Discurso durante a 75ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Crítica à política de preços de combustíveis adotada pela Petrobras.

Autor
Lindbergh Farias (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Luiz Lindbergh Farias Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Crítica à política de preços de combustíveis adotada pela Petrobras.
Aparteantes
Jorge Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2018 - Página 61
Assunto
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • CRITICA, POLITICA, PREÇO, COMBUSTIVEL, AUTORIA, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS).

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, a crise se agrava, e pelo jeito não há governo. Cadê este Presidente da República para oferecer uma saída para tamanha crise?

    Nós estamos numa situação, Sr. Presidente, em que, aqui na Asa Norte, na Asa Sul, em Brasília, já não há etanol.

    Eu vou ler aqui alguns dos acontecimentos que estão sendo divulgados pela imprensa: "Diminui o número de ônibus em circulação no Recife". Não é só no Recife: em várias capitais brasileiras falta combustível. Isso aí está virando algo generalizado.

    O Senador Jorge Viana agora há pouco falou da situação dos aeroportos. Ontem, três voos foram cancelados. A gente sabe que daqui a pouco estará faltando querosene para os aviões...

     E aqui existem vários casos: "Correios estão suspendendo, temporariamente, postagem de encomenda com dia e hora marcadas". E aí vai...

    O que me impressiona é a falta de governo. O que propuseram neste momento? Zerar a Cide. Senhores, Sr. Presidente, o impacto da Cide no diesel, sabe qual é o impacto? Cinco centavos. É nada! Isso não é proposta. Na verdade, o que se devia fazer, este Governo, é reconhecer que sua política de reajuste de preços fracassou, dada a tamanha volatilidade dela.

    Eu dou um exemplo aos senhores. Os senhores podem perguntar quantos aumentos, quantos reajustes de gasolina, de diesel, aconteceram desde que o Temer assumiu. Vou ler aqui para os senhores: 229 reajustes de diesel; 225 reajustes de gasolina. Foram 225 e 229! De julho de 2017 para cá, 115. Sr. Presidente, na semana passada houve aumento de gasolina e de diesel todo dia. Aí eu quero comparar com o que havia nos governos da Dilma e do Lula, e eu quero cobrar aqui de Senadores, não adianta vir aqui agora fazer discurso... Está aumentando a gasolina...

    Eu me lembro dos senhores dizendo aqui que a política de regulação de preços do Lula e da Dilma era errada. Olha o que deu? Sabe quantos reajustes aconteceram no governo Lula sobre o diesel? Oito. Gasolina? Sete. A Petrobras foi prejudicada? Não. É porque a política era diferente. Só há um jeito deles resolverem essa crise: mudar a política. O que é que eles faziam antes? Você tinha um ciclo mais longo, você tinha um preço internacional e você tinha a Petrobras, que às vezes cobrava acima do preço internacional e às vezes abaixo do preço internacional, com ciclos longos. Por que ela fazia isso? Porque isso tem impacto social na vida das pessoas.

    Hoje, Presidente, o caminhoneiro não consegue fazer nem o frete, porque o aumento acontece dia após dia. Então, o primeiro problema aqui, se os senhores querem aprofundar esse tema, é revisar esta política suicida: 229 reajustes de gasolina desde que o Temer assumiu. Com o Lula foram 8 aumentos.

    O Sr. Jorge Viana (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Em oito anos.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Em oito anos.

    Era uma política de longo prazo. A Petrobras nunca perdia, Senador Jorge Viana. Às vezes ela cobrava mais do que o preço internacional, às vezes cobrava menos.

    Segundo motivo, e aí eu passo o aparte para o Senador Jorge Viana. O primeiro é esse, essa política enlouquecida, mas que Senadores aqui e Deputados votaram pelo impeachment da Dilma fazendo um discurso em cima disso.

    O segundo ponto, Senador Jorge Viana, é em relação ao preço, em relação aos preços internacionais.

    Na época do governo do Presidente Lula e da Presidenta Dilma, havia uma equiparação ao preço internacional, ao contrário do que eles dizem. Havia uma média – uma média que variava entre 0,88 a 1,06. Estava ali, às vezes acima, às vezes abaixo.

    O que está acontecendo agora é o oposto. O preço do diesel está 56% acima do preço internacional. Como se justifica isso? Muito acima. Quem perde com isso? O povo, que precisa de botijão de gás, de diesel, de gasolina, as pessoas que estão pagando a conta agora, porque está aumentando o preço do alimento. Está aumentando tudo em cima dessa crise.

    Quem ganha, Senador Jorge Viana? Sabe quem ganha? As multinacionais de petróleo, porque o preço do diesel está 56% acima do preço internacional. Você acha que uma grande empresa, como a Vale do Rio Doce, vai comprar da Petrobras? Não. Sabe onde ela compra? Compra nos Estados Unidos. Por isso, em dois anos, a importação de diesel dos Estados Unidos, que significava 41%, aumentou para 82%. Quem vende o diesel para cá? Shell, BP, as grandes multinacionais do petróleo.

    Aqui há um problema que está por trás dessa crise. A Petrobras, em vez de pensar no povo... Uma empresa pública tem acionistas, nós sabemos, mas tem que pensar no povo. Aquele é um instrumento – o preço da gasolina – fundamental para regular a economia.

    Essa empresa, Senador Jorge Viana, hoje, infelizmente... Há no Conselho de Administração da Petrobras até pessoas que foram representantes dessas multinacionais do petróleo. Esse preço alto do diesel só favorece as grandes multinacionais do petróleo.

    Cedo um aparte ao Senador Jorge Viana.

    O Sr. Jorge Viana (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Quero, Senador Lindbergh, cumprimentá-lo e dizer que isso que estamos vivendo é um drama, consequência de um desastre político que aconteceu no Brasil, um impeachment sem crime de responsabilidade e com um Governo que chegou ao Palácio e que, sem dúvida, é o Governo mais impopular da história do País. E nós estamos vendo o povo brasileiro pagar as consequências desse Governo. Chegou dentro da casa das pessoas o que há de pior: estão tirando o direito de as pessoas consumirem minimamente, de as pessoas andarem, fazerem um churrasco no fim de semana, para convidar os amigos, seus parentes, uma reunião. Há gente lá em Sena Madureira, um Município do Acre de que gosto muito, que diz: "Senador, chegava o domingo, a gente pegava o carro aqui, ia a 140km de Rio Branco, ao Shopping Rio Branco, almoçava com a família. Era um passeio. Depois voltava. Nós não estamos mais podendo fazer isso, porque não temos dinheiro para pagar o combustível ao preço em que está." Então, é o botijão de gás, as pessoas voltando para o fogão a lenha, para o fogão a carvão... Quer dizer, isso está afetando a vida dos brasileiros, de gente comum. E nós estamos falando de mais de 90% do nosso povo. Eu lamento que estejamos vivendo essa situação e ponho uma agravante: ontem, ontem – cumprimento V. Exª –, aviões, muitos aviões não decolaram nos aeroportos, pessoas ficaram sem poder ir, por conta dessa crise que a Petrobras... Agora, sim, está provado. Quando o Presidente Lula assumiu, a Petrobras valia US$15 bilhões; depois, passou a valer US$300 bilhões. Houve o pré-sal, o petróleo dobrou de preço – dobrou de preço, o que é bom para a Petrobras, que agora produz mais de 200 milhões de barris. E o que a gente tem? O povo pagando uma conta que poderia ser a metade do que é a preço de mercado. Parabéns a V. Exª, Senador.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Eu agradeço a V. Exª, Senador Jorge Viana.

    Volto a chamar a atenção, olhe aqui: o pessoal da Liderança do PT fez um estudo dizendo, a preços de maio de 2017, que a cotação internacional para o litro de óleo diesel era 1,1 – isso sem tributos – e o preço, 1,7. Volto a dizer...

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – ...que o preço está 56% acima da cotação internacional.

    Agora, olha a opção na Petrobras. Nós estamos querendo privatizar a Petrobras, quatro refinarias. As refinarias estão ociosas em 25%. Nós estamos exportando petróleo bruto para comprar diesel.

    Volto a dizer: era 41% a importação para os Estados Unidos; agora, 82%. Agora, V. Exª está certíssimo. É um Governo que está trazendo uma devastação social no nosso País, além de ser um Governo incapaz de resolver essa crise.

    Volto a dizer: só se resolve essa crise se houver uma mudança na política de reajuste dos preços, voltando a fazer como Lula e Dilma faziam. Mas veja a devastação social – peço só mais um minuto, Senador João Alberto – de que o Senador Jorge Viana falou aqui...

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Eu trago mais um dado, Senador Jorge Viana, que saiu hoje, no jornal Valor Econômico. A renda média dos 20% mais pobres cai de R$400 para R$380 – está no Valor Econômico de hoje –; dos 20% mais ricos sobe de 5,5 mil para 6,1 mil. É um aumento de 10%.

    A vida do povo pobre, infelizmente, este golpe, a política do Temer está massacrando. A volta da mortalidade infantil. Cento e setenta mil estudantes universitários saíram das universidades, porque não tinham dinheiro e não têm mais financiamento. É uma devastação! Há desemprego de 13,7 milhões. Mas, se contar os subocupados, dá 27 milhões.

    Então, subo a esta tribuna hoje indignado com os desmandos e com o que está acontecendo com a Petrobras e com a política de preços.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2018 - Página 61