Discurso durante a 96ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do Sr. Eliezer Batista, ex-Presidente da Vale do Rio Doce.

Autor
Ricardo Ferraço (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: Ricardo de Rezende Ferraço
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento do Sr. Eliezer Batista, ex-Presidente da Vale do Rio Doce.
Aparteantes
Ana Amélia, Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 20/06/2018 - Página 40
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ENCAMINHAMENTO, VOTO DE PESAR, MORTE, ELIEZER BATISTA, ENGENHEIRO, EX PRESIDENTE, VALE DO RIO DOCE.

    O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco Social Democrata/PSDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, brasileiros, sobretudo capixabas, que nos acompanham, ocupo a tribuna para expressar, com enorme pesar, o falecimento de um grande brasileiro.

    Existem pessoas, Senador Otto, que passam pela vida sem dizer a que vieram, o que representaram, que não têm sequer a dimensão da vida.

    Eu expresso com enorme pesar o falecimento do engenheiro Eliezer Batista, mineiro de Ponte Nova que construiu uma vida extraordinária e muito exitosa, Sr. Presidente.

    O engenheiro Eliezer Batista é, seguramente, um dos mais importantes nomes da engenharia brasileira por sua capacidade de trabalho, por sua visão. Um homem sempre muito além do seu tempo.

    Foi pela primeira vez presidente da Vale do Rio Doce, da antiga Companhia Vale do Rio Doce, com 36 anos de idade. O primeiro presidente da Vale do Rio Doce funcionário. Alguém que, na sua exitosa carreira profissional, passou por todos os lugares, alcançando a presidência da Companhia Vale do Rio Doce, hoje Vale do Rio Doce.

    Uma tímida companhia, que, com a visão e a capacidade empreendedora, a ousadia e a criatividade do Engenheiro Eliezer Batista, no tempo se transformou em uma das mais importantes mineradoras do mundo.

    Teve o Engenheiro Eliezer Batista a capacidade e a visão de transformar não apenas a Vale, mas de transformar a mineração numa ferramenta estratégica, para a condução de importantes atividades econômicas no segmento da mineração, nos mais diversos Estados do nosso País. Teve a capacidade de transformar aquela modesta e tímida mineradora, que à época exportava 1,5 milhão de toneladas de minério, numa companhia que hoje exporta 300 milhões de toneladas de minério de ferro e que processa uma parte muito relevante desse minério em alianças com importantes indústrias, que estão assentadas em diversos Estados do nosso País, sobretudo no Estado do Espírito Santo. Minério que sai de Minas Gerais, que é transportado pela Ferrovia Vitória Minas e que, através do Porto de Vitória, alcança diversos países do mundo.

    Eliezer Batista teve a capacidade e a visão de integrar a produção com o processamento e a exportação.

    À época, nos anos 60, os navios que transportavam minério mundo afora, ocupando os oceanos, eram navios que transportavam 14, 15, 20 mil toneladas de minério. Eliezer Batista identificou que nós estávamos diante de uma grande oportunidade no pós-Guerra, na reconstrução do Japão. E ele abriu o mercado japonês, para que o minério brasileiro pudesse chegar.

    Mas tinha um enorme desafio, porque nós deveríamos e tínhamos que competir, à época, com a mineração australiana, que está ao lado do Japão. E, aí, como levar o minério do Brasil para o Japão e competir com a Austrália, que está tão perto do Japão? E aí lançou o desafio aos armadores gregos, para que começássemos a revolucionar a construção dos grandes navios. E ali começaram a nascer os navios que transportavam 120, 140, 160 mil toneladas de minério. Hoje, os navios chamados Valemax ou Chinamax transportam até 400 mil toneladas de minério. Imaginar que, nos anos 50, os navios que exportavam minério conseguiam transportar 14, 16 mil toneladas.

    Eliézer Batista deixa um extraordinário legado. Foi alguém importantíssimo na história do nosso País e, sobretudo, na história do Espírito Santo.

    Eliezer Batista concebeu e idealizou... É verdade que a muitas mãos, a esforços coletivos os mais diversos, mas Eliezer Batista liderou a implantação do complexo siderúrgico de Tubarão.

    Eliezer Batista idealizou Carajás, que hoje é uma extraordinária fronteira da mineração do Norte do Estado, que produz minério no Pará e exporta através dos portos de São Luís do Maranhão, sobretudo de Itaqui.

    Eliezer Batista deixa o Brasil, deixa a vida aos 94 anos de idade, e nós precisamos reverenciar o legado extraordinário desse grande brasileiro – grande brasileiro e grande capixaba.

    Ele dividia o seu tempo, o mundo e, quando estava no Brasil, estava sempre no Espírito Santo. Mantinha residência no Espírito Santo, na região de Pedra Azul, no extraordinário Município de Domingos Martins.

    Eu tive, Senador Cristovam Buarque, o privilégio de conviver com Engenheiro Eliezer Batista. E digo, com muita humildade, mas com muita convicção: a pessoa mais inteligente que conheci na minha vida, a mais bem humorada.

    As histórias do Engenheiro Eliezer Batista eram histórias extraordinárias, de uma vida e de alguém que conseguiu ser global e que conseguiu colocar o nosso País, a siderurgia e a mineração brasileira numa condição de muita importância mundo afora.

    Ouço, com enorme prazer, o Senador Cristovam Buarque.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Senador, eu não conheci, não convive com ele, mas assisti uma vez a uma palestra dele, numa reunião que nós tivemos, e o que mais me impressionou nele é o que hoje tanta falta ao Brasil. É um homem que pegava num quadro, começava a desenhar e a mostrar os mapas que ele fazia ou que ele trazia e que tinham duas coisas fundamentais que nos faltam hoje: ele tinha sentimento de Nação e tinha estratégia para a Nação no longo prazo. Ele sabia o que era o Brasil, tinha noção do Brasil, onde estavam os nossos recursos, onde estavam nossos problemas, como transformar recurso natural em riqueza, como transformar queda d´água em energia, e tinha uma estratégia de longo prazo, que foi o que permitiu a ele fazer a Vale, permitiu a ele colocar o Brasil presente em tantos lugares do mundo. Realmente, não é apenas um homem que se vai, fica na história, mas é uma cabeça...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – ... que faz falta ao Brasil. É uma pena. A morte é um fenômeno natural, vai acontecer com todos nós outros, mas é uma pena que hoje a gente não tenha um substituto para ele no cenário brasileiro e que a gente possa dizer: vamos olhar para esse outro que aí está. Não. Ele vai fazer uma grande falta.

    O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco Social Democrata/PSDB - ES) – Eliezer Batista, portanto, era um homem que não falava; fazia, construía, acontecia, realizava, ousava, criava, e foi com esses valores e com esses princípios que ele ajudou na construção do Brasil, ajudou na construção da logística brasileira. Uma perda irreparável para o País, uma perda irreparável para o nosso Estado do Espírito Santo.

    E Eliezer Batista vai deixar saudade, mas vai deixar um legado de extraordinária referência de um brasileiro muito além do seu tempo. E, por isso mesmo, eu ouço com enorme prazer a Senadora Ana Amélia.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Senador Ricardo Ferraço, eu queria acompanhar a manifestação de V. Exª, porque eu era repórter, jornalista, em viagem presidencial ao Japão, onde o ex-Ministro Eliezer Batista estabeleceu as grandes relações comerciais e onde promoveu o aço brasileiro... O minério de ferro, melhor dizendo, que era exportado, e a Vale do Rio Doce. Eu tenho certeza que ele não morreu feliz. Eu acho que o nome dele...

(Soa a campainha.)

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – ... não merecia, pelo tamanho que Eliezer Batista foi para o Brasil. Um homem com visão de Estado, com visão de País, e um estrategista, numa área em que, naquela época, só pessoas inovadoras e corajosas tinham a ousadia de fazer o que ele fez. E eu queria dizer que comparo Eliezer Batista a Ozires Silva, que, no âmbito da indústria aeronáutica brasileira, tem um significado muito semelhante, que é exatamente ter essa capacidade empreendedora, de pessoas que estiveram sempre à frente do seu tempo. O Brasil perde muito com a morte do Ministro Eliezer Batista e tem que reverenciar os seus heróis, que fazem deste País uma referência internacional, como é o caso do minério de ferro, com o aço brasileiro, com a Vale do Rio Doce, e também com a nossa Embraer, que nasceu pelas mãos desse grande mestre Ozires Silva. Cumprimento-o Senador.

    O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco Social Democrata/PSDB - ES) – Agradeço à Senadora Ana Amélia a manifestação e o reconhecimento de V. Exª ao trabalho e ao legado desse extraordinário brasileiro, o Engenheiro Eliezer Batista, que nos deixa.

    E, com essas modestas palavras, eu registro aqui um voto de muito pesar pelo passamento desse querido amigo, com quem tive o prazer de conviver tantas e tantas vezes. As histórias, as mais ilustres.

    Ele dizia, de maneira muito afirmativa, Senadora Ana Amélia, que foi ao Japão 187 vezes. E foi condecorado, no Japão, com a mais elevada comenda pelo Imperador Hirohito, pela enorme capacidade que teve de integração entre o nosso País e o Japão.

    Ele, por certo, deixa muita saudade, mas deixa um legado e um exemplo de muita referência.

    Muito obrigado, Sr. Presidente...

(Soa a campainha.)

    O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco Social Democrata/PSDB - ES) – ... Srªs e Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/06/2018 - Página 40