Discurso durante a 85ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões sobre as lições deixadas pela greve dos caminhoneiros acerca dos equívocos na condução da economia brasileira.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Reflexões sobre as lições deixadas pela greve dos caminhoneiros acerca dos equívocos na condução da economia brasileira.
Aparteantes
José Medeiros, Vanessa Grazziotin.
Publicação
Publicação no DSF de 05/06/2018 - Página 22
Assunto
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO FEDERAL, COMENTARIO, GREVE, CATEGORIA PROFISSIONAL, MOTORISTA, CAMINHÃO, OBJETIVO, COMBATE, AUMENTO, PREÇO, COMBUSTIVEL.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, eu fico contente por ter aqui um grupo de alunos do Albert Sabin, porque vou falar sobre as lições que nós poderíamos tirar desses últimos dias no Brasil.

    Todos estão vendo o lado negativo dessa crise terrível e de um Governo incompetente, mas temos algumas lições que, se soubermos aproveitá-las, Senador Medeiros, vai ser muito útil.

    Nós que somos professores temos a ideia do que se chama pedagogia da catástrofe: é aquilo que aprendemos com as tragédias. Muitos não aprendem, e as tragédias se sucedem. Houve uma catástrofe. Esses últimos dias foram catastróficos para o funcionamento do País, para o dia a dia de cada um de nós, e até para a confiança que nós temos no nosso País, uma catástrofe que pode nos dar algumas lições.

    A primeira delas, Senador, é que há 50 anos, mais até, todos os anos o Brasil tira dinheiro da educação, da saúde, do saneamento para financiar a indústria automobilística; 50 anos, 55, 60 anos desde que ela se iniciou.

    Para fazer as rodovias se usava cimento que saía da moradia do povo, porque ninguém pode usar uma mesma saca de cimento em duas obras; um tijolo em duas paredes. Mas nós, por 50 anos, assistimos iludidos a prioridade à indústria automobilística.

    A greve dos caminhoneiros associada à PEC do Teto – que tantos criticam e eu como professor não posso criticar porque ela é pedagógica – mostrou que, para sair da crise, para barrar a catástrofe, vai ser preciso tirar dinheiro até da educação e saúde. Se fosse dois anos atrás, esse dinheiro sairia da educação e da saúde sem ninguém saber, porque seria diluído na inflação, todos dariam alguns centavos. Agora, sabemos de onde sai. E temos a chance, Senador, de lutarmos para que não saia da educação e da saúde; mas temos de dizer de onde vai sair. Essa é a primeira lição dos caminhoneiros. Mostrou a realidade para a gente.

    O segundo é o erro de décadas de basearmos no combustível fóssil a energia para essa indústria automobilística. E lá atrás, durante o regime militar – que nós todos criticamos – começou o álcool, e barramos depois. Quando o preço do petróleo caiu, saímos do álcool e fomos para o petróleo. Agora o petróleo sobe, queremos que o subsídio compense ao invés de se investir mais ainda no álcool e no carro elétrico, que já em tantos lugares está sendo adotado – e há um projeto aqui do Senador Telmário que dá o prazo até 2060 para que não se fabrique mais nenhum carro que não seja a álcool ou elétrico.

    Então, a segunda lição é que nós erramos na matriz energética depois de termos errado na matriz do transporte: o transporte rodoviário e combustível fóssil.

    O terceiro é que temos que refletir sem preconceito sobre o monopólio dado à Petrobras. Temos que refletir sobre isso. O interesse nosso aqui deve ser a Nação. Mas a Nação é atendida com monopólio ou com a disputa de preços entre empresas, inclusive a estatal? Não estou propondo privatização, estou propondo é desprivilegiação da estatal. Está na hora de discutirmos isso.

    O quarto erro foi, sim, eu reconheço, o equívoco e a incompetência até do reajuste diário. Eu tenho o maior respeito – e hoje em dia ninguém fala bem – por esse Sr. Pedro Parente, mas foi um equívoco o reajuste diário.

    Qualquer dono de padaria não reajusta o pão todo o dia, mesmo que o trigo seja importado e o dólar seja valorizado. O padeiro ajusta o preço durante algum tempo, perdendo, depois ganhando mais, mas mantém sua clientela com um preço não reajustado durante um período. Foi um equívoco esse reajuste diário. Tinha que ser contabilizado todo o aumento do preço do petróleo. Tinha que ser contabilizado todo o valor, o aumento do câmbio, do dólar, mas não precisava repassar isso on-line, para o consumidor. Foi um equívoco.

    Os caminhoneiros nos mostraram isso, porque nós não estávamos falando isso aqui, eu não estava discutindo isso aqui, eu vi poucos. Foi um equívoco.

    Nós aprendemos também com os caminhoneiros que não se faz justiça sobre uma economia ineficiente. A sociedade perde justiça, a que tem ainda, quando a economia começa a quebrar. Aí é um exemplo de que, na Venezuela, a PDV, que é a Petrobras deles, mantém o preço do petróleo e da gasolina quase zero. Estou falando sério, é quase zero, é quase doada a gasolina na Venezuela. Eles estão bem? Não estão bem. Por pior que fosse a tragédia do reajuste diário, que não é o que eu recomendo, estaríamos melhor do que na Venezuela, com a gasolina doada a todos os venezuelanos que pararem em um posto de gasolina.

    Então, não se faz justiça sobre economia ineficiente. A economia tem que ser eficiente para, com isso, usarmos os recursos que vão para o poder público para investir naquilo que traz justiça.

    E para mim o que traz justiça é, sobretudo, a educação. No dia em que o filho do trabalhador estudar numa escola tão boa quanto o filho do patrão, a igualdade vem conforme o talento de cada um, como no futebol. Ontem eu estava vendo o jogo e vi os treinos um dia desses. Você não vê jogadores nem brancos, nem de origem rica na Seleção Brasileira. Tem algum? Que eu saiba não tem. Por que esses pobres e negros em geral chegaram à seleção? Porque a bola é redonda para eles tanto quanto é redonda para os brancos e para os ricos. E aí o talento os leva ali. Nós temos que fazer isso também não só com o jogador de futebol, mas também com os cientistas, também com os grandes artistas. E para isso é preciso a escola, como a bola, ser redonda para todos.

    A sexta lição dos caminhoneiros foi desmascarar a demagogia. Eu vi aqui gente que criticava a Presidente Dilma, porque jogava o preço do combustível lá para baixo, em troca de voto e até de propina nas construções que eram feitas com preço mais alto do que deveria, e era criticada aqui. Esses que criticavam o governo anterior, por baixar o preço do combustível artificialmente, agora cobraram que o Governo Temer faça o mesmo.

    Nós fomos dominados por uma grande demagogia nesses últimos dias. E essa demagogia levou a uma sétima lição dos caminhoneiros para nós, que foi o desmascaramento do antagonismo entre os partidos.

    Eu vi aqui PT e PSDB juntos, discurso muito parecido, todos pedindo a cabeça do Pedro Parente, todos pedindo que o Governo interviesse para colocar o preço do combustível da gasolineira lá embaixo, sem uma preocupação maior com a eficiência, com o equilíbrio das contas.

    A oitava lição – essa aí é a que todo mundo percebe mais – foi uma incompetência grande do Governo que está aí. Incompetência, primeiro, para prever. Eu não sei para que serve a Abin, se não foi capaz de prever a dimensão dessa greve e a dimensão das consequências da greve, e incapaz de encontrar uma solução rápida e fácil.

    Essa solução, se houvesse uma boa previsibilidade, já deveria estar pronta antes de a greve começar. A greve começou, trariam-se aqui os líderes, e já se daria a solução.

    Estou dizendo "a greve começou", porque aprendi, como governador, que às vezes não é bom, politicamente, você se antecipar à greve e dar resposta. Eu assumi, Senador, e dei um imenso aumento de salário para os professores – sem greve. Dois anos depois, eles fizeram uma greve para ter um aumento, e eu já não tinha dinheiro. E aquele aumento eles não reconheciam, porque não foi fruto de uma greve: o sindicato se sentiu escanteado.

    Então, eu não disse antecipar e dar solução antes da greve: deixar a greve durar duas horas, se for o caso, e trazer a solução. Essa solução não tinha grande dificuldade em ser formulada. O Governo não foi capaz de prever e foi incapaz de trazer a solução.

    Um outro alerta que a mim me toca pessoalmente é como este Governo foi incapaz de aproveitar a competência do Sr. Pedro Parente. Digam o que quiserem, mas é competente e é honesto. Basta ver qual era o prejuízo e qual foi o lucro.

    Agora, essa competência precisava ser administrada, para servir ao interesse comum do Brasil. Não souberam fazer isso. Não souberam combinar a competência com a oportunidade social. Não souberam combinar o respeito à Aritmética com a sensibilidade ao social.

    Este é o nosso desafio, Senador Medeiros: como combinar respeito à Aritmética com sensibilidade social; como ter uma Petrobras protegida e com a população satisfeita. Nem é ter a população satisfeita com a Petrobras destruída, nem é ter a Petrobras protegida com a população descontente.

    Esse Governo foi incompetente em usar um quadro nacional como o Sr. Pedro Parente, economista, creio – não sei se engenheiro ou economista –, para fazer essa combinação da Aritmética com a sensibilidade, da Aritmética Financeira com a sensibilidade social.

    Essas são as lições, Sr. Presidente.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – V. Exª me concede um aparte, Senador?

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Sim.

    Eu gostaria de continuar esta minha fala, dizendo como é que eu imagino que podemos tirar proveito das lições daqui para frente. Eu gostaria muito disso, porque uma das tragédias é que a gente não aproveita a tragédia para evitar que ela se repita. Ou seja, a pedagogia da catástrofe só funciona quando nós aprendemos com ela, e, lamentavelmente, eu acho que essa será mais uma da qual não vamos tirar vantagem. Tiramos as lições, mas não vamos usá-las.

    Eu gostaria de falar o que é que eu proponho, mas eu prefiro deixar para amanhã e passar a palavra aos dois apartes, porque os apartes enriquecem muito mais o discurso do que ele simplesmente feito. E amanhã temos tempo para eu falar aqui o que eu acho que deve ser feito no imediato e no longo prazo.

    O Senador Medeiros pediu a palavra primeiro; depois, a Senadora Vanessa.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Muito obrigado, Sr. Presidente e Senador Cristovam Buarque. V. Exª poderia ser chamado de profeta, Senador Cristovam, porque parece que estava prevendo. Quando nós começamos a discutir a PEC 95, a oposição à PEC gritava pelos quatro cantos, injustamente, pela luta política que fazia – é normal isso aqui dentro –, mas V. Exª dizia muito claramente: "Nós vamos ter oportunidade agora, no Brasil, de poder escolher: nós vamos gastar nisso ou naquilo." Nós vamos ter oportunidade de poder eleger prioridades, coisa que até agora o País não fez. Nós vamos ter a oportunidade de descobrir quem são os Parlamentares, quem são os políticos neste País que, realmente, lutam pela educação, lutam pelo dinheiro na educação, porque eles vão se deparar com situações em que vão ter que escolher entre destinar verba para alguma outra coisa ou para a educação, porque não haverá duas verbas para os dois. Haverá só uma. E nós chegamos a este momento, Senador Cristovam, em que a população brasileira se deparou com a greve dos caminhoneiros, e a população teve que se decidir e optar. E essa encruzilhada é muito importante – coisa que nós não tínhamos antes. E V. Exª traz o foco, o debate, e ilumina justamente sobre esse ponto. Eu mesmo não tinha percebido isso. Agradeço por ter trazido à Nação este enfoque: o quão é importante você ter o controle. Porque o descontrole é o terreno fértil para os espertos ganharem dinheiro, é o terreno fértil para a inflação, é o terreno fértil para meter a mão no bolso do povo, porque não há momento mais oportuno para maquiar as contas do que num terreno de alta inflação. Então, V. Exª faz um discurso memorável, hoje, aqui, e lhe agradeço este aparte.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Obrigado, Senador. Eu quero me lembrar dessas nossas conversas.

    Eu sempre uso como comparação, para visualizar, que eu acredito na Aritmética. Eu acredito que dois mais dois é igual a quatro. Logo, se um governo arrecada quatro, não pode gastar cinco. A não ser que faça um truque da cartola da inflação. É mais ou menos como você ter um tijolo e duas paredes para colocar o tijolo. Você tem dois caminhos. Em um, você põe o tijolo nessa parede e diz: no próximo ano eu faço a outra parede; no outro, pega esse tijolo, dissolve na água, faz dois tijolinhos anêmicos e põe um em cada parede. As duas caem. O nome disso é inflação.

    E eu acho que a inflação é a pior de todas as formas de corrupção. Ela não enriquece uma pessoa que pega propina, mas rouba de todos; dilui o roubo e ainda rouba a mente, porque as pessoas não percebem que estão sendo roubadas. O pior assalto é aquele que a gente não sente que está sendo assaltado. Esse é o pior assalto. Esse assalto indolor, que não nos permite enfrentá-lo, que não permite identificar o ladrão. O ladrão não é ninguém, quando se tem inflação.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Impossibilita a defesa da vítima.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Impossibilita a defesa, até porque ela não é considerada vítima, na medida em que todos são e todos aceitam.

    Então, ao dizer: "Nós só vamos gastar o que arrecadamos", nós caímos na real e isso é positivo. Ao mesmo tempo, aprofunda o debate ideológico, porque, agora, o verbo reivindicar não serve mais. Agora, o verbo é o que o senhor usou: lutar. Antigamente, nós dizíamos: "Vamos pedir um aumento de salário." Agora, nós vamos ter que dizer de onde sai o dinheiro.

    Quando dizemos: "Vamos reivindicar um aumento", não está afetando ninguém. Então, nós pedimos levianamente, pedimos sem consequência. Não luta; apenas reivindica. Veja que o idioma português não inventou levianamente o verbo reivindicar e o verbo lutar. Não, não foi um capricho dos que fazem dicionário. É que são dois verbos diferentes. Reivindicar é pedir sem lutar; lutar é pedir lutando.

    A partir de agora, nós, que defendemos mais recursos para a educação, vamos ter que dizer de onde saem; não podemos apenas pedir mais. Vamos ter que... É preciso parar com ajuda à moradia para juízes, para podermos colocar na educação...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – ... e na saúde.

    Vamos dizer que têm que acabar com mordomias, inclusive nossas, aqui, a fim de que vão para a educação e a saúde. Acabou o tempo de nós apenas reivindicarmos. Isso amorteceu a consciência ideológica das forças de esquerda no Brasil, que, ao buscarem reivindicando, não lutavam, e daí perderam o vigor transformador da sociedade.

    Nossos partidos, Senadora – e vou passar a palavra para a Senadora Vanessa –, se transformaram apenas em sindicatos, lutando por mais recursos, em vez de revolucionários querendo transformar a sociedade. Nós nos acostumamos com a sociedade. Perdemos o vigor transformador.

    E uma das coisas que nos acomodou foi o vício, não secular, mas por dezenas de anos, com a inflação. A inflação acomoda as forças progressistas...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – ... que passam apenas a reivindicar maior participação no bolo, no PIB, e não uma transformação social, inclusive nas características do Produto Interno Bruto. Por exemplo, menos carros e mais trens; menos combustível fóssil e mais combustível elétrico. E, aqui, elétrico com base solar, uma homenagem ao nosso Senador, aqui, que é o grande baluarte da energia solar.

    Era isso que eu queria dizer. Mas vou passar para a Senadora Vanessa.

    E amanhã eu vou trazer para cá, porque eu acho que nós devemos fazer para o imediato e para o futuro, no que se refere às lições que eu, pelo menos, tiro desses dias catastróficos que atravessamos.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Com certeza.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Senadora Vanessa.

    O SR. PRESIDENTE (Hélio José. Bloco Maioria/PROS - DF) – Senador Cristovam – Vanessa, só um instantinho –, eu só queria cumprimentar os alunos do Cefor, que estão aqui nos visitando.

    São servidores da Câmara. A Ana Cláudia é a mediadora da turma.

    Obrigado pela visita.

    Vocês são gestores, não é?

(Manifestação da galeria.)

    O SR. PRESIDENTE (Hélio José. Bloco Maioria/PROS - DF) – Professores? Que maravilha!

    Sejam bem-vindos!

    Estamos aqui, em homenagem a vocês, com um professor na tribuna, o Prof. Cristovam Buarque, nosso Senador da República de Brasília.

    Eu sou Senador de Brasília, Hélio José, e a Vanessa Grazziotin, que vai falar agora, neste aparte, é Senadora do Amazonas, a quem o Senador Cristovam acabou de passar a palavra.

    Obrigado a vocês pela visita, está bem?

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Muito obrigada, Senador Cristovam. Também dou as boas-vindas aos visitantes do Senado Federal. Mas me permita, até pela nossa amizade, Senador Cristovam, divergir. V. Exª, quando me concedeu um aparte, certamente sabia...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – É lógico.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ... que eu já iria divergir do pensamento de V. Exª, mas o fazemos de forma muito respeitosa: V. Exª tentando me convencer, e eu tentando convencer V. Exª.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Isso.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Acho que o principal ambos carregam em si – tanto V. Exª como eu –, que é acreditar naquilo que fala. Então, Senador – eu rapidamente falo isto –, em relação a essa escolha, como se fosse a "escolha de Sofia", escolha que o Brasil tem que fazer diante da crise e dos investimentos, eu penso que... V. Exª obviamente se refere à emenda constitucional que determina o teto de gastos públicos. Lamentavelmente, Senador, a escolha número um que o Parlamento deveria ter feito, que o Brasil deveria ter feito, que seria limitar os gastos financeiros, é a única que permanece livre – e sei que V. Exª discorda disso. Então, esse é o grande problema. Limita-se saúde, limita-se educação, limita-se tudo, menos os gastos financeiros.

(Soa a campainha.)

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – E, aí, Senador Cristovam, num País com tantas necessidades, eu pergunto: como é que nós vamos escolher? Tirar da saúde para colocar na educação ou tirar da educação para colocar na segurança? Eu fui contra e continuo sendo contra. Acho que o nosso grande desafio é revogar essa emenda constitucional. Agora, em relação ao período e ao momento que nós vivemos... E por isso eu pedi um aparte a V. Exª e o faço, Senador Cristovam, da forma mais respeitosa, porque eu não quero aqui colocar em xeque a honestidade do Sr. Pedro Parente, que acabou de pedir demissão da Petrobras. Eu apenas quero dizer e lembrar a V. Exª, Senador Cristovam, que Pedro Parente não é novo no serviço público. Ele fazia parte do governo Sarney, do Banco Central, quando aconteceu isso que V. Exª diz que é a pior forma de corrupção, que é a inflação.

(Soa a campainha.)

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Ou seja, no período da hiperinflação, Pedro Parente fazia parte do Banco Central. Quando Collor confiscou a poupança dos brasileiros, Parente estava onde? No Ministério da Fazenda. Quando estourou a dívida externa, com o Presidente Itamar Franco, Parente estava no Fundo Monetário Internacional. Quando houve o apagão – se não bastasse tudo isso –, o apagão de energia no período de Fernando Henrique Cardoso, onde estava Parente? No Ministério de Minas e Energia. E, até ontem, quando o Brasil paralisou, quando os caminhoneiros paralisaram o Brasil e tiveram todo o apoio da população, apesar do preço do tomate – tiveram todo o apoio da população brasileira –, Pedro Parente estava na Petrobras, mas por pouco tempo. Ele estava na Petrobras e fazia parte também do Conselho de Administração da BRF, que todos conhecem, uma grande empresa privada. O jornal Valor do dia de hoje diz o seguinte: "Parente pode ser definido como [novo] CEO da BRF ainda nesta semana." Ou seja, o principal executivo de uma empresa privada, ainda esta semana. Então, primeiro, eu quero dizer que não o colocaria na conta de pessoas assim tão dignas de fazerem parte ou de estarem à frente de cargos tão importantes no serviço público, como ele já esteve. Não quero aqui questionar a sua honestidade, de maneira nenhuma, mas não o considero uma pessoa digna de estar à frente de cargos públicos tão importantes. E, segundo, a Petrobras, este ano, vai completar 65 anos. Essa política de amortecimento do preço dos combustíveis no Brasil não era uma política da Dilma, Senador Cristovam. Não! É uma política que vigora no Brasil há mais de 50 anos. Eu não tenho a experiência de V. Exª...

(Soa a campainha.)

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ... mas eu nunca vi na minha vida – nunca vi na minha vida – gasolina aumentar todo dia. Somente no período de Michel Temer foram 229 aumentos. Senador, eu faço esse aparte apenas para provocar o debate – porque, como V. Exª, eu ocuparei a tribuna, mas voltarei amanhã também para falar sobre o assunto – e pedir um apoio de V. Exª. Nós temos uma Comissão Parlamentar de Inquérito com assinaturas suficientes para discutir e trabalhar a política de preços da Petrobras. É uma CPI diferente de outras. É uma CPI de 30 dias, que tem o objetivo de fazer uma análise técnica para parar com aquela história de dizer: a Petrobras suporta ou a Petrobras não suporta? Vamos botar os números na mesa, porque quem toma decisão somos nós. Quem toma decisões é o Parlamento brasileiro. E o Parlamento brasileiro tem que ter acesso, sim, a informações, mesmo que sejam sigilosas, mesmo que sejam protegidas pelo mercado, porque, sem essas informações...

(Interrupção do som.)

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM. Fora do microfone.) – ... nós não podemos tomar decisão.

(Soa a campainha.)

    Então, Senador, eu peço muito o seu apoio para que não deixemos acontecer com essa CPI o que aconteceu com a CPI para a qual o Senador Hélio José, que nos dirige, coletou as assinaturas. Até hoje a CPI da Eletrobras não foi instalada. Essa não! Essa tem caráter de urgência urgentíssima. Então, o meu aparte tem como principal objetivo pedir seu apoio, Senador Cristovam, para que possamos instalar essa CPI e ajudar o Brasil a encontrar os caminhos para tirá-lo desse buraco absoluto, porque, depois da greve dos caminhoneiros, o que nós vimos no último sábado? Aumentou de novo a gasolina. De novo aumentou a gasolina. Não é possível que isso continue. Obrigada, Senador.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Senadora Vanessa, eu que agradeço. Peço alguns segundos a mais, Senador Hélio – até porque vou falar da nossa Comissão do Futuro –, para responder à Senadora Vanessa. Primeiro, eu não conheço o currículo do Pedro Parente como a senhora leu aí. Não conheço. Eu confesso que não conheço. Do apagão, eu me lembro de que foram atrás dele na hora em que foi preciso – dele e do nosso ex-colega aqui José Jorge. Aconteceu um apagão, e eles foram lá tentar resolver.

    Agora, o que eu falei aqui foi que o Brasil, este Governo do Temer, não soube aproveitar a competência de alguém que conhece bem e zela pela aritmética financeira ao ponto de transformar um prejuízo em lucro, não soube aproveitar isso com a sensibilidade social que o Governo deve ter. Para fazer o quê? Primeiro, não haver reajuste diário. Eu não sei se a senhora estava aqui, Senadora Vanessa, mas eu comparei a Petrobras a uma padaria. O trigo sobe todos os dias no mercado internacional. É uma commodity. O dólar sobe também, pesa sobre o trigo, mas os donos de padaria deste Brasil não sobem o pão todos os dias. Eles fazem uma coisa chamada planejamento.

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Esse planejamento permite você não fugir da aritmética do preço internacional do trigo ou do petróleo, do dólar ou de outra moeda, como o euro, e, ao mesmo tempo, dar um conforto à população. Foi incompetência total do Governo.

    Sobre o aproveitamento dele, eu nem me meto. Ele é um cidadão lá, e eu não sei onde ele vai trabalhar depois de ter perdido o emprego na Petrobras, mas, certamente, não vai ficar desempregado.

    Mas o importante é lembrar que nós temos que respeitar a aritmética e ter sensibilidade social para saber quem é que paga o custo da aritmética. Fechar os olhos para o preço do petróleo leva à Venezuela: é de graça a gasolina, mas desfez a PDVSA. Deixar que aumente todo dia é uma insensibilidade social. Pior é não perceber que deve haver uma estratégia de médio e longo prazo para substituir cada vez mais o transporte privado do automóvel a combustível fóssil por transporte público com fontes de energia elétrica, de preferência solar, como defende o Senador Hélio.

    Sobre a CPI, eu acho que eu devo ter assinado essa CPI, Senadora. Se não assinei, houve alguma falha de quem está recolhendo as assinaturas. Não só assinarei, como defenderei. E mais que isso: acabo de combinar com o Senador Hélio, antes de subir aqui, para um debate na Comissão que ele preside, a Comissão Senado do Futuro, com todos os proprietários de transporte individual público – leia-se 99, Uber e táxi –, para discutirmos o preço da gasolina no Brasil.

    Não podemos fugir de debater isso. Mas, por favor, não vamos cair na aritmética de que existe um chapéu mágico de onde o Governo tira dinheiro e cobre o preço internacional do petróleo.

    Não existe chapéu mágico nas finanças. Alguém paga.

    O grande debate é sobre quem vai pagar hoje e sobre como fazemos para que, no futuro, não sejamos dependentes como somos hoje.

    Era isso, Sr. Presidente. Muito obrigado pelo tempo.

    E nossa audiência eu espero que saia ainda neste semestre, para debatermos o preço da gasolina, não só do diesel.

    O SR. PRESIDENTE (Hélio José. Bloco Maioria/PROS - DF) – Será breve, Senador Cristovam.

    Inclusive, Excelência, estou convocando uma reunião para quarta para aprovarmos esse requerimento.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Obrigado.

    Senadora Vanessa, vou atrás da CPI.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/06/2018 - Página 22