Pronunciamento de Paulo Paim em 19/04/2018
Discurso durante a 51ª Sessão Especial, no Senado Federal
Sessão especial destinada a homenagear os povos indígenas, em razão do Dia do Índio.
- Autor
- Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
- Nome completo: Paulo Renato Paim
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM:
- Sessão especial destinada a homenagear os povos indígenas, em razão do Dia do Índio.
- Publicação
- Publicação no DSF de 20/04/2018 - Página 42
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM
- Indexação
-
- SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, DIA, INDIO.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Meu querido amigo Senador Telmário Mota, eu estava presidindo uma outra sessão que discutia a dívida dos Estados.
Confesso a vocês que eu estava presidindo lá, mas o meu coração dizia... (Pausa.)
Tu tens que ir ao plenário... (Pausa.)
Recebi o discurso pronto, ele está aqui. Ele é técnico, é ilustrativo, fala da dívida que este País tem com vocês, mas eu não vou ler o discurso. Deixo nos Anais.
Telmário, uma sessão como esta tem que ficar cravada em nossas mentes e tem que ir para a história do nosso País. Quem de nós não tem claro – eu digo meu Deus, meu Deus – que a nação indígena, em sua grande maioria, foi violentada, assassinada, torturada e retirada do seu berço natural que é a terra? Quem não sabe?
Este País tem uma dívida histórica com vocês. Tem com os negros? Tem. Eles foram sequestrados em seu continente natal, o continente africano, e aqui viraram escravos. Mas vocês estavam aqui, cultivando a terra, defendendo o meio ambiente, sendo parceiros da natureza, amando o rio, as águas, as florestas, o sol, as estrelas.
E vocês só queriam isto: "Deixem que a gente viva em paz nesta terra chamada de Pau-Brasil." E ali surgiu o nome.
Hoje, na Comissão de Direitos Humanos, e digo que, nesses anos todos que eu passei por lá, foram inúmeras audiências. E aqui vocês dizem corretamente, o protesto. Audiência, sim; discurso, sim, mas muito poucas foram as soluções.
Onde estão as soluções para garantir definitivamente os espaços dos seus antepassados? Aqui? Ao longo dos corredores, onde vejo crianças sentadas com as mães, como se estivessem na oca, como V. Exª dizia?
O Brasil tem uma dívida com vocês que não é paga com dinheiro, mas é paga, sim, com infraestrutura, atendendo às demandas, mantendo as tradições da comunidade indígena, com carinho e o amor que vocês merecem. Claro que eu entendo, jovem, quando vai à tribuna e diz: "Eu não estou aqui para festejar porque eu não tenho nada a festejar. Eu estou aqui para protestar", e é assim que eu subi nesta tribuna irmanado com vocês, solidário a vocês.
Eu recebo, Telmário, principalmente por teu intermédio, muitos relatos da realidade do povo indígena e aqui da tribuna, Telmário, eu só quero dizer que dizem que quem defende quilombola e indígena não ganha voto. Eu diria para aqueles que dizem isso que eles não entendem que as políticas humanitárias é que norteiam a nossas vidas. Com voto ou sem voto, eu quero dizer que eu amo o povo indígena. (Palmas.)
Quero dizer que caminharemos juntos como sempre caminhamos, Telmário. Tantos anos nesta Casa – desde a Constituinte estou – e muitas vezes vi, sim, quando a delegação indígena chegava, aquele preconceito que têm contra negro e que existe contra indígena também. Eu via no olhar de alguns e, vocês sabem que existe, dizia: Qual é o problema? São nossos antepassados que estão aí, que é a mistura do nosso povo. Mas via no olhar de cada um – e aqui vocês representam toda a nação indígena do nosso País – o olhar de esperança, o olhar de dizer, não pedindo, implorando nada: "nos deem somente aquilo que é nosso, somente aquilo que é nosso". E vocês, com o olhar, apontavam.
Aqui, por mais que eu lesse esse pronunciamento, nem chegaria perto das falas das duas últimas que ouvi aqui: daquela Srª – como é o nome da senhora? –, a Tenente Silvia; e da outra senhora que ouvi quando cheguei e que foi a última a falar, a Angelita. Vocês – e também quando é um discurso lido – falavam e falavam com a alma, com o coração, com sentimento, com a energia, diria, das florestas, dos rios, da natureza, dos animais, mas principalmente falavam com a alma do povo indígena.
Um dia, eu ouvi uma frase que jamais esqueci que diz o seguinte: "Quando eu morrer, enterre meu coração na curva do rio." Foi um grande cacique indígena que disse essa frase. Isso mostra o amor por aquilo que é mais nobre, que é a vida, porque a vida é a água, a vida é o rio, a vida é o vento, a vida são os pássaros, a vida são os animais na floresta, a vida é o que vocês plantam para alimentar seus filhos e a caça, que é natural.
Amigos, se eu pudesse, eu confesso... Uma vez, aqui, na Constituinte, recusaram um aumento mínimo do salário mínimo. Eu queria só que o salário mínimo chegasse a US$100. Saí da tribuna, fui ali, me ajoelhei e pedi. Eu quero terminar com isso. Telmário, permita-me... Telmário, eu quero sair da tribuna... Porque não é o discurso que resolve, mas eu acho que o gesto vale mais que mil palavras.
Eu vou sair daqui, vou me ajoelhar ali e vou pedir perdão ao povo indígena. Mas que esse meu gesto, de joelhos, pedindo perdão em nome de todos os brasileiros, seja uma mensagem para que atendam às reivindicações básicas dessa gente tão querida, tão sofrida, tão amiga...
E lembro aqui que, lá no meu Rio Grande, quando queriam invadir o Brasil, foi Sepé Tiaraju que disse "esta terra tem dono", e ninguém entrou por aquela fronteira. Eles pelearam, pelearam até morrer.
Vida longa à nação indígena! Que a imagem de Sepé e de tantos líderes da história do povo indígena nunca seja esquecida!
Permita-me, Telmário, que eu saia da tribuna e faça este gesto, que é um gesto de coração. Eu quero pedir perdão a esse povo todo. Perdão! Perdão, nação indígena! Perdão! Perdão!
Um abraço a todos vocês.
DISCURSO NA ÍNTEGRA ENCAMINHADO PELO SR. SENADOR PAULO PAIM.
(Inserido nos termos do art. 203 do Regimento Interno.)