Discurso durante a 100ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do Ex-Governador do Estado da Bahia (BA), Sr. Waldir Pires, e breve histórico de sua atuação política em benefício do Estado.

Autor
Lídice da Mata (PSB - Partido Socialista Brasileiro/BA)
Nome completo: Lídice da Mata e Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento do Ex-Governador do Estado da Bahia (BA), Sr. Waldir Pires, e breve histórico de sua atuação política em benefício do Estado.
Aparteantes
Antonio Carlos Valadares, Vanessa Grazziotin.
Publicação
Publicação no DSF de 27/06/2018 - Página 35
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, WALDIR PIRES, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA).

    A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, foi com tristeza e emoção que a Bahia se despediu, no último domingo, 22 de junho, do ex-Governador Waldir Pires, um político dos mais destacados na vida pública não só do meu Estado, a Bahia, como de todo o Brasil.

    Waldir nasceu no Município baiano de Acajutiba, em 21 de outubro de 1926, estudou em Amargosa e escreveu seu nome na história política da Bahia e do País de um modo exemplar. Sua atuação foi marcada pela honestidade e pela lealdade aos princípios democráticos e aos compromissos assumidos com seus companheiros de luta.

    Começou sua trajetória política muito cedo, aos 24 anos, em 1950, quando foi Secretário de Estado do Governador Balbino. Foi eleito Deputado Estadual em 1954; e, em 1958, Deputado Federal, sendo escolhido Vice-Líder do Governo de Juscelino Kubitschek.

    Candidato ao governo da Bahia, em 1962, perdeu as eleições por uma diferença de apenas 3% dos votos para o candidato da UDN, Lomanto Júnior. Naquele período, houve, no último momento, uma campanha cerrada das forças conservadoras para impedir que Waldir se elegesse, acusando-o de ter o apoio do Partido Comunista, o apoio dos comunistas, dos radicais, levando a que, no último momento, numa campanha extremamente acirrada, Waldir perdesse a eleição por apenas 3%.

    No ano seguinte, quando exercia a função de Coordenador dos Cursos Jurídicos da Universidade de Brasília (UnB), onde também era professor de Direito Constitucional, foi convidado pelo Presidente João Goulart para ocupar o cargo de Consultor-Geral da República, o que o tornou responsável pelas análises e pareceres da juridicidade e constitucionalidade das leis de remessa de lucros e dividendos e da lei da reforma agrária, entre outras.

    Exercia este cargo quando da eclosão do golpe militar, em 31 de março de 1964, e foi, junto com Darcy Ribeiro, o último membro do governo a sair do Palácio do Planalto, onde ficaram, a pedido do Presidente, para tentar garantir o respeito à Constituição, segundo um documento enviado ao Congresso, mas desprezado pelas forças de apoio aos militares, que declararam vaga a Presidência quando o Presidente ainda se encontrava em Território nacional, no Rio Grande do Sul.

    Waldir Pires exilou-se então no Uruguai e, mais tarde, na França, para onde foi com toda a sua família e onde lecionou na mais tradicional universidade francesa, a Sorbonne de Paris. Voltou naquele período de luta democrática, em que retornaram também, além de Waldir, Arraes e Brizola, sem dúvida nenhuma, três dos mais famosos e esperados exilados brasileiros.

    Retornando ao Brasil, ajudou na fundação do então MDB – PMDB quando ele chegava – durante a abertura política. Em 1985, foi convidado pelo Presidente Tancredo Neves para o Ministério da Previdência Social e mantido pelo Presidente José Sarney. A gestão austera e eficaz o habilitou a concorrer ao governo da Bahia no ano seguinte.

    E aí nós vivemos a mais emocionante campanha política que a Bahia já teve.

    A Bahia recuperava, naquele período em que nós encerrávamos a ditadura militar, a esperança de ter um Estado com liberdade e com democracia, tendo em Waldir o símbolo daquilo que poderia ter conquistado em 1962 naquela eleição, quando a esperança do povo estava nas grandes reformas de base, e Waldir era um defensor dessas reformas. Ganhou aquela eleição, uma eleição belíssima.

    As pessoas, Senadora Vanessa...

    Naquele tempo, não havia tanto avião para cima e para baixo nos céus da Bahia para se fazer campanha ou mesmo tantos recursos que pudessem fazer com que chegássemos tão rapidamente de um comício a outro, e os comícios de Waldir se estendiam pelo interior do Estado, às vezes, até as madrugadas. O povo o esperava na praça, milhares de pessoas, saindo de uma cidade, recebendo a notícia por telefone da outra dizendo: "Waldir vem aí", e o povo o esperava cinco horas, seis horas na praça lotada, às vezes, chovendo, com os guarda-chuvas na mão, para ouvi-lo falar, para Waldir trazer a ideia da mudança na Bahia.

    Os adversários até fizeram uma piada, Senadora Vanessa, já que Waldir recebia o apoio do PCdoB. Quando surgia o seu slogan na televisão, "A Bahia vai mudar trabalhando com Waldir", a campanha adversária dizia: "Vai mudar para onde? Para a Albânia?", novamente querendo criar aquele sentimento de anticomunismo que foi capaz de impedir a sua vitória, em 1962.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – V. Exª me concede um aparte, Senadora?

    A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA) – Claro.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Primeiro, agradeço a oportunidade de falar de uma pessoa que não apenas deixa muita saudade, mas uma pessoa que marcou o seu nome porque marcou a sua luta na história da Bahia e na história do Brasil. Eu imagino como está V. Exª agora. V. Exª iniciou muito jovem na política baiana e teve, na figura de Waldir Pires, sem dúvida nenhuma, um farol a guiá-la. Então, Senadora, eu quero, primeiro, abraçá-la porque eu sinto que V. Exª faz um pronunciamento que vem do fundo da alma, porque, além de um grande político, um homem de luta, combativo, ele era para V. Exª como se fosse um pai, aquele que a ensinava, aquele que a guiava como tantos outros. Mas, Senadora Lídice, eu não tive a felicidade de V. Exª de conviver tanto tempo com Waldir Pires, mas lá de longe acompanhei a sua luta e o seu combate à ditadura e a sua luta pela redemocratização. Anos depois, para minha alegria, tive a felicidade de conviver com ele na Câmara dos Deputados – fomos Deputados juntos –, e ali a gente viu por que Waldir...

(Soa a campainha.)

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ... era aquela figura que o Brasil, mas a Bahia principalmente, admirava. Uma pessoa simples, acima de tudo; muito capaz, mas muito simples. E antes de ir, Senadora Lídice, ele deixou o maior presente ao Brasil, o qual hoje está em risco. Eu lembro a oposição que fazíamos no momento em que Fernando Henrique Cardoso queria entregar a base de Alcântara para o governo americano. E Waldir era o líder dessa luta. Era o líder! Com a vitória do Presidente Lula, ele, Ministro da Defesa, acabou com esse absurdo, com essa barbaridade de entregar a base de Alcântara aos Estados Unidos em um acordo que sequer permitia que brasileiros e brasileiras, mesmo que membros das Forças Armadas, entrassem na base. Então, devemos isso a Waldir; o Brasil deve isso a Waldir, um lutador pela soberania. Eu acho que...

(Soa a campainha.)

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ... por ele e em nome dele, Senadora Lídice, nós não podemos permitir que se entregue a nossa base. O Vice-Presidente americano está aqui hoje, no Brasil, e veio, entre outras coisas, para tratar da base de Alcântara. Não vai ser a morte de Waldir que vai nos tirar da luta. Pelo contrário; vai nos reforçar cada vez mais. Parabéns, Senadora! E o nosso abraço, o abraço da Amazônia a este grande homem Waldir Pires.

    A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA) – Sem dúvida, este é o legado de Waldir: a luta.

    Eu vou sintetizar, Sr. Presidente, dizendo que Waldir teve a maior vitória, a expressão dessa vitória grandiosa na Bahia, alcançando mais de 1,680 milhão de votos naquela eleição – uma frente de 1,680 milhão de votos.

    Após dois anos de governo, em 29 de abril de 1989, disputou a convenção nacional do PMDB que indicaria o candidato...

(Interrupção do som.)

    A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA. Fora do microfone.) – ... do partido a Presidente da República.

(Soa a campainha.)

    A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA) – No primeiro turno da votação, ficou em segundo lugar, com 272 votos, atrás de Ulysses Guimarães com 302. Após intensas negociações e para unir o PMDB, que era o grande partido da luta democrática de resistência à ditadura militar naquele momento no Brasil, Waldir assumiu a candidatura como vice de Ulysses e, com isso, afastou-se do governo da Bahia.

    Em 1998, foi eleito Deputado Federal com a maior votação no Estado.

    Em 2002, foi convidado pelo Presidente Lula para o cargo de Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União. Aí, Waldir já era um homem maduro, mas, ainda assim, diante das dificuldades político-partidárias daquele momento, assumiu, já nesse período de sua vida, uma nova decisão partidária e migrou para o PT.

    Foi eleito...

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - SE) – Senadora...

    A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA) – Pois não, Senador Valadares – peço licença ao Presidente para dar o aparte.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - SE) – Senadora Lídice da Mata, eu tive a oportunidade de conhecer pessoalmente, para minha alegria, o ex-Governador, ex-Deputado Federal e ex-Ministro Waldir Pires, figura notável da vida política brasileira...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - SE) – ... que teve um papel muito importante na redemocratização do nosso País, quando da formação da Aliança Democrática, que terminou na eleição de Tancredo Neves. Eu acompanhei; fazia parte de um grupo de políticos de Sergipe e do Brasil, apoiando essa nova movimentação brasileira que fez retornar a democracia ao Brasil. Portanto, meus parabéns pelo pronunciamento justo que V. Exª está fazendo neste momento, pela figura imortal, amiga, solidária de Waldir Pires.

    A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA) – Muito obrigada, Senador Valadares. Incorporo o seu aparte ao nosso pronunciamento.

    Finalmente, Waldir, à frente da Controladoria-Geral da União, em 31 de março de 2006, assumiu o Ministério da Defesa, a pedido do então Presidente Lula. E em 2012, Waldir...

(Soa a campainha.)

    A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA) – ... volta à Bahia e, com a simplicidade e a humildade de sempre, elege-se Vereador de Salvador, cargo com o qual se despediu da vida política, aos 90 anos de idade, optando por não disputar a reeleição.

    Eu tive a oportunidade aqui, dois anos atrás, de registrar os 90 anos de Waldir. Agora, recentemente, a Universidade Estadual da Bahia lhe outorgou o título de doutor honoris causa, e semana passada o nosso escritor, ex-Deputado Federal, ex-Deputado Estadual, ex-preso político, jornalista, Emiliano José lançou um livro da biografia de Waldir Pires. Essa homenagem teve a presença de Waldir. E nesta semana, a semana do São João...

(Soa a campainha.)

    A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA) – ... Waldir se despediu de todos nós.

    Quero deixar aqui o meu abraço à sua companheira atual, Zonita Nogueira, querida amiga; aos filhos Cristina, Vivian, Lídia e Francisco; e à sua querida irmã, Vilma; aos netos e demais amigos. Que os exemplos de Waldir possam guiar a política brasileira nesse tempo tão difícil em que faltam muitos dos valores que ele representava.

    Muito obrigada.

Início da Ordem do Dia


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/06/2018 - Página 35