Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene destinada a comemorar os 100 anos do Dia das Mães no Brasil.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão solene destinada a comemorar os 100 anos do Dia das Mães no Brasil.
Publicação
Publicação no DCN de 10/05/2018 - Página 11
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO SOLENE, CELEBRAÇÃO, CENTENARIO, DIA NACIONAL, HOMENAGEM, MÃE, COMENTARIO, ATUAÇÃO, MULHER.

     A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP-RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, caros amigos.

      O Deputado Federal JHC é o 3º Secretário da Mesa do Congresso Nacional. Cabe a S.Exa. a responsabilidade, a autoridade e a prerrogativa regimental de presidir esta sessão tão significativa de celebração entre Senado e Câmara. Tenho a alegria de compartilhar a autoria do requerimento de realização desta sessão com o meu amigo Deputado Vitor Lippi, do PSDB do Estado de São Paulo e, em particular, da sua querida Sorocaba. Eu sou da minha querida Lagoa Vermelha, lá nos Campos de Cima da Serra, meu caro Deputado Vitor Lippi.

      Eu queria saudar o Sr. Jorge Tsujino, Presidente da Federação Brasileira das Associações Cristãs de Moços; o Sr. Ênio Roberto Ferreira, Presidente da Associação Cristã de Moços do meu querido Rio Grande do Sul -- aqui está a nossa querida Deputada e ex-Governadora Yeda Crusius --; a Sra. Wanda Martchenko, Presidente da Associação Cristã de Moços de Brasília; e a Sra. Marísia Donatelli, representante da Associação Cristã de Moços de São Paulo.

      A todos os senhores, a todos os convidados que nos honram com suas presenças, muito obrigada por estarem aqui.

      O pronunciamento do Deputado JHC resumiu com perfeição tudo aquilo que nós estamos fazendo nesta sessão especial, falando muito da abordagem das iniciativas legislativas e da recuperação dos direitos e da proteção das mulheres, seja na cidade, seja no campo, nas diversas atividades rurais.

      Deputado JHC, eu sou de um Estado agrícola e recorro às mulheres da agricultura familiar, da pequena agricultura, da agricultura empresarial. Todas elas estão hoje convivendo com outros problemas, além da dificuldade com a educação, a saúde, o cuidado com os filhos, o êxodo rural e o aumento da violência na área rural. Nós temos que saudar, neste momento, essas bravas mulheres!

      O texto que ele nos apresentou faz uma abordagem geral sobre tudo isso que foi feito e o que muito mais temos que fazer, sobretudo a consciência de uma sociedade brasileira como a nossa, que tem as mudanças acompanhadas pela tecnologia, que avança, e pelo seu protagonismo.

      Queremos que mais mulheres também tenham um protagonismo aqui no Congresso Nacional, para que usem a sua intuição e a sua sensibilidade para proporcionar legislações mais adequadas e assegurar esses direitos na sua efetividade. Não adianta fazermos leis se as leis não forem aplicadas.

      Hoje vemos mulheres mães ocupando cargos extraordinariamente relevantes. A Presidente do Supremo Tribunal Federal é uma mulher, a Presidente do Superior Tribunal de Justiça é uma mulher, a Procuradora-Geral da República é uma mulher.

      É preciso haver esse olhar, Deputado Vitor Lippi. Precisamos trazer mais mulheres à política. Eu percebo que a participação das mulheres está crescendo enormemente nas carreiras de Estado, estimuladas por uma carreira que lhes facilite planejar a vida. A política não é uma atividade que nos permite planejar a nossa vida, Deputada Yeda Crusius. V.Exa. sabe isso mais do que eu. Nós não sabemos como será o nosso dia hoje ou amanhã. A minha agenda hoje começou às 4 horas da madrugada, quando tive de acordar e ir para o aeroporto. Saí às 6 horas. Antes desta sessão, tive outra audiência. Nós nos multiplicamos.

      Mas essa é a nossa função. Escolhemos cumprir esse desafio como uma mãe zelosa cuida do seu filho. Nós cuidamos do nosso mandato com esse mesmo afeto, com esse mesmo comprometimento.

      Por que nós estamos aqui hoje? Outro dia fui comprar flores e disse ao florista: “Como aumentou o preço das flores!” Ele me respondeu: “Está se aproximando o Dia das Mães”. Por que o preço das flores tem de aumentar? Porque é a época em que mais se vendem flores. As lojas ficam cheias e as vitrines ficam enfeitadas com corações. Eu queria que todos esses corações refletissem muita amorosidade, e não violência contra as mulheres. Apesar de vivermos o impacto do comércio, tem que haver afeto, e os filhos têm que lembrar que Dia das Mães são todos os dias. 

      Quando as mães resolverem fazer uma greve, não dar o café da manhã, o almoço e o jantar para os seus filhos, para os seus maridos, para os seus companheiros, o que vai acontecer? Talvez essa será a greve mais importante da história do nosso País.

      Todas essas facetas envolvem a presença da mãe -- não apenas a mãe biológica, mas também a mãe por relação afetiva, que tem um amor tão grande. Esse amor aparece na ficção, nas novelas, que mostram esse desejo de exercer a maternidade por parte de mulheres que não tiveram filhos biológicos, mas os têm espiritualmente, afetivamente, no acolhimento.

      Eu tive uma mãe dessa forma, durante 4 anos, lá em Porto Alegre: a D. Rosita Ache, que me acolheu vinda do interior, dos confins gelados de Lagoa Vermelha, de um pequeno povoado onde nasci, chamado Clemente Argôlo, que nós carinhosamente chamamos de Estância Velha. Até os 9 anos, eu não tinha ido à escola. Pobre, filha mais velha de uma família de nove irmãos, tive de aceitar sair daquele lugar que não tinha energia elétrica -- era lampião de querosene --, que não tinha nada. Era uma típica vila de faroeste, onde se amarrava o cavalo em frente ao armazém. Eu saí daquele lugar, sem nunca ter estudado, para morar com a D. Rosita Ache, que foi a minha segunda mãe, como eu digo. A minha mãe biológica, fantástica, uma guerreira, Cilene Daros de Lemos, já falecida, e a D. Rosita tiveram um grande empenho para me criar. 

      A D. Rosita me abriu as portas do conhecimento, colocou-me na escola. Durante 4 anos, em Porto Alegre, eu recebi dela todo o cuidado, como se fosse sua filha. Tenho por ela uma gratidão muito grande, tanto quanto pela minha mãe, que faleceu. A minha mãe cuidava dos filhos, lavava roupa para ter dinheiro para o sustento, num tempo em que não havia ferro elétrico. Deputado JHC, V.Exa. é muito jovem e não sabe dessas dificuldades. Era usado um ferro de brasa, que hoje só existe nos museus da zona colonial italiana ou alemã. Esse ferro era enchido com brasas e ficava pesado. O uniforme com o qual íamos para o grupo escolar, à época, era branquinho, era engomado, meu caro Deputado Vitor Lippi.

      Essa mulher fazia tudo isso, fazia pão, fazia cuca para vender, para arrecadar dinheiro. Cada um dos meus irmãos fazia uma coisa. Eu também fiz de tudo. Fui balconista de loja.

      Toda essa riqueza e todo esse acervo de experiências que temos nos tornam mais fortes e nos fazem entender mais as pessoas, entender mais as dificuldades dos outros. Só quem viveu mesmo essas dificuldades tem uma capacidade mais acurada de ter essa percepção.

      Nós temos que entender por que existe o Dia das Mães no Brasil. Por que existe o Dia das Mães? Por isso, estamos aqui. Além de contar a minha história, eu preciso falar de uma mãe que fará 100 anos, no dia 10 de agosto, lá em Rio Pardo. Essa foi a mãe do meu marido, que, aos 4 anos, perdeu a mãe, a D. Erna. A Dora Viana Cardoso, que fará 100 anos, em agosto, em Rio Pardo, uma cidade histórica do Rio Grande do Sul, foi quem cuidou do meu marido dos 4 anos em diante. Então, a ela eu também faço este agradecimento. Esta cerimônia tem um pouco a ver com todas essas pessoas com muito significado na minha vida.

      O que nos traz aqui hoje é o reconhecimento de uma iniciativa pioneira, já centenária, com destaque para uma grande obra social e educacional, sobretudo para a celebração do mais amoroso dos sentimentos. Tudo isso aponta para uma instituição: a Associação Cristã de Moços -- ACM do Rio Grande do Sul.

      Eu fui procurada no meu pequeno gabinete em Porto Alegre, um gabinete político com quatro pessoas, pelo Ênio Roberto Ferreira, pelo José Ricardo Caporal e por um grupo de assessores, de companheiros da Diretoria da ACM. Eles me disseram: “Senadora, nós da ACM do Rio Grande do Sul é que trouxemos esta data para o Rio Grande do Sul, para o Brasil, há 100 anos”. Eu disse: “Eu não sabia disso. Eu não sabia”.

      Como esta é uma festa globalizada, eu realmente não sabia. Então, ele me entregou um material informativo e eu lhe disse: “Temos que fazer um reconhecimento à ACM. São 100 anos de uma festa que até hoje nós celebramos, mas que não sabemos como nasceu, como chegou ao Brasil”.

      Um pouco dessa história foi contada pelo Deputado JHC, mas eu a complemento agora. Esta sessão solene conjunta do Congresso faz um justo reconhecimento e resgata a comemoração do Dia das Mães no Brasil, há exatos 100 anos, pela Associação Cristã de Moços do meu Estado, do nosso Estado, Deputada Yeda Crusius, o Rio Grande do Sul, com a introdução, de forma pioneira, dessa tradicional celebração.

      A primeira celebração ocorreu no dia 12 de maio de 1918, em Porto Alegre, apenas 4 anos após o reconhecimento oficial desta data nos Estados Unidos. Esta bonita história começou em 1908, no Estado de West Virginia, quando a ativista Anna Jarvis lançou um movimento para que o Dia das Mães fosse um feriado reconhecido entre os cidadãos norte-americanos.

      A comemoração foi trazida ao Brasil pelo então Secretário-Geral da ACM do Rio Grande do Sul, Frank Long. A história registra que aquele 12 de maio foi um domingo chuvoso, o que não impediu que o salão social da associação se enchesse de pessoas para celebrar a data. Na entrada do salão, cada pessoa recebia uma flor, que era colocada na lapela dos que estavam ali participando. O cravo de cor vermelha seria usado na lapela por aqueles cujas mães estivessem vivas, enquanto os filhos órfãos se apresentariam usando um cravo branco. Era o mesmo simbolismo adotado na comemoração do Dia das Mães nos Estados Unidos.

      A solenidade foi aberta pelo Presidente da ACM, à época, Álvaro de Almeida, seguido do discurso oficial pelo Prof. Mozart de Mello. Após os pronunciamentos, apresentou-se um quarteto vocal -- hoje tivemos aqui este maravilhoso Coral do Senado Federal -- e houve a declamação da poetisa e escritora Júlia Lopes de Almeida Porto.

      Portanto, o primeiro Dia das Mães do Brasil foi comemorado em Porto Alegre, de uma forma muito carinhosa, como é hoje também celebrado em grande estilo.

  Aos poucos, a festividade passou a ser mais divulgada, ganhou novas adesões em todo o País e se consolidou em 1932, quando o então Presidente Getúlio Vargas oficializou a data, marcando o segundo domingo de maio como o Dia das Mães no Brasil. A iniciativa integrava o movimento para valorizar a presença feminina na sociedade, uma vez que se abriam novas perspectivas a partir da conquista pelas mulheres do direito de votar, em fevereiro daquele mesmo ano de 1932.

      Outro fato importante nessa retrospectiva histórica foi a inclusão do Dia das Mães no calendário oficial da Igreja Católica, no ano de 1947, por determinação do então Cardeal do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara.

      Agora, ao festejarmos o seu centenário, o Dia das Mães está plenamente consolidado como uma das principais do calendário de datas marcantes do Brasil, com envolvimento e valorização das famílias pelo reconhecimento àquelas que são símbolos de amor incondicional.

      A forte presença da ACM no Rio Grande do Sul, no Brasil e no mundo não se dá somente pela data que hoje solenemente homenageamos. Isso já seria extremamente meritório, mas a inserção da instituição em várias atividades vai além. Criado em 1844, na Inglaterra, o movimento acmista está presente hoje em 119 países, nos cinco continentes, com 22 mil sedes, congregando 58 milhões de membros, 96 mil profissionais e 725 mil voluntários, irmanados pela crença no desenvolvimento integral da pessoa humana. Devemos à ACM a criação do basquete, do vôlei, do futsal e do pentatlo moderno.

      Por seu trabalho humanitário nas duas grandes guerras mundiais, a associação foi distinguida com o Prêmio Nobel da Paz, no ano de 1946. A ACM teve também importante papel na criação da Cruz Vermelha Internacional, em 1864.

      Com os mesmos valores e princípios que nortearam a criação da ACM mundial, surgiu, em 4 de julho de 1893, a primeira ACM do Brasil e da América Latina, fundada no Rio de Janeiro. Oito anos depois, o pioneiro Myron Clarck, que deu origem a essa primeira ACM, dirigiu-se ao Rio Grande do Sul para organizar, em Porto Alegre, a segunda ACM brasileira, fundada em 26 de novembro de 1901.

      Nesses 107 anos de atuação, a entidade não parou de crescer no Estado, e hoje possui 13 unidades e 3 projetos especiais. Além disso, é incentivadora da prática esportiva e do lazer. Como isso muda a juventude! Como a ocupação do tempo dos jovens e adolescentes com o esporte é a resposta à droga! É um espaço muito importante. Nós temos que incentivar, parabenizar e dar todo apoio a essas iniciativas, como a do Dunga, nosso ex-técnico da Seleção, que fez vários projetos lá na Restinga, junto com a Asssociação Cristã de Moços. 

      A associação realiza, também, um importante trabalho na área de desenvolvimento social e de ensino, uma marcante atuação na formação de lideranças voluntárias, além de empreendimentos em necrópoles.

      Alguns dados dão uma boa ideia da dimensão do trabalho realizado pela ACM do Rio Grande do Sul: são mais de 85 mil atendimentos por ano em desenvolvimento social, abrindo oportunidades aos beneficiários das comunidades atendidas, com o envolvimento de mais de 2.900 famílias nesse processo, mais de 1.200 alunos matriculados, 300 bolsistas, 90 jovens formados todos os anos em cursos de liderança e 500 formados em cursos técnicos e profissionalizantes.

      Tudo mais eu poderia falar sobre essa instituição, recomendando também os parabéns a ela pelo que vem fazendo em favor da juventude e da sociedade gaúcha, pelos valores verdadeiros, pelos princípios de amor à vida, pelos princípios de respeito mútuo, pelos princípios democráticos, pelos princípios da solidariedade e da fraternidade.

      Ao resgatar essas lembranças muito afetivas para mim, quero homenagear todas as mães deste nosso imenso Brasil; as mães de todas as regiões, de todos os níveis sociais, de todas as etnias, de todos os credos, de todas as ideologias; as mães trabalhadoras, que enfrentam um dia a dia de duplas e, às vezes, triplas jornadas; as mães que abraçam as causas públicas e lutam por um País melhor e mais igualitário; as mães chefes de família, cada vez em maior número neste Brasil, por vezes tão iníquo; as mães de todos nós, onde quer que estejam, na infindável vigília por seus filhos e filhas. Homenageio as mães Vereadoras, Prefeitas, Deputadas, Senadoras, mulheres que têm a responsabilidade de decidir sobre o futuro e o cotidiano de todos.

      Agradeço à ACM do Rio Grande do Sul por enobrecer ainda mais o calendário de datas magnas com o Dia das Mães. Esse agradecimento é extensivo ao Presidente Ênio Roberto Ferreira, ao Secretário José Ricardo Caporal e a toda a equipe de colaboradores, legítimos continuadores da semente de boas práticas lançadas por aqueles pioneiros acmistas, no início do século XX.

      Obrigada, repito, por manterem viva a tradição da mais amorosa de todas as celebrações: o centenário Dia das Mães, que equivale aqui, também, ao Natal e ao nascimento de Jesus.

      Parabéns aos acmistas do Brasil inteiro, especialmente aos nossos acmistas gaúchos!

      Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 10/05/2018 - Página 11