Discurso durante a 63ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários acerca da Campanha da Fraternidade do corrente ano, cujo tema é “Fraternidade e superação da violência”.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO:
  • Comentários acerca da Campanha da Fraternidade do corrente ano, cujo tema é “Fraternidade e superação da violência”.
Publicação
Publicação no DSF de 08/05/2018 - Página 54
Assunto
Outros > RELIGIÃO
Indexação
  • COMENTARIO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, ANO, ATUALIDADE, ASSUNTO, ATUAÇÃO, FAVORECIMENTO, PAZ, REDUÇÃO, VIOLENCIA.

    O SR. VALDIR RAUPP (Bloco Maioria/PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Obrigado, Sr. Presidente, Senador Paulo Rocha.

    Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, minhas senhoras e meus senhores, Sr. Presidente, antes de iniciar a minha fala, gostaria de agradecer a presença do meu primeiro suplente no Senado, o Dr. Tomás Correia, que veio para uma reunião, como Presidente do PMDB de Rondônia, com o Presidente da República e outros presidentes de diretórios estaduais, que vai acontecer hoje à noite. Seja bem-vindo mais uma vez, Tomás Correia, ao plenário do Senado Federal, V. Exª que já ocupou também a cadeira de Senador da República e que desempenhou com...

(Interrupção do som.)

    O SR. VALDIR RAUPP (Bloco Maioria/PMDB - RO) – Acho que o Presidente está me dando mais tempo aqui, houve uma falha aqui.

    Sr. Presidente, eu falava que o Senador Tomás Correia, quando ocupou a cadeira do nosso gabinete aqui em Brasília, desempenhou com maestria o seu papel, até porque ele é um político nato. Foi Deputado Estadual Constituinte, foi prefeito da nossa capital, Porto Velho, e agora já há quase 16 anos no Senado, como primeiro suplente no Senado Federal.

    O tema da Campanha da Fraternidade deste ano "Fraternidade e superação da violência" não poderia ser mais oportuno, relevante ou atual.

    E é significativo que a CNBB nos convide a refletir sobre o tema, fazendo referência a uma passagem do Evangelho de Mateus. Mateus, como se sabe, foi um dos 12 apóstolos, um dos indivíduos que se tornaram companheiros e discípulos de Jesus Cristo.

    Conta-se que, muitos anos após a crucificação de Jesus, Mateus foi pregar os ensinamentos cristãos na região onde hoje fica a Etiópia. Lá disse certas coisas que algumas pessoas não queriam ouvir, e por isso foi assassinado.

    Alguns afirmam que ele foi apunhalado pelas costas; outros, que foi apedrejado, queimado e decapitado. Ele foi vítima da violência que imperava na região naqueles tempos. Uma das ideias que Mateus pregava e que ele deixou registrada no Capítulo 23, Versículo 8, de seu Evangelho, teria sido formulada por Jesus, ao demonstrar para uma pequena multidão o erro que muitos cometiam ao valorizar excessivamente as diferenças em detrimento das semelhanças entre as pessoas. Foi então que, segundo Mateus, Jesus disse a frase que é justamente o lema da Campanha da Fraternidade de 2018: "Vós sois todos irmãos".

    A violência, como bem disse D. Leonardo Steiner, Bispo Auxiliar de Brasília e Secretário-Geral da CNBB, "tem muitos aspectos, muitas nuances". Ela se espalha, hoje, por todo o território nacional, seja nas cidades grandes, médias e pequenas, seja na zona rural. Ela não discrimina suas vítimas: homens, mulheres, crianças, idosos, pobres ou ricos. Ela é plural, é criativa, ataca por todas as frentes.

    E ela assume as formas mais diversas, como a violência contra a mulher, a violência psicológica, a violência sexual, a discriminação, a violência virtual, o bullying, o abandono e a negligência.

    A violência é caso de polícia. É incumbência do Ministério Público e da magistratura, mas também das políticas públicas. Nós precisamos de políticas públicas mais fortes para poder combater a violência no nosso País. É um problema que se combate com o aprimoramento do policiamento ostensivo e investigativo; com agilidade e precisão na tramitação processual; e com um sistema penitenciário que consiga fazer valer os preceitos preventivos, punitivos e reabilitativos da lei penal.

    Mas, num país onde a população carcerária dobrou nos últimos dez anos; num país que tem quase 800 mil pessoas presas; onde os presídios estão superlotados, com média de dois presos para cada vaga; onde quatro de cada dez detentos não foram sequer julgados; onde grande parte dos presos é constituída por indivíduos jovens, pobres, pretos e pardos; e onde a maioria dos detentos não completou sequer o ensino fundamental; num país como este, que é o caso do Brasil, uma abordagem puramente policial e penal nunca será suficiente para resolver o enigma e solucionar o impasse da violência.

    A paz social, como já disseram, não se caracteriza apenas por seu aspecto negativo, pela ausência aparente de conflitos ou de atos concretos de violência. A paz social – tão almejada e, ao mesmo tempo, cada vez mais distante – só poderá ser alcançada quando a sociedade brasileira se der conta de que somos verdadeiramente todos irmãos.

    Por isso que eu sempre falo, Sr. Presidente, desde muito cedo, quando fui vereador e prefeito, há mais 30 anos, governador do Estado, há mais de 20 anos, que as igrejas, sejam elas evangélicas, católicas, de todas as denominações, são muito importantes no seio da sociedade.

    É nas igrejas que se congregam as famílias. É lá que se adora a Deus. É lá que as pessoas ficam mais tranquilas. Se toda família, se todo ser humano frequentasse e se congregasse em uma igreja, certamente não teríamos a quantidade de violência que temos hoje. Por isso, respeito e admiro o trabalho de todas as igrejas do nosso País. Tenho dado força e tenho apoiado o trabalho das igrejas, como disse, sejam elas católicas ou evangélicas. Eu já fui católico e hoje sou evangélico, mas a igreja também não está só dentro do templo. A igreja está na rua. Cada um de nós pode levar a paz mesmo fora das igrejas.

    A paz social só será alcançada quando conseguirmos contra-atacar a violência da mesma forma que ela nos ataca – de todas as formas e com todas as armas. É uma batalha cuja vitória só será possível pela via dos princípios democráticos, do fortalecimento das instituições, do combate à pobreza, à discriminação e à injustiça, do desenvolvimento econômico, social e cultural sustentável e da construção efetiva de uma sólida cultura de paz, de uma cultura social solidária e fraternal.

    Meus sinceros cumprimentos à Confederação Nacional dos Bispos por abordar esse tema na Campanha da Fraternidade, mas sei que todas as igrejas, não só as católicas, mas as protestantes e evangélicas também levam a fraternidade a toda a sociedade.

    E faço votos de que o Senado Federal continue atento e devote cada vez mais atenção e mais energia à pauta do combate à violência.

    Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/05/2018 - Página 54