Discurso durante a 50ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque para a necessidade de reorganização da educação no Brasil, em especial da Base Nacional Comum Curricular, bem como a reforma do ensino médio.

Autor
Marta Suplicy (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SP)
Nome completo: Marta Teresa Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Destaque para a necessidade de reorganização da educação no Brasil, em especial da Base Nacional Comum Curricular, bem como a reforma do ensino médio.
Publicação
Publicação no DSF de 19/04/2018 - Página 43
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • REGISTRO, AUSENCIA, ACESSO, EDUCAÇÃO, QUALIDADE, BAIXA RENDA, CLASSE MEDIA, COMENTARIO, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, REORGANIZAÇÃO, CURRICULO, ENSINO MEDIO, DEBATE, COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS (CAS), ASSUNTO, PROJETO, REFORMA, ENSINO.

    A SRª MARTA SUPLICY (Bloco Maioria/PMDB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Meu tema vai ser educação.

    Toda mãe e todo pai querem o progresso de seus filhos. E sabemos, faz muito tempo, que, para subir na vida, os que têm mais chance são os que têm mais anos de estudo e são formados nas chamadas profissões de futuro. Mas o Brasil tem um problema muito sério para quem é pobre, para quem é de classe média. Os estudantes, principalmente os que frequentam escolas públicas, não conseguem ingressar nos melhores empregos e nas melhores possibilidades. Estão muito longe disso. Não chegam aos melhores postos de trabalho, porque têm dificuldade para ler, para escrever, para interpretar e lhes falta raciocínio lógico.

    O fato é que eles não estão aprendendo nas escolas. Um grande número tem desistido de estudar. É um ciclo ruim. Vão mal na escola, desistem de estudar, ficam no desemprego, no subemprego, a vida não melhora. É impressionante o número de jovens, quando você vai aos lugares mais carentes, que estão encostados na parede. Alguns até acabaram o ensino médio, mas é um ensino médio que não qualifica para nada. Outros saíram da escola, porque não se sentiram contemplados com o que a escola estava oferecendo.

    É desnecessário trazer mais números e estatísticas. As pessoas estão cansadas de discursos cheios de números. Já sabem disso. Essa situação é uma realidade nas ruas, nos bairros, nas cidades grandes, nas cidades pequenas. Se quisermos mudar essa situação de desigualdade, se quisermos realmente dar uma virada nesse jogo, precisamos investir em educação, o que todo o mundo sabe. Eu acredito que isso não é discutido e não deva ser o foco principal. Agora temos que investir. Mas o que estamos fazendo de fato?

    Primeiro, é preciso lembrar que ontem foi aprovado, no nosso Congresso, um empréstimo grande para educação, que vai provavelmente ajudar bastante. Mas vamos ao que está sendo feito agora. As pessoas perguntam o que está sendo feito, porque aparentemente não está sendo feito nada. Por isso, hoje eu quero falar do que está sendo feito, que, em linhas gerais, parece-me, está indo bem e está no rumo certo, mas precisa ser mais bem explicado, compreendido, comunicado.

    Tudo é falado de modo muito complicado. Então, eu vou dar um exemplo para vocês de uma parte para o ensino médio que diz sobre habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos. Este é o item EM13MAT105. O professor recebe que ele tem que desenvolver essa habilidade que é: "Utilizar as noções de transformações isométricas (translação, reflexão, rotação e composições destas) e transformações homotéticas para analisar diferentes produções humanas como construções civis, obras de arte, entre outras". Eu pergunto para vocês... Uma professora, para entender isso, vai ter que se concentrar, estudar para entender. Eu já não entendi nada. Acho que isso tudo podia ser transmitido de uma forma muito mais fácil. Agora, querer que a população, os pais ou mesmo nós que estamos aqui entendamos essa linguagem, eu acho que está muito complicado, não é por aí.

    Eu quero falar da necessária reorganização da educação no País, especificamente da Base Nacional Comum Curricular, porque está certo o caminho, é por aí. Agora, tem que mudar algumas coisas. Essa parte da base curricular do ensino fundamental foi muito bem feita. Agora, nós estamos adentrando essa segunda parte que é do ensino médio.

    Mas o que é essa base? Vamos traduzir, porque também, para conseguir destrinchar e conseguir entender e traduzir, eu demorei um pouco. O que eu entendi que é a base nacional: é o que deve ser ensinado desde a creche, passando por crianças, pré-adolescentes, adolescentes, até o final do ensino médio.

    Já começou a implantação na creche e no ensino fundamental. Para a creche e para o ensino fundamental, nós já temos bem elaborados os currículos, o que o professor deve ensinar, matéria, carga horária, fruto de debates realizados com professores, redes de ensino das cidades, dos Estados. Isso demorou bastante tempo para ser elaborado.

    O site do MEC também está bom, tem tudo muito acessível para os professores acompanharem os roteiros, os coordenadores pedagógicos estruturarem planos de trabalho. Está caminhando bem, muito bem. Mas, dentro da Base Nacional Comum Curricular, agora começam as discussões para as mudanças no ensino médio. Essa que eu acabei de ler é uma das diretrizes.

    Portanto, neste ano, já está em curso um amplo debate neste País, que deve estar acontecendo nas escolas – se eu não me engano, hoje acontece um importante em Minas Gerais –, nas cidades, nos Estados, com pais, com mães, com professores, com pedagogos, com diretores de escola, e estão sendo desenvolvidos também com gestores públicos. Buscando o quê? Que, ao terminar o ensino médio, os estudantes leiam, escrevam, pensem, sejam criativos e tenham raciocínio lógico.

    Eu brinco que, muitas vezes, o ótimo é inimigo do bom. Seria bom que os estudantes pudessem acompanhar o que está previsto e os professores pudessem ensinar o que está proposto na área de matemática, português e também nas áreas que estão sendo colocadas, humanas, linguagens e as outras duas. O problema que eu vejo – e tenho ouvido críticas dos que fazem a reforma do ensino médio – é que, com as condições atuais, nossos professores teriam muita dificuldade para uma nova realidade, que é oferecer uma formação com base em áreas.

    O Governo fez uma ação interessante, que foi a de pôr recursos, R$1 bilhão, para a Universidade Livre, para o Pibid, também para a Residência Pedagógica, tudo isso está na direção correta, mas, agora, nós estamos percebendo, já, o que pode talvez acontecer, porque nós temos que pensar em como ajudar também.

    Algumas escolas vão ser referência em determinadas matérias, no lugar de outras; vai-se criar muita desigualdade de oportunidade; alunos buscando querer se formar, por exemplo, em Biologia: tenho interesse por Biologia! Então, eu vou procurar uma escola onde isso está mais forte. Mas essas questões vão ocorrer e vão-se adaptando.

    Mas eu acho que, talvez, o problema grande é nas universidades. Nós tivemos aqui um debate na CAS, em que um dos reitores de universidades colocou, de forma negativa, que esse projeto é disruptivo para as universidades. Eu achei que ele está equivocado. É disruptivo e tem que ser, já que estamos fazendo uma revolução na educação.

    É que as faculdades vão ter que se readaptar no ensino. E que se readaptem, porque nós temos uma evasão enorme desses cursos. Os professores têm uma formação precária, eles também não ficam nos cursos e o que eles aprendem não é suficiente para darem aulas satisfatórias. Por isso que essa reforma está sendo pensada. Mas nós não vamos chegar a lugar nenhum se nós não conseguirmos mudar as universidades que formam os professores, porque vão continuar dando as aulas com os mesmos parâmetros que sempre deram.

    Então, nós temos, aí, um desafio gigantesco para lidar com tudo isso.

    A reforma do ensino médio deve ser uma ação das bases de fato. Outra questão que está surgindo é que se corre o risco de se colocarem as instituições, os representantes de classe, associações de profissionais, direção de escola discutindo currículo. Quem tem que discutir currículo é professor, que está lá, na ponta. Eles têm que estar em todas essas oitivas e têm que ser a maioria. Não que os outros não possam estar, devem estar também, mas eles têm que ser ouvidos.

    Nós estamos no meio do caminho. Aliás, acho que no ensino médio...

(Soa a campainha.)

    A SRª MARTA SUPLICY (Bloco Maioria/PMDB - SP) – ... a gente ainda não está no meio do caminho. Nós estamos começando.

    Como Presidente da CAS e membro da Comissão de Educação, eu venho trabalhando, querendo colaborar nesse processo todo, da formação do professor, do novo currículo do ensino médio. Na Comissão de Educação, nós já fizemos uma audiência pública para debater a formação de professores.

    Eu não vou ter tempo de terminar aqui a minha fala, mas eu vou só dizer que, então, como Presidente da CAS, nós vamos fazer também, agora, junto com a Educação, uma audiência pública para falar das habilidades que têm que ser desenvolvidas para o século XXI.

    O interesse é grande, o debate vai sendo modificado, mas, para construirmos esse currículo médio, nós vamos ter que escutar muito. Não temos que ter pressa, temos que ter a paciência de construção, como foi no ensino fundamental, que acabou tendo o resultado que, tudo indica, está sendo bastante produtivo.

    Muito obrigada, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/04/2018 - Página 43