Discurso durante a 46ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a homenagear, in memoriam, o Arcebispo de Natal, D. Nivaldo Monte.

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a homenagear, in memoriam, o Arcebispo de Natal, D. Nivaldo Monte.
Publicação
Publicação no DSF de 17/04/2018 - Página 17
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, HOMENAGEM POSTUMA, ARCEBISPO, LOCAL, ATUAÇÃO, CIDADE, NATAL (RN), ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN).

    O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Social Democrata/DEM - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Srª Presidente desta sessão, Senadora Fátima Bezerra; Senador Garibaldi Filho; senhor representante da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e ex-Ministro do Superior Tribunal de Justiça, meu amigo Ministro Delgado; Reitora Ângela Paiva, da nossa UFRN; estimado amigo Côn. José Mário de Medeiros, que representa aqui a Arquidiocese de Natal; o Sr. Roberto Monte, a quem quero cumprimentar em nome do Senado; assim como os familiares de D. Nivaldo; e todos os amigos que vieram, do Rio Grande do Norte, do Rio Grande do Sul, enfim, do Brasil inteiro, para homenagear uma figura singular que foi D. Nivaldo Monte.

    Eu fui, Ministro Delgado, Prefeito de Natal de 1979 a 1982 e Governador de 1982 a 1986 e tive o privilégio de, nesse período todo, conviver com D. Nivaldo Monte como Chefe da Igreja do nosso Estado. Eu posso dizer que privei, com D. Nivaldo, de momentos de tensão e de momentos de felicidade, de confraternização.

    Eu diria que D. Nivaldo foi um conselheiro, foi um amigo, foi um crítico, mas, acima de tudo, foi um homem de respeito. Eu diria que D. Nivaldo foi um cidadão marcado pela característica de ser conciliador, muito afável no trato, mas obstinado nas atitudes. E aí eu queria fazer algumas observações.

    Aqui foi mencionada a criação da Escola de Serviço Social. Na década de 50, lá atrás, não existia a UFRN, não existia a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, mas começaram a existir algumas faculdades. Talvez a primeira de todas tenha sido a Escola de Serviço Social, que surgiu junto com a Faculdade de Odontologia e Farmácia, depois a de Economia, depois, para o Onofre Lopes, a de Medicina... Mas talvez a pioneira tenha sido a Escola de Serviço Social. Para formar quem? Assistentes sociais. Por inspiração de quem? De D. Nivaldo Monte. Ele se preocupou com a economia, com a engenharia, com a arquitetura? Não, se preocupou com os mais humildes, que precisavam de assistentes sociais formados. Ele criou e quase que construiu, Garibaldi, a Escola de Serviço Social, onde hoje funciona a Câmara de Vereadores de Natal. Aquele prédio, Côn. José Mário, foi feito pelas mãos operosas, obstinadas de D. Nivaldo, para ali instalar uma semente ou embrião do que viria a ser a nossa Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ele foi precursor no tempo a favor dos pobres, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

    Ele era um obstinado. Como foi obstinado? Ele foi aluno, o senhor sabe, D. Côn. José Mário, do Seminário de São Pedro, que fechou. De 1969 a 1977, fechou, e ele, como ferrinho de dentista, a vida inteira buscou reabrir. E reabriu, em dezembro de 1977, ele conseguiu reabrir o Seminário onde ele estudou. Ele era um obstinado em favor de quê? Era o pastor, era um homem caridoso, era um homem de fé e era um homem acima do seu tempo.

    Ele tinha uma característica diferente de D. Eugênio. D. Eugênio era um homem de atitudes muito fortes, polêmico. D. Nivaldo era um conciliador, um homem afável. Mas eles foram muito amigos, e, pela amizade deles, nasceu a Rádio Rural. Nasceu para quê? Para entreter as pessoas? Mais, muito mais do que para isso: para fazer com que o ensino à distância ocorresse pela Rádio Rural do Rio Grande do Norte, produto da ação de D. Nivaldo, de D. Eugênio; para que os sindicatos rurais tivessem voz e ação através da Rádio Rural.

    Isso tudo precisava ser dito nesta hora em que se homenageia uma figura singular que foi D. Nivaldo Monte. Ele foi mais do que isso: foi um botânico. Eu me lembro de D. Nivaldo nas secas que enfrentei como Governador. E eu me aconselhava com ele, conversava com ele, sentia confiança nele. Quantas vezes conversei com ele sobre as ações que eram necessárias para superar os efeitos da crise da seca?!

    E ele, quando deixou o arcebispado, foi terminar em Emaus, na Granja do Clero, para firmar a vocação de botânico, cuidando de espécies, de enxertias, vivendo daquilo que ele gostava de viver e deixando como legado, para o clero, o clero de Emaus, a Granja de Emaus.

    Nada mais justo do que o Parque da Cidade de Natal, um parque com mais de 100ha, que preserva as dunas, que preserva parte da Mata Atlântica, ter recebido o nome de D. Nivaldo Monte pela generosidade e pelo reconhecimento do Prefeito Carlos Eduardo Alves, para imortalizar D. Nivaldo.

    Ele merecia isso. Ele merece esta sessão e merece muito mais, como mereceu que o Parque da Cidade de Natal tivesse o nome de Parque Dom Nivaldo Monte, para homenagear uma das características que teve em vida, o botânico, o homem ligado à natureza.

    Eu digo isso para fazer uma referência também ao homem de letras. Ele escreveu não sei quantos livros. Ele foi colega de tantos literatos, a começar por Jorge da Cunha Lima, José Mário Galvão, Ministro Delgado.

    Ele escreveu não sei quantos livros sobre diversos assuntos, mas um dos títulos que mais me comovem é O Coração é para Amar – O Coração é para Amar! Isso resume a filosofia de vida de D. Nivaldo, um homem puro, um homem simples, que visitei na UTI.

    Eu tive a oportunidade, Ministro Delgado, de estar com o meu amigo D. Nivaldo Monte na UTI do Hospital São Lucas, perto de ele morrer. Ele morreu um mês depois. Ele ainda estava ativo. Receberam-me, e ele estava numa UTI até grande, numa chaise-longue, onde ficou sentado. E eu passei um bom tempo conversando com ele, um bom tempo conversando com ele sobre as nossas recordações positivas e sobre as dificuldades que juntos enfrentamos, quando tive a oportunidade de agradecer-lhe o que foi em vida. E quero quase que encerrar esta minha fala despretensiosa, mas sincera, em relação a D. Nivaldo, falando do amigo que ele foi. Porque é preciso registrar. Ele talvez tenha sido um dos melhores amigos do meu pai, Tarcísio Maia, que foi Governador quando ele era Arcebispo; Tarcísio Maia, de quem ele foi amigo e cuja Missa de 7º Dia ele rezou na Catedral.

    Roberto Monte, foi uma das homilias mais bonitas que eu ouvi na minha vida, foi uma homilia do amigo para o amigo, de D. Nivaldo para Tarcísio Maia.

    E eu quero aqui terminar as minhas palavras com este gesto de reconhecimento ao cidadão a quem o Rio Grande do Norte deve muito...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Social Democrata/DEM - RN) – ... pelo exemplo de vida.

    Já vou terminar, vou cumprir rigorosamente o meu tempo.

    Pelo exemplo de vida e dizendo de D. Nivaldo aquilo que acho que muitos tinham vontade de dizer: D. Nivaldo foi um homem do bem. Não é um homem de bem, foi um homem do bem, um conciliador e, acima de tudo, um benfeitor do nosso Rio Grande do Norte.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/04/2018 - Página 17