Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene destinada a comemorar os 100 anos do Dia das Mães no Brasil.

Autor
Marta Suplicy (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SP)
Nome completo: Marta Teresa Suplicy
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão solene destinada a comemorar os 100 anos do Dia das Mães no Brasil.
Publicação
Publicação no DCN de 10/05/2018 - Página 19
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO SOLENE, CELEBRAÇÃO, CENTENARIO, DIA NACIONAL, HOMENAGEM, MÃE, COMENTARIO, ATUAÇÃO, MULHER.

     A SRª MARTA SUPLICY (Bloco/PMDB-SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Cumprimento a Senadora Ana Amélia e o Deputado Vitor Lippi por esta sessão solene, com o objetivo de ressaltar o papel que as mães exercem na sociedade.

      Como lembra a Senadora Ana Amélia, as mães hoje estão encarando seriíssimas dificuldades. Concordo, porque, entre as alegrias, as mães têm muitos motivos para se preocupar. Eu diria que não é fácil ser mãe no século XXI. No Senado, nós temos debatido temas como drogadição, violência, depressão, bullying nas escolas e os perigos da Internet. E tudo cai no colo da mãe. Há também a falta de oportunidades para colocar os filhos nas creches. Há ainda a escola, que não prepara para a vida, muito menos para o futuro, que já começou.

      Quero, num rápido recorte, destacar que o feminismo e a maternidade têm tudo a ver. Nós estamos aqui no Senado em muitas frentes discutindo essas questões, aprovando, por exemplo, projetos de lei para tornar mais justas as licenças-maternidade e paternidade. Isso é só um exemplo das pautas que o Senado tem aprovado. Nós queremos também que os homens ajudem a criar os filhos. E queremos isso porque é respeito à igualdade de direitos, ou seja, é o que entendemos como equidade. Nós não podemos esquecer que isso é fruto do feminismo.

      Se a mulher, ao longo do século XX e início do século XXI, avançou em conquistas, o fato é que, na sua jornada dupla, ela ainda tem que padecer. E a diferença de salários em relação aos homens ainda é muito grande. A mulher ganha, em média, 76% do que ganha um homem, para fazer exatamente a mesma coisa.

     Mulheres enfrentam no ambiente de trabalho -- eu diria que isto é bastante frequente -- diversas formas de assédio: o psicológico, o moral, o sexual. Felizmente, esse véu hoje está sendo levantado com muita força por mulheres do mundo inteiro, e fazem denúncias muito graves no nosso País também. Isso é um progresso. E é um progresso, eu diria com muita alegria, fruto de um trabalho e de uma força do feminismo, que renasce.

      As mulheres estão cada vez mais assumindo responsabilidades nos lares como chefes de família. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -- IBGE, em levantamento de 2015, já aponta que o Brasil ganhou mais de 1 milhão e 100 mil famílias compostas por mães solteiras nos últimos 10 anos. São 11 milhões e 600 mil mães solteiras. É muita gente. Em 2005, eram 10 milhões e 500 mil famílias de mulheres sem cônjuge e com filhos, morando ou não com parentes.

      Essa mudança tem causa, e é muito importante que nos debrucemos sobre essa causa. Nós tivemos, nas últimas décadas, uma mudança enorme no comportamento sexual das mulheres e dos rapazes, o que não foi acompanhado de educação sexual nas escolas.

      Quando nós dizemos: “Olhem quanta mãe solteira!”, a culpa é da mãe solteira? Claro, ela tem um comportamento que a levou a isso, mas nós temos uma responsabilidade, que é nossa como educadores, como Prefeitos, como pessoas que não estão conseguindo colocar esses ensinamentos onde eles devem estar, que é na escola, porque os valores vêm da família, mas a educação tem que ser feita na escola.

      Nós estamos vivendo um retrocesso há mais de 25 anos. No Governo de Luiza Erundina, em São Paulo, aos cuidados de Paulo Freire, nós tivemos uma diminuição gigantesca de gravidez na adolescência.

      Quero lembrar que não temos mais que ficar só dizendo: “Olhem quanta mãe solteira! Nós temos que mandar as meninas ao posto de saúde”. Não é isso. A menina tem que aprender a dizer “não”, quando não quer uma relação sexual, e tem que aprender a dizer “sim”, com responsabilidade. Essa é a realidade de hoje, e isso não estamos fazendo. Nós somos partícipes do que está acontecendo. Isso é fruto de machismo e de falta de ação.

      Eu diria que nós hoje, no Senado e na Câmara, vivemos muito fortemente esse ambiente onde nem gênero podemos discutir, porque acham que vamos colocar coisas nas cabeças das crianças referentes a comportamento sexual.

      As crianças já têm isso desde sempre na cabeça. O que nós temos é que discutir o tema e fazer isso com calma, sem proibição e sem incentivo, para que as crianças possam debater o assunto e, quando jovens ou adolescentes, saber o que querem e tomar uma atitude. Não adianta negar, os números estão aí.

      Diante de toda essa dureza, eu estava pensando em como homenagear as mães, porque elas são valentes e sofridas em sua maioria, e pensei primeiramente em trazer uma poesia, com grandes autores, alguma coisa que falasse da ternura das mães, para quebrar um pouco essas coisas todas que eu estou falando e ter algo mais festivo.

      Aí li umas coisas lindas de Drummond, Quintana, Cora Coralina, Cecília Meireles, Fernando Pessoa e Vinicius, mas eu vi que nada estava servindo exatamente ao que eu queria dizer para essas mães brasileiras.

      O que eu encontrei para dizer aqui tem mais a ver com tudo o que eu tenho visto nas periferias ou na pobreza destroçada em um acidente, como aquele incêndio ocorrido na semana passada em São Paulo. Isso tem a ver com a resistência das mães.

      Mãe, para mim, é quem resiste, quem não cede, quem está firme, seja de qual nível social for, é a mulher que enfrenta as suas dificuldades e as suas circunstâncias. As mães são fortes.

      A mulher tem duas qualidades incríveis: a capacidade de se entregar plenamente ao companheiro, aos filhos e à família e uma força descomunal para ajudar quem mais precisa. Ela tem entrega e tem força.

      Só quero lembrar que é preciso que essas qualidades sejam também mais para cuidar de si próprias, com o mesmo zelo e com a mesma força com que cuida dos filhos e da família, sabendo que ninguém é forte o tempo todo.

      Que as mães tenham muito carinho não só no Dia das Mães, mas todos os dias, que os filhos pensem um pouco nas suas mães.

      Mas hoje eu quero homenagear todas as mães na pessoa de uma mãe que, para mim, bateu muito forte. Ela se chama Selma.

      Selma Almeida da Silva, uma das vítimas do incêndio na minha cidade, uma senhora jovem, mãe dos gêmeos Welder e Wender, de 9 anos, que, até a semana passada, ninguém conhecia, catou papelão em São Paulo, está desaparecida com os filhos. Hoje já se sabe que, talvez, morta no desabamento do edifício no Largo do Paissandu. É triste o que aconteceu! Ela estava lá! Devia ser uma mãe como milhares de outras mães que sonhavam com algo melhor para os seus filhos.

      Nesta homenagem, queremos lembrar milhares de mães que sonham com dias melhores para os seus filhos.

      Eu não poderia deixar de falar hoje aqui de uma mãe que comoveu o País também e que, desde março, todos choram pela sua morte, que tem um simbolismo e marcou muito o Brasil, uma mulher da periferia, de luta. Estou falando de Marielle. Queremos que tudo seja esclarecido sobre a sua morte.

      Quero terminar com uma mensagem retirada da letra de uma música do Renato Russo. É de um homem, mas que até gostei que fosse, porque nós queremos exatamente essa participação, e ele diz bem o que eu sinto:

Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher. Sou minha mãe e minha filha, minha irmã, minha menina. Mas sou minha, só minha e não de quem quiser.

      Viva a luta de todas as mulheres!

      Obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 10/05/2018 - Página 19