Discurso durante a 47ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações acerca da prisão do ex-presidente Lula, e breve histórico político da atuação do PT para o desenvolvimento do País.

Autor
Paulo Rocha (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
Nome completo: Paulo Roberto Galvão da Rocha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PODER JUDICIARIO:
  • Considerações acerca da prisão do ex-presidente Lula, e breve histórico político da atuação do PT para o desenvolvimento do País.
Publicação
Publicação no DSF de 17/04/2018 - Página 44
Assunto
Outros > PODER JUDICIARIO
Indexação
  • COMENTARIO, ASSUNTO, REALIZAÇÃO, POLITICA PUBLICA, OBJETIVO, BEM ESTAR SOCIAL, GOVERNO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CRITICA, PODER, JUDICIARIO, MOTIVO, PRISÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    O SR. PAULO ROCHA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aqueles que estão nos acompanhando e nos ouvindo pelos nossos serviços de comunicação, eu quero comentar os últimos acontecimentos, principalmente pós-prisão do companheiro Lula e, agora, com as recentes pesquisas feitas, que são matéria e instrumento de análise dos vários grupos de comunicação, cada um com a sua visão e cada um com a sua estratégia de, a partir da sua análise, fortalecer esse ou aquele grupo, ou enfraquecer o nosso Partido e enfraquecer o próprio Lula.

    Está claro para todo mundo, inclusive para os "paneleiros" e aqueles que foram às ruas brigar contra o nosso governo: que eles foram mobilizados pela narrativa da questão da corrupção desenfreada no País, e que, portanto, a sociedade deveria movimentar-se porque a corrupção tinha tomado conta do governo e do nosso País, etc. Essa foi a narrativa para depois justificar o golpe parlamentar, que ao final se deu, tirando a Presidenta legitimamente eleita pelo povo brasileiro. E aqueles que perderam as eleições – principalmente o Senador Aécio Neves, que, não se conformou com a perda – usaram métodos e um processo conspirativo para mobilizar, combinado com a narrativa da Globo de combate à corrupção, setores da sociedade contra nós. Processou-se uma maioria parlamentar, mobilizada naquela época e articulada pelo Presidente de então da Câmara Federal, Sr. Cunha, para, com as chamadas pautas-bombas, dificultar o início do segundo mandato da nossa Presidenta Dilma.

    O que aconteceu de lá para cá está ficando muito claro: esse processo foi exatamente para arrancar do poder um governo e uma frente de partidos vanguardeada pelo PT para promover mudanças importantes no nosso País. Daí, quando nós iniciamos a governar o País, com o slogan Governo para Todos, foi exatamente para mostrar para o nosso País, para o nosso povo que este País, com tanta riqueza, tem condições de ter um processo de desenvolvimento e de crescimento econômico com distribuição de renda, geração de emprego, com políticas públicas para o cidadão. Nós não aceitamos a ideia de que haja cidadãos de primeira, de segunda, de terceira, de quarta categoria no nosso País. Um país com condições de riqueza, desenvolvimento e um grande potencial de crescimento econômico pode, sim, criar as condições para se tornar uma nação onde todos sejam cidadãos.

    Esse sempre foi o nosso objetivo. Essa sempre foi a nossa proposta de governar o País. E o fizemos. Estão aí as políticas públicas que nós conseguimos implementar, como o Bolsa Família. A elite que pediu o golpe já nos condenou desde o início porque dizia que aquela era uma política para alimentar vagabundos, preguiçosos. Pois bem, era uma política para poder criar condições para as famílias pobres manterem os filhos na escola. Havia critérios, inclusive, para receber o benefício: as crianças tinham que obter uma nota mínima para continuarem com o Bolsa Família. Há gente até que virou doutor: adicionado com outras políticas públicas, a partir do Bolsa Família, chegou à universidade, recebeu o ProUni, o Fies. Foram políticas públicas que permitiram muitos cidadãos terem acesso aos estudos e se tornarem doutores.

    Por isso é que hoje estão aparecendo muitos engenheiros, muitos médicos, enfim, muitos profissionais de todas as profissões, filhos de pedreiros, filhos de negros, que saíram da periferia beneficiados pelas políticas públicas. E é por isso que há o aumento do número de universidades, porque nós criamos mais de 18 universidades no País, além dos institutos federais, para também avançarmos na interiorização da formação de técnicos. Só lá no meu Estado, Senador Paim, há cem anos nós só tínhamos uma universidade, e foi a partir do governo Lula que nós criamos mais três e criamos o Instituto Federal, que agora está localizado no interior afora do Pará em cerca de dez polos de Municípios estratégicos para a formação de técnicos com nível superior.

    E avançamos em políticas públicas com o Minha Casa, Minha Vida; o Luz Para Todos; o Mais Médicos; o Mais Creches. Foram políticas públicas de inclusão e um processo de desenvolvimento que gerou 22 milhões de empregos.

    E fomos mais longe. Para a gente recuperar essa possibilidade de também estar incluído no desenvolvimento mundial, nós fomos vanguarda de um processo de desenvolvimento mundial inclusive na questão da soberania do nosso País, evitando a criação da Alca na América Latina, ajudando a criar o G20. E ousamos mais ainda: avançamos e criamos os BRICS. Não é à toa que o B de BRICS é B de Brasil. Portanto, somos um país que chegou a este nível de se aliar em BRICS: B de Brasil, R de Rússia, I de Índia, C de China e S de África do Sul. E avançamos num processo inclusive da criação de outro banco mundial de desenvolvimento, para poder alavancar outros países em desenvolvimento.

    Então, foram esses avanços e conquistas que nós construímos no nosso País a partir dos nossos governos.

    Pois bem, agora está muito claro que o golpe, apesar da narrativa da Globo, não foi para combater a corrupção, mas exatamente para resgatarem o poder político do País e para eles voltarem a implementar as suas políticas do velho neoliberalismo, que também já estava caindo em outros países centrais, como na América do Norte, a partir dos Estados Unidos, e na Europa, a partir do chamado núcleo do Euro, que estava falido. Por isso eles precisam tomar conta de novo dos países que são ricos em commodities. Eles querem impor uma política interna para os nossos países, através do processo de exportação no controle dos bancos internacionais, do capital financeiro; querem impor políticas no nosso País se contrapondo a uma política de capital nacional, que fortalece o setor produtivo.

    É o setor produtivo que gera emprego, é o setor produtivo que gera a possibilidade de desenvolvimento nacional. Por isso, nosso País está aí.

    Aliás, a receita que logo o Temer implementou pós-golpe foi exatamente isto. Qual é? Aquela velha cartilha: reduzir orçamento – por isso a PEC que apelidamos de "fim do mundo", para cortar orçamento público – e reduzir direitos. É aquela velha máxima, Paim – e nós entramos para o movimento sindical exatamente para nos contrapormos a isto –, de que os trabalhadores têm muitos direitos neste País e isso impede o desenvolvimento.

    Então, é essa velha máxima contra a qual nós nos rebelamos desde lá, no chão da fábrica, no processo de construir um sindicalismo forte, para processar, cada vez mais, a proteção da relação capital e trabalho. Pois bem, essa é a cartilha que está sendo implementada.

    Então, companheiros e companheiras, aqueles que estão nos assistindo, outra coisa que eles queriam fazer é acabar com a nossa raça. Isso veio, num primeiro momento, lá na época do mensalão, e foi dito pelo Bornhausen. Ele disse assim: "Nós vamos aproveitar este momento e vamos acabar com essa raça".

    Então, eles querem acabar com a nossa raça, querem acabar com o PT, querem abater... Tiraram a Dilma e queriam – como se chama? – a taça. A taça que eles queriam era exatamente a prisão do Lula. E foram fazendo isso.

    Para isso, eles ganharam parte do Judiciário e parte do Ministério Público, para poder criminalizar a política e principalmente os políticos que estavam no poder, principalmente o Partido dos Trabalhadores, principalmente o Lula. Tem que se criminalizar, tem que se mostrar na narrativa que eles é que são corruptos. "Foi, a partir do governo do PT, que surgiu a corrupção no País", dizem eles, diziam eles. Então, escancarou-se toda essa investigação contra nós, de uma forma seletiva, de uma forma organizada, combinada com a propaganda.

    Naquela prisão, naquela condução coercitiva do companheiro Jaques Wagner, a Globo chegou antes de a Polícia Federal chegar. Não combinaram direito o horário – "Olha, nós vamos chegar a tantas horas, chegue depois". Então, tal era a combinação do processo.

    E não é à toa que eles já foram para cima do Lula. Como já estavam criminalizando o Lula e se dizia que Jaques Wagner poderia ser o substituto do Lula, eles foram para cima do Jaques Wagner.

    Então, isso tudo está ficando às claras, está sendo desmascarado o próprio Judiciário. Quando o Lula, lá no início, disse que o nosso Supremo estava acuado, todo mundo, até internamente, achou isso muito forte – estava acuado. Está aí: a Rede Globo é que dita os votos dos nossos ministros, antecipa o voto dos nossos ministros.

    E agora fica mais claro ainda que, depois da prisão do Lula, o Santo, que é o principal... Parece que eles estão encontrando um candidato que possa disputar com a gente, que é o Alckmin, porque já experimentaram o Doria, já experimentaram o Huck, já experimentaram não sei quem mais. E agora parece que estão tentando consolidar o Alckmin. A Justiça já tirou o Alckmin da lista dos investigados da Lava Jato, para que ele seja investigado lá no TRE de São Paulo.

    Então, está muito claro que o centro da questão do nosso País que levou ao impeachment, às investigações da Lava Jato e a esse processo que se implementou contra o companheiro Lula, que foi um processo dirigido...

    Olha só, nas instâncias superiores, um julgamento desse, uma investigação dessa passa cinco, dez, vinte anos para chegar às instâncias superiores. O caso mais gritante foi o do Maluf, passou cinquenta anos. O do Mensalão do PSDB, que aconteceu antes do PT... Todos nós fomos condenados. Agora, chegou à segunda instância o do PSDB de Minas Gerais, está condenando, mas não foi preso, depois de quinze anos. E o processo do Lula chegou às instâncias superiores em apenas seis meses. E já o prenderam.

    Então, tudo isso – o poder econômico, principalmente do capital financeiro; o poder de manipulação das opiniões públicas, principalmente vanguardeado pela Rede Globo; o poder policial e autoritário de parte do Judiciário e de parte também do Ministério Público – levou a esse processo. Mas mesmo assim não nos abatem, não nos calam, não acabam com a nossa raça. Está aí o resultado das pesquisas: Lula, mesmo preso, ganha as eleições neste País.

    Os outros aí, o tal de Santo, está lá na rabeira, como a gente diz no meio da peãozada, ele é o fona, ele é o derradeiro, enquanto o companheiro Lula vanguardeia e aparece nas pesquisas em qualquer cenário que eles colocam, inclusive no primeiro e no segundo turno, e pode correr o risco de ganhar no primeiro turno.

    Por isso, a gente reafirma, e não são as pesquisas que dizem, é o povo brasileiro: o Lula é candidato a Presidente da República. Não há plano B, plano C, plano D, é plano L, plano Lula...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO ROCHA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – ... para ver se a gente resgata, primeiro, a democracia; segundo, a soberania do nosso País perante outros povos; terceiro, a possibilidade de este País ser realmente um país para todos, em que a gente não veja de novo nos jornais ou nas pesquisas do próprio Governo que a miséria está voltando ao lar dos pobres brasileiros. As ruas das grandes capitais estão enchendo de novo de pedintes, estão enchendo de moradores de rua, estão enchendo de novo de crianças pedindo nos sinais deste nosso País.

    Por isso, companheiros e companheiras, nós queremos dizer para vocês e para todos aqueles que estão nos assistindo que nós...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO ROCHA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – ... vamos enfrentar este momento difícil por que o PT está passando, por que a nossa Liderança maior está passando, numa prisão, inclusive, solitária.

    Aliás, amanhã, nós vamos, cerca de dez ou doze Senadores, a Curitiba, representando uma comissão que nós conseguimos passar aqui no Senado, uma comissão externa, a partir da Comissão de Direitos Humanos, que vocês dois presidem. Hoje a Senadora Regina preside essa Comissão. Nós vamos lá averiguar as condições humanas e de prisão em que o companheiro Lula está vivendo lá, porque eles querem isolá-lo, querem calá-lo, querem impedir que o Partido dos Trabalhadores volte a governar este País, porque eles sabem que, se colocarem o nome do Lula nas urnas e as abrirem, ele será o novo Presidente da República deste País. É isso que incomoda alguns.

    E nós estamos aqui de cabeça erguida, porque nós podemos ter cometido alguns erros, como Parlamentares, como prefeitos onde nós fomos prefeitos, como governadores onde nós fomos governadores, o próprio Lula como Presidente da República, mas nós não traímos a classe trabalhadora, nós não mudamos de lado, nós não cedemos aos poderosos. Nós cumprimos o nosso papel a que nós nos propusemos como Partido dos Trabalhadores, que era transformar este País numa nação...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO ROCHA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – ... onde todos fossem cidadãos, com dignidade. O que nós queremos é que o trabalhador tenha dignidade e que a sua família tenha felicidade. É por isso que nós brigamos e é isso que nós queremos.

    É por isso que nós queremos que o Lula seja livre para ter condições de disputar essas eleições de igual para igual com todos, para que possamos voltar a governar este País e que a relação entre as pessoas, a relação entre as entidades, a relação entre as estruturas sejam uma relação de solidariedade, uma relação de uma sociedade onde as relações sejam voltadas para o respeito aos direitos humanos e à dignidade da pessoa humana.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/04/2018 - Página 44