Discurso durante a 118ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários acerca das renovações oriundas das eleições gerais de 2018.

Crítica ao Partido dos Trabalhadores por ter sido o único partido político a não assinar documento elaborado pelo Tribunal Superior Eleitoral objetivando combater "fake news".

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Comentários acerca das renovações oriundas das eleições gerais de 2018.
IMPRENSA:
  • Crítica ao Partido dos Trabalhadores por ter sido o único partido político a não assinar documento elaborado pelo Tribunal Superior Eleitoral objetivando combater "fake news".
Publicação
Publicação no DSF de 10/10/2018 - Página 13
Assuntos
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Outros > IMPRENSA
Indexação
  • COMENTARIO, RESULTADO, ELEIÇÕES, ENFASE, RENOVAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, ELOGIO, CANDIDATO, INTERPRETAÇÃO, VONTADE, ELEITOR, REFERENCIA, AUMENTO, SEGURANÇA PUBLICA, COMBATE, CORRUPÇÃO, CRESCIMENTO, EMPREGO, MELHORIA, EDUCAÇÃO, SAUDE, REGISTRO, APOIO, CANDIDATURA, JAIR BOLSONARO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MOTIVO, AUSENCIA, ASSINATURA, DOCUMENTO, AUTORIA, TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE), OBJETIVO, COMBATE, NOTICIA FALSA.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso.) – Caro Senador Antônio Carlos Valadares, caros Senadores presentes, caros telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, que acompanham esta sessão, pouco mais de 48 horas daquilo que nenhum analista político, nenhum instituto de pesquisa foi capaz, com antecedência de quatro dias, vislumbrar como resultado das urnas e qual o comportamento, o ânimo e a disposição do eleitorado brasileiro de mudar. Mudar e renovar.

    Exatamente na contramão do que aconteceu domingo é o que os analistas falavam: não haveria renovação, porque o Fundo Partidário, o financiamento público de campanha determinaria a manutenção dos Parlamentares já presentes no Congresso Nacional. Isso seria um artificialismo para não haver alteração da composição congressual, seja na Câmara, seja aqui, no Senado Federal. Até porque os Deputados Estaduais não tiveram acesso a esse financiamento público de campanha, que foi determinado muito mais pela proteção dos candidatos à composição do Congresso, onde está o voto que decide a posição da bancada com o Poder Executivo. E é exatamente isso, Senador Valadares, que nós, aqui nesta Casa, temos que avaliar.

    Mais do que isso: quando se negava que haveria renovação, qual não foi a surpresa: nesta Casa, no Senado, a renovação, Senador Lasier Martins, foi de 85%. Apenas oito conseguiram a reeleição.

    E é exatamente um grande sinal que a sociedade brasileira está demonstrando aos políticos, às lideranças políticas, aos comandantes e aos líderes partidários. A sociedade está dando um recado muito claro: ela não quer saber mais de corrupção, ela não quer saber mais de insegurança. As pessoas não podem sair de casa, porque correm o risco de serem assaltadas, de sofrerem um homicídio, e toda essa celeuma. E ainda, dentro desse processo, ao longo desses últimos quatro anos, a Operação Lava Jato como caldo de cultura para levar ao povo brasileiro a confiança de que é um divisor de águas no combate à corrupção e à impunidade.

    O discurso dos candidatos que vieram para esta Casa e para a Câmara foi moldado precisamente, porque souberam interpretar o sentimento do eleitorado brasileiro e da sociedade brasileira, órfãos daquele que atendesse a esse clamor com mais segurança pública, com menos corrupção e com uma atenção maior às questões fundamentais: a geração emprego, a educação e a saúde, que continua na UTI em nosso País.

    Também foi derrubada por terra – penso que há um questionamento agora – a força dos institutos de pesquisa. Caíram equivocadamente. Não há como explicar: nem os técnicos, nem os matemáticos, nem os estatísticos conseguem explicar, Senador Valadares, como as pesquisas, até a véspera da eleição, mostravam candidatos que não chegaram ao Senado Federal em primeiro lugar. Por exemplo, Dilma Rousseff, em Minas Gerais; Roberto Requião, no Paraná; e Magno Malta, no Espírito Santo, uma pessoa ligada ao candidato Bolsonaro.

    Essas coisas surpreendentes devem servir de uma grande lição às lideranças políticas. Então, é preciso entender esse sentimento da população. Mais ainda: um sentimento que foi ativado por um protagonismo extraordinário das redes sociais. As redes sociais tiveram o papel do financiamento público de campanha, porque a rede social é gratuita. Houve um ativismo extraordinário dos candidatos que souberam usar essa ferramenta para o bem – alguns usaram para o mal.

    E, aí, vem um detalhe. Eu sou uma ativista das redes sociais orgânicas. Só para se ter uma ideia da força e da reação da rede social, bastou ontem eu ter afirmado que, no meu Estado do Rio Grande do Sul, o gaúcho não aceita a neutralidade, os gaúchos não aceitam neutralidade e, numa hora de decisão para o País, os gaúchos querem lado... Eu não tinha outra alternativa. Fiz conscientemente – não poderia de maneira alguma ficar do lado de quem destruiu o País em 12 anos de governo e quer retornar esse mesmo projeto de poder, não um projeto de País, colocando em risco a Lava Jato, colocando em risco aqueles valores, aqueles princípios que a sociedade tanto cultivou – para chegar a esta eleição e dar o recado para as lideranças da esquerda brasileira que não souberam explorar ou que fizeram isso de maneira desonesta, em certa medida, porque prometiam uma coisa e não ofereceram aquilo que prometiam em relação à ética na prática política.

    Por isso há um ex-Presidente, lamentavelmente, preso em Curitiba. Então, esse é o preço que estamos agora pagando, mas dado não por uma condução de projeto político nascido nesta Casa, mas nascido nas urnas da maneira mais democrática possível, no anseio da população, ao trazer para o conhecimento do mundo o que o brasileiro quer, o que as brasileiras querem.

    E esse recado vai em que direção, na República recente do nosso País, pós-88, Constituição de 88, com 30 anos comemorados recentemente? O que isso mostrou? Talvez, pela primeira vez, uma clara definição ideológica do eleitorado em contrapartida às questões fisiológicas, aquela que troca o voto por um interesse qualquer e que desmascarou, destruiu e implodiu esse sistema de toma lá dá cá também na relação entre o eleitor e o agente público candidato a Deputado Estadual, Federal, Senador ou Governador.

    Então, esses recados todos vieram para reafirmar a relevância das redes sociais. E há aí outro fenômeno: a rede social, como todo mecanismo novo de comunicação, serve para o bem e para o mal, que o digam as campanhas de vacinação que o Ministério da Saúde enfrenta de pessoas que fazem uma condução equivocada desse processo. O Ministério teve que montar uma estrutura para evitar o impacto das fake news para não prejudicar a vacinação, que é uma questão de saúde pública. Essa é uma situação extremamente preocupante.

    Na política, tão preocupante quanto na saúde, é preciso cuidar da saúde da democracia, e a saúde da democracia pressupõe o respeito entre os adversários. As redes sociais também foram usadas. A famosa fake news, a notícia falsa, teve, em muitos momentos, um grande peso para contaminar a discussão e o processo. As fake news vieram para detonar, para destruir e arrasar o adversário, não importando como fosse feito.

    Lembro muito bem que o Tribunal Superior Eleitoral fez um movimento... Eu presido a Fundação Milton Campos. Fizemos um seminário aqui no Interlegis, em que, para minha alegria, vieram Ministros do TSE; vieram Ministros do STJ; vieram Ministros ligados à questão do controle da eleição; veio o Presidente da OAB, Cláudio Lamachia, porque também a OAB está interessada em evitar as fake news no processo eleitoral.

    Veja só: todos os partidos firmaram acordos com a Justiça Eleitoral para trabalhar corretamente, combatendo as fake news. O único partido que não assinou esse documento foi precisamente o Partido dos Trabalhadores. E ele, que se valeu muito das fake news, agora vai à Justiça Eleitoral para reclamar do peso das fake news. É aquela história: pimenta no olho do adversário é colírio. Agora está sentindo o impacto daquilo que usou contra os seus adversários.

    Eu fui vítima do PT, porque a candidata a vice na chapa de Fernando Haddad fez uma fake news a meu respeito quando eu, aqui nesta tribuna, estava criticando um discurso em que uma Senadora do Partido dos Trabalhadores havia feito um manifesto na TV Al Jazeera...

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – ... cujas relações com o mundo árabe e com os movimentos islâmicos é muito forte, reconhecido internacionalmente. Eu havia dito que ela estava fazendo um apelo para que a Al-Qaeda, os movimentos ligados ao mundo islâmico, que são os terroristas do mundo islâmico... Ela poderia estar eventualmente pedindo a eles apoio para virem ao Brasil.

    Fiz uma analogia que politicamente é aceitável numa hora de embate como esse, mas ela tratou de fazer disso uma fake news de que eu havia confundido todas as coisas. E é exatamente aquilo que eles fazem. Eles agora estão sentindo o preço e o peso desse veneno que eles também aplicaram contra os seus adversários. Então, o peso das fake news, caros colegas Senadores, Senador Telmário Mota, Senador Valadares, Senador Lasier Martins, todos eles agora estão sentindo. E é preciso uma vigilância, é claro, do eleitorado.

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – É preciso separar o joio do trigo nessa questão relacionada às fake news, às notícias falsas, das verdadeiras informações que o eleitorado precisa receber através das redes sociais.

    Bastou que eu dissesse, ontem, Senadores, que o Rio Grande do Sul não aceita neutralidade e que eu precisava tomar partido... Disse isso, ao assumir essa posição favorável à candidatura do Deputado Jair Bolsonaro nesse segundo turno, por conta dessa cultura gaúcha de tomar partido. E eu tomei partido. Não poderia ficar do lado do candidato Fernando Haddad, do PT, porque combati aqui no impeachment, fui uma das vozes mais fortes e vigorosas a favor do impeachment e contra os desmandos do PT. Então, não seria de nenhuma forma coerente de minha parte estar do outro lado.

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Nessas 24 horas, eu tive um aumento nas minhas redes sociais, em Facebook, Instagram, Twitter, extraordinário, porque é exatamente a participação do eleitorado nesse processo, o qual nós vamos enfrentar.

    Então, eu quero agradecer aos meus seguidores das redes sociais, agradecer muito nesse embate, e, sobretudo, aqui tratar de dizer que foi uma honra muito grande o desafio que eu enfrentei, Senador Valadares. Pediria, por gentileza, de V. Exa., um minutinho a mais – aqui não é uma sessão deliberativa –, um tempo a mais para apenas concluir o meu raciocínio, Senador Valadares.

    Quero dizer que eu tive uma honra extraordinária de compartilhar com Geraldo Alckmin, o Governador de São Paulo, e com a equipe que o acompanha e com ele trabalha há tanto tempo, uma campanha de honestidade, de integridade, de ética, e dizer que eu aprendi muito. Tenho reafirmado: aprendi mais em oito anos de Senado Federal do que em 40 anos como jornalista. E, em dois meses e meio de campanha eleitoral, aprendi mais sobre a natureza humana do que em toda a minha vida – e esse ensinamento eu levo.

    E quero agradecer à equipe do governador Geraldo Alckmin, toda à sua assessoria, do mais alto nível de assessoramento ao mais simples e singelo servidor lá de todo o segmento, pessoas com integridade elogiável, preparo acadêmico, preparo técnico, competentes, mas, sobretudo, de uma ética no relacionamento e um respeito às diferenças, um respeito às diferenças ideológicas, um respeito às diferenças raciais, às diferenças de gênero, todas as diferenças, inclusive partidária.

    Então, foi uma honra ter participado junto com Geraldo Alckmin e ter, Senador Fernando Bezerra, combatido o bom combate. Entrei no Senado como ficha-limpa, saio como ficha-limpa e também, como Geraldo Alckmin, não só isso, nós temos vida limpa.

    Muito obrigada, caro Senador Lasier Martins, pela compreensão do horário.

    Acho que essa eleição nos traz lições sobre as quais precisamos refletir com muita profundidade, porque, se nós ignorarmos a sociedade brasileira e se dermos as costas a ela, nós correremos sérios riscos. Mas, felizmente, o dia 7 de outubro será marcado na história brasileira pelo vigor máximo da democracia na sua essência maior e na sua dimensão mais profunda.

    Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/10/2018 - Página 13