Comunicação inadiável durante a 110ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Explicação sobre a decisão da S. Exª. de desfiliar-se do MDB e de não disputar novas eleições para concorrer ao Senado Federal.

Autor
Marta Suplicy (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/SP)
Nome completo: Marta Teresa Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Explicação sobre a decisão da S. Exª. de desfiliar-se do MDB e de não disputar novas eleições para concorrer ao Senado Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2018 - Página 52
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • DESPEDIDA, ORADOR, TRABALHO, LEGISLATIVO, DECISÃO, APOSENTADORIA, REGISTRO, RETIRADA, FILIAÇÃO, PARTIDO POLITICO, MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (MDB).

    A SRª MARTA SUPLICY (Bloco Maioria/MDB - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) – Obrigada, Sr. Presidente.

    Caros colegas e ouvintes da TV Senado, muitas vezes me vi em tempo de travessia e, em alguns deles, acreditei haver luzes do outro lado do rio. Agora, com toda energia necessária para continuar remando, tomei uma decisão sobre o futuro da minha vida política, encarando a realidade de frente para poder seguir com coerência, com ousadia e coragem.

    Anunciei que não concorrei à reeleição a Senadora da República pelo Estado de São Paulo e comunico a minha desfiliação do Movimento Democrático Brasileiro.

    Não é novidade que os partidos políticos brasileiros, de forma geral, encontram-se fragilizados, acuados e sem norte político. Não mais conseguem dar respostas à crise de credibilidade que se abateu sobre eles, nem tampouco estão empenhados na mudança de postura que os levaria a uma melhora, mas que levou até agora a uma crise que eu diria que seria, Senador Paulo Paim, a mais grave da história que nós já vivemos. Orientam as suas convicções, as suas movimentações políticas – e acho que não se pode chamar isso de convicção – pela lógica de fazer crescer as suas Bancadas e de manter o poder, não importa onde.

    Bem, o sistema de coalizão, nos moldes em que vivemos, ficou mais do que evidente que faliu, e nós precisamos urgentemente, para mudar essa situação, da reforma política.

    O Congresso hoje, na sua maioria, não se tem colocado a favor também das causas progressistas, fundamentais para o avanço da sociedade. Ao contrário, tornou-se refém de uma agenda atrasada nos costumes da sociedade, negando-se a reconhecer e a regulamentar as relações entre as pessoas de forma a contemplar as diversidades das sociedades modernas e a respeitar os direitos individuais do ser humano.

    Quero agradecer – não é uma despedida ainda, mas já vou adiantar – aos 8,3 milhões de votos que me deram a oportunidade de nos últimos oito anos trabalhar como Senadora, defendendo as bandeiras que que me levaram à vida pública: o combate às desigualdades e às injustiças sociais, a militância pelos direitos de cidadania das mulheres e da população LGBTI e pela igualdade de oportunidade para todos.

    E por que essa decisão? Porque, do jeito que hoje eu sinto que está o Congresso Nacional, de como vai ficar o Congresso Nacional, eu posso contribuir mais para as mudanças que eu acredito atuando na sociedade civil do que atuando aqui no Parlamento.

    Não gosto de falar isso, mas realmente eu sinto que a caixa de ressonância do Senado hoje é uma caixa de ressonância pequena, e o pior: não se conecta com o que a população quer conversar, quer discutir; perdeu-se esse fio do eleitor, do cidadão, da cidadã com quem os representa. E isso me faz observar que a sociedade civil, ao contrário, é uma sociedade viva, pulsante, na qual as grandes questões nacionais não estão sendo respondidas, porque essas coisas, num período de transição como nós estamos vivendo – e aí não tem a ver só com a política –, não ocorrem tipo sentença ou uma coisa desse tipo, é um processo, e eu quero participar desse processo com liberdade, sem engessamento, podendo ter uma participação diferente da que me obriga no Senado, onde a agenda parlamentar, que é bastante pesada, nos faz também despender energia em muitas áreas e assuntos que, às vezes, não são a prioridade.

    Então, eu também posso dizer que eu me sinto muito contemplada com a oportunidade de ter sido Senadora por oito anos, porque eu fecho com chave de ouro a minha participação legislativa, por isso também me desfilio de partido e não pretendo mais disputar este tipo de eleição.

    Eu vou continuar participando da vida pública nas trincheiras onde eu sentir que tenho espaço, defendendo exatamente as coisas e as bandeiras que me fizeram entrar na política: a ética, as desigualdades sociais, as minorias, as mulheres e os LGBTI.

    Aqui, no Senado Federal, eu acredito que nós conseguimos alguns progressos nessas áreas, mas o retrocesso... Nós gastamos mais tempo aqui tentando barrar o retrocesso civilizatório do que realmente podendo votar projetos que teriam uma bandeira de acordo com a vanguarda na sociedade, que nem é tão vanguarda assim, como o próprio casamento homossexual. Já discuti, quando fui Deputada vinte e poucos anos atrás, o projeto do casamento, que agora está no Plenário no Senado, para conquistar esse direito em lei, direito que o Judiciário já permitiu à comunidade homossexual, porque o Congresso Nacional se omite de discutir essa questão, a não ser talvez para proibir, o que eles tentam também em relação aos direitos já conquistados pela mulher.

    Eu estou convencida de que a principal tarefa agora da política é se dedicar à reforma política, porque sem ela nós não vamos caminhar com esse projeto de coalizão, que realmente está totalmente contaminado. O Brasil precisa de um projeto nacional de desenvolvimento estruturado, que até agora eu não vi aparecer nas propostas, projeto que abranja setores fundamentais para o crescimento do nosso País. Temos que aumentar significativamente a produção e a riqueza, que vão possibilitar a todo brasileiro e a toda brasileira ter acesso à educação de qualidade, saúde, segurança e emprego para trabalhar e viver com dignidade.

    Obrigada a todos Senadores e Senadoras, que foram grandes companheiros durante esse período. Ainda agora temos mais esses meses para fazer uma despedida à altura, batalhando pelos projetos que nós achamos importantes.

    Obrigada, Paim.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2018 - Página 52