Pela Liderança durante a 83ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Críticas ao Governo Federal pela condução da atual crise relativa à greve dos caminhoneiros.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas ao Governo Federal pela condução da atual crise relativa à greve dos caminhoneiros.
Aparteantes
Lindbergh Farias, Zeze Perrella.
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/2018 - Página 76
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, AUSENCIA, EFICIENCIA, SOLUÇÃO, GREVE, CATEGORIA PROFISSIONAL, MOTORISTA, CAMINHÃO, REPUDIO, ATUAÇÃO, PEDRO PARENTE, PRESIDENCIA, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS).

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Como Líder. Sem revisão da oradora.) – Obrigada.

     Srs. Senadores, Srªs Senadoras, (Fora do microfone.)

    quem nos acompanha pela TV Senado, também pela Rádio Senado, pelas redes sociais, o tema quente que nós estamos debatendo aqui, no Brasil, é a crise que nós estamos vivendo; a greve de diversos setores da sociedade brasileira, mas puxada pelos caminhoneiros, uma greve, uma paralisação de vários dias já, que colocou à mostra, na realidade, a falência da política econômica deste Governo, que foi alçado ao poder através de um golpe de retirada de uma Presidenta legitimamente eleita.

    A greve dos caminhoneiros, a paralisação dos caminhoneiros foi uma paralisação em cima de uma reivindicação absolutamente justa. Não é possível um país que tem a produção de petróleo que tem o Brasil vender o preço do diesel como estava vendendo. O diesel, assim como qualquer outro combustível, é fundamental para o nosso desenvolvimento, principalmente para um país que tem o modal do transporte rodoviário como seu principal modal de escoamento de cargas. Nós temos que lembrar isso ao Brasil. O Brasil lá atrás, na década de 50, fez uma opção por um modal de transporte, desativou grande parte das suas ferrovias e investiu muito em rodovias, e aí obviamente que o diesel é um insumo fundamental para isso, para a vida do País, para a vida daqueles que trabalham diretamente. Portanto, a greve, a paralisação dos caminhoneiros é legítima e é justa, com justa reivindicação.

     Eu fico muito impactada ao ver o esforço do Governo com a grande mídia, à frente a Rede Globo, e alguns setores do establishment da sociedade tentarem desqualificar, criminalizar um movimento paredista dos motoristas. É óbvio que uma greve, uma paralisação tem consequência e causa caos. Aliás, ela só vai ter efetividade para negociar se ela tiver uma consequência tal que faça com que quem tem responsabilidade pela gestão daquela consequência sente na mesa para negociar. O Governo só negociou com os caminhoneiros porque eles pararam e, parando, eles trazem consequências para o Brasil.

    É difícil para todos nós? Claro que é difícil. É difícil não ter combustível no posto de gasolina, é difícil você ter o direito de ir e vir limitado, mas talvez, se eles não tivessem feito esse grito, não tivessem pedido esse socorro, a sociedade brasileira e o Governo não tinham se sensibilizado. E, além de o Governo se sensibilizar errado, porque traz como solução coisas que não vão solucionar a crise, ainda faz um movimento de tentar jogar a sociedade contra o movimento paredista, de tentar criminalizar esse movimento, fazendo com que as pessoas se coloquem contra ele.

    E qual não deve ter sido a surpresa do Governo hoje de constatar que, em uma pesquisa junto à opinião pública mais de 80% apoiaram o movimento, porque é óbvio que as pessoas estão vendo o que está acontecendo, o diesel estourou, o gás de cozinha e a gasolina também.

    Só que a solução apresentada para o Governo para esse problema não é uma solução que a gente chama de sustentável, que realmente vai se sustentar, Sr. Presidente, primeiro, porque eles estão colocando, Senador Dário Berger, que eles vão reduzir em R$0,46 o litro do diesel, mas quem vai pagar isso não é a administração e a gestão de preços da empresa Petrobras, é o Orçamento da União.

    E esta Casa aqui, ontem, aprovou um projeto medonho, que eu espero que o medonho do Presidente vete, que é tirar o PIS/Cofins dos combustíveis para tentar baixar o preço, impactando saúde, assistência e previdência. Não me deram a palavra ontem. Eu acho um escândalo esta Casa: você quer discutir projeto, pedi para falar e não foi possível. Mas eu queria perguntar aos nobres pares desta Casa: grande responsabilidade desta crise está aqui, e nós avisamos que iria acontecer, tirando a Dilma e mudando completamente o foco do que um governo tem que fazer pelo seu povo.

    Então, quer dizer, nós vamos agora passar a subsidiar o diesel no Brasil, quando nós tínhamos que ter uma política de preço para a Petrobras. E, na solução do Governo, não há nenhuma política para baratear o gás de cozinha e o combustível. As pessoas vão continuar pagando caro. Aí, o Governo vem tentar dizer para a sociedade que não, os paredistas, os movimentos sociais estão levando o caos à sociedade. O caos já estava na sociedade – o caos de pagar a quantidade que se paga pelo litro da gasolina, pelo litro do diesel, pelo botijão de gás. Isso é caos social, isso é drama para as famílias, isso é dureza, dói. Isso já estava.

    E hoje nós tivemos o início de um movimento dos petroleiros, que também entraram numa paralisação de advertência por 72 horas. Desde abril eles estão programando uma paralisação, que é exatamente para tentar resolver o problema dos caminhoneiros que pararam, da greve que nós temos. Aliás, eu falei com uma liderança agora lá do Paraná, da área de petróleo, dos petroleiros, que me disse que a paralisação é grande e tem um grande apoio da população.

    O que os petroleiros estão dizendo nessa greve? Eles não pararam para aumentar salário. Eles não pararam por reivindicação deles. Eles pararam para que parem a quebradeira e a venda da Petrobras. É um grito de socorro que eles estão dando ao Brasil: "Socorro, Brasil! Olhem para a Petrobras!". E eles conhecem a Petrobras. E não pensem os senhores que os petroleiros são petistas, comunistas, esquerdistas. São trabalhadores que fizeram concurso na Petrobras, que gostam da empresa, que se dedicam, que têm um bom salário, mas que amam, sobretudo, o papel que essa empresa tem para o desenvolvimento brasileiro. E eles pararam para chamar a atenção e dizer: "Olha, a gestão que a Petrobras está tendo é uma gestão que vai levar à ruína, porque é uma gestão para o mercado, é uma gestão para os investidores minoritários."

    Senador Dário, a Petrobras é uma empresa pública cujo maior acionista é a União, é o Estado brasileiro. E há os acionistas minoritários, que são o mercado. Quando você tem esses interesses juntos, você tem que fazer uma administração de equilíbrio. Certo? Porque você tem dois interesses, um privado e outro público, mas eles estão em pé de igualdade. Aliás, um se sobrepõe ao outro, até porque a dona majoritária é a União, é o Estado brasileiro, é o povo brasileiro. E a Petrobras foi construída com o dinheiro do povo. Foi uma empresa pública.

    Qual é a gestão do Pedro Parente e do Temer? É fazer a sobreposição do interesse privado ao interesse público, dizendo que nós temos que honrar mais os acionistas privados, porque são eles que vão trazer dinheiro para a Petrobras. É mentira! E o dinheiro investido na Petrobras ao longo de todos esses anos desde que a empresa foi criada veio de onde majoritariamente? Do bolso do contribuinte, de quem está nos ouvindo, de quem paga a conta neste País através de imposto.

    Então, como pode o Pedro Parente, o Temer ou alguns aqui desta Casa dizerem que temos que cuidar da opinião do mercado. A opinião do mercado é para que haja 229 vezes de aumento do litro do combustível no País e para ferrar o povo brasileiro? A opinião do mercado é para estar em R$80 o preço do gás de cozinha e para as pessoas que sustentam a Petrobras através de impostos, terem que cozinhar com álcool, com lenha? Nós não vamos mediar a opinião do mercado sacrossanto? Nós vamos deixar o Pedro Parente vender a Petrobras como está vendendo? Nós vamos deixar que isso aconteça e vamos votar aqui para tirar o imposto que dá aos pobres o dinheiro, que é o imposto da previdência, assistência e saúde? É sobre isso que estamos falando? Que papel nós cumprimos aqui então? Representamos o mercado? Eu não tive voto do mercado, não tive voto do mercado. Portanto, quando eu tiver que defender aqui, eu vou defender o voto de quem me deu na urna, que é o povo brasileiro, que é o povo paranaense.

    Não é possível que a gente não vá olhar para o movimento dos petroleiros, que não são petistas! Não são petistas! Não são esquerdistas! São pessoas que têm opiniões muitas vezes diversas das nossas, que já ficaram contra as nossas posições e que hoje estão paralisados para dizer: "Socorro, olhem o que está sendo feito na gestão da Petrobras! Olhem o que está sendo feito! Estão vendendo as nossas refinarias, estão vendendo parte da empresa. Nós vamos nos transformar em um escritoriozinho no Rio de Janeiro e vamos dar as nossas reservas petrolíferas do pré-sal para as grandes multinacionais."

    Aliás, esta Casa aqui contribuiu, tirou os impostos das petroleiras para virem aqui explorar o pré-sal. Aliviamos o Imposto de Importação e as deixamos agora compensarem no Imposto de Renda o que elas fazem de investimento. Para as petroleiras grandes, pode; para a Shell, pode; para a Chevron, pode; para a Exxon, pode. Mas, para a Petrobras, não pode; para o povo brasileiro, não pode. Que raios é isso? E dizer aqui que foi o PT que destruiu a Petrobras!

    Olhem as pérolas que eu estou ouvindo: que o Governo do Lula, os Governos do PT destruíram a Petrobras e causaram o caos, primeiro porque o Lula financiou caminhões baratos, aí endividou os caminhoneiros. Ora, gente, tenham decência e vergonha na cara, nós tínhamos uma frota velha de caminhões que colocava em risco a vida das pessoas. Financiamos caminhão barato, sim. E, se houve crise econômica, nós tínhamos proposto refinanciamento, o que este Governo trancou. Agora nós teríamos que deixar os caminhões velhos, eles se ferrando e não financiar? Aí dizem que nós ferramos a Petrobras porque mantivemos o preço da gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha barato.

    Ah, então certos estão vocês que aumentaram o preço dos combustíveis 229 vezes, arrebentaram com o povo brasileiro? Vocês estão certos? Aí dizem que nós causamos prejuízo à Petrobras porque mantivemos o preço baixo da gasolina. Mentira! Mentira!

    O prejuízo de 2015 tem que ser trazido às claras aqui, e todo mundo tem que lembrar a crise do petróleo que nós tivemos pela superprodução de petróleo americana.

    A crise do petróleo foi, Senador Dário, o seguinte: em 2015, o barril de petróleo estava US$110. A superprodução americana, fracking e um monte de outras descobertas derrubaram o barril de petróleo a US$30. Então, não foi o Brasil que entrou em crise só por conta disso, a Venezuela, que é produtora de petróleo entrou, a Rússia entrou, os países árabes entraram. Imagine, você cai o barril de petróleo de US$110 para US$30, como é que você quer manter o rendimento da empresa? Todas as grandes petrolíferas internacionais tiveram prejuízo aquele ano, não foi por conta do preço interno da gasolina. Podemos até discutir que Dilma deixou demais, mas não foi isso, não foi isso. Em uma crise econômica, você não aumenta preço para o seu país; em uma crise econômica, você equilibra preço. Que história é essa do preço da gasolina e do diesel serem com referência à variação cambial e com referência ao preço internacional do petróleo? Que história é essa? Quem ganha em dólar aqui? O povo brasileiro ganha em dólar? Quem aguenta 229 aumentos?

    Então, o que os petroleiros estão dizendo hoje para nós é: "Socorro! Olhem para a empresa, para a maior empresa brasileira que foi construída neste País com o sacrifício do povo brasileiro, com recurso do Orçamento." E agora, esse Pedro Parente... Vocês sabem quem é o Pedro Parente? É bom a gente refrescar a memória para a gente entender o que está acontecendo.

    Pedro Parente era o grande assessor do Fernando Henrique Cardoso na época do apagão. Vocês se lembram do apagão, gente? Vocês se lembram do apagão. Vocês lembram o que o apagão causou no País, não lembram? Pois é, o cara do apagão é o Pedro Parente. Ele apagou o setor de energia elétrica e vai, agora, apagar o setor de combustível. E nós vamos deixar? E vamos achar que está certo e vamos aprovar, como cordeiros nós fizemos ontem aqui, aprovando aquele projeto? Cordeiros! Não temos coragem de enfrentar e de trazer para cá um projeto, por exemplo, que ponha contribuição social sobre o lucro dos bancos ou que acabe com o benefício das petroleiras. Disso nós não temos coragem. Agora, tirar o PIS/Cofins nós temos coragem porque, claro, aí não afeta os grandes, vai afetar os pequenos, e os pequenos não vêm aqui mesmo fazer lobby. É um erro o que esta Casa fez.

    Esta Casa está errando uma em cima da outra desde que aprovou aquele impeachment da Dilma e nós avisamos: "Vocês vão jogar o País na instabilidade." Está estável o Brasil? Não tiveram dois anos para consertar ou vão ficar dez anos dizendo que a culpa era do PT e do Lula? Sendo que, nos governos do PT e do Lula, o povo brasileiro comia, tinha dignidade, vestia, não precisava fazer prestação para comprar gás de cozinha, não; o povo brasileiro fazia prestação para comprar geladeira, televisão, carro, casa, eletrodoméstico. Agora é uma vergonha: tem que fazer prestação para pagar combustível, pagar gás de cozinha! E vocês vêm aqui ainda dizer que a culpa é daquele governo! Não tiveram dois anos para consertar? Dois anos! Não estavam com a elite da elite da política e do mercado? Não era isso? Não entregaram a Petrobras para o grande cara de mercado; o Banco Central para o grande cara do banco; a Fazenda para quem achavam que tinham que entregar? E por que não fizeram? Dois anos! Eu não estou falando de dois dias, não; dois anos. Vocês pioraram, pioraram; essa é a verdade.

    Duvido que com a Dilma estaria assim. Duvido! E aí vocês ainda teriam a condição de disputar a eleição conosco. Agora, nem condição de disputar vocês têm, não têm candidato, não têm programa. Quem é o candidato de vocês? Quem é o candidato do golpe? Quem é o candidato que vai defender isso aí? Quero ver o candidato que vai defender reforma trabalhista na rua, que vai defender reforma da previdência – quero ver a coragem que tem –, que vai defender o preço da gasolina para que o mercado possa continuar investindo na Petrobras. Porque é isto que o Pedro Parente está fazendo: deixando o litro da gasolina no preço que está, porque diz que é interesse dos acionistas. E o interesse do povo brasileiro? Quero ver quem é que vai defender isso, quem tem coragem de defender isso. Eu espero que todos tenham coerência, porque estão defendendo o que está acontecendo aí.

    Ontem, foi um absurdo a votação nesta Casa. Um absurdo! Dizer que "Não, temos que estar unidos para resolver a crise." Resolveram que crise? Que crise vocês resolveram? Sessenta dias? Sessenta dias, tirando R$0,46 do litro do diesel para o povo pagar no Orçamento da União? Que solução bizarra é essa? De quinta categoria. E achar que estamos resolvendo a crise... Resolver a crise é ter coragem de votar projeto aqui que contrarie o mercado, que hoje manda na Petrobras; o mercado, que hoje manda nesse Governo de quinta categoria. Porque esse Governo é só para poderoso, é só para quem tem dinheiro, é só para quem é rico. E esta Casa aqui é cúmplice disso. Desculpem-me, meus colegas!

    Eu queria ter falado ontem aqui, e o Eunício não me deixou falar. O Senador Eunício disse que eu não poderia falar, que poderia falar um só por partido, porque agora está assim: fala um só por partido. Nem discutir mais nós podemos. Fala um por partido. Porque eu queria ter falado aqui, quando este plenário estava cheio, porque nós temos – nós, não –, a grande maioria desta Casa tem responsabilidade pelo que está acontecendo e está continuando a ter.

    Esta crise não vai parar. Não adianta a Rede Globo fazer campanha contra caminhoneiro; não adianta o Temer dizer que é um pessoal que está fazendo baderna; não adianta os grandes dizerem. Sabe por quê? Porque o povo está infeliz, o povo está triste, o povo está sofrendo, o povo está com problema de comer, de pagar o aluguel, de pagar as contas no final do mês. É que a gente não sabe o que é isso! E me desculpe, mas a maioria desta Casa, assim como a maioria do Governo, não pisa o chão pobre deste País ou, se pisa, é para fazer discurso e para não ouvir o que os outros têm para falar, gente! Não é possível que a gente se abstraia tanto da realidade do Brasil! Não é possível! Gente, o que foi votado ontem aqui é uma temerosidade. É bem a cara desse Governo, uma temerosidade. Não vai adiantar porque de novo é para a população pagar a conta. Essa crise não tem fim. Ainda bem que nós estamos perto de um processo eleitoral.

    E eu espero, eu espero sinceramente que este Congresso Nacional tenha dignidade de defender a democracia, tenha dignidade de defender eleições livres e diretas e não tire ninguém do processo eleitoral, porque hoje quem tem condições de resolver essa crise, quem tem a confiança do povo brasileiro está encarcerado lá em Curitiba, mas tem direito eleitoral ainda, está com seus direitos preservados. É Lula. Ou tem outro nome? Diga-me um nome aí? Qual é o nome que tem hoje condições de ganhar uma eleição neste País? Lula tem 40%, ganha no primeiro turno. Por quê? Por que quebrou o País? Parece que a opinião do povo não é essa, viu, gente! A opinião de que o Lula quebrou o País está meio que circunscrita aqui, no convescote de Brasília, porque, para a grande massa popular, Lula foi o melhor Presidente que este País já teve. Foi com Lula que havia direitos, foi com Lula que havia emprego, com Lula havia gasolina barata, com Lula havia diesel, com Lula você podia pagar a parcela do seu caminhão, com Lula você podia fazer a prestação da sua casa. É o que o povo está dizendo.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Ou nós vamos desconsiderar isso? Vamos achar que isso não existe?

    Pois bem, eu espero sinceramente que esta Casa tenha a dignidade de garantir eleições livres e diretas e defenda o direito de Lula, e defenda o direito de Lula de participar das eleições.

    Concedo um aparte ao Senador Lindbergh.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Senadora Gleisi, eu entendo a indignação de V. Exª. Na minha avaliação, o que houve ontem aqui foi uma vergonha: este Senado Federal zerar PIS/Cofins para subsidiar lucro de acionistas da Petrobras e de importadores de diesel também – vale dizer: importadores de diesel. Esse é o maior absurdo. Quem são os maiores importadores de diesel? Shell, Cosan, Ipiranga. São esses, que estão ganhando muito dinheiro aqui, no Brasil. Sabe por quê, Senadora Gleisi?

(Soa a campainha.)

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Eles colocaram o preço do diesel lá em cima. Isso favoreceu quem? Havia 20 empresas de importação, e agora são 400, que estão ganhando rios de dinheiro, porque estão comprando nos Estados Unidos, houve um aumento da importação dos Estados de 41% para 82%, e estão vendendo aqui. Aí vão tirar do PIS/Cofins, que é dinheiro da seguridade social, da assistência social. E aí entra no ponto que é central, que nós estamos dizendo desde o começo: o problema é a política de preços da Petrobras. Se o Presidente encarecidamente puder dar uns três minutos – isto fica sempre buzinando –, eu agradeço. É a política de preços da Petrobras. E aqui, Senadora Gleisi, há um Consultor Legislativo, e é isso que eu quero apresentar de contribuição a V. Exª, que se chama Paulo César Lima na área de petróleo e gás. É um Consultor da Câmara dos Deputados que está aposentado e que fez um estudo da composição do preço da gasolina, do diesel e do gás. Analisemos o do diesel. O que é que ele fala? Que a Petrobras está com uma margem de lucro de 150%! E nisso nós não mexemos, não tocamos em nada. Sinceramente, todo mundo sabe que Pedro Parente é o Presidente da Bolsa de Valores de São Paulo. Nós colocamos para cuidar da Petrobras aquele que representa o capital financeiro.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – É a raposa tomando conta do galinheiro.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Claro. E por que aumentou o preço? Porque está aumentando os lucros desse acionista. Olhe aqui o estudo feito pelo Consultor. Eu espero que a Petrobras desminta. Inclusive, nós do PT apresentamos um requerimento de informações pedindo que a Petrobras abra a caixa-preta. Pois bem. Contando tudo, extração, produção, distribuição, o custo do barril de diesel sai a US$40. Ao final, sabe o que é que significa isso? Que ela pode entregar para a refinaria ao preço de 0,93. Hoje, ela está entregando ao preço de 2,33. É uma loucura completa! Eu espero que eles desmintam isso aqui e apresentem os números deles. Há mais, Senadora Gleisi: com essa redução de 10% do diesel, mesmo assim, o lucro fica em 126%. Então, esse é o escândalo! E vêm aqui Senadores aceitar a proposta do Temer de tirar do PIS/Cofins. Eu encerro o meu aparte dizendo que nós apresentamos também outra proposta: se fossem mexer no Orçamento da União, suspendamos uma renúncia que foi dada para as petroleiras na Medida Provisória 795. Isso teria um custo de 16 bilhões, mas não mexeriam em quem recebe assistência social. A outra proposta nossa é aumentar a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido dos bancos, porque é uma loucura o que esses bancos continuam ganhando aqui no meio de uma crise como esta. Parabenizo V. Exª, porque V. Exª falou, indignada, e eu já falei hoje aqui também. De fato, ver este Senado de joelhos a um Presidente desmoralizado como este, aprovando uma coisa como esta... Volto a dizer: é porque não tem coragem de mexer com os que estão ganhando. Quem está ganhando, Presidente, em um caso como este, são os acionistas que investem na Bolsa de Nova York, mas principalmente as petroleiras, que ganham duas vezes. Elas ganham, porque estamos importando dos Estados Unidos, e são elas que vendem; e ganham, também porque elas vão receber subvenção. Os importadores de diesel vão receber subvenção. É dinheiro público, do Orçamento, para Shell, para Ipiranga e para as grandes petroleiras. Muito obrigado.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Agradeço o aparte, Senador Lindbergh.

    Eu também estou aqui já encerrando, mas eu queria só deixar registrado que a solução apresentada pelo Governo e aprovada ontem aqui não vai debelar a crise. Muito pelo contrário, ela vai aumentar, porque nós estamos retirando recursos do Orçamento da área social, que é tão importante para a vida do povo pobre do Brasil, daquele que ganha pouco, daquele que ganha um ou dois salários mínimos, às vezes, nem isso.

(Intervenção fora do microfone.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Estamos tirando dessa gente, infelizmente, em vez de tirar dos bancos e em vez de retirar daqueles que têm dinheiro.

    Senador Zeze Perrella, V. Exª quer um aparte ou quer falar?

    O Sr. Zeze Perrella (Bloco Maioria/MDB - MG) – Eu gostaria, Senadora. Eu estou comentando com o Senador Lindbergh aqui, e, enfim, estamos de acordo com algumas coisas. O que está acontecendo no Brasil é verdadeiramente um absurdo. Concordo plenamente com isso aí, porque, se existe um monopólio, o monopólio é para preservar...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Zeze Perrella (Bloco Maioria/MDB - MG) – ... os brasileiros. Estamos discutindo negócio de 10 bilhões, que vão ser o custo dessa operação. Somente a Petrobras nesses 10 dias teve um prejuízo na Bolsa de mais de 60 bilhões. Então, nós brasileiros já perdemos 60 bilhões, se isso não voltar ao patamar antigo. Trabalhar com um lucro de 150% é um negócio inimaginável. É melhor do que banco, porque dizem que o melhor negócio do mundo é um banco bem administrado e que o segundo melhor é um banco mal administrado. E, por falar em banco, os principais bancos brasileiros fecharam o ano com R$70 bilhões de lucro. E ninguém aqui tem coragem de mexer no sistema financeiro, que é um cancro. Para você fazer uma ficha de crédito, eles fazem ficha até da sua mãe; agora, para receber um cartão de crédito com juros de 500%, você recebe pelos Correios, sem ficha...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Zeze Perrella (Bloco Maioria/MDB - MG) – Eles querem que o coitado do brasileiro atrase o cartão de crédito para entrar naqueles juros de 500%. Está havendo aqui uma CPI dos Bancos, eu espero que ela, realmente, surja algum efeito. Nós sabemos que os bancos financiam grandes campanhas, são os grandes patrocinadores da mídia brasileira. Ninguém fala deles. É bom mexer nessa ferida. Vamos cobrar dos bancos. Se aumentassem 10% no que os bancos ganharam no ano passado, nós teríamos só dos principais bancos 7 bi. Eu recebi hoje, Senadora Gleisi, no meu WhatsApp, um negócio interessante, que eu achei que serve para todos nós refletirmos. Quando aconteceu o tsunami no Japão, os comerciantes japoneses cobraram tudo a preço de custo para que o povo não fosse penalizado...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Zeze Perrella (Bloco Maioria/MDB - MG) – Quando aconteceu o furacão Katrina nos Estados Unidos, da mesma maneira, o governo mandou até baixar os preços para que a população não fosse penalizada. Na França, quando aconteceram os atentados terroristas, os táxis rodavam de graça para ajudar a população. No Brasil, o que aconteceu?! Então, o problema nosso não é só a classe política, não. Há aqueles brasileiros que gostam de dizer que aqui ninguém vale nada, que a classe política não vale nada. Cadê esses brasileiros que se aproveitam de uma situação e cobram um litro de gasolina a R$10, um pé de alface a R$7, uma saca de batata a R$500, aproveitando-se da situação?! Será que esses postos de gasolina, que cobraram R$10 no litro de gasolina, Senadora Gleisi, vão respeitar esses R$0,46? São uns aproveitadores na sua boa maioria – obviamente, não posso generalizar, existem os bons comerciantes. Agora, o Brasil é isso. O que existe no Brasil hoje? O brasileiro só é solidário no câncer, parece-me. É uma exploração! É uma exploração! E nós temos que repensar.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Zeze Perrella (Bloco Maioria/MDB - MG) – Realmente, a Petrobras não pode trabalhar com uma margem de lucro tão grande. E, se V. Exª analisar também que os Estados, apesar das suas dificuldades... O Governo teria outras saídas? Com o litro de gasolina a R$3, o Estado que cobra 25% ganha R$0,75; a R$5, ele ganha quase o dobro disso. Se eles tivessem ajudado com uma pequena parcela, uma pequena contribuição, eles não iriam ter a sua arrecadação prejudicada, não, porque o cálculo era feito em cima de R$3 há poucos dias e agora é feito em cima de R$5,00. Porém, ninguém quis dar a sua contribuição. E acabou sobrando para o povo brasileiro. Eu espero que o Governo Temer arranje outra saída, que isso seja bem transitório, e arranjemos outra saída. Aliás, sou a favor de que o Governo controle os preços. Não é congelamento; é patrulhar os preços; é fiscalizar os preços e tabelar, dando uma margem para a Petrobras que seja de 50% em vez de 150%. Nós estamos beneficiando 49%...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Zeze Perrella (Bloco Maioria/MDB - MG) – Já termino, Senador. Estamos beneficiando 49% dos investidores estrangeiros em detrimento de todos os brasileiros. Para que o monopólio, então, se não é para preservar o interesse da sociedade brasileira? Fica o meu registro, Senadora Gleisi. Obrigado pelo aparte.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Agradeço, Senador Zeze Perrella.

    Acho que nós podíamos ter, sim, encaminhado de forma diferente. Como disse aqui o Senador Lindbergh, nós temos três projetos, pelo menos, que cumpririam essa função de dar uma saída estrutural à crise, baseados já em experiências práticas que tivemos, principalmente no governo do Presidente Lula. É lamentável o que está acontecendo com o Brasil hoje.

    Eu espero, sinceramente, Sr. Presidente, Srs. Senadores, que possamos dignificar a nossa democracia e termos eleições livres, diretas, democráticas agora, em outubro, para que o País possa sair da crise. Não sairemos da crise, sem ser pela democracia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/2018 - Página 76