Discurso durante a 65ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de debates temáticos destinada a discutir o tema "A paz no processo eleitoral".

Autor
José Medeiros (PODE - Podemos/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Sessão de debates temáticos destinada a discutir o tema "A paz no processo eleitoral".
Publicação
Publicação no DSF de 10/05/2018 - Página 29
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, DESTINAÇÃO, DISCUSSÃO, PAZ, PROCESSO ELEITORAL.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Muito obrigado, Senador Dário Berger, em nome de quem cumprimento todos da Mesa. Quero cumprimentar todos que estão assistindo a esta sessão e cumprimentar aqueles também que nos acompanham pela TV Senado.

    Quero destacar a pertinência do tema, pelo fato de que se está avizinhando um processo eleitoral. E há tempos a gente já vem num debate bastante fla-flu, como diz o Senador Cristovam Buarque. E há tempos também que o País começa a entrar numa espiral de nós e eles, e, lógico, cada um com suas armas. A gente tem visto pessoas sendo agredidas em aeroportos, dentro de voos, e, como disse bem o Senador Cristovam aqui, a ferramenta principal do embate político tem que ser a palavra, tem que ser os argumentos, tem que ser a força dos argumentos, e não os argumentos da força.

    Entretanto, é bom salientar que, por vezes, Senador Dário Berger, a origem desse acirramento dos ânimos da sociedade começa muito nos formadores, nos agentes políticos, que nem sempre têm o cuidado de fazer um debate calcado nos alicerces da verdade.

    Eu me lembro de um político da minha cidade que dizia o seguinte: "Poder não se dá, poder se toma. Ou se toma pela força dos argumentos ou pela força das armas." Mas acontece que, com o passar do tempo, parece que essa força para tomar o poder passou a ser assim: vale tudo. Aliás, é bem antigo o jargão de que, em uma eleição, pode tudo, só não pode perder.

    A evolução desse tipo de pensamento tem gerado um bocado de prejuízos para a nossa democracia. Não basta algema voadora que paira sobre a cabeça de muitos que estão na política hoje por pensarem assim: eu posso tudo. É tanto que hoje, quando se fala em caixa dois, Senador Cristovam, "não, foi só caixa dois". A pessoa pergunta: "Houve desvios?" "Não, o meu problema é só caixa dois". Como se isso fosse uma coisa menor. E mais, vale tudo no sentido – está tão na moda a palavra – da chamada fake news. Fake news, bem colocado, não é simples mentira, como li hoje nos jornais, é você criar toda uma história, todo um artifício no sentido de mudar a realidade, mudar a realidade contra o seu adversário. Eu me lembro de que participei certa feita de eleição, participei praticamente como espectador – era chamado baixo clero, Senador Cristovam. Nas campanhas, geralmente há o núcleo duro da campanha, o meio, e depois tem o baixo, e eu era do baixíssimo clero, aquela turma que, naquela época, quando se colava cartaz em poste ainda. Bem, mas eu me lembro de que nós estávamos numa eleição bem apertada, e o candidato estava com 60%, 70%. E havia um estrategista lá, que depois ficou conhecido até como presidente do comitê da maldade, que dizia: "Olha, nós vamos soltar isso e isso. Ele deve cair uns cinco pontos. Depois a gente vai fazer isso e isso. Depois é só balançar o coqueiro".

    E aí eu fiquei pensando: o que era balançar o coqueiro. E depois fiquei sabendo que era ir atrás de possíveis calcanhares de aquiles do candidato e soltar isso com toda a força, mas não – e foi aí a primeira vez que vi isso – dentro da campanha, porque ele dizia: "As pessoas gostam da crítica, mas não gostam de quem critica. Então, vamos fazer embarrigamento na campanha do outro". Então, havia outro candidato, e esse candidato mais fraco servia para ser ponta de lança para atacar o adversário.

    Isso não mudou muito, simplesmente essas ferramentas evoluíram e com um poder de destruição muito maior, porque, por qualquer coisa que saia no WhatsApp, acabou. E não vai longe: às vezes, a própria mídia, no afã de dar o furo, acaba com reputações. Não estou falando que é só a mídia. A própria polícia às vezes tem. A polícia no Brasil – hoje está mais comedida, foi aprendendo –, naquela ânsia de dar uma entrevista no Jornal Nacional, Senador Cristovam, não se preocupa às vezes com as reputações. E por aí vai.

    Mas nós estamos discutindo violência na eleição, nós estamos discutindo violência no pleito eleitoral. Isso faz parte de todo um caldeirão, porque, no momento em que não se tem limite de ataque contra um adversário, vem aquela velha lei da Física, toda ação tem uma reação. E mesmo sem armas, mesmo sem uso de pulso, por vezes, se eu pertenço a determinada corrente, eu pago de "isentão" e começo a fustigar de forma a incitar o outro, a irritar. E tem sido muito comum aqui uma tática que tenho visto até no plenário: eu irrito até o limite o meu adversário, quando ele estiver bem irritado mesmo, eu crio um rótulo para ele, seja de fascista, nazista, de que ele incita o ódio ou qualquer coisa assim. E, depois de rotulado, eu começo a pedir paz. Mas, vejam, eu que provoquei! Eu provoco, rotulo e aí eu peço paz para quê? Para eu sair de "isentão", tentar sair por cima.

    Isso não ajuda em nada e cai justamente no que o Senador Cristovam disse aqui. O que está sendo discutido no pleito eleitoral em relação a projetos? O que os partidos têm a oferecer para a Nação? Qual a saída? Você só vê, o tempo inteiro, via de regra, ou se atacando a pessoa do candidato, ou tentando desconstruí-lo, ou atacando o que não se vai fazer, mas pouco você ouve dizendo: "O que eu vou fazer..." Até porque isso não dá muito voto, Senador Cristovam. V. Exª é a prova viva de que as pessoas às vezes não gostam muito de candidato que tem propostas, não gostam de políticos que tenham responsabilidade.

    Eu vejo aqui em Brasília um fato. Toda vez que você vai chegando perto de uma faixa de pedestres, todo mundo para. As pessoas que visitam Brasília chegam nos seus Municípios: "Poxa, em Brasília, eu me sinto cidadão, eu me sinto gente quando eu estou próximo a uma faixa de pedestre." Isso é copiado, isso é admirado no mundo inteiro. Quem fez isso? Cristovam Buarque quando foi Governador. (Palmas.)

    Se você for pegar boa parte dos programas sociais, quem começou? Cristovam Buarque. Se você for pegar a linha dos PSFs que hoje existem, o embrião? Cristovam Buarque. Se você for pegar quase tudo que presta hoje na política nacional, começou nas ideias de Cristovam Buarque. (Palmas.)

    Agora, pergunte, se bater uma pesquisa hoje para governador, ele vai estar em primeiro? Provavelmente não.

    Eu estava conversando com um taxista um dia vindo e perguntei sobre Cristovam Buarque, ele falou: "Ah, não foi um bom governador. Bom governador foi Arruda, que fez esse viaduto; bom Governador foi Roriz, que fez..." As pessoas gostam de concreto, de rua.

    O que se esquece na política e porque às vezes a gente vai se perdendo é porque nós estamos muito mais preocupados com coisas do que com gente. Eu falo isso porque o debate político não tem ido pelo caminho da preocupação com gente, não.

    As coisas têm-se tornado desse jeito porque está degringolado faz tempo. A maioria dos partidos está preocupada em como fazer para ganhar essa eleição. E aí fazem o diabo, como muita gente diz. E depois ficam ensimesmados.

    A maioria aqui deste Parlamento, Senador Cristovam, está o tempo inteiro... Nós temos uns cinco... Que cinco? Tem mais de ano em que uma ala só discute o umbigo, e seus problemas da polícia, e a outra ala tem proposto o quê? Então nós caímos –e já encerro, Sr. Presidente – num debate ruim, pequeno, e um debate raso.

    Eu sempre digo, o Rui Barbosa, que é um dos patronos aqui da Casa... Tem hora que o nível aqui chega a ficar tão pequeno que ele só não põe a mão nos olhos ali, tipo assim, porque a estátua está sem braço. (Palmas.)

    Então, diante disso... E política é a arte de apontar rumo. A política, vamos lá... Na segunda-feira, Senador Cristovam, termina a eleição, o que muda na vida do cidadão, de prático – ganhe fulano, ou beltrano, não importa o lado? De prático mesmo, nada. O servente vai ter que mexer o mesmo traço de massa; o pedreiro, os mesmos tijolos; e por aí vai. Mas por que ele sai tão revigorado do processo eleitoral? Porque ele tem esperança. A política precisa apontar, acima de tudo, rumo e ser uma norteadora de esperança.

    Quando a política deixa de apontar rumos...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – ... quando a política deixa de ser esse norteador, ela começa a ser um monte de coisa que pode desaguar em fundamentalismo, em violência.

    Mas quem tem que começar a pensar nisso? Quem precisa apontar os rumos, que somos nós que estamos aqui. Mas no momento que eu venho aqui, discordo das ideias do Senador Cristovam e o desconstruo como pessoa, como agente político e tudo, o que eu estou passando para as pessoas? Porque ele vai ter um troco, ele vai vir falar e vai dar a mesma coisa. E quem está assistindo vai dizer: É um bando de... E aí não tem mais esperança, não tem mais nada. Fica do lado um grupinho, e outros mais sabidos tentando dividir a sociedade entre nós e eles e se não tomarmos cuidado, daqui a pouco nós vamos ficar igual aos países que assim... Esse grupo é curdo, então acaba, não fica perto de nós. O povo somos nós e os brasileiros somos nós, esses não são. Essa é a divisão que tem sido feita.

    E como fazer isso? Como resolver esse problema? Justamente tem que ser resolvido a partir daqui, dessas discussões e de elevar o nível do debate.

    Agora a pergunta é: A classe política quer isso? Os brasileiros querem isso? Os brasileiros querem Cristovãos, ou querem Arrudas? O problema está só na classe política? Não quero ser o procurador, nem o defensor da classe política, mas essas perguntas são inquietantes, porque toda vez que nos propomos a fazer um debate, eu vou-me pousar de santo, dono da verdade, e os outros... Bom, os outros são o inferno, né? Então, são reflexões que ficam. Eu cada dia me preocupo e me martirizo mais: que tipo de representatividade que eu estou fazendo e que tipo de representantes também o povo quer?

    Eu cito sempre o Senador Cristovam...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – ...porque eu o acho um dos poucos que temos na República e que faz um debate intelectualmente honesto. E é atacado por todos os lados. E, quando você se propõe a fazer um debate honesto, geralmente você é atacado por todos os lados, porque ora você vai agradar um, ora você vai desagradá-los. E foi assim: a casa dele foi pichada, ele foi xingado, outro já o chama de golpista, outro já o chama de petista.

    Quer dizer, na verdade, a gente precisa sair dessas caixas, dessa dicotomia, dessa coisa pequena. Nós precisamos amadurecer politicamente, porque isso aqui está parecendo, às vezes, um grêmio estudantil.

    Muito obrigado, Senador Cristovam.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/05/2018 - Página 29