Discurso durante a 83ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Manifestação contrária à política socioeconômica adotada pelo Governo Federal.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Manifestação contrária à política socioeconômica adotada pelo Governo Federal.
Aparteantes
Lindbergh Farias.
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/2018 - Página 61
Assunto
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, ATUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, POLITICA SOCIAL, COMENTARIO, GREVE, CATEGORIA PROFISSIONAL, MOTORISTA, CAMINHÃO.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, queria agradecer a V. Exª e cumprimentá-lo pelo reencontro. É um privilégio tê-lo aqui presidindo. E queria cumprimentar os demais colegas.

    E, claro, não posso ocupar a tribuna do Senado senão para trazer, penso, em nome de boa parte dos brasileiros, das brasileiras, as preocupações que são fruto das conversas, dos telefonemas que tenho tido. Há uma preocupação enorme de todos com o que está acontecendo no Brasil. Muitos se perguntam: que tempos nós estamos vivendo, num País tão bonito como o nosso, tão cheio de possibilidades, como a gente fala sempre, abençoado por Deus e bonito por natureza? Por que a gente está vivendo esses tempos tão ruins?

    Certamente é mais por conta das políticas, dos homens, das mulheres, de nós todos que hoje ocupamos alguma função. Talvez o caos que estamos vivendo seja por conta das opções tomadas nos últimos anos.

    Desta tribuna, eu falei: o impeachment não é solução para a crise. Ele é uma marcha da insensatez, uma ruptura com a democracia, um impeachment falseado, no fundo um golpe, que não vai dar em boa coisa.

    Agora, boa parte dos que apoiaram o impeachment está caindo na real de que foi um engano, de que foi um erro. Mas nós não devemos seguir acusando uns aos outros, querendo saber quem é o mais culpado. Nós temos nossa parcela. E eu cumprimento todos os que nos acompanham pela Rádio e TV Senado. Nós também erramos. Eu faço muitos elogios ao governo do Presidente Lula, ao primeiro mandato da Presidente Dilma, mas nós também erramos, erramos em aceitar uma conivência e uma convivência com políticos. Aí, ficamos parecidos com eles, com os partidos. Ficou aquela geleia geral. Cometemos erros, associamo–nos àqueles que sempre foram donos do poder neste País.

    E, mesmo tendo feito tanta coisa boa, na parte política nós cometemos vários erros. Se não assumimos os erros, não abrimos o diálogo. E o Brasil está precisando encontrar uma fórmula de virar essa página da crise. Mas nós temos de ter algum entendimento.

    Com a política econômica do atual Governo, não há possibilidade. Ela é a própria crise. A crise é de combustível, dos caminhoneiros nas ruas, mas o combustível da crise é a política econômica do atual Governo Temer e do Meirelles.

    Falei ainda agora num aparte ao Senador Lindbergh: Meirelles caiu fora, abandonou o barco. Ele era o homem do mercado, ele era o homem disso e daquilo e inventou uma candidatura fake. Por que alguém que tem 0,0001% nas pesquisas, depois de ter sido Ministro, o homem de todas as vozes, a maior autoridade do País, como disse o Renan, não deve passar da pré-candidatura. É um fake. É uma fake candidatura.

    No fundo, a história há de registrar, ele abandonou o barco porque deu errado. Abandonou o barco. O Meirelles abandonou o barco e deixou o Brasil à deriva.

    Essa política econômica de desempregar... São 13,4 milhões de brasileiras e brasileiros desempregados, e segue o desemprego aumentando, o número de pessoas sem carteira assinada aumentando, por conta do arremedo de reforma trabalhista que fizeram. As pessoas apavoradas, com medo de não terem direito de se aposentar. Os agricultores sem crédito, sem valor para os seus produtos. As mães, os homens sofridos sem o Bolsa Família. O Programa Luz para Todos parado. E nós assistindo aqui em Brasília ao desmonte do Estado brasileiro por parte da elite, e setores da imprensa batendo palmas. Agora estão com vergonha de terem aplaudido o Governo que eles querem abandonar. Mas agora vão ter que aguentar firme. É o Governo das senhoras e dos senhores.

    O que é essa greve, essa paralisação dos caminhoneiros? Talvez a categoria mais sofrida do Brasil seja o dos caminhoneiros. A empresa, o escritório deles é a boleia de um caminhão. Eles não conseguem ter, por conta da sua profissão, nem a convivência familiar. Não têm a quem recorrer. São os excluídos, os explorados. Quem aceita ser caminhoneiro, viver longe de casa, trabalhando, correndo risco nas estradas, risco de violência? É essa categoria que paralisou o País. Eu nunca vi uma greve que afeta a vida de todo mundo ter apoio como esta está tendo: 87%, segundo o Datafolha, apoiam a paralisação; 56% querem que continue, mesmo sofrendo.

    Não estou dizendo que nós devemos apostar nesse caminho. Passou da hora do entendimento. Temos que, imediatamente, pensar nas cenas que estamos vendo: caminhoneiros apanhando, pessoas brigando, estão deixando pobre enfrentar pobre, alguns oportunistas tentando tirar proveito político. Porque há uma coisa: quando o povo está indignado com a classe política, com os partidos, a população tem razão. Dá-se muito motivo, muita gente só pensa na próxima eleição. Ficam vendo para onde o vento está soprando, mudam de discurso.

    Os maiores apoiadores do Governo Temer apoiaram todas essas medidas, apoiaram 230 aumentos do óleo diesel dados pela Petrobras em dois anos. Mas agora estão dizendo que o Temer não é o Presidente deles. Traíram a Dilma, traem o Temer, traem qualquer um. É essa política que precisa ser impitimada. Essa classe política, esse jeito de fazer política... Fui Prefeito e Governador, mas nunca tive medo de ter a minha opinião. Eu sempre respeitei a opinião pública, trabalhei por ela, mas sempre tendo a posição e a coragem de defender minorias, de defender o que é certo e tentar conversar com as pessoas, às vezes até com a maioria, dizendo: olha, vocês estão errados. Venham para cá.

    O Brasil é este País bonito, mas ele se desencontrou, é um trem descarrilhado. O Brasil só não quebra e nós só não estamos vivendo uma espécie de primavera brasileira, como tivemos a Primavera Árabe, porque este é um País gigantesco, fantástico e tem um povo generoso. Mas motivo não falta.

    E digo tranquilamente: não tem líderes. Vejam o quanto são fracos os atuais candidatos a Presidente. E todos eles só fazem uma coisa meio por cima, não identificam.

    Para mim, a sociedade brasileira hoje está doente; o País está mal, está doente. Vamos identificar isso. O País está precisando de cada um de nós, do que temos de melhor; precisa de que haja um mínimo de entendimento, uma espécie de uma pactuação, para podermos nos livrar desses partidos que viraram negócio, dessa classe política que só pensa no voto e que não tem coragem de ter posição. Diante disso, fizeram um golpe.

    Aí há, por outro lado, do Judiciário, pessoas que se arvoraram a ser Deus, achando que estão acima do bem e do mal. Se você espremer, muitos que atuam em nome do Judiciário – não falo todos, porque eu respeito a ampla maioria das polícias, do Ministério Público, do Judiciário – não aguentam uma pequena prensa sobre o seu mundo real, não conhecem a realidade brasileira e se arvoram justiceiros.

    Esse Brasil não vai dar certo. Nós temos o risco de termos uma crise social gravíssima – temos o risco! Ninguém sabe o que vai acontecer na semana que vem.

    O que a direção da Petrobras fez hoje – eu digo o Governo, o Ministro da Fazenda esteve aqui na CAE –, ao dar um aumento de 0,74% na gasolina hoje, é uma ação criminosa, provocativa! Eles estão provocando, porque as medidas estão sendo votadas aqui...

    E é bom que se diga: o Senado tem que crescer neste processo, tem que assumir a responsabilidade como a Casa da Federação. Nós estamos votando medidas aqui do Rodrigo Maia e medidas do Senhor Michel Temer. As nossas medidas teriam que ser duradoras e definitivas. Por que não vamos mudar a política do aumento do gás de cozinha, Senador Paim? Da gasolina? Os taxistas são desconsiderados, os mototaxistas também são desconsiderados, as donas de casa são desconsideradas. Por conta das políticas do Governo Temer e da Petrobras, 1,2 milhão de casas voltaram para a lenha a para o fogão a carvão. O Senado tinha que encontrar uma maneira de ser parte da solução desta crise.

    Para mim, deveríamos ter aqui o Sr. Pedro Parente em uma CPI, os dirigentes da Petrobras, os que fizeram essa política. Não é CPI para prender ninguém, não, gente; é para sairmos desse embate e termos os números.

    O Senador Lindbergh ainda agora trouxe uma questão fundamental. Especialistas foram estudar e viram que o lucro que a Petrobras está tendo com gasolina, óleo diesel e gás de cozinha é de 150%. Isso é crime! Ela está abrindo tudo que tem, o seu cofre, o dinheiro para as petroleiras! Nós votamos aqui medidas que podem chegar a 1 trilhão de isenção, dando dinheiro para as principais petrolíferas do mundo e botando, com a gasolina que ninguém consegue pagar, com o gás de cozinha com mais de 75% de aumento e com o óleo diesel com 229 aumentos em dois anos, para o brasileiro, o caminhoneiro pagar a conta.

    Eu acho que ou nós adotamos uma medida definitiva de saber que esse modelo do Estado brasileiro e da economia está errado, não vai dar certo, vai agravar a situação... É por conta desta crise econômica também, do caos institucional. Nós estamos vivendo uma profunda crise institucional, em que as organizações criminosas, as facções criminosas ganharam o Norte e o Nordeste deste País e implantaram o medo na casa dos brasileiros. A questão da violência é gravíssima. Ela é consequência também desse caos econômico e político em que o Governo Temer nos meteu pelo impeachment.

    Senador Lindbergh, me parece que...

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Muito rapidamente, Senador Jorge Viana, para dizer o seguinte...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Já vou concluir.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – No meio de tudo isto aqui, houve o aumento do desemprego – foi anunciado ontem no Caged. São mais de 700 mil desempregados – 723 mil. São 557 desempregados a mais...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – São 557 mil.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Sim. Ao todo, são 723 mil, como foi anunciado ontem, a mais de desempregados. Desses, 557 mil eram de carteira assinada...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Eles perderam a carteira assinada.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Eles perderam a carteira assinada. Há um processo de precarização. E saiu hoje o número do PIB. A Rede Globo fica forçando: "Vamos ter a retomada econômica". Eu disse. No ano passado, crescemos 1%, mas, no primeiro trimestre, foi 1,3%; no segundo, 0,6%; no terceiro, 0,2%; no quarto, 0,1%. Agora, sabe quanto foi, Senador Dário? Foi de 0,4% – desse, 1,4%, agropecuária. Sabem como foram indústria e serviços, em que está a maior parte dos empregos?

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Espere aí.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Como?

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Qual foi agora o...

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – O PIB do primeiro trimestre saiu hoje.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Está saindo agora?

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Saiu hoje. Ele cresceu 0,4%. Desse 0,4%, 1,4% é agropecuária. A maior parte dos empregos está em indústria e serviços. Sabe quanto cresceu? Cresceu 0,1%. Se você calcula pela população o PIB per capita, sabe quanto dá? Zero. Nós estamos estagnados. Eu acho que não há como crescer com esta política econômica.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Os analistas estão dizendo que esta hecatombe, esta crise toda deve ter uma interferência de 0,45% no PIB – negativa, no próximo.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – No próximo trimestre, vai piorar.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Alguns falam que é no mínimo R$30 bilhões, R$40 bilhões o tamanho do prejuízo.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Não há Governo. E eles fizeram política de ajuste fiscal radical, o que joga a economia para baixo; acabaram com o BNDES como elemento investidor, os bancos públicos não jogam mais papel; acabaram com a política de conteúdo local. Então, não há jeito. E é um Governo fraco como este, desmoralizado. Então, eu cumprimento V. Exª.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Obrigado.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – O que está havendo no País é uma devastação social.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Perigosa.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – As pessoas estão voltando a cozinhar a lenha. E é por isso que o povo apoiou os caminhoneiros. As donas de casa estão sofrendo com o botijão de gás. Há aumento da pobreza, aumento do desemprego. É uma verdadeira devastação. Parabéns, Jorge Viana.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Eu agradeço, Lindbergh, pelo aparte.

    Cumprimento todos e encerro, Sr. Presidente, dizendo que eu queria... Eu sou cobrado. As pessoas vêm conversar comigo. Eu sou representante do Acre, fui Governador, Prefeito e eu não tiro a culpa das instituições, da classe política, que já estão numa jogatina, montando esquema para a próxima eleição, em vez de cair a ficha de que quem for candidato agora tem que fazer campanha diferente, fazer campanha sem dinheiro, com ética de volta, com respeito à opinião pública, às pessoas. Enquanto as eleições não vêm, eu peço por tudo... Às vezes, fico sonhando: tomara que venham logo, para ver se temos um governante que possa tirar o País deste caos. Nós temos que pensar como nós Senadores podemos ajudar.

    Eu acho que o Senado devia estar discutindo aqui, em vez de votar o pacote que vem do Governo que não podemos alterar como ontem – apesar de registrar que foi uma contribuição importante, e até cumprimento o Presidente Eunício –, medidas para a questão da gasolina, do preço da passagem aérea e do preço do bujão de gás.

    Olhem, brasileiros: a Petrobras hoje aumentou a gasolina em 0,74% – uma afronta –, enquanto as pessoas estão nas filas dos postos, não querendo nem saber, pegando o pouco dinheiro que têm, querendo apenas abastecer.

    Este caos pode piorar. Eu quero que o País se pacifique. Por isso, o Senado pode, sim, cobrar medidas e ajudar a adotar medidas que possam diminuir o preço da gasolina, do combustível da aviação, para diminuir o preço das passagens, e também do gás de cozinha. Se nós não fizermos isso, vamos estar sendo coniventes com o Governo Temer e com o Sr. Pedro Parente, com a política de assalto ao brasileiro que a Petrobras está implementando, quando ela está lucrando 150% com o aumento da gasolina e do gás de cozinha, abrindo as nossas riquezas e vendendo a preço de banana o nosso patrimônio para as petrolíferas internacionais.

    Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/2018 - Página 61