacto pela redemocratização de 88...

    Para mim, aquele pacto pela redemocratização, depois depois da ditadura militar, se assentava em cima da soberania do voto popular, de eleições livres e democráticas... Pois bem: rasgaram os 54 milhões de votos da Dilma e querem impedir o Lula de ser candidato, de todas as formas. Mas, mais do que isso: aquele golpe abriu o caminho para isso.

    Eu, na época daquele movimento do impeachment, quando havia aquelas passeatas de verde e amarelo na Avenida Paulista, eu chamei a atenção aqui de Senadores tucanos: os senhores estavam indo de mãos dadas com quem defendia intervenção militar para aquelas mobilizações. Eles abriram o caminho para o crescimento do fascismo; abriram o caminho para o crescimento da extrema direita. E aí a vergonha: como é que num País como este, o Brasil, quando se faz uma pesquisa eleitoral entre os mais ricos, entre as elites, quem está à frente é Jair Bolsonaro?

    Os senhores têm que entender o tamanho da gravidade dessa crise. É gigantesca! Que começou com todo esse processo de irresponsabilidade com o golpe.

    Eu, sinceramente, infelizmente, acho que o que aconteceu no Sul do País, esta semana, vai ficar, vai estar presente nestas eleições. Violência política, confronto, a ideia de exterminar o adversário... Essa foi a marca. E quando a gente vai juntando tudo...

    Eu vejo a execução de Marielle e do Anderson. Amanhã, inclusive, vai haver um ato, no Rio de Janeiro, de 50 anos da morte do estudante Edson Luís, em 1968, no dia 28 de março, e 15 dias da execução de Marielle e do Anderson. Eu sempre tenho repetido: por trás daquele disparo havia uma ideologia, havia esse discurso de extrema direita, dessa turma do Bolsonaro, que diz o seguinte: "Defender direitos humanos é defender bandidos." Quando isso é falso. Defender direitos humanos é defender a vida. Mas, quando atiraram na Marielle, havia aquela ideologia por trás de tudo aquilo.

    Eu chamo a atenção para o que está acontecendo no País.

    E eu, infelizmente, não vejo aqui a Senadora Ana Amélia, porque queria falar diretamente para ela. Porque o que aconteceu no Sul do País foi muito grave. Muito grave. Todo tipo de agressão.

    Isto aqui é uma manifestação, na sexta-feira, em Santa Maria. Aqui há alguém dando uma chicotada num camponês. Isto aqui é chamado de reio, dos gaúchos, o tal do "chicote longo". A Senadora Ana Amélia, um dia depois que esta foto circulou, vai à convenção estadual do PP e diz o seguinte: "É isso mesmo, tem que colocar essa gente para correr, atirar ovo, levantar o reio, levantar o rebenque." Essas foram as palavras da Senadora Ana Amélia: "Atirar ovo, levantar o reio..." E isto aqui tinha acontecido na véspera da convenção estadual do PP.

    Ela fez uma fala ontem, aqui, em que infelizmente não se retratou. A pessoa pode admitir o erro.

    Apesar do tom, o que me chocou muito foi ver o vídeo, a forma autoritária... É uma cabeça escravocrata.

    Porque, na verdade, o chicote é marca de muita coisa nesse País. Foram 300 anos de escravidão, o açoite era a forma como os negros escravos eram tratados, mas não só negros escravos; trabalhadores rurais também, em épocas mais recentes, eram chicoteados. A marca da escravidão é essa e a gente vê na boca de uma Senadora da República, num dia depois em que um trabalhador rural foi chicoteado nessas manifestações pacíficas, como se estivesse saudando isso: atirar ovo, levantar o relho.

    Ela tinha que explicar aqui ao Senado porque ontem, infelizmente, ela não se explicou. Houve uma hora em que, na sua fala de 28 minutos, ela disse: "Não, é pedra; pedra, não. É símbolo de violência. Eu sou contra usar a violência com manifestação". Agora, um cartaz, um ovo. Repete o ovo. Ela repete aqui.

    Eu acho, sinceramente, isso muito grave, muito grave porque eu acho que a base desse discurso fascista e dessas práticas fascistas vem dessa elite com cabeça escravocrata. Foram 300 anos de escravidão nesse País. Nós somos o último país a libertar os escravos. Agora, a minha pergunta: aonde esse pessoal quer chegar? Porque eu acho, sinceramente, que nós estamos completamente desgovernados.

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Eu pediria mais dois minutos, Senadora Regina Sousa.

    Eu pergunto aonde esse pessoal quer chegar, e falo assim olhando para a elite brasileira, para esses setores, por exemplo, para a Rede Globo. Aonde os senhores querem chegar? Porque esse plano de vocês deu errado. Vocês achavam que era dar o golpe, tirar a Presidenta Dilma Rousseff e que a economia ia se recuperar. A economia está aí, vocês estão vendo. A recuperação não existe, nós estamos em uma situação de estagnação. Vocês achavam que era perseguir o Presidente Lula como Juiz Sérgio Moro e aí iam ter um Governo do Temer de dois anos para fazer essas reformas e depois ganharia a eleição um tucano. Os tucanos estão mortos por sua própria irresponsabilidade.

    Eu não vejo caminho para Alckmin crescer no Sul do País. Os tucanos estão em grave crise. Daí, os senhores agora insistem na prisão do Presidente Lula. Aonde os senhores querem levar o Brasil? Os senhores sabem que é inconstitucional, porque o art. 5º, inciso LVII da Constituição é muito claro: você só pode ser preso depois de ter tido todo o processo transitado em julgado. Não é o caso do Presidente Lula, mas o que os senhores querem? Dar vitória a esses, à extrema-direita? Radicalizar mais a situação do País? Não! Nós tínhamos que nos reconciliar com o diálogo.

    Por isso, Senador Paulo Rocha, antes de conceder um aparte a V. Exª, eu acho que tem que ser feita neste momento uma grande frente antifascista no País, contra tudo isso, contra essa escalada autoritária, porque, volto a dizer: para mim, se engana quem acha que o que aconteceu no Rio Grande do Sul, no sul do País, são fatos isolados. A violência política para mim, infelizmente, vai marcar o processo político desse próximo período, depois da irresponsabilidade do golpe dado na Presidenta Dilma.

    Senador Paulo Rocha.

    O Sr. Paulo Rocha (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – Senador Lindbergh, além de denunciarmos o fascismo, os que usam a pregação do ódio na disputa política, também temos que aproveitar isso – V. Exª já fez – para também denunciar os responsáveis por isso. O Senador Aécio Neves, principal liderança de então do PSDB, foi o principal responsável. Depois da derrota democrática que ele sofreu, não logrou os votos necessários para tomar o poder, para recuperar o poder nas mãos dos tucanos, usou a conspiração e construiu uma maioria política, apoiada pelo PMDB, para estabelecer esse retrocesso que está no nosso País. Não se recupera a economia; ao contrário, para recuperar a economia, tira direito dos trabalhadores, entrega os nossos principais patrimônios que ainda existem no País, principalmente o pré-sal, para os interesses do capital internacional, e destrói o capital nacional, na medida em que destrói a indústria naval, a indústria da construção civil e outros setores produtivos importantes para o desenvolvimento do nosso País. E empoderam-se esses setores mais retrógrados da sociedade, que nós tínhamos deixado para trás. Lá no meu Estado, de novo, retomam o empoderamento aqueles que, para resolverem o problema de sua terra, provocam a chacina das lideranças que brigam por um pedaço de terra. Essa questão da nossa vereadora do Rio de Janeiro... Tudo isso é produto desse retrocesso que levou, no nosso País, à quebra da democracia e ao empoderamento desses setores mais retrógrados da sociedade, o fascismo, o ódio que usa, a política do ódio no enfrentamento dos problemas da democracia do nosso País. Por isso, temos que usar a nossa tribuna na denúncia para que recuperemos, nas eleições de 2018, o mínimo de estabelecimento das regras democráticas que já tínhamos conquistado no nosso País.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Senador Paulo Rocha, eu agradeço o aparte de V. Exª. E quero lembrar a V. Exª, que conhece muito esse tema – V. Exª é do Pará –, que, no ano de 2017, 65 trabalhadores rurais, camponeses, sem-terra foram assassinados.

    Eu ouvi alguns falando hoje aqui pela manhã, e ninguém, Senador Raimundo Lira, pode deixar de reconhecer que nós, da esquerda brasileira, sempre tivemos um compromisso muito forte com a democracia. Nós sempre fizemos nossas manifestações, mas nós nunca impedimos, como estão tentando fazer com o Presidente Lula, com violência, que algum partido ou outra força política se expressasse.

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Essa não é a prática da esquerda brasileira. Muito pelo contrário!

    Agora, Senador Paulo Rocha, eu fico impressionado com a força do Presidente Lula. Eu lamento não ter podido estar nessa caravana. Eu estive em todas, em Minas, no Nordeste e no Rio de Janeiro. Essa caravana é uma caravana épica, porque os fascistas vêm, tentam atacar o Presidente Lula e o presidente Lula é recebido por multidões cada vez maiores.

    O último comício em Chapecó foi belíssimo! Falando diretamente para uma multidão, que foi para as ruas em solidariedade ao Presidente Lula, porque quiseram impedir um ato, colocando tratores nas praças. Em todos esses lugares, é impressionante a conivência da Polícia Militar desses Estados com esses que estavam fazendo esse tipo de atos, que não são atos, são agressões.

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – E o povo foi levar Lula para o hotel. Uma manifestação linda! Dezenas de milhares de pessoas. Então Lula vai encerrar essa caravana amanhã em Curitiba no Paraná com mais força ainda. E nós temos um lado, que é o lado da democracia. Nós não somos como os fascistas. Agora, não temos medo deles! Eles não vão impedir que a gente circule por este País, não vão impedir que Lula, que nenhum militante da esquerda brasileira se manifeste neste País.

    Pena eu tenho desses aqui, Senadores tucanos, que antigamente estavam aqui, falavam todo dia naquele processo do impeachment contra Dilma Rousseff. Cadê eles? Sumiram. Onde estão os tucanos? Envergonhados, porque abriram o caminho para Bolsonaro, abriram o caminho para essa escalada fascista.

    Foi isso que os senhores fizeram. Irresponsáveis! E agora continuam insistindo.

    Eu chamo atenção para essa caçada contra o Presidente Lula! É insana! Só fortalece esse tipo de política. Volto a dizer: é hora de o Brasil se reconciliar com o diálogo. Nós temos que voltar a uma outra situação, em que a gente discuta, divirja, mas consiga fazer isso dentro das regras democráticas. E não é isso que eles queriam. Eles queriam agredir, atingir o Presidente Lula, atingir a Presidenta Dilma.

    Eu encerro a minha fala, citando o cientista político Aldo Fornazieri, que fala...

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – ... sobre essa nova conjuntura:

O assassinato da vereadora Marielle Franco e os ataques à caravana de Lula pelo Sul do País não deixam dúvidas de que o Brasil vive um contexto político no qual há a presença de grupos fascistas organizados, violentos e que adotam táticas terroristas para se imporem. Não resta dúvida também que os eixos articuladores desses grupos terroristas são os apoiadores da candidatura de Bolsonaro, da candidatura de Flávio Rocha, de grupos de ruralistas, de movimentos como o MBL e o Vem pra Rua e que contam com apoio institucional em setores do Judiciário e em setores dos partidos políticos governistas e de parlamentares e até de Senadores, como é o caso de Ana Amélia Lemos.

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) –

O mais grave de tudo isso é que esses grupos fascistas, violentos e terroristas contam com o silêncio da grande imprensa, de partidos ditos de centro, como o PSDB, da OAB e por aí vai. Afinal de contas, não se ouviu nenhuma dessas vozes condenar a violência contra a caravana.

    Eu agradeço muito à Senadora Regina Sousa.

    Quero, encerrando, dizer que você pode discordar do PT, de Lula e da Dilma. Agora, chamo a atenção: não dá para concordar com isso que aconteceu. Volto a dizer: não era discurso, eram agressões, práticas fascistas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2018 - Página 40