Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Expectativa quanto às propostas dos candidatos à Presidência da República para a solução a longo prazo da violência no Brasil.

Autor
Marta Suplicy (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/SP)
Nome completo: Marta Teresa Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Expectativa quanto às propostas dos candidatos à Presidência da República para a solução a longo prazo da violência no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2018 - Página 95
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Indexação
  • EXPECTATIVA, ANUNCIO, PROPOSIÇÃO, CANDIDATO, ELEIÇÃO, DISPUTA, CARGO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PROPAGANDA ELEITORAL, NECESSIDADE, MELHORIA, SEGURANÇA PUBLICA, ECONOMIA, EDUCAÇÃO.

    A SRª MARTA SUPLICY (Bloco Maioria/MDB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Prezado Presidente Garibaldi Alves, caros ouvintes da Rádio e da TV Senado, caros Senadores e Senadoras, eu quero falar do Atlas da Violência que foi publicado hoje e também da campanha presidencial.

    Vamos começar com o Atlas da Violência. É impactante, é estarrecedor. Nós vivemos num país tão violento que imaginamos que nada mais vai tocar o coração ou deixar as nossas almas tão inquietas, vendo uma perspectiva pior. São 30 assassinatos por 100 mil habitantes no Brasil. Houve um aumento de 14% na última década. Quer dizer, é muito sério o que está acontecendo. A taxa brasileira de mortes é 30 vezes a da Europa. Quando se pensa que, de cada 100 mil, 30 são assassinados, é muita gente!

    Estarrecedor também são as crianças vítimas de estupro, e essa taxa, esse dado eu não sabia: 50,9% dos casos registrados de estupro no Brasil em 2016 foram cometidos em crianças com menos de 13 anos de idade. Quer dizer, crianças com menos de 13 anos de idade são estupradas e são a maioria dos casos de estupros no Brasil. É muito impactante! Depois, também, nós temos os estupros de mulheres; e a maioria também, quando ocorre, é violência doméstica, essas situações são nos próprios lares das mulheres.

    O Atlas da Violência também traz uma realidade crua das falhas na atuação do Estado, mas eu estava dizendo que eu vou ligar um pouco isso à campanha presidencial, porque nós temos visto que os candidatos falam um pouco sobre tudo, mas não conseguimos ter uma ideia de que projeto de país têm. Talvez não tenhamos que nos precipitar, porque está no começo. Eles ainda não têm as equipes prontas; a elaboração vai se dando também, inclusive, nos debates, em que é sempre tão importante essa troca de ideias e comparação.

    Mas uma coisa que me parece claríssima: a questão que esse Atlas da Violência mostra – e que é tão impactante – tem tudo a ver com a desigualdade social e com a questão da educação no Brasil. Que nós temos que ter polícia, repressão, combate à criminalidade, quanto a isso não há nenhuma dúvida. Nós sabemos também que você só ter isso é enxugar gelo nos próximos anos. Nós temos que ter um investimento pensado a longo prazo, que não seja um investimento para fazer campanha, dizendo que vai resolver o problema da educação e vai dar oportunidade e emprego, porque não vai ser em um ou dois anos que nós vamos colher esses frutos. Os países que investiram em educação investiram muito do seu orçamento, investiram bem o seu orçamento e demoraram muitos anos para colher os frutos.

    Este tipo de candidatura é que eu estou esperando, Senador: um candidato que faça essa união, porque este Brasil não vai para frente se nós não conseguirmos ter os jovens com uma possibilidade de educação que os qualifique para ter oportunidade na vida, senão está o crime ali chamando. O crime tem muito mais coisas convidativas do que ficar num emprego que não vai dar nada ou numa escola que não ensina nada.

    E agora nós temos a oportunidade que foi essa reforma do ensino médio; é uma grande oportunidade de nós podermos investir na formação dos professores do ensino básico, o que já está ocorrendo, e do ensino médio. Nós temos que pensar o que o século XXI vai exigir e já está exigindo de nós – educadores, Senadores, não importa a profissão.

    Inclusive, uma coisa muito interessante eu percebi, Senador Garibaldi: nós vamos poder ter várias profissões no decorrer da vida. Se nós formos viver 120 anos – provavelmente eu não vou, mas alguns daqui irão até os 120 anos –, em um período da vida, você estuda para determinada função – você se forma, se diploma, investe, por exemplo, ganha prêmios, etc. –, depois você faz outra coisa, e depois você pode fazer outra coisa, e depois você vai fazer outra coisa. Esse é o século XXI.

    Mas nós temos que ensinar os jovens – isto que é tão difícil – para profissões que não existem ainda, profissões que vão exigir qualidades que nós já sabemos que terão que ser desenvolvidas, de criatividade, de capacidade de interpretação, de trabalhar em grupo; qualidades que não são as qualidades que são tão prestigiadas na escola hoje. Hoje acho que não é a maioria das escolas que está no bê-á-bá, de ensinar coisas decorebas, acho que não é mais assim; mas o que é desenvolvido está muito longe do que nós queremos como valores.

    Se nós formos pegar o que existe hoje de bullying... V. Exª fez um projeto tão interessante, em que falou tão bem sobre a questão do suicídio nos jovens e nos adultos e também da questão da automutilação.

    Quer dizer, nós estamos relegando essas questões que são viscerais para a nossa formação, para a formação de um Brasil melhor, para a formação de um Brasil que vá dar resposta à violência que hoje nós vivemos, porque não é armando todas as pessoas, não é olho por olho, dente por dente, não é isso que vai fazer a nossa sociedade mudar. E eu não vejo – eu diria que estamos no começo desse debate eleitoral – essa relação ser feita de forma que nós possamos ter candidaturas que digam que nós vamos fazer isso como projeto de Brasil na área da educação, porque eu acho que não há outro projeto de saída para Brasil se não for na área da educação. Basta vermos os países que tinham situações tão ruins quanto a nossa e que conseguiram sair com esse tipo de visão, de percepção, de investimento.

    Na questão econômica, Senadores, eu não acredito que nós vamos ter propostas muito diferentes. O Brasil está numa situação econômica tão complicada que as propostas serão mais ou menos parecidas: o que é necessário ser feito para o Brasil sair do caos econômico em que se encontra. O que vai ser diferente vão ser as prioridades que as pessoas vão dar – e não temos varinha mágica; não podemos imaginar que nós vamos ter. Por exemplo – agora há muito disto na internet; e eu achei divertido, porque é no ponto –, um economista dizia: "A pessoa quer que diminua o diesel, depois quer que diminua a gasolina." Aí ele fala: "Mas aí vai ter que tirar o recurso não sei de onde." "Ah, isso eu não quero. Eu quero não sei o quê, não sei o quê..." Ou: "Não quero que a previdência..." "Tudo bem, tem que arrumar a previdência; mas então vai ter que diminuir a previdência de 'x', 'y', 'z' categorias." "Não, no meu não mexe!" Assim, nós não vamos fazer nada.

    Agora, nós vamos ter, nessa campanha, candidatos e candidatas que vão dizer exatamente o que pensam, que vão dizer exatamente o que vão fazer, porque eu acho que a população brasileira está cansada de ouvir mentira. A população quer alguém que chegue lá e diga: "Olha, a situação é esta e eu vou ter que fazer isso, isso, isso e isso." Senão, vai acontecer igualzinho o que aconteceu com a Dilma, que não falou... Lembra que a Marina ia deixar o prato sem comida e não sei o quê? Pois foi lá; não era bem nada disso; e acabou com a Marina. Depois fez as coisas que não tinha falado que ia fazer e a economia estava muito ruim.

    Então, nós vamos precisar de candidatos com propostas que não tenham mágica; que não venham batendo e solando e achando que vão, com a violência, acabar com o problema brasileiro; que tenham uma estrutura de personalidade em que nós possamos acreditar e confiar; que falem o que realmente vão fazer; e que, principalmente, deem uma solução ao maior problema brasileiro hoje, que é do que todo mundo tem medo, que é a violência ao sair às ruas, a violência dentro de casa, a violência no trânsito, a violência! Que deem um caminho para a violência, mas que não seja um caminho só da repressão, mas um caminho que caminhe junto com a questão da educação, com a questão principalmente da formação dos nossos professores, porque isso não vai cair do céu.

    Nossos professores têm uma formação que não tem a ver com este século, que não tem a ver com as novas habilidades que têm que ser aprendidas.

    As universidades vão ter, sim, que fazer não uma reforma, como eu ouvi aqui outro dia um reitor dizer que eles não estavam achando que seriam necessárias tantas reformas – não é uma reforma que vai ser necessária, Sr. Reitor –; vai ser preciso uma revolução nessas universidades para se conseguir que os professores aprendam outras formas de ensinar, para esse novo momento que nós vivemos.

    Então, é um desafio muito grande. E esse desabafo veio após ler esse terrível Atlas da Violência e depois de uma audiência pública brilhante com a educadora Claudia Costin, que hoje nos brindou na Comissão de Educação e na Comissão de Assuntos Sociais, junto com a Drª Fernanda, do Ministério da Educação, com considerações das habilidades que temos que desenvolver. É nisso que nós temos de focar, e os nossos candidatos a Presidente têm de apresentar propostas que sejam coerentes, factíveis e que acreditemos sérias.

    Muito obrigada, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2018 - Página 95