Discurso durante a 116ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Reflexões sobre os valores que devem estar presentes na política brasileira.

Comentário sobre a importância da atividade política democrática para o Pais.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Reflexões sobre os valores que devem estar presentes na política brasileira.
ATIVIDADE POLITICA:
  • Comentário sobre a importância da atividade política democrática para o Pais.
Publicação
Publicação no DSF de 06/09/2018 - Página 92
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • COMENTARIO, ASSUNTO, SITUAÇÃO, RELAÇÃO, POPULAÇÃO, AUSENCIA, CONFIANÇA, POLITICA, LOCAL, PAIS, BRASIL, NECESSIDADE, COMBATE, CORRUPÇÃO, SONEGAÇÃO, ALTERAÇÃO, COMPORTAMENTO, ATIVIDADE PRIVADA, ORGANIZAÇÃO POLITICA.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, ATIVIDADE, POLITICA, DEMOCRACIA, OBJETIVO, CRIAÇÃO, PAIS, MELHORIA, RESOLUÇÃO, PROBLEMA, AREA, SAUDE, SEGURANÇA, DESEMPREGO, ENFASE, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Caro Presidente, Senador Cássio Cunha Lima, caros colegas Senadoras e Senadores, nossos telespectadores da TV Senado e ouvintes da Rádio Senado, esta tribuna só pode ser ocupada por um Parlamentar e, numa sessão solene, por convidados – nessa oportunidade, uma outra pessoa não Parlamentar pode ocupar esta tribuna. Mas, neste momento, Senador Cássio, venho falar não como uma candidata a Vice-Presidente da República, junto com Geraldo Alckmin, ex-Governador, ex-Prefeito, ex-Deputado Federal Constituinte, mas como uma cidadã que olha com perplexidade o País em que nós vivemos.

    Estou me apropriando de uma imagem muito bem construída por um dos mais brilhantes Senadores que temos nesta Casa, o nosso amigo Senador Cristovam Buarque, que usa uma expressão na conversa com os seus eleitores, aqui em Brasília, no Distrito Federal, dizendo que o valor maior de uma família são os laços afetivos. Às vezes, uma família é composta por filhos adotivos; portanto, não é só a consanguinidade, mas, sim, o valor maior são mesmo os laços afetivos.

    Se numa família os laços afetivos determinam o rumo e o caminho para esta família se desenvolver amorosamente, com lealdade, com cumplicidade, com solidariedade, a Nação é movida também por um valor. E o valor que move uma Nação, muito bem desenhado por nosso colega Cristovam, é a política. E é a política que nos move a nos comprometermos com as aspirações maiores da sociedade brasileira, seja nas relações empresariais, seja até nas relações familiares. Mas é a política, a arte da política que os gregos, Maquiavel, milhares e milhares de autores, antigos e contemporâneos, deste século e de séculos passados, deixaram como legado. Lições como as de Churchill ou como as de Lincoln ou como as da Revolução Francesa.

    A política é a essência da democracia. E essa política no Brasil, hoje, está sendo criminalizada. Lamentavelmente, Senador Cássio, a atividade política no Brasil está sendo criminalizada, destruída naquilo que é essência para a democracia.

    E aí a minha perplexidade. Para onde vamos? Aonde queremos chegar se nós não cuidamos da família, se esses laços familiares de afetividade também estão comprometidos, de alguma maneira, com o sentimento de intolerância que está dentro de casa, que vai para a escola com o bullying ou com as agressões às mulheres?

    Na política nós olhamos para o Congresso Nacional e achamos que tudo que está aqui dentro está errado, que todos são iguais. Colocam todos no mesmo saco. Aí não há conserto. Aí não há como você respirar aliviado na expectativa e na esperança de que nós teremos amanhã dias melhores.

    Nós estamos vivendo num regime democrático, e é esse regime o único caminho que podemos trilhar para chegar a algum lugar, especialmente um lugar mais promissor. Que as pessoas que estão chorando pelo desemprego, que estão chorando por ter um lugar no mercado de trabalho, as pessoas que estão chorando pelos filhos que morrem por balas perdidas ou no enfrentamento com a criminalidade e a violência, sejam elas os agentes da lei, os policiais militares, os policiais civis, sejam elas as vítimas inocentes que cruzam no fogo cruzado entre a polícia e os criminosos... Aonde vamos chegar? O que queremos da nossa Nação brasileira?

    Tenho andado, caros Senadores, por este Brasil e aprendido muito. Vou ao interior do Ceará, a Itapipoca, a Caucaia, a Horizonte; vou a Sertãozinho, em São Paulo; vou ao interior do Paraná e do meu amado Rio Grande do Sul, e a perplexidade é a mesma: a política sendo destruída, a política sendo arrasada, porque olham para o Congresso, e a narrativa toda é repetida.

    Mas o mais surpreendente é que os próprios agentes políticos com mandato se encarregam dessa deterioração da imagem do Congresso Nacional. Nós temos que entender que, se o Congresso está doente, é porque a sociedade está doente, porque ninguém chega aqui sozinho. Chegam aqui – todos nós chegamos – ungidos pelo voto.

    E me surpreendem também, às vezes, algumas mensagens: "Mas como? Fulano vai voltar?"

    Mas por que a surpresa se nós temos que ter o respeito ao direito de o eleitor escolher quem ele quiser, mesmo que eu não goste, não aprecie e até não aceite determinadas figuras? Mas, se a maioria do eleitorado daquele Estado quer trazer de volta para cá aquela figura, a única coisa que podemos fazer é respeitar a vontade majoritária do eleitor.

    E aí é que eu chamo atenção de novo. Há um sentimento de revolta contra o Congresso. Há razões para isso. Mas, então, ao eleitor uma mensagem: pense na hora de votar, não anule o seu voto. No dia 7 de outubro, é uma hora decisiva para todos nós, mas não vote com ódio, não vote com rancor, não vote com intolerância. Vote com a cabeça, vote com o coração, mas vote, sobretudo, com a racionalidade, pensando no hoje e no amanhã da sua cidade, do seu Estado, do seu País, do nosso Brasil.

    Este País é tão generoso. Dizem até que Deus é brasileiro. E nós, o que estamos fazendo com este País abençoado? A nossa intolerância religiosa, a nossa intolerância racial, a nossa intolerância com o gênero. Nós temos que ter um pouco mais de paciência, de respeito uns com os outros. Nós temos que ter mais solidariedade, mais afeto na relação política, na relação social, no trânsito, na escola, nas empresas.

    Há corrupção aqui, mas há lá fora. Isso não me agrada. Nós temos que acabar com ela aqui e lá fora, onde ela estiver, porque ela é um mal, é um câncer que corrói os nossos valores, corrói o dinheiro, o dinheiro do povo, que é arrecadado pelos impostos. Temos que combater a corrupção, a sonegação, as coisas más que acontecem, meus caros Senadores, na atividade privada, na atividade pública.

    Os partidos políticos não são compostos por anjos. São pessoas, que, como as famílias, uma família grande, média ou pequena, têm filhos maravilhosos e têm outros que podemos chamar uma ovelha negra, mas que não deixam de ser filhos e a mãe não deixa de tratá-los bem, de protegê-los e de tratar de encaminhá-los melhor, para a retomada de um caminho correto. Nós também temos que entender que vivemos numa sociedade que tem que ser mais respeitosa, tem que ser mais tolerante.

    E, quando a gente vê e percebe que, lá no interior deste Brasil tão grande, as pessoas clamam por mais emprego, por mais segurança, são as coisas que mais chamam a atenção, uma saúde melhor. Nós só podemos conseguir essas coisas através da política. Não há outro caminho. E é exatamente por isso que tem relevância o momento que nós estamos vivendo, que exige de cada um de nós uma reflexão séria, ponderada, com racionalidade, com emoção também. Eu não acredito na política sem emoção, Senador Cássio Cunha Lima, filho de um poeta, que fala como poeta aqui quando ocupa a tribuna.

    Nós não podemos fazer política com sangue nos olhos, com o fígado. Nós temos de fazer com a alma, com o coração, porque são esses valores que nos levam a melhorar a qualidade das relações que nós temos aqui nesta Casa e que vamos ter de ter lá fora com as pessoas. Nós temos de acabar com o sentimento da intolerância, com o desrespeito.

    Em todos os momentos aqui de enfrentamento que eu tive com a oposição, nos momentos dramáticos do impeachment de uma Presidente da República, na cassação de mandatos de Senadores, eu nunca faltei ao respeito com os meus adversários políticos, mesmo que eles não tivessem feito assim comigo. Mas eu preciso ser coerente com os meus valores.

    Então, estou aqui nesta tarde, nesta tribuna, perplexa porque nós não estamos entendendo que a política é o único caminho que temos para resolver os nossos problemas do desemprego, da violência, da segurança, da saúde, de uma educação que precisa cada dia mais de investimentos extraordinários. Com os indicadores que nos apresentam, mesmo com as contestações das mudanças de critérios para levantar a qualidade do aprendizado, o Ideb ou outros indicadores, nós não podemos nos satisfazer. Temos de perseguir sempre resultados melhores, porque nós não vamos avançar.

    Todas as nações no mundo cresceram graças aos maciços investimentos na área da saúde. E aí não é só o problema do recurso público. Nós vemos, em áreas do Nordeste ou de uma mesma cidade, um bairro com um desempenho extraordinário e outro, não. Há um comprometimento dos professores, dos pais das crianças, dos alunos e dos próprios alunos em defender aquele lugar sagrado que é a escola.

    Quanto mais escolas, quanto melhor qualidade tiver a escola, talvez menor seja o número de prisões que tenhamos de construir no País, porque a escola abre o caminho para o saber, para o conhecimento, para o preparo, para a profissionalização, para um técnico que vai trabalhar no mercado de trabalho. Aí, ele vai ter a sua cidadania, o seu resgate e o seu direito. E não vai fazer como grande parte dos jovens brasileiros que hoje estão indo embora do País, desesperançados, sem oportunidades, porque a política não está sinalizando hoje a eles esse futuro melhor que eles tanto desejam.

    E é exatamente por isso que eu volto a relembrar a razão pela qual eu subi à tribuna hoje. Foi para tentar fazer esta reflexão, Senador Cássio, uma reflexão que eu acho necessária de todos nós, de todos os partidos políticos, a esquerda e a direita. Nós não temos direito de frustrar uma nação com o tamanho e a dimensão que nós temos, de frustrar essa juventude, de frustrar a sociedade, mas é preciso que a sociedade entenda que, se tudo passa pela política, na democracia, ela também tem uma enorme responsabilidade na hora da decisão.

    E é exatamente por isso que estou aqui como cidadã, a despeito de ser uma candidata a Vice-Presidente da República, para o que eu não estava programada nem planejada. Tomei uma decisão em função do apelo maior que eu fiz pelo meu País. Eu fiz pelo meu País, com toda sinceridade e com desapego, porque tinha um mandato de oito anos, quase certo – na política, nada é certo –, e me candidatei a um mandato de quatro, com resultado incerto. Mas a segurança que me dá é a de que eu cumpri com o meu dever. E o farei tantas vezes quantas for chamada por esta Nação, que nós todos queremos muito bem. Mas, se nós não a tratarmos como nas famílias, com uma relação respeitosa e muito afetuosa, se nós não usarmos a política de maneira respeitosa, de maneira tolerante, com compreensão, respeitando as diferenças, nós não vamos chegar a lugar algum. É exatamente por isto que eu venho à tribuna agora, agradecendo ao meu querido amigo Senador Cristovam Buarque por ter trazido essa imagem ou essa expressão para sinalizar.

    E eu concluo também que nós não podemos terceirizar a ética. Querer que esta Casa ou a outra Casa, a Câmara Federal, ou as assembleias dos Estados ou as câmaras municipais sejam isentas de corrupção, de falcatruas, de negociatas e, nos seus negócios, nas suas ações, as pessoas tolerem tudo isso de ruim é terceirizar a ética, porque querem que somente esta Casa, os membros desta Casa ajam desta forma, corretos, honestos, sem corrupção. Esse sentimento e essa prática devem ser iguais em todos os momentos da nossa vida, na nossa casa, entre a família, na nossa escola, no nosso trabalho, na nossa profissão, em qualquer lugar. Não podemos terceirizar a ética.

    E a responsabilidade de todos os brasileiros está nas mãos, porque, no dia 7, vamos selar que País nós vamos querer. Que País nós queremos? Um País mais tolerante, mais respeitoso ou um País em guerra, um País que não se entende, um País que não se respeita, porque os seus cidadãos não entenderam o significado da política para a democracia e para a vida do País?

    Muito obrigada, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/09/2018 - Página 92