Discurso durante a 44ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do respeito aos direitos constitucionais, em especial ao devido processo legal, no processo contra o ex-Presidente Lula.

Críticas ao ex-Presidente Lula e à empresa JBS, pelo fechamento de diversos frigoríficos em Mato Grosso (MT).

Autor
José Medeiros (PODE - Podemos/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PODER JUDICIARIO:
  • Registro do respeito aos direitos constitucionais, em especial ao devido processo legal, no processo contra o ex-Presidente Lula.
ECONOMIA:
  • Críticas ao ex-Presidente Lula e à empresa JBS, pelo fechamento de diversos frigoríficos em Mato Grosso (MT).
Publicação
Publicação no DSF de 11/04/2018 - Página 29
Assuntos
Outros > PODER JUDICIARIO
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • REGISTRO, RESPEITO, DIREITOS, LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL, RELAÇÃO, PROCESSO, REU, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMPRESA PRIVADA, FRIGORIFICO, MOTIVO, FECHAMENTO, PEQUENA EMPRESA, LOCAL, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ENFASE, MUNICIPIOS, MATUPA (MT), PEIXOTO DE AZEVEDO (MT), ALTA FLORESTA (MT), CARLINDA (MT), SOLICITAÇÃO, REALIZAÇÃO, LEILÃO.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Muito obrigado, Senador João Alberto, que preside esta sessão.

    Senador João Alberto, agora há pouco ouvimos vários discursos e, como já diz o nome do Parlamento, aqui nós somos um Parlamento que vem de parlare, de falar. E justamente aqui cabe a nós fazer o contraponto das falas das quais divergimos.

    Eu tenho que fazer alguns contrapontos porque é importante que a população brasileira saiba também dos fatos. Até agora nós temos visto que tem sido pregada aqui uma realidade alternativa, uma versão, uma narrativa e um enredo criado a respeito dos fatos que aconteceram infortunadamente com uma personalidade do mundo político brasileiro.

    Digo isso em relação à prisão do ex-Presidente Lula, que tentam transformar como se fosse esta Nação um regime de exceção, um regime antidemocrático em que o Governo vigente – e hoje eu vi aqui –, o Governo dos Estados Unidos, junto com o Judiciário brasileiro, junto com a imprensa, todo mundo tivesse se juntado para prender Lula.

    Data venia, Lula é uma pessoa importante no Brasil. Mas, menos gente! Nem tanto! Juntar todas as nações para prender o Lula é muito. É jogar muito para cima.

    Então, eu quero aqui dizer que essas coisas aconteceram dentro de um processo judicial em que houve ponto e contraponto. Houve um processo legal, o devido processo legal, e todo processo, Senador João Alberto, não há jeito, vai desagradar 50%. Alguém vai ficar descontente, porque, quando uma coisa vai para o Judiciário, não há como ficarem gregos e troianos contentes.

    Esse processo, por exemplo, passou pela mão de 15 juízes: passou pela mão do Moro; depois por mais três lá no Rio Grande do Sul; subiu aqui para o STJ, mais seis ou sete, se eu não me engano; subiu para o STF, mais um monte de juiz. Então, isso teve ampla apreciação e, óbvio, traz toda essa inquietação – e vale a competência do Partido dos Trabalhadores em construir essa narrativa.

    Agora eu tenho que dizer também sobre os fatos. E aí eu me remeto ao meu Estado de Mato Grosso. Visitava eu o nortão esta semana, Senador João Alberto, na cidade de Guarantã, Matupá, Peixoto de Azevedo, Alta Floresta e Carlinda. E ali pude ver os efeitos não do triplex, porque esse triplex, como se diz, se você comparar, é crime de bagatela; o sítio, então, nem se fala. Mas o que aconteceu em Carlinda, em Vila Rica, lá no Araguaia, em Peixoto de Azevedo, em todas aquelas cidades de Mato Grosso, sim, aquilo ali merecia uma reprimenda – se prisão, não sei, mas merecia uma reprimenda grande ao ex-Presidente Lula. E conto por quê.

    Ele se jactou, em dado momento, de ter criado muitos empregos. É verdade. E esses empregos entraram, pelo menos em Mato Grosso, numa mão e saíram pela outra.

    A decisão econômica, Senador João Alberto, de criar algumas empresas e escolhê-las como campeãs e de aplicar ali dinheiro do BNDES criou, em Mato Grosso, uma gigante produtora de alimentos, chamada JBS, que comprou todas as plantas frigoríficas ali existentes – e eram várias: havia frigorífico de pequeno, médio e grande porte. Desse modo, em cada cidade dali de Mato Grosso de médio porte para cima, até de pequeno porte, havia um frigorífico que empregava de 300 até mil pessoas.

    Quando a JBS assumiu o controle daquilo tudo, chegou e falou: "Morreu Maria Preá. Fecha, fecha tudo." Ela deixou algumas plantas no Estado, mas Vila Rica, por exemplo, uma cidade de 30 mil habitantes, perdeu 700 empregos. Setecentos empregos são algo significativo numa cidade como essa. Carlinda, que tem 10 mil habitantes, perdeu 500 empregos, o que é muito significativo; Alta Floresta e assim todas. Este rastro está lá: plantas fechadas, uma atrás da outra.

    O interessante é que, no domingo, fui a uma dessas plantas, levei uma equipe com drone, para mostrar o tamanho do empreendimento que estava fechado, e fui recebido por um representante lá da empresa, raivoso, bravo. Eu falei: "Não, só vou ficar na rua, vou filmar da rua." "Não pode também da rua. Vou chamar a polícia." Eu falei: "Então, está bem; estou indo."

    Mas falei: "Quem deveria estar preso é o seu patrão. Quem deveria estar preso é o seu patrão, não só pelo que fez aqui, no Estado de Mato Grosso, mas pelas estripulias que fez pelo Brasil." E deveria estar preso também, juntamente com o Sr. Janot, que foi quem o mandou lá para Nova York, naquele acordo mais espúrio que já vi ser feito aqui, no Brasil.

    Mas não é disso que eu queria falar. Queria falar sobre o sofrimento daquelas pessoas, que estão ali torcendo para que aquelas plantas frigoríficas sejam reabertas.

    Agora, esquecendo o passado, esquecendo Lula, porque a Justiça já tomou conta dele... E era esse o contraponto que eu queria fazer, porque os fatos são estes: ocorreram coisas, ocorreram coisas no governo, então ele está respondendo.

    Eu digo que, em que pese nós lamentarmos o fato que ocorreu com Lula, o que está ocorrendo com ele é o que ocorre com vários prefeitos, com vários governadores, que terminam a administração, mas que infelizmente ficam com o que é chamado no jargão popularesco: fica a capivara para responder. E vários prefeitos, às vezes, vão para a cadeia, e não se tem esse barulho todo.

    Mas o que acontece? No Estado de Mato Grosso, essas plantas estão fechadas. E aqui faço um apelo ao Ministro Gilberto... O Ministro Gilberto não está mais na Caixa Econômica. Mas faço um apelo ao novo Presidente da Caixa Econômica, ao novo Presidente do BNDES e ao Cade, porque esses órgãos... A Caixa Econômica é acionista da JBS através dos fundos, o BNDES é um grande acionista da JBS e o Cade é o conselho a quem cabe regular as atividades econômicas. Ele pode muito bem pegar aquelas plantas que estão fechadas e fazer um leilão. Faça um leilão! Vamos gerar emprego! Tudo que o Brasil está precisando neste momento é de aporte para gerar emprego e aquecer a economia.

    Por que nós precisamos continuar colocando dinheiro no bolso dos Irmãos Metralha? A quem isso ajuda? Ao Brasil, não. Ao Brasil, não. Eles já demonstraram que não estão nem aí para o Brasil. Então, precisamos aquecer a economia daqueles Municípios e precisamos desfazer esse malfeito que aconteceu ali, no Estado de Mato Grosso, Senador João Alberto. Mas, quando eu digo do Estado de Mato Grosso, eu digo do Brasil inteiro, pois foi feito em todo o Centro-Oeste. As plantas foram fechadas. É isso que dá quando há um monopólio forte. O capitalismo, quando ele é feito na modalidade capitalismo de compadres, se torna um dos piores sistemas econômicos, porque arrebenta com os outros e aí todo mundo fica na mão deles. E lá em Mato Grosso é assim.

    Recebi também denúncias de produtores, Senador João Alberto, que falaram: "Ou eu fico em cima, o tempo inteiro, com técnicos especializados, para acompanhar o abate, ou então eu tomo prejuízo." Então, esse grupo precisa ser imediatamente colocado no devido eixo.

    Eu não sou daqueles que querem acabar com os empresários, não. Para mim, o Brasil tem que ter empresários, tem que ter empreendedores. Eu quero que eles ganhem dinheiro; agora, que ganhem dinheiro sem fazer curva, sem fazer desvio, sem contornar o sistema, porque, senão, prejudica todo mundo.

    Ao finalizar, Senador João Alberto, eu digo isso porque eu vejo as pessoas fazendo essa santificação e dizendo esse rosário de coisas, mas estou andando no Estado de Mato Grosso, que é um Estado lá no interior do Brasil, um Estado pequeno em termos de população. Ele é territorialmente grande, pois lá cabem dez países como Portugal, cabem sete países do tamanho da Inglaterra, cabem quase duas Franças, mas, em termos de população, ele é pequeno ainda. Se você pegar a região de Diadema, em São Paulo, deve ter em torno de 3 milhões de habitantes, que é o total de habitantes do Estado de Mato Grosso.

    Mas aquela população lá precisa de estradas, e nós não temos; precisa de pontes, e a maioria está arrebentada, nós não temos. Nós precisamos de tudo lá. Aí eu fico consternado...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – ... agora, encerrando, Senador João Alberto – em ter de saber que a casa da mãe do Presidente Santos, em Angola, teve aporte de 100 milhões do BNDES, sabendo que a BR-163 está matando 280 pessoas por ano em acidentes e o BNDES não quer liberar dinheiro para o Estado de Mato Grosso.

    Tudo bem, se acham importante emprestar dinheiro para Angola, que emprestem, mas mandem o de Mato Grosso também. Agora, quando nós vamos tratar do Estado de Mato Grosso, vem uma equipe e, de repente, aquela equipe do BNDES resolve ficar extremamente técnica e diz: "Não, aqui nós temos um sistema de compliance que não pode." E tudo não pode. Agora, 27% da safra nacional é de lá. Nós estamos contribuindo imensamente para a balança comercial.

    Há poucos dias estive com o Presidente Temer e falei sobre isso com ele. Nós precisamos ajudar esses Estados...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – ... que ajudam o Brasil. E esses órgãos não podem ficar de repente nessa insegurança: uma hora afrouxam demais, outra hora endurecem demais. O que nós precisamos é de estabilidade, de segurança. Os Estados – Maranhão, Mato Grosso, Bahia, etc. – precisam disso. 

    Há vários Estados aonde a produção já está chegando. Ela está chegando ao Maranhão já, Senador João Alberto. E onde há produção, é preciso estrada, infraestrutura. É por isso que estou dizendo isso. Ao mesmo tempo em que fiz o contraponto, eu disse o que esses fatos todos que levaram o Presidente à prisão fizeram com alguns brasileiros que moram lá no interior do Brasil.

    Muito obrigado, Senador João Alberto.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/04/2018 - Página 29