Discurso durante a 81ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Destaque para a necessidade de se encontrar saídas para a crise dos combustíveis que enfrenta o País.

Autor
Rose de Freitas (PODE - Podemos/ES)
Nome completo: Rosilda de Freitas
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRANSPORTE:
  • Destaque para a necessidade de se encontrar saídas para a crise dos combustíveis que enfrenta o País.
Publicação
Publicação no DSF de 29/05/2018 - Página 151
Assunto
Outros > TRANSPORTE
Indexação
  • COMENTARIO, GREVE, CATEGORIA PROFISSIONAL, MOTORISTA, CAMINHÃO, MOTIVO, CRISE, COMBUSTIVEL, AUMENTO, PREÇO, GASOLINA, OLEO DIESEL, REGISTRO, AUSENCIA, ABASTECIMENTO, PRODUTO AGROPECUARIO, INTERRUPÇÃO, FABRICA, AUTOMOVEL, REPUDIO, POLITICA, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), ACOMPANHAMENTO, MERCADO INTERNACIONAL, CRITICA, DEPENDENCIA, TRANSPORTE RODOVIARIO.

    A SRª ROSE DE FREITAS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, antes de mais nada, eu gostaria muito de agradecer o Senador Medeiros pela solidariedade. Não estou nesta tribuna muito confortável. Pelo excesso de trabalho, eu fiquei extremamente cansada, pedi a sua colaboração e ele, gentilmente, assim fez.

    Agradeço-o, Sr. Presidente, também pela compreensão de V. Exª.

    Sr. Presidente, vou ser bastante breve aqui, aproveitar o tempo restante para dizer que a história do Brasil será contada daqui a algumas décadas e vai registrar esse intervalo de quatro anos, iniciado em 2015, como o período dessas crises que acodem o Brasil quase que cotidianamente. É crise após crise que se sucedem desde as últimas eleições presidenciais. E não quero dizer, com nenhum conforto, que eleição presidencial possa solucionar todos os problemas do Brasil, porque esse problema de agora é mais uma crise grave, a crise dos combustíveis, a que nós estamos assistindo no Brasil, provocada pela greve dos caminhoneiros. Portanto, eu não creio que conseguiremos, de maneira nenhuma, sair da sucessão de agruras que estamos vivendo simplesmente só pelo desfecho das eleições. Embora as causas sejam econômicas, a meu ver, a verdadeira origem do problema é política.

    Eu acho que é preciso que pensemos nos comprometimentos que esta Nação está tendo com o anseio da maioria das pessoas que tentam indicar um caminho para sair dessa crise. Tentar normalidade, neste momento de instabilidade, também não é possível. Esse pode ser o meu desejo e de várias outras pessoas que estão envidando esforços para tentar contemplar com propostas a saída da crise. Não será fácil, mas esperamos que aconteça.

    Analisando a crise dos combustíveis, existem duas vertentes claras, mas que são bastante preocupantes. A primeira é o custo, um aumento quase que diário do preço dos combustíveis, e o que representa para população. Somente em maio já foram 12 aumentos no litro de gasolina. E, quando eu falo em população, eu falo de todo mundo mesmo, de todos que aqui estão, que assistem este momento, trabalhadores, empresários, agricultores, donas de casa e, claro, proprietários de veículos de todos os portes, todo mundo mesmo que está vivendo não à margem da crise, mas dentro dela.

    Apenas como registro, entre 1º e 22 de maio, o diesel subiu 13,6% e a gasolina 15,5%. O Valor online informou que o preço da gasolina comercializada nas refinarias acumula um aumento de 58,76% desde o início da nova sistemática de reajuste em 3 de junho do ano passado.

    O diesel, por sua vez, acumulou 59,32% de alta, e isso diante de uma inflação que não chega aos 3% ao ano. Qual é a leitura? A leitura é de que há uma distonia completa entre aquilo que deveria ser a política de preços dos combustíveis e o que está acontecendo.

    E esta é a segunda vertente que vou focalizar: o dramático desabastecimento como consequência dessa greve, sobre a qual não queremos expor nenhum julgamento, mas compreender a exaustão a que chegaram, em um momento, esses condutores, esses caminhoneiros.

    Fábricas de automóveis interrompendo sua linha de produção por falta de componentes; o escoamento de produtos agropecuários – como a soja, os laticínios, o hortifrutigranjeiro, além de carnes diversas – tornou-se inviável, o que tem provocado a morte de milhares de animais e o desperdício de leite, por exemplo; os hospitais interrompendo cirurgias eletivas; escolas e universidades paralisadas; eventos há muito planejados sendo transferidos ou cancelados; e, pela mais triste das ironias, a falta de combustível.

    Então, senhoras e senhores, eu gostaria de analisar a consequência e as razões que são elencadas sobre esse descontrole e sobre esse combustível, que não para de subir, esses aumentos sucessivos, que se devem a vários fatores díspares como a redução drástica da produção de petróleo, falar sobre todas as outras análises que poderia fazer sobre a produção, sobre o preço, sobre a redução de produção dos barris, as sanções do governo norte-americano, tudo isso... Mas eu queria dizer que o resultado desta greve é que enfrentamos um aumento de demanda e uma retração na produção. E, de acordo com observadores do cenário internacional, não há perspectivas de reversão deste quadro no curto prazo.

    Outra variável sobre a qual não temos controle é a cotação do dólar, que tem impacto direto no preço dos combustíveis.

    Atualmente, diante da política adotada pela Petrobras, sob novo comando desde que o Presidente Michel Temer assumiu a Presidência da República – passou um presidente, outro presidente –, o preço dos combustíveis acompanha o mercado internacional. De acordo com esta política adotada em julho de 2017, o preço nas refinarias sobe ou desce acompanhando as cotações do dia.

    Acontece que, ultimamente, o preço sobe muito mais do que desce. Eis a essência da crise atual, que nós estamos tentando abordar.

    O tema é mais complexo. De um lado, o aumento exponencial dos preços dos combustíveis acelera o saneamento da Petrobras, como argumentam; de outro lado, há as consequências tumultuando extremamente a vida nacional diante da imprevisibilidade do aumento de preço dos combustíveis, que, literalmente, ainda movem o mundo.

    Ficou translúcido, diante da paralisação dos caminhoneiros, que o Brasil é por demais dependente do transporte rodoviário. Isso eu não gostaria nem de abordar, porque, ao longo de 30 anos nesta Casa, todos ganham eleição, Senador, dizendo que vão fazer um novo programa, um novo projeto, que vão ampliar, vão dar crédito aos transportes ferroviários, e nada disso aconteceu.

    E as consequências também estão nessa falta da logística necessária da infraestrutura para o transporte no País.

    O Globo deste domingo, dia 27, coloca que 66% das mercadorias no Brasil são transportadas pela via rodoviária; 20%, pela via ferroviária; e 12%, por meios aquaviários; e que há muito pouca integração entre os modais. O que nós temos que perguntar é por que não se investe em ferrovia, hidrovia. É um tema que vai constar seguramente do programa de todos aqueles que se candidatarem à Presidência da República, e não há solução fácil.

    Então, só terminando o que eu gostaria de abordar, digo que este Congresso está debruçado sobre a discussão desta crise e cabe a todos nós autoridades manter a capacidade de buscar, com firmeza e rapidez, uma solução. Há inúmeros agentes envolvidos: União, Estados, Petrobras, Parlamento, caminhoneiros. E eu acho que ceder de lado a lado...

(Soa a campainha.)

    A SRª ROSE DE FREITAS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - ES) – ... é importante. Este Parlamento tem que dar a sua contribuição; está fazendo agora. É preciso que os caminhoneiros também o façam e que a fragilidade do cenário institucional provoque uma discussão que colabore com a saída dessa crise. E eu gostaria apenas de reconhecer que o lado mais frágil ainda é o lado dos caminhoneiros deste polígono de crise dos combustíveis.

    Aqui faço um apelo para que todos nós possamos nos debruçar – e entender que prejuízos maiores ainda virão, prejuízos de vidas, de abastecimento – sobre as dificuldades que são colocadas na frente desta Nação. Então, membros do Senado Federal que estão trabalhando dedicados a atender com presteza a parte que nos cabe exatamente, que é transformar projetos, iniciativas que possam ajudar a sair desta crise, nós não devemos, por exemplo, misturar questões eleitorais com este imbróglio que atinge todos os brasileiros e brasileiras neste momento. Apelo, então,...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A SRª ROSE DE FREITAS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - ES) – Concluindo, Sr. Presidente, que nós possamos trabalhar para que esta crise não se prolongue, porque o prejuízo é de todos nós brasileiros! Ninguém vai sair ganhando, a não ser alguém que queira defender a desordem e o caos. Nós temos problemas demais, os brasileiros têm problemas demais – educação, saúde, segurança pública –; nós não precisamos de mais um. Mas ignorar esta situação de crise não é, nem de longe, uma saída. Quando há alguém procurando diálogo e debate, isso tem que acontecer em tempo e hora para que a situação não se exacerbe e chegue à crise a que chegou o Brasil.

    Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/05/2018 - Página 151