Discurso durante a 92ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Solicitação de maior união da classe política para tentar solucionar os problemas pelos quais o país passa.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Solicitação de maior união da classe política para tentar solucionar os problemas pelos quais o país passa.
Publicação
Publicação no DSF de 14/06/2018 - Página 59
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, ATUAÇÃO, POLITICO, OBJETIVO, SOLUÇÃO, PROBLEMA, BRASIL.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF. Sem revisão do orador.) – Presidente Eunício, eu fui de certa maneira provocado, no bom sentido, pela fala do nosso Senador relacionada ao encontro surpreendente desses dias entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos.

    Não vou fazer comentários sobre os detalhes de comunismo e de liberalismo, mas trazer aqui, Senador, uma pergunta: como esses dois que, há poucos meses, como o senhor lembrou, estavam se engalfinhando, prometendo bomba atômica um no outro, agora se encontram; e nós, aqui no Brasil, estamos tão divididos? Como nós não somos capazes de superar isso, Senador Benedito?

    Aqui pode não ter a bomba atômica explodindo, mas tem uma bomba do déficit público explodindo; tem uma bomba da Previdência; tem uma bomba da juventude sem educação, sem perspectiva; tem uma bomba da falta do conhecimento científico e tecnológico que está nos deixando para trás; e tem sobretudo uma bomba contraditória, que é a bomba do vazio político. O vazio político é uma bomba, Senador. Nós temos que superar essas dificuldades porque é um vazio de lideranças, mas vamos ter que trabalhar com as lideranças que existem aí. Quais são essas lideranças? Nós. Nós aqui, 81 Senadores. Nós somos os líderes de hoje, líderes que aparentemente o povo acha que não estão à altura do momento e tem suas razões de achar isso, porque nem conseguimos nos encontrar, debater, dialogar, fazer um programa com pontos comuns. O Trump e o Kim fizeram os pontos em comum. Como a gente não consegue fazer pontos em comum que nos permitam atravessar os próximos meses, para beneficiar e possibilitar a marcha do candidato Bolsonaro e dos outros candidatos também? Afinal de contas, estão debatendo, discutindo e buscando voto.

    Eu tenho a impressão, Senadora Ana Amélia, que o primeiro passo para nos encontrarmos é quebrar a resistência entre nós, através de uma grande autocrítica. Se cada um de nós chega, sobe ali, faz sua autocrítica, reconhece suas falhas... Eu sei que muita gente aqui não quer fazer isso; muita gente aqui, Senador Magno, não quer fazer autocrítica, mas se cada um faz sua autocrítica é um ponto de partida para criar confiança outra vez e nos encontrarmos.

    Foi nesse sentido, Senador Eunício, que eu propus, naquela reunião última dos Líderes, a gente se levantando, o senhor disse: "Senador Cristovam, faça isso, conduza, convide". E eu fiz uma carta para o senhor, que deve estar hoje no seu escritório, fazendo uma proposta de como a gente poderia tentar se encontrar. Agora, o senhor é o Presidente do Congresso. Eu acho que é uma pessoa que pode fazer um chamamento – e não é um chamamento por microfone, não; é cochichando no ouvido de alguns –, chamar para conversar, chamar para discutir.

    Onde erramos? Primeira pergunta. E por onde vamos caminhar? Como solidificar o terreno? Senão eu temo que vai virar realidade o que eu ouvi do ex-Senador Sarney alguns anos atrás, quando ele falava que temia que o Brasil caminhasse para uma desagregação. Isso foi antes do impeachment, isso foi antes da crise no Rio de Janeiro, com a sabedoria da idade dele, dos cargos pelos quais ele já passou e com o conhecimento de história. Ele disse: "Eu temo que a gente caminhe para uma desagregação". Ele não fez esta comparação, mas eu faço: é uma espécie de Síria sem bombas, sem contradições religiosas, sectárias, mas com contradições políticas tão arraigadas e, pior, políticas sem conteúdo, porque, se fossem políticas com conteúdo, como no passado, até que isso se justificava, mas não: são sem solidez, sem robustez, como gostam de dizer hoje muitos, sobretudo os economistas.

    Então, Senador, eu deixei a carta para que a gente possa tentar. Aliás, eu concluo dizendo que, hoje em dia, como eu fiz também na dedicatória da carta para a Senadora Ana Amélia, o dicionário português parece que está acabando com o verbo tentar. Eu me nego a não continuar usando o verbo tentar, mesmo que tenha dúvida se o que a gente tenta vai acontecer.

    Então, muito obrigado ao Senador Magno por falar aqui da Coreia do Norte e dos Estados Unidos e, com isso, ter me provocado para dizer: se esses caras fizeram um encontro para resolver as bombas atômicas deles, como a gente não consegue se encontrar, Senador Benedito, para resolver e desarmar as bombas da gente, que estão explodindo aí todos os dias? Basta falar dos 63 mil mortos no ano passado por assassinato.

    Então, fica aqui, Senador, a minha resposta ao que o senhor disse na hora de sair da reunião: "Senador Cristovam, faça aí". Eu fiz e estou à sua disposição para tentarmos – volto a insistir no verbo tentar –, com toda a desconfiança se será possível ou não um encontro, um debate, uma conversa com as lideranças brasileiras que ainda estão por aí, entre elas nós, desta Casa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/06/2018 - Página 59