Discurso durante a 40ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestações positivas acerca de artigo publicado na Folha de S. Paulo, de autoria do cineasta José Padilha, intitulado “O Mecanismo agradece”.

Autor
Lasier Martins (PSD - Partido Social Democrático/RS)
Nome completo: Lasier Costa Martins
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CULTURA:
  • Manifestações positivas acerca de artigo publicado na Folha de S. Paulo, de autoria do cineasta José Padilha, intitulado “O Mecanismo agradece”.
Publicação
Publicação no DSF de 05/04/2018 - Página 11
Assunto
Outros > CULTURA
Indexação
  • ELOGIO, ARTIGO, PUBLICAÇÃO, PERIODICO, FOLHA DE S.PAULO, AUTORIA, PRODUTOR, CINEMA, REFERENCIA, FILME, DESTINAÇÃO, TELEVISÃO, ASSUNTO, CORRUPÇÃO, PAIS, ENFASE, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DEFESA, ALTERAÇÃO, CRITERIOS, INDICAÇÃO, MINISTRO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF).

    O SR. LASIER MARTINS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Muito obrigado, Sr. Presidente, Antonio Carlos Valadares.

    Srªs e Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, nestes momentos conturbados que está vivendo o Brasil, Sr. Presidente, nós estamos assistindo a um seriado de televisão que é muito instigante sob vários aspectos e que motiva a minha vinda até esta tribuna. Trata-se desta série original, que está pelo Netflix: O Mecanismo. É uma obra de ficção – mas tem muito de verdadeiro, Sr. Presidente – da autoria do cineasta José Padilha, o mesmo autor do Tropa de Elite, um filme de enorme repercussão no Brasil nos últimos tempos e contra o qual pouco ou nada se viu de críticas, de indignações ou de protestos, quando, naquela obra, José Padilha narrava a corrupção na polícia do Rio de Janeiro. Agora está sendo muito diferente. As reações têm sido muito intensas, de alguns setores bem determinados.

    Achei oportuno vir à tribuna porque eu encontrei muitas verdades nessa obra a que assisti. Dizem respeito à grande crise que o Brasil está vivendo não só agora, mas há muitos anos. Não sei se V. Exª já viu. Não sei quantos telespectadores que assistem à TV Senado ou ouvintes da Rádio Senado viram até agora. Mas eu recomendo a quem não assistiu que assista.

    Chamou-me a atenção um artigo em que José Padilha escreve as motivações do seu filme, da sua série, na Folha de S.Paulo de domingo passado. Chamou-me a atenção porque ele faz referência aos cinco pressupostos da sua tese, que têm tudo a ver com o momento que estamos vivendo. É por isso que eu vim aqui para ler, relembrar, realçar, até porque teremos daqui a pouco um julgamento, lá no Supremo Tribunal Federal, de extraordinária repercussão no Brasil e em várias partes do mundo.

    Mas o que justifica o seriado de José Padilha sob a denominação O Mecanismo? É um título abreviado, mas que significa o mecanismo da corrupção no Brasil, quais são os pressupostos da corrupção no Brasil. E com uma lucidez extraordinária, José Padilha passa a enumerar. Eu me pergunto e pergunto àqueles que nos assistem pelo Brasil afora pela TV Senado se há alguma divergência com relação ao que o autor diz:

a) No Brasil, a corrupção não ocorre esporadicamente; ela é o mecanismo estruturante da política e da Administração Pública, o mecanismo que opera nos Municípios, nos Estados, no Governo Federal, no Executivo, no Legislativo e também nas cortes judiciais constituídas por indicações políticas.

    Por que está tão discutido o Supremo Tribunal Federal? Porque é dominado por indicações políticas. Não é por outra razão que o primeiro projeto que entrei aqui no Senado quando cheguei foi no sentido de mudar a sistemática de formação do Supremo Tribunal Federal. Não é mais possível termos lá gente que está comprometida com este ou aquele partido, com esta ou aquela ideologia. Não há legitimidade para isso.

    Então, menciona muito bem José Padilha:

b) As campanhas de todos os grandes partidos do Brasil são financiadas por empresas que trabalham para o Estado. Uma vez eleitos, os políticos desses partidos montam coalizões com base na distribuição de cargos que auferem controle sobre o Orçamento público. Quanto mais poderoso for um político, maior o quinhão que lhe cabe.

    Nada a opor. A mais pura verdade está inserida nessa constatação de José Padilha. As campanhas eleitorais e os grandes partidos, os financiamentos das empresas aos políticos: aí está uma das grandes causas da corrupção no Brasil.

c) O Estado, assim loteado, contrata as mesmas empresas que financiam as campanhas políticas dos grandes partidos, superfaturando orçamentos. [Outra verdade indiscutível.]

d) Parte da fatura se transforma em financiamento de campanha para o próximo ciclo eleitoral, e parte vira caixa dois e propina. [Será que alguém discorda disso?]

e) O mecanismo não tem ideologia; ele opera nos governos de esquerda e de direita.

    Então, aí temos os pressupostos da corrupção estruturante do Brasil, do mecanismo estruturante da corrupção, muito bem focados pelo autor dessa obra, inteligentemente.

[...] assumimos que esses enunciados são verdadeiros. Isso é fato ou ficção? O que aconteceria em um país onde o mecanismo operasse de fato? [Pergunta o autor da obra seriada e do artigo da Folha de S. Paulo, José Padilha.]

No mínimo, três coisas [responde ele]:

1) A polícia e a Procuradoria se deparariam constantemente com casos de corrupção sistêmica.

2) A classe política criaria legislação específica para impedir que as investigações desses casos gerassem punições para seus membros, pois, na ausência de legislação assim, o mecanismo não sobreviveria.

3) Se alguma contingência histórica permitisse que uma investigação de corrupção fosse levada a cabo nesse país, em uma área de orçamento público significativo, a política como um todo seria implicada na investigação.

    É a situação do Brasil.

    Esse é um documento histórico, Sr. Presidente. É por esse motivo que requeiro a inserção, nos Anais do Senado Federal, do artigo de José Padilha, do domingo passado, sob o título "O mecanismo agradece".

    Não vou perder tempo me detendo, porque esse artigo é explícito demais. O seriado é por demais eloquente. Nós temos aí, para quem quiser ver, sem maiores demandas, sem maiores pesquisas, quais as causas da corrupção no Brasil. Estão aí escancaradas como a luz solar.

Foram acordos desse tipo que revelaram um extenso esquema de corrupção [por exemplo] na Petrobras, envolvendo as maiores lideranças políticas do país [...].

    Em conclusão, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a série O Mecanismo, sobre a corrupção no Brasil, é um corajoso documento de realismo e de ficção. E digo: muito mais de realismo do que de ficção, de autoria do cineasta, mesmo autor que denunciou, no filme Tropa de Elite, o que era a corrupção na polícia do Rio de Janeiro. E na época, repito, praticamente ninguém se manifestou.

    Agora, diferentemente, vários setores inconformados, porque muitos deles estão com culpa em cartório, furiosamente atacam a série televisiva da Netflix como se não fosse mais verdadeira e legítima do que ficcional.

(Soa a campainha.)

    O SR. LASIER MARTINS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - RS) – Com o mérito de inserção, eu peço, Sr. Presidente, que o artigo de José Padilha seja inserido para revisão histórica, depois que passar esta onda tenebrosa da corrupção no Brasil. Temos aí um documento que resume tudo sobre o ponto a que chegamos.

    Muito obrigado, Presidente.

DOCUMENTO ENCAMINHADO PELO SR. SENADOR LASIER MARTINS.

(Inserido nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)

    Matéria referida:

     – Artigo da Folha de S.Paulo, de autoria de José Padilha, intitulado "O mecanismo agradece".


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/04/2018 - Página 11