Pronunciamento de Ana Amélia em 07/08/2018
Discurso durante a 110ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Considerações a respeito da decisão de S. Exª. em participar das próximas eleições como vice-presidente da República.
- Autor
- Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
- Nome completo: Ana Amélia de Lemos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
- Considerações a respeito da decisão de S. Exª. em participar das próximas eleições como vice-presidente da República.
- Aparteantes
- Garibaldi Alves Filho, Randolfe Rodrigues.
- Publicação
- Publicação no DSF de 08/08/2018 - Página 60
- Assunto
- Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
- Indexação
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- COMENTARIO, DECISÃO, ORADOR, ATENDIMENTO, CONVITE, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), GERALDO ALCKMIN, PARTICIPAÇÃO, CHAPA, ELEIÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CARGO PUBLICO, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Meu caro amigo, Senador Paulo Paim; caro Gladson Cameli, futuro Governador do Acre; obrigada, Wellington Fagundes, pelas referências, e Bancada do Mato Grosso, Estado com o qual tenho uma relação muito afetiva, pelo meu vínculo com o setor fundamental para a economia que é a agricultura.
Há pouco, usou da tribuna a Senadora Marta Suplicy e precisamente a Senadora Lídice da Mata, três bravas Senadoras que tiveram papel de destaque nesta Casa e, por razões pessoais ou partidárias, não estarão dando brilho, em 2019, ao Senado Federal. A Senadora Marta teve o ato de coragem de sair da vida política para se dedicar, na vida civil, na atividade civil, a usar a sua voz em defesa das minorias. Senadora Marta, muitas felicidades! A tomada de uma decisão na vida é muito difícil, especialmente quando a gente decide partir para outro rumo desafiador, tão grande quanto foi a sua entrada aqui no Senado Federal. Da mesma forma, a Senadora Lídice da Mata, que sai do Senado para ir para a Câmara Federal. E eu, no dia da Lei Maria da Penha, 12 anos de uma lei que foi uma revolução à proteção das mulheres, aqui no Senado – Senadora de primeiro mandato, jornalista por três ou quatro décadas –, tomei uma decisão. E eu confesso que foi a decisão mais difícil da minha vida pública e profissional, mas eu penso que os desafios que se oferecem a um líder político, o político que convive com as mazelas do povo, com a crise aguda que o Brasil está vivendo, não pode e não tem o direito de cruzar os braços. E aqui tomei a decisão de atender ao chamamento do Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para honrosamente integrar a sua chapa na condição de Vice-Presidente.
E abro um parêntese: o meu Estado do Rio Grande do Sul terá quatro candidatos a Vice-Presidente. Dois homens: o General Mourão, na chapa de Bolsonaro; e o ex-Governador Germano Rigotto, na chapa de Henrique Meirelles. E a Deputada Manuela D'Ávila, na chapa de Fernando Haddad; e eu, com muita honra, disputando na chapa de Geraldo Alckmin.
Tive a coragem de abrir mão de um mandato praticamente certo para um resultado incerto na política, mas eu penso nos compromissos de levar o Brasil a se reencontrar, a se pacificar nessa radicalização para a qual estávamos caminhando.
Aqui, nesta Casa, ao longo do tempo, mesmo nos momentos mais duros dos embates com a oposição, eu sempre tive com a oposição uma atitude respeitosa e vou continuar tendo, se depender de mim. Aliás, pregarei isto, defenderei isto ao Governador Geraldo Alckmin: que não ataque os adversários. A população não quer saber de briga e bate-boca. Se isso resolvesse os problemas graves que o País está atravessando em matéria de desemprego, de saúde pública, de segurança na zona urbana e zona rural, na área da saúde, na área da educação, da infraestrutura, se isso resolvesse, Senador Anastasia, seria muito fácil. Mas isso não resolve; isso apenas agrava a divisão da sociedade. E, num país do tamanho que é nosso, com uma gente generosa como a que nós temos, nós não podemos ter esse direito de frustrar, de nos omitir ou de cruzar os braços. Foi por isso que eu aceitei esse desafio.
Eu entrei na política como muitos aqui. Cheguei aqui junto com o Senador Randolfe Rodrigues, a quem concedo um aparte com muita alegria. Chegamos aqui – lembro-me bem dele e do Senador Pedro Taques –, começamos os três e éramos sempre destacados em alguns veículos de comunicação pelo que vínhamos fazendo. Então, com muita alegria, eu concedo um aparte a este jovem Senador, que, junto comigo, começou o desafio em 2011.
O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/REDE - AP) – Senadora Ana Amélia, a honra é toda minha de aparteá-la. E me permita iniciar este aparte lamentando. É uma perda enorme para este Plenário, para o Senado a ausência, a partir do ano que vem, de V. Exª, da Senadora Lídice da Mata e da Senadora Marta Suplicy. São três Senadoras com posições políticas diferentes, mas que têm um papel fundamental para a afirmação do papel da mulher. Em uma sociedade cuja composição é de 52% de mulheres, em uma sociedade em que há uma estrutura de Estado com um traço de patriarcalismo, de machismo, já presente desde a formação da colônia, os espaços que V. Exªs – aí eu reitero os nomes de V. Exª, da Senadora Marta e da Senadora Lídice – conquistaram, atuando aqui neste plenário, foram formidáveis. Eu espero... Eu acho difícil, porque ninguém é igual a ninguém, mas eu torço, eu rogo para que tenhamos quadros femininos aqui, neste plenário, à altura de V. Exªs, porque é necessário que a representação política tanto do Senado quanto da Câmara seja proporcional à população brasileira. Se temos 52% de mulheres, é necessário, para construirmos uma sociedade mais igualitária, que a representação política seja da mesma forma igualitária, e só se constrói algo mais igualitário quando isso é expressado na representação política. Eu desejo à senhora todo o sucesso nos desafios enormes que terá pela frente. Não tenho dúvida de que, seja qual for a função pública que V. Exª vier a cumprir nos próximos anos, seja na Vice-Presidência da República, seja qual for a função pública, V. Exª a cumprirá com a maestria e com a liderança que têm sido sua característica. Para mim também vai ser uma perda enorme a ausência das duas colegas, Senadora Marta Suplicy e...
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Lídice.
O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/REDE - AP) – ... Senadora Lídice da Mata, ambas tiveram um papel. A Senadora Marta tem um papel, ao longo da história, da trajetória dela, pelos direitos das chamadas minorias, pela construção do que nós proclamamos como, na verdade, tem de ser a igualdade de gênero. A Senadora Marta é destacada em sua atuação nessa área, tal como a Senadora Lídice. Então, me permita fazer um aparte de lamento, porque é um vazio enorme que haverá... Nós todos, dois terços deste Senado, não temos a certeza, antes do julgamento de 7 de outubro, se continuaremos aqui. Eu mesmo sou um desses. Mas, independentemente de quaisquer que sejam os resultados do próximo 7 de outubro, já sabendo que este Plenário, no ano que vem, não terá a presença de V. Exª e dessas outras duas brilhantes Senadoras, eu só rogo e só faço minhas orações para que nós possamos ter líderes políticos aqui que se inspirem no que foi a atuação de V. Exª, pelo protagonismo do papel da mulher na política nos anos que virão.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Comovida, Senador Randolfe Rodrigues, agradeço a generosidade das referências, que me deixam mais encorajada na decisão que tomei e que, como disse, não foi uma decisão fácil. Mas eu não podia me omitir. Não me perdoaria amanhã, se o País, mergulhado numa aguda crise de radicalização, eu tivesse de bater no meu peito e dizer: sou responsável por isso.
Então, ao aceitar, da mesma forma, não abri mão de nenhum dos princípios que eu aqui sempre defendi desta tribuna, de usar a mesma régua moral, de ter com o Governador Geraldo Alckmin uma relação de absoluta lealdade e respeito, mas também a independência suficiente para dialogar sobre propostas e políticas de Governo, ter a independência também para reafirmar e ponderar coisas que não estejam andando no caminho certo. Ele, com a maturidade, com a experiência de ter governado por quatro mandatos sucessivos, terá, sem dúvida... Já vem hoje demonstrando essa aliança ou essa cumplicidade na gestão, no bom sentido, para reafirmar a minha confiança de que o Brasil terá, sim, recuperada a esperança, especialmente para os jovens que perderam a expectativa de estarem aqui...
(Soa a campainha.)
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – ... e que estão indo embora, Deputada Soraya, do Brasil, o que é uma coisa muito triste.
Então, creio que a minha voz terá uma nova tribuna, terá uma voz diferente, num lugar diferente, mas a mesma voz independente, a mesma voz que defende a justiça, a mesma voz que defende a Operação Lava Jato, que defende as instituições, que defende aqui os processos que foram iniciados de depuração da política, que defende uma política com ética, com dignidade.
Também como pré-candidata continuarei recusando os privilégios e muitas das questões relacionadas a foro privilegiado que nós tanto combatemos aqui.
Quero dizer, Senador Wellington, que, lamentavelmente, não foi o Congresso, não foram os partidos políticos que reafirmaram a força das mulheres na quota dos 30% em matéria financeira. Foi o Supremo Tribunal Federal que tomou a decisão, lamentavelmente, por mais uma ação de judicialização da política, Senador Wellington.
(Soa a campainha.)
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Se não fosse isso, estaríamos com uma incoerência: nós tínhamos uma lei que dizia que 30% da participação das quotas era das mulheres, mas elas não tinham a cobertura necessária nem o apoio financeiro para iniciar qualquer campanha política. Essa decisão foi uma das poucas decisões de judicialização da política que apoiei que a Suprema Corte tenha tomado. Então, penso que esse empoderamento – e aqui vejo Deputadas combativas presentes à Mesa – é para também dizer que a mulher... Eu quero representar as mulheres, eu quero representar o meu Estado do Rio Grande do Sul, representar a minha querida terra, Lagoa Vermelha, onde se produz o melhor churrasco do mundo, com o perdão de todos os que fazem churrasco, mas quem conhece e já esteve por lá sabe que estou dizendo a verdade.
E quero dizer também do orgulho de representar, Senador Moka, um setor que V. Exª, eu, o Senador Wellington, essa Bancada brava do Mato Grosso e de tantos Estados do Centro-Oeste e do Norte defendem...
(Soa a campainha.)
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – ... que é defender a agricultura brasileira, seja o agricultor da cooperativa, seja o agricultor familiar, seja o pequeno trabalhador dos assentamentos ou o agricultor empresarial. Todos eles são importantes.
O Brasil precisa de todos, porque é a agricultura o setor mais dinâmico da economia, que vive dilemas graves de competitividade. Ele é altamente produtivo, mas não é possível que o Brasil tenha um preço 46% maior do custo de produção de um hectare de soja no Mato Grosso ou no meu Rio Grande comparado aos Estados Unidos, cuja moeda é o dólar, uma moeda muito valorizada. Não é admissível isso. Ou seja, o agricultor faz a sua parte, mas o Estado brasileiro nega a ele aquelas condições de ter maior competitividade, porque produtividade ele tem, graças a uma Embrapa, graças a todos os institutos de pesquisa que fazem da agricultura brasileira a mais eficiente. Só que o agricultor hoje...
(Interrupção do som.)
(Soa a campainha.)
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Presidente, estou encerrando.
O agricultor brasileiro não é vítima só dessa infraestrutura deficiente e cara; ele é vítima hoje de uma violência rural que se espalhou, com a migração do crime organizado da zona urbana para a zona rural. E hoje, lá na sua propriedade, ele está sozinho e isolado, sem defesa e desprotegido. Então, esse agricultor precisa de um olhar, porque é ele que está trabalhando de sol a sol para continuar erguendo e sustentando este País.
A mesma Senadora que aqui defendeu e, na Comissão de Agricultura, trabalhou por esses direitos, por esses produtores, pela sociedade, pelas mulheres, pela Apae, pelas instituições filantrópicas de educação, pelas instituições filantrópicas de saúde, pelas santas-casas vai continuar sendo a mesma Ana Amélia que vocês conhecem, a mesma Ana Amélia que aqui teve sempre um tratamento respeitoso.
E quero aproveitar também... Não será meu último discurso, Senador Anastasia, não será, mas quero hoje dizer muito obrigada, um obrigada de coração...
(Soa a campainha.)
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – ... a todos os Senadores e Senadoras, porque, a cada dia aqui, eu aprendo uma nova lição de convivência e de tolerância. E é exatamente isso que eu quero fazer como candidata a Vice-Presidente, o que foi uma honra muito grande que eu tive na minha vida.
Presidente Eunício Oliveira...
O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/MDB - RN) – Senadora Ana Amélia.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Com muita alegria, meu grande mestre, Senador Garibaldi Alves.
O SR. PRESIDENTE (Eunício Oliveira. Bloco Maioria/MDB - CE) – Senador Garibaldi, eu não vou cortar a palavra de V. Exª, mas temos que abrir a Ordem do Dia. A V. Exª, concedido pela Senadora, vou dar mais um minuto aqui.
O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/MDB - RN) – Serei breve. É apenas para dizer que vou perder a minha vizinha, a minha conselheira, a minha grande amiga e um exemplo para mim de mulher na política, combativa. Senadora Ana Amélia, nós vamos muito sentir muito a sua falta.
(Soa a campainha.)
O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/MDB - RN) – Só nos regozijamos porque sabemos que V. Exª poderá estar no topo da República. Mesmo assim, quero dizer desse lamento como, há pouco, os Senadores disseram aqui.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Eu tenho a honra de me sentar, Presidente Eunício, ao lado dele. O Rio Grande do Norte está ao lado, na nossa relação, do Rio Grande do Sul. O Norte e o Sul juntos ali na mesma Bancada.
Muito obrigada, meu querido amigo Garibaldi, meu querido mestre de tantas lutas, de tantas batalhas.
Caro Presidente Eunício Oliveira, obrigada pela tolerância. Vamos ao trabalho, arregaçar as mangas! Todos nós precisamos fazer o mesmo dever de casa.
Muito obrigada às mulheres aqui presentes, às amigas que estão nessa torcida.
Obrigada a todos vocês! Muito obrigada!