Discurso durante a 115ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da candidatura do ex-Presidente Lula.

Autor
Lindbergh Farias (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Luiz Lindbergh Farias Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Defesa da candidatura do ex-Presidente Lula.
Aparteantes
Otto Alencar.
Publicação
Publicação no DSF de 05/09/2018 - Página 46
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • DEFESA, CANDIDATURA, EX PRESIDENTE, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, ELEIÇÃO, CARGO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Senhores, eu fico impressionado com o tamanho da devastação social que o País está vivendo, o desemprego de mais de 13 milhões de pessoas, mas se você conta com os desalentados, pessoas que nem procuram emprego, nós estamos falando em 27 milhões de pessoas. É uma verdadeira tragédia social.

    Eu fico olhando para este cenário aqui. Eu digo na cara dos senhores: os senhores são responsáveis. Quem votou pelo afastamento da Dilma, para colocar o Temer, quem votou na Emenda Constitucional 95, do teto dos gastos, quem votou na reforma trabalhista, os senhores são cúmplices dessa destruição social.

    Agora eu vejo todo mundo falando do incêndio do Museu Nacional. O incêndio do Museu Nacional é fruto da Emenda Constitucional 95, da política do teto de gastos. É uma tragédia anunciada. Nós falamos! É uma tragédia que vai se aprofundar, porque agora os senhores viram o Orçamento de 2019. O Bolsa Família pode ser cortado pela metade: R$15 bilhões. O Bolsa Família são R$30 bilhões, que estão condicionados à aprovação de um crédito aqui pelo Congresso Nacional. Sabe o que significa isso? São 7 milhões de famílias atingidas.

    Neste momento, a gente vê o Poder Judiciário aumentando os salários de juízes em 16%. Que Brasil é este? É esse Poder Judiciário que tenta impedir a candidatura do Lula. Numa semana só, eles aprovaram terceirização irrestrita para tudo que é área, prejudicando os trabalhadores, e concederam aumento para eles mesmos. De que Brasil é esse que os senhores querem falar? É por isso que os senhores estão desse jeito nas pesquisas. Eu fico vendo quem planejou esse golpe pelo País, o resultado dessa destruição social.

     Eu, quando falo do Museu Nacional, é porque aqui estão os números. Nos governos do PT, o orçamento da UFRJ cresceu 735%, com uma inflação de 127%, ou seja, crescimento real. Aí quando você vai ver o orçamento da UFRJ de 2016, quando estava a Dilma para cá, cai de R$434 milhões para R$361 milhões.

    Senador Otto, V. Exª votou contra aquela emenda do teto dos gastos. A destruição é clara, é total. No próximo ano, a gente vai ter mais cortes na educação, cortes na saúde, cortes no Bolsa Família. É escandaloso!

    Eu vejo aqui Senadores e Senadoras falando como se não tivessem nada a ver com isso. Volto a dizer: os senhores são cúmplices dessa destruição social que o País está vivendo. Eu vou mais além, pessoal. Eu, sinceramente, quando fico olhando a perseguição ao Presidente Lula... Se os senhores achavam que fazendo o que fizeram os senhores iam destruir o Presidente Lula, o que está acontecendo é justamente o contrário. O Lula nunca esteve tão forte no meio do povo. O Lula vai ser o grande assunto desta eleição.

    A oposição só fala do Lula, a situação fala do Lula, o grande debate é sobre o Lula. Eu, no Rio de Janeiro, vejo isso claramente, porque as pessoas lembram que, na época do Lula, era diferente: havia mais emprego, o salário mínimo aumentava todo ano, Senador Otto Alencar, todo ano. O salário mínimo com o Lula subiu 70% acima da inflação.

    E você pode até ter críticas ao PT e ao Lula, mas há de reconhecer, você que está nos escutando ou nos assistindo, que a vida do povo mais pobre melhorou com Lula. Foram 32 milhões de pessoas que saíram da pobreza absoluta.

    A gente está fazendo o caminho de volta, Senador Otto. Em 2017, 1,5 milhão de pessoas voltaram à pobreza absoluta. O Brasil está voltando ao mapa da fome.

    Depois perguntam por que o Lula lidera em todos os cenários. Lidera, porque as pessoas têm lembrança, sabem que aquele momento foi um momento diferente.

    Estou vendo, infelizmente, andando pelo Rio, as pessoas dizendo: "Olha, estou voltando a cozinhar com fogão a lenha." Um milhão e duzentas mil pessoas voltaram a cozinhar, em 2017, com fogão a lenha.

    Vá ao hospital, à ala de queimados: a maior parte sabe o que é? Gente cozinhando com álcool, porque o preço do botijão de gás, depois dessa nova política da Petrobras, hoje é R$80, R$90. Com Lula, o botijão de gás era R$15. Não houve um aumento durante oito anos, porque o Lula dizia: "Se aumentar o botijão de gás, quem vai pagar a conta é o povo mais pobre."

    Então, o que a gente está vendo, concretamente, no País, é isto: destruição social.

    Concedo um aparte ao Senador Otto Alencar.

    O Sr. Otto Alencar (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - BA) – Senador Lindbergh Farias, eu me recordo, voltando a uns anos atrás, de que, durante oito anos do governo do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, vi um debate aqui no Senado – eu era Vice-Governador, depois Governador do meu Estado da Bahia – sobre conseguir elevar o salário mínimo a US$100. Foram oito anos debatendo isso. Terminou o governo, sem chegar aos US$100.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – E eles diziam que era inflacionário, que aumentar o salário mínimo gerava inflação.

    O Sr. Otto Alencar (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - BA) – Pois é, gerava inflação. Na época da crise do ex-Presidente Lula, crise parecida com essa que aconteceu agora, o Presidente Lula chamou de marola. Por que a crise não se aprofundou? Porque ele fez o dinheiro circular. O Governo Federal agora, o Governo atual, o Governo do golpe, do impeachment, contra o qual votamos, porque tínhamos certeza de que iria piorar sobretudo no quesito moral – no quesito moral –, porque o Presidente da República é acusado pelo Ministério Público Federal de chefe da quadrilha do PMDB... Então, nós tínhamos certeza disso. Eu fui a essa tribuna várias vezes, para lutar contra o impeachment da Presidente Dilma Rousseff. E o que este Governo fez desde que tomou posse? Lutar e se defender para não cair nas mãos do Poder Judiciário e ser afastado pelo Poder Judiciário. E a Câmara dos Deputados, por duas vezes, negou o direito de que o Presidente fosse investigado. O Presidente Lula é o único ex-Presidente do Brasil vivo que foi julgado na primeira instância. José Sarney não foi. Até sem foro privilegiado, deixaram debaixo do tapete, ele foi acusado de vários casos de improbidade administrativa, inclusive de seus familiares. O Presidente Fernando Henrique Cardoso, da mesma forma. Não há escândalo maior neste País do que o Sivam. Mas ele tinha lá, ao lado dele, o engavetador-geral da República, que era o Procurador Geraldo Brindeiro. Depois veio também outro ex-Presidente, Fernando Collor. Foi acusado e está aí respondendo – tudo no Supremo Tribunal Federal. O Presidente Lula foi o único que foi para a primeira instância e foi exatamente para que ele fosse impedido de disputar as eleições de 2018. Não tenho a menor dúvida desse assunto. O que o Senado faz aqui ultimamente? O Senado tem aprovado o quê? Que matéria? Nós estamos aqui votando, de vez em quando, um indicado para uma agência – e essas agências aqui de Brasília, sem exceção, todas elas são centro de traficância, de jogo de interesses; isso não é de agora, é de muito tempo; há muito tempo, acontece isso; os escândalos continuam acontecendo –, para a Comissão de Valores Mobiliários, indicação de embaixador, absolutamente nada que possa resolver o que V. Exª falou: o desemprego, o recrudescimento das doenças relacionadas com a fome no Brasil inteiro, no Nordeste inteiro. O Governo só serviu para a Avenida Paulista, para a classe A de São Paulo...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Otto Alencar (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - BA) – ... onde está o centro financeiro do Brasil. E, lá perto da Avenida Paulista, próximo dali, 1,5 mil metros, desabou um prédio com 300 ou 400 pessoas pobres, que viviam naquele prédio incendiado em São Paulo. Esse é o retrato do Brasil, que foi pintado agora por este Governo, um Governo que não investe em absolutamente nada. São 1.615 obras inacabadas, de grande porte, no Brasil. E com reservas de US$382 bilhões. Poderia – por que não? – tirar US$30 bilhões, US$40 bilhões, converter em real, jogar no Fundo Soberano e concluir os hospitais, as creches, as rodovias, as ferrovias. Os hospitais estão parados. Seria algum dinheiro para não deixar cair a memória do Brasil, como aconteceu agora no Rio de Janeiro. Esta foi uma das coisas que mais custou de forma dolorosa à minha consciência, ao meu coração: perder aquele acervo que nós perdemos agora, que eu conhecia e visitei várias vezes, por falta de cuidados, porque o Governo que está aí, os homens do Governo que o seguem e os homens de Governo que colocaram o Temer no poder só se preocupam em protegê-lo e em transformar os interesses coletivos do Brasil em interesses pessoais, grupistas e setoriais. Portanto, nós estamos vivendo este momento agora, que é um momento único, de um Presidente acuado dentro do Palácio do Planalto e de outro Presidente, no cárcere, condenado em primeira e em segunda instâncias por juízes que não tiveram a consciência. E também o Supremo Tribunal Federal não julgou a ação direta de inconstitucionalidade para dar o direito de transitar e julgar, como tantos ex-Presidentes tiveram o direito. E está lá preso em Curitiba, numa inversão de valores. O que o povo quer na Presidência, preso; e o que povo quer preso, no Palácio do Planalto. Esse é o retrato do Brasil que se pode pintar assim rapidamente neste momento. Quero parabenizar V. Exª.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Eu agradeço o aparte de V. Exª, Senador Otto Alencar.

    O problema deles é com o povo. Eles não querem que o povo escolha o Presidente da República.

    Eu me lembro de Getúlio Vargas em 1954. Getúlio Vargas criou a Petrobras em 1953 e, em maio, dobrou o salário mínimo. E a gente viu o que aconteceu com Getúlio Vargas.

    Eu estou convencido, Senador Otto: essas elites do País, esses banqueiros, grandes empresários, a rede Globo... não gostam de Presidente que aumenta salário mínimo. O Lula aumentou o salário mínimo todo ano. Eles gostam de Presidente como o Temer, que massacra o trabalhador com a reforma trabalhista. Eu, quando falo que os Srs. Senadores que votaram nessa reforma trabalhista... Deveriam pedir desculpas ao povo brasileiro.

    Sabe o que está acontecendo, Senador Otto Alencar? Ninguém está entrando mais na Justiça. O trabalhador que entra na justiça contra o patrão e perde a causa tem que pagar o advogado do patrão. Ninguém entra mais na Justiça. Eu encontrei um porteiro esta semana que disse: "Eu recebia R$2.500; estou recebendo R$1.600, porque não estão pagando hora extra como pagavam antes." A quantidade de gente que diz o seguinte: "Eu estou sendo demitido e contratado com um salário mais baixo, por causa da terceirização."

    E, agora, os senhores não vão enganar o povo, porque eu sei que os senhores estão planejando para outubro, depois das eleições, votar reforma da previdência. É isso. Estão caladinhos agora, na eleição, mas depois vão querer votar a reforma da previdência. E o projeto é conhecido: o trabalhador, para se aposentar com o salário integral, vai ter que contribuir por 49 anos. Quem é que consegue contribuir por 49 anos? Ou seja, o plano dos senhores é que o trabalhador morra antes de se aposentar. Só que eu acho, sinceramente... Eu quero encerrar, Senador Valadares, dizendo que o projeto de vocês deu errado, porque o Lula, hoje, é um gigante.

    Nós vamos lutar e entrar com todos os recursos possíveis. Vamos lutar até o final. Se Lula for candidato, ganha a eleição no primeiro turno; mas, se tirarem na covardia o Lula, eu estou convencido também que o candidato do Lula, Fernando Haddad ou nome que o Lula indicar, nessa situação, vai ganhar a eleição presidencial, porque os senhores criaram outro monstro nessa loucura do golpe, com esse discurso da Rede Globo, que foi o Bolsonaro, que eu não tenho a menor dúvida de dizer que vai ser derrotado pelo candidato PT.

    Então, veja o plano dos senhores como deu errado. Afastaram a Dilma para isso? Para afundar o País nessa crise?

    Olha, nós vamos ganhar essa eleição.

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Eu saio daqui convencido.

    Tenho visto pesquisas para todos os lados. O PT vai voltar a governar este País, e a gente sabe como fazer essa economia crescer. O caminho é o oposto do Temer.

    O Lula fez ao cuidar do pobre, ao cuidar do trabalhador, ao aumentar o salário mínimo. Ele fez a roda da economia girar: o comércio vendia mais, as empresas vendiam mais. Geravam empregos. Nós sabemos fazer essa economia crescer.

    E eu tenho certeza de que o Lula vai ganhar a eleição, sendo ele mesmo candidato ou o candidato dele. Porque, na verdade, Fernando Haddad vai ser o candidato do Lula, se tirarem a candidatura do Lula na última instância. Ele vai falar como candidato do Lula. Ele vai conversar com o Lula. Vai construir o programa do Lula. Ou seja: por mais que vocês queiram, o Lula vai estar presente nas eleições e vai ganhar essa eleição.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/09/2018 - Página 46