Discurso durante a 101ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro da realização de audiência pública, na Comissão de Direitos Humanos do Senado, sobre mobilidade urbana.

Críticas às interrupções feitas à Manuela D’Ávila durante entrevista no programa “Roda Viva”.

Insatisfação com declaração do Ministro do Turismo a respeito do caso de assédio envolvendo turistas brasileiros na Rússia.

Autor
Regina Sousa (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: Maria Regina Sousa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRANSPORTE:
  • Registro da realização de audiência pública, na Comissão de Direitos Humanos do Senado, sobre mobilidade urbana.
IMPRENSA:
  • Críticas às interrupções feitas à Manuela D’Ávila durante entrevista no programa “Roda Viva”.
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Insatisfação com declaração do Ministro do Turismo a respeito do caso de assédio envolvendo turistas brasileiros na Rússia.
Publicação
Publicação no DSF de 28/06/2018 - Página 14
Assuntos
Outros > TRANSPORTE
Outros > IMPRENSA
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Indexação
  • REGISTRO, COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS (CDH), SENADO, REALIZAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, OBJETIVO, DEBATE, ASSUNTO, MOBILIDADE URBANA.
  • REPUDIO, INTERRUPÇÃO, PRONUNCIAMENTO, AUTORIA, MANUELA D'AVILA, PERIODO, ENTREVISTA.
  • REPUDIO, DISCURSO, AUTOR, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO TURISMO, MOTIVO, AUSENCIA, IMPORTANCIA, GRUPO, TURISTA, ORIGEM, BRASIL, DESTINO, RUSSIA, ACUSAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO, MULHER, DEFESA, REDUÇÃO, BULLYING.

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Srª Presidenta, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, eu estava na Comissão de Direitos Humanos, onde está acontecendo uma belíssima audiência pública sobre mobilidade urbana. Infelizmente com pouca gente presente da Comissão, mas uma audiência pública altamente qualificada e muito esclarecedora. E para mostrar as estatísticas que há aí, de pesquisas, que as pessoas acham que direitos humanos só discute a situação dos presídios, só discute... Há gente que acha, "ah, direitos humanos só fala em bandido." Uma belíssima audiência pública sobre mobilidade urbana com especialistas, com associação de usuários. Acho que é uma temática, inclusive, que deveria vir para este Plenário, porque é muito sério o que se discutiu lá e o que se viu lá, trazido pelas pessoas, pelos especialistas.

    Também quero aproveitar – porque se estava falando aqui da mídia, da imprensa – para me solidarizar com a Manuela d'Ávila pelo papelão que aqueles jornalistas do Roda Viva fizeram com ela. É pura misoginia, machismo mesmo. A Manuela foi interrompida 52 vezes. As pessoas não respeitam a fala das mulheres, é impressionante. Eu já vi isso inclusive de gente de tribunal, dizer que quando a mulher do tribunal está falando, os homens se dão ao direito de ficar interrompendo ou então fazendo conversa paralela. Isso é desrespeito, minha gente.

    A Manuela, o que fizeram... Ainda bem que ela é uma mulher valente e saiu-se muito bem. Mas aquilo é terrível que se faça. Aquilo não é o bom jornalismo. Então, é preciso que a gente também repreenda isso, porque foi a Manuela. Com os outros candidatos que já passaram por lá, não se viu aquilo. Algum, talvez, mas com muito menos intensidade do que foi com a Manuela d'Ávila, e a gente só pode pensar que é porque é mulher. Um papelão, até porque os jornalistas eram homens, não é?

    Mas eu quero também falar, falei ontem já, daquele caso do assédio lá na Rússia. Não ia mais falar desse assunto, mas desde ontem à noite que se fala da postura do Ministro do Turismo. Ele perdeu uma bela oportunidade de ficar calado. Mas ele disse que foi uma bobagem, que estão dando importância a uma bobagem, que ninguém morreu.

    Portanto, não há estatística, não alterou a estatística. Gente, isso é um absurdo tão grande! Não é ministro? E a gente não pode ficar calado assim, porque, meu Deus, se esse é o pensamento do ministro, será que é o do Governo em relação às mulheres? O ministro disse bobagens tamanhas. Ele diz que nós estamos preocupados com cinco pessoas; que há 70 mil brasileiros se comportando bem lá e ficamos preocupados com cinco pessoas que estão passando vergonha.

    Nós não estamos preocupados com as cinco pessoas não, ministro! Essas cinco pessoas não estão passando vergonha não porque eles não têm vergonha, eles são sem-vergonha. Nós estamos preocupados é com 52% da população brasileira que é mulher, que se sente ofendida com isso. E o senhor, que está na Rússia para promover o turismo brasileiro, levou uma equipe imensa para divulgar o Brasil, para atrair turista para o Brasil... O que aquelas pessoas de lá... Porque, na Rússia, não se trata mulher bem, aliás, lá é até permitido até espancar, desde que não quebre os ossos. Pelo menos, há uma lei lá, não sei se já foi aprovada, mas está tramitando. Não é o exemplo de tratamento à mulher a Rússia.

    Agora, quando o senhor vai lá e, com o episódio que acontece lá, diz isso, o senhor está convidando os russos e outros países a virem para cá para assediar mulheres, que isso é normal, é bobagem, que só é ruim quando mata. Acontece que o feminicídio, ministro, tem sintomas e começa assim: assédio, xingamento, deboche; depois, um empurrão, uma queda da escada, um escorregão no banheiro até que chega à morte.

    No meu Estado, na semana passada, foram, em 24 horas, três feminicídios, tudo por marido ou ex-marido, namorado ou ex-namorado. Gente, não dá. Como é que a gente vai enfrentar isso? É uma questão de segurança pública? Também, mas não só porque namorado sai com a namorada para um restaurante, divertem-se e aí, lá no final, mata a mulher. Foi uma questão de segurança pública? Não foi. Não pode haver um segurança em cada restaurante, ninguém sabe a intenção de quem sai de lá, pensa que vai para casa. Então, isto é muito grave: ouvir de um ministro do Governo brasileiro uma bobagem dessa. Ele, sim, disse bobagem, porque disse que a gente está intolerante por brincadeira. Depois, tenta se retratar e fica pior, não é? Na retratação dele, fica pior: ele diz que foi perguntado se a imagem do Brasil estava comprometida. Mas está tudo gravado, os jornalistas colocaram aqui todas entre aspas as falas dele, não há como dizer que não disse isso.

    Acho que ele tem mais é que se penitenciar, pedir desculpas às mulheres brasileiras, porque ele foi lamentável; o machismo, o sexismo dele na forma como falou é lamentável, e a gente que está na luta em defesa da mulher fica constrangida de ter um ministro que diz isso e fica impotente, sem saber o que a gente vai fazer se a autoridade da República diz isso, se a outra autoridade, que é o Presidente da República, na hora de remanejar recurso, o primeiro que remaneja, e que é já é pequenininho, é o de combate à violência contra a mulher.

    Então, como a gente vai trabalhar, como a gente vai combater a violência, como a gente vai ter condição de continuar fazendo a defesa da mulher, o combate a violência se as autoridades, os estímulos que a gente recebe da autoridade são esses?

    É preciso que todo mundo se junte, que a gente faça uma nota, que a gente faça qualquer coisa para esse ministro.

    Eu acho que, se tivesse bom senso, pediria demissão, porque é impossível a gente aceitar que uma pessoa... Alguém que deve ter mãe ainda viva, que tem mãe, que tem filhas e irmãs gostaria que alguém fizesse aquilo que aqueles rapazes fizeram na Rússia com as suas irmãs, que podem até estar lá?

    A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Senadora Regina, permita-me. Até como mulher, e aqui presidindo, eu quero endossar. Penso que é de pequenos gestos de desrespeito, abusando da falta de conhecimento da moça, que não entendia português...

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI) – Pois é, ainda foi uma covardia.

    A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Houve dois aspectos. A agressão desnecessária... Essa imagem correu o mundo e isso não é bom para a imagem brasileira. Não é questão de ser uma brincadeira, não é uma brincadeira.

    Isso é grave, porque é dessas pequenas coisas que se vai para a violência maior, que se vai para o bullying, para a agressão física. E se, eventualmente, ela tivesse tido uma reação, como teve a repórter de uma emissora de televisão, talvez tivesse havido uma reação violenta da pessoa que abordou aquela moça.

    Quero concordar, também acho que tem de haver cuidado, por exemplo, em uma entrevista com o trato a uma Parlamentar, com uma mulher, e não se valer da fragilidade da condição...

    Quero dizer que, sobre questão penitenciária, eu conversei neste fim de semana com uma moça do Rio Grande do Sul, uma bibliotecária que trabalha com bibliotecas prisionais. Fui entender a relevância que as bibliotecas prisionais têm na inclusão das pessoas. Depois, vou falar sobre ela porque me impressionei muito sobre isso.

    Mas a gente tem que buscar não só o caso desse episódio lá em Moscou, durante a Copa do Mundo, desses brasileiros, mas também fiquei, como a senhora, indignada, quando li uma matéria mostrando as atrocidades cometidas por um juiz da Corte Internacional de Direitos Humanos, um brasileiro. Li as atrocidades cometidas contra a mulher dele e contra as empregadas; as empregadas domésticas, Senadora Regina Sousa.

    Então, assim como eu e a senhora condenamos as atitudes desses torcedores brasileiros, da mesma forma acho que temos que subir no degrau daquelas pessoas que às vezes parecem intocáveis. O que fez Roberto Caldas com a mulher e com as empregadas que trabalhavam na casa é inominável.

    Então, não houve nem um pedido de desculpas, uma atitude, algum gesto, mas eu acho que temos que tratar essas coisas com esse rigor com que a senhora está tratando. Por isso eu me permiti fazer-lhe esse aparte, aqui mesmo, considerando o dia hoje diferente.

    Parabéns pela manifestação que a senhora fez sobre esses episódios lamentáveis.

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI) – Eu agradeço e incorporo a sua fala à minha, o que só a enriquece, só expressa mais a indignação das mulheres brasileiras. Nós somos representantes, falando em nome das mulheres brasileiras.

    É impossível que a gente fique quieta diante de tanta violência verbal. Violência não é só física. A violência verbal às vezes dói mais na alma da gente do que a violência física, porque... Essa pessoa pensa assim? Será que os filhos pensam assim? Como é que a gente faz?

    Então, eu quero concluir dizendo que continuo achando que é pela educação que a gente vai ter uma geração com uma mentalidade melhor com relação a todos os preconceitos – em relação à mulher, principalmente – se a gente educar as crianças para a não violência. Porque as crianças que assistiram aquilo, se ouvem alguém dizer que é uma brincadeira, que é normal vão achar que podem fazer, e, quando forem adultos, vão fazer se a gente não educar para a não violência, se a gente não disser para elas que é errado fazer aquilo.

    E o local é a escola. Infelizmente, há um patrulhamento agora nas escolas, não se pode discutir as coisas. Mas o local é a escola. É lá que a criança tem que aprender que não é melhor que a menina, que é igual, que tem direitos iguais, que não pode fazer bullying. Tem que ser na escola a educação. Eu estou distribuindo uma cartilha da SaferNet, que exatamente trata do bullying na internet contra crianças, e tem sido um sucesso lá. Eu vou às escolas e converso com os meninos, com as meninas e, depois, distribuo a cartilha.

    Acho que todo mundo tem de fazer uma parte: educar para a não violência, senão é malhar em ferro frio, e a gente vai ter uma geração futura também violenta, porque, do ponto de vista legislativo, a gente está amparado, mas eles fazem assim mesmo.

    A Lei Maria da Penha está aí, a Lei do Feminicídio está aí, mas continua acontecendo a violência. Mas não sei se crescente ou se é porque agora as pessoas perderam o medo, perderam a vergonha e fazem explicitamente as coisas, como é o caso daqueles rapazes que foram para lá e levaram suas famílias ou deixaram suas famílias. Eles não podiam fazer aquilo e tinham que pensar: "Eu gostaria que fizessem isso com a minha irmã?" Acho que, se pensassem só essa frase, eles não fariam aquilo.

    Então, fica aqui a nossa indignação e, certamente, vamos ter que tomar algumas providências e ser mais incisivos na nossa reação e na nossa luta contra a violência contra as mulheres.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/06/2018 - Página 14